quarta-feira, 30 de maio de 2018

Risco Brasil


    Em 23 de abril de 2018, Celso Rocha de Barros escreveu um artigo intitulado "Pode surgir algo de novo dos escombros do sistema partidário?".   
 Celso analisa as mudanças que vinham - e vêm - ocorrendo em relação ao cenário político, no que concerne aos partidos e aos nomes dos pré-candidatos à Presidência. Entre as questões apresentadas, surge uma relativa à preocupação com a necessidade do surgimento de partidos que tenham, efetivamente, peso para as eleições. Sua posição fica assim registrada:
 "O maior risco para o Brasil, no momento, mais do que qualquer problema fiscal ou social, é ficar sem partidos fortes, os únicos antídotos conhecidos contra os personalismos que já acabaram com mais [de] um país latino-americano".
   Já manifestei aqui preocupação semelhante. Acho que os partidos têm que ser a base do sistema eleitoral, com seus programas bem definidos. Aliás, é assim que o sistema está projetado. Os grandes "puxadores" de votos podem ser interessantes para multiplicar as cadeiras conquistadas pelos partidos, mas eles acabam por superar completamente - eu diria até "esmagar" - os programas dos próprios partidos, tornando os mesmos quase apêndices dessas figuras, em vez de protagonistas do sistema eleitoral, como devem ser.

terça-feira, 29 de maio de 2018

Liberal de verdade (completo, agora!)


   Interessante a definição utilizada por Hélio Schwartsman, em seu artigo na Folha de S. Paulo, no dia 27/02/18, para "liberal de verdade".
   Devemos lembrar que, originalmente, o termo "liberal" indicava alguém que pretendia diminuir a possibilidade de intervenção do Estado sobre o indivíduo, deixando mais espaço para a livre escolha deste, e menos para a regulação estatal da vida privada. Assim, pensaríamos que toda essa questão que hoje é apropriada pela "esquerda", sobre a liberação de determinadas coisas que arrepiam os "conservadores" - sempre associados à direita -, deveriam ser consideradas como bandeiras dos liberais.
   E é neste ponto que Schwartsman toca, quando trata do tal "liberal de verdade", ao caracterizá-lo da seguinte forma:
   "Pense num candidato que aceite o beabá da cartilha econômica - ideias bem básicas como a de que não se pode, por muito tempo, gastar mais do que se arrecada - e leve a sério a liberdade, sem medo de defender propostas impopulares como a legalização de drogas, descriminalização do aborto, da eutanásia, abolição de delitos como desacato, apologia, etc. Ou, pela negativa, alguém que não queira censurar museus, nem endurecer o direito penal e nem se perca em fazer agrados a igrejas".

Revoluções russas


   A revista Sociologia, em seu número 74, traz um artigo intitulado "PCB, PCdoB e PPS - cizânias hierárquicas, teóricas e burocráticas", de autoria de Alessandro F. Figueiredo e Fábio Metzger. 
  O texto é muito bem escrito, com várias referências que lhe dão a consistência necessária. Com certeza, vale à pena fazer algumas citações aqui.
  Antes, porém, gostaria de comentar uma coisa que me pareceu estranha. O autor começa o texto dizendo "Com a vitória da Revolução Marxista-Leninista no antigo Império Russo [...]" e registra numa nota:
   "O termo 'Revolução Marxista-Leninista' em português é o mais apropriado para o episódio histórico visto que a expressão 'Revolução Russa' é utilizada internacionalmente para um acontecimento anterior a esse, ocorrido em 1905, e que não deve ser confundido com ele".
   Acho um certo preciosismo do autor esta observação. Decerto que a expressão "Revolução Marxista-leninista" esclarece melhor o leitor a respeito do tipo de orientação ideológica que conduziu o processo revolucionário. Mas, em hipótese alguma, parece absurdo o uso de "Revolução de 1917" ou "Revolução Russa", que, mesmo internacionalmente, ao contrário do que afirma o autor, são reconhecidas como equivalente da que foi escolhida. 
   De qualquer modo, há uma explicação sucinta, mas que vale à pena ser lida. Lá consta:
   "O termo 'Revolução Comunista ou Marxista' meramente também não se enquadra, uma vez que as atividades revolucionárias não ocorreram de acordo com a teoria marxista. Já o conceito 'marxista-leninista' deixa em evidência o principal teórico e líder da revolução (Vladimir Illitch Ulianov Lenin) e de sua reinterpretação singular da teoria marxista para o então Império Russo de 1917, um país atrasado em relação às potências centrais. O leninismo é uma doutrina política que busca a organização de uma vanguarda partidária revolucionária para a implementação da ditadura do proletariado como pressuposto para o estabelecimento do socialismo. A teoria marxista, por sua vez, indica a revolução para a saída do capitalismo somente para os países mais desenvolvidos, o que não era o caso do Império Russo, assim como nega a participação e até mesmo a existência do campesinato na revolução".
       

Mais uma atribuição enganosa...


   Outra citação famosa a respeito da qual se negou a autoria foi "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo". Voltaire nunca escreveu tal coisa... infelizmente. Afinal, muito do seu pensamento é louvado justamente pela defesa que ele faz do direito à liberdade de expressão - resumida brilhantemente nesta frase.
   

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Os Econômicos, de Aristóteles


   Estudar traz cada novidade...
   Ainda em Perfil de Aristóteles, Berti louva o Estagirita, dizendo que "Aristóteles pode ser considerado o fundador do conceito da filosofia prática entendida como ciência diferente das teoréticas, porém munida de racionalidade própria". Até aqui, tudo bem.
   Berti continua: "As obras nas quais ele expõe essa filosofia prática são as três Éticas, isto é, a Ética a Nicômaco, a Ética a Eudemo e a assim chamada Grande Ética, e a seguir a Política". Até aqui, tudo bem também.
   Agora vem a novidade, para mim: "O tratado intitulado Econômica [ou Os econômicos], transmitido como parte do corpus aristotelicum e que trata de temas igualmente pertencentes à filosofia prática, é concordemente considerado como não sendo obra de Aristóteles". É mesmo?!?! Dessa, eu não sabia!!!

terça-feira, 8 de maio de 2018

Aristóteles vs. Spinoza, Hobbes, Hegel e Marx


   O enfrentamento desses sujeitos do título da postagem é "briga de cachorro grande". Quem o propõe é o especialista no Estagirita, o professor Enrico Berti, no livro Perfil de Aristóteles. 
   Quando trata do conceito de razão prática, em Aristóteles, Berti explica: "[...] o seu [da razão prático-poiética] é tudo aquilo que depende do homem, da sua proposição [proaíresis] ou de algum modo da sua intervenção, ou seja, as ações e as produções humanas, a 'história' [...]. A característica de tal objeto é ser constituído pelas coisas que podem estar diferentemente de como são [ou seja, dos contingentes] [...]. Portanto, ele resulta ser [...] aquilo que poderíamos chamar o reino da liberdade. Dada a margem de indeterminação que contém, essa liberdade não permite conhecimento propriamente científico, isto é, demonstrativo, dos objetos por ela caracterizados. Isso significa que, para Aristóteles, não há conhecimento científico das ações e das produções humanas ou da 'história': em síntese, não há ética ou política dotada da mesma necessidade própria das ciências matemáticas ou físicas, como pretenderão filósofos como Spinoza e Hobbes, nem história cientificamente determinável, como pretenderão os filósofos dialéticos modernos (Hegel e Marx) ou os positivistas".

Primeiro treino


    Ontem fiz meu primeiro treino para os 16 km. Como já não corria acima dos 10 km havia um bom tempo, foi noite de pernas doloridas. Isso, mesmo tendo feito um péssimo tempo. Mas foi dada a largada... com apenas 11,2 km. Mas foi... Rsss

História da Propaganda Política


   Estou fazendo uma disciplina em Ciência Política que se chama "História da Propaganda Política". É interessante perceber a tranquilidade com que os teóricos tratam a propaganda política como um negócio. 
   Ciro Marcondes Filho, em A saga dos cães perdidos, indica os ciclos em que se divide o jornalismo, sob o ponto de vista da difusão  das mensagens políticas.
  - 1º ciclo - de 1789 à metade do século XIX: quem tinha o conhecimento acerca dos fatos destacava-se socialmente. A imprensa possuía fins pedagógicos e o interesse financeiro era baixo.
   - 2º ciclo - segunda metade do século XIX: as inovações tecnológicas transformam a imprensa numa classe empresarial e as exigências passam a ser ditadas conforme a lógica do capital financeiro. É o nascimento da imprensa de massa. Os veículos começaram a mascarar suas "bandeiras políticas".
   - 3º ciclo - século XX: era dos oligopólios midiáticos. Esse período marca a ascensão publicitária e a extinção de qualquer espécie de puritanismo ideológico no jornalismo. É neste período que os grupos de comunicação, ou seja, as empresas, passaram a mascarar toda e qualquer preferência política por meio do discurso da objetividade e da isenção editorial.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

A última...


   Inscrição feita. Nesta, serão 16 km. Provavelmente a minha última prova acima dos 10 km. Dia 08 de julho de 2018.


O Freud do século XVII?!?!


   O livro Grandes lendas do pensamento, de Henri Pena-Ruiz, traz uma série de questões consideradas fundamentais para o pensamento humano - como o livre-arbítrio; o sentido da vida; as paixões, etc. -, valendo-se de estórias e mitos.
   Uma dessas estórias se refere ao filósofo francês René Descartes (1596-1650), respondendo, ao diplomata Hector-Pierre Chanut (1601-1662), a questão "Por que amamos mais certas pessoas do que outras?".
   Descartes apresenta uma resposta muito interessante, que lembra muito a visão freudiana sobre a associação de duas impressões, expondo uma análise que fora fazendo de si mesmo, a partir de uma experiência da sua infância.
   Em carta de 06 de junho de 1647, ele escreve: 
   "Quando criança, eu amava uma garota [...] que era um pouco vesga; com isso, a impressão em meu cérebro, quando olhava seus olhos desviantes, se aproximava tanto da que nele acontecia para estimular-me as paixões amorosas, que, muito tempo depois, vendo vesgos, eu tendia a gostar mais deles do que de outros, simplesmente por possuírem defeito; ignorava, contudo, que fosse por isso".
   Para arrepio do mestre vienense, criador da Psicanálise, contudo, Descartes conta que fez uma autoanálise, a partir da qual se conscientizou da origem de sua emoção - o mecanismo associativo entre uma emoção passada e outra presente -, e deixou de se comover. Permanecerá um "vestígio", uma "marca" no cérebro - como veremos a seguir -, mas sem futuro afetivo.
   A explicação do fenômeno do "vestígio" é o seguinte:
   "Os objetos que afetam nossos sentidos movem, por meio dos nervos, algumas partes de nosso cérebro, neles formando certas dobras que se desfazem quando o objeto cessa de agir; mas a zona na qual elas foram feitas permanece, posteriormente , predisposta a ser dobrada novamente, do mesmo jeito, por outro objeto semelhante, ainda que não totalmente, ao precedente".
   A ideia do "vestígio", essa "marca" que resta no cérebro, após uma impressão, em alguma medida, repete uma noção estoica... que depois parece ser retomada por Spinoza. Mas isso é outra estória...
   
   

PNAD 2017 (2)


   Apesar dos bons índices apresentados, sabemos que o Brasil não é país do primeiro mundo... aliás, mais até do que simplesmente saber, nós vivemos essa realidade de afastamento dos países mais evoluídos. Talvez a resposta para esta nossa sensação seja a desigualdade, mais do que a pobreza geral, especificamente.
   Vejamos alguns números, sobre isso, do mesmo PNAD 2017:
   
   - As pessoas que faziam parte do 1% da população brasileira com os maiores rendimentos recebiam, em média, R$ 27.213, em 2017. Esse valor é 36,1 vezes maior que o rendimento médio dos 50% da população com os menores rendimentos (R$ 754)
   - O rendimento médio mensal real domiciliar per capita foi de R$ 1.271 em 2017. As regiões Norte (R$ 810) e Nordeste (R$ 808) apresentaram os menores valores e a Região Sul, o maior (R$ 1.567).
   - 13,7% dos domicílios recebiam dinheiro do Programa Bolsa Família em 2017, um percentual menor que o de 2016 (14,3%). Norte (25,8%) e Nordeste (28,4%) foram as regiões que apresentaram os maiores percentuais. O Benefício de Prestação Continuada (BPC) era recebido por 3,3% dos domicílios do País, em 2017. Mais uma vez, Norte (5,6%) e Nordeste (5,2%) apresentaram os maiores percentuais.
   - o rendimento médio mensal real domiciliar per capita nos domicílios que recebiam o Bolsa Família foi de R$ 324 e naqueles que não tinham foi de R$ 1.489. Para os domicílios que recebiam o BPC foi de R$ 696 e os que não recebiam, R$ 1.293.
   

PNAD 2017


   O IBGE divulgou dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios de 2017.
   Alguns índices são curiosos, porque deixam transparecer uma situação de países do primeiro mundo. 
   Vejamos... em termos aproximados:
   - 99% dos lares têm energia elétrica;
   - 98% têm geladeira;
   - 97% têm televisor;
   - 93% têm celular;
   - 86% têm água encanada; e
   - 70% têm acesso à internet.
   Será???? Embora o IBGE seja extremamente sério, há que se verificar a metodologia desta pesquisa. Algum amigo se aventura?
   

Ainda Bobbio...


   No livro Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política, Norberto Bobbio indica sua motivação - bem nobre, aliás - para se envolver com a Política.
   Diz ele: "A razão fundamental pela qual em algumas épocas da minha vida tive algum interesse pela política [...] sempre foi o desconforto diante do espetáculo das enormes desigualdades, tão desproporcionais quanto injustificadas, entre ricos e pobres, entre quem está em cima e quem está embaixo na escala social, entre quem tem poder [...] e quem não tem".

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Na dúvida... a dúvida


   Conforme os céticos faziam diante de uma dúvida, nada de  se angustiar, mas... suspender o juízo.
   Numa entrevista publicada em 2000, ao jornal italiano La Repubblica, o filósofo Norberto Bobbio disse: "Quando sinto ter chegado ao fim da vida sem ter encontrado uma resposta às perguntas últimas, a minha inteligência fica humilhada, e eu aceito esta humilhação, aceito-a e não procuro fugir desta humilhação com a fé, por meio de caminhos que não consigo percorrer. Continuo a ser homem, com minha razão limitada e humilhada: sei que não sei. Isso eu chamo de minha religiosidade".

Lúpulos brasileiros


   Boa notícia... para o futuro, de acordo com artigo da jornalista Sônia Apolinário, publicado no Jornal do Brasil.
   No último dia 21 de março, cinco variedades de lúpulos produzidos no Brasil foram registradas junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento por produtores do Paraná. Ou seja, agora o Brasil possui oficialmente lúpulos nacionais. São os lúpulos do tipo Cascade, Centennial, Fuggle, Hallertauer Magnum e Northen Brewer, a partir de plantas importadas.
   Além disso, em São Bento do Sapucaí (SP), um produtor tenta registrar uma nova variedade de lúpulo, que está sendo considerado 100% nacional, batizado de "Mantiqueira".
   Como bem observou a jornalista, além da economia com as importações e a valorização das cervejas nacionais, a produção ampliará o mercado de trabalho daqueles envolvidos na agroindústria.