terça-feira, 24 de maio de 2016

Impeachment ou golpe?


   Não farei uma discussão técnica sobre o tema. O que me faz escrever sobre esse tema é uma observação mais sociológica do que propriamente política.
   Estou estupefato com a temperatura do ambiente social, quando se discute esse tema. Mas o pior é que não se trata apenas de um "achismo" de pessoas ignorantes. Nããão! Outro dia, o ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, pareceu ter entrado nesse modus operandi esquisito.
   O UOL Notícias, em 12 de maio, divulgou uma notícia com o seguinte título: "Impeachment é destituído de legitimidade porque excluiu o povo, diz Joaquim Barbosa". O ex-ministro, e presidente, do STF, teria dito isso numa palestra na VTEX Day, em São Paulo. 
   A citação exata do que disse Barbosa, segundo a própria matéria, é que o impeachment de Dilma é "destituído de legitimidade profunda". Mas completa: "Do ponto de vista puramente legal, está tudo certo, mas não é assim que se governa um país. Isso precisa de nós, o povo".
   Acho que há alguma confusão na fala de Joaquim Barbosa... se é que foi assim mesmo que ele a proferiu. Vejamos o porquê.
   Em primeiro sentido, o mais óbvio e direto, "legítimo" quer dizer "legal", ou seja, que atende à lei. Portanto, se "do ponto de vista puramente legal, está tudo certo", aparentemente é tudo "legítimo". A questão da "profundidade" desta "legitimidade" é algo bem esquisito de se tratar. 
   É certo que há outros sentidos mais descolados desse original, onde "legítimo" significaria algo como "genuíno". Poder-se-ia, então, apelar a esse sentido. Contudo, aí também aparece um engano. Ora, houve, sim, manifestações populares em volume significativo. Até onde pude perceber, a maioria delas a favor do impeachment da Dilma, ou seja, a "legitimidade profunda" estaria garantida.
   Mais do que isso: o supercompetente ex-presidente do STF bem sabe que este processo não envolve a participação popular. Não se faz plebiscito para decidir pelo afastamento do presidente. Portanto, não há que se falar em ilegitimidade do processo por falta de participação popular, se não está prevista no rito original esta participação.
   Coisa de louco...
   

"Ética" e Pierre Hadot


   O livro Exercícios espirituais e Filosofia Antiga, de Pierre Hadot, contém um capítulo chamado "O que é ética?", que corresponde a uma entrevista feita com o especialista em Filosofia Antiga. 
   Logo na primeira pergunta, questiona-se Hadot sobre seu interesse em "ética", mas em que sentido deste termo.
   Hadot diz: "De uma maneira geral, não sou muito estudioso da moral e temo que a palavra 'ética' seja demasiadamente restrita, a menos que seja entendida no sentido da ética de Espinosa. Afinal de contas, Espinosa intitulava Ética um livro de metafísica. Seria preciso portanto, tomar a palavra 'ética' num sentido muito amplo".
   Nosso querido filósofo é destacado até por especialistas em Filosofia Antiga e que se dizem não estudiosos da Filosofia Moral. Esse Spinoza não é fácil, não! Rsss

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Norberto Bobbio


   Estou lendo, agora, O final da longa estrada - Considerações sobre a moral e as virtudes, de Norberto Bobbio. Não se trata exatamente de um livro, mas sim de uma coletânea de textos que foram reunidos sob o título em questão.
   O primeiro dos textos se chama "Ética e Política". Muitíssimo interessante. Em cerca de quarenta páginas, Bobbio expõe as diversas possibilidades acerca da complexa relação entre Ética e Política. 
   Há dois grandes grupos: um monista e um dualista. Estes se subdividem em mais dois - pelo menos. Bobbio chama-os de "monismo rígido" e "monismo flexível", contra o "dualismo aparente" e o "dualismo real".
   Grosso modo, o monismo representa uma redução de um dos reinos normativos - o moral ou o político - ao outro. O dualismo diz respeito ao reconhecimento de duas dimensões normativas, a moral e a política. O que muda é a hierarquização das mesmas. 
   Depois eu falo mais.