quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Como ganhar votos

  O padre francês Bernard Lamy (1640-1715) foi professor de Retórica, até ser afastado por sua defesa do cartesianismo. Entre suas lições sobre a arte de falar, consta uma que parece estar sendo utilizada por alguns políticos nesses tempos de eleições.
  "Para convencer o povo de que se diz a verdade, basta falar com mais ousadia do que seu adversário; basta gritar mais alto e dizer-lhe mais injúrias do que ele diz, queixar-se dele com mais aspereza, afirmar tudo o que se adianta como oráculos, zombar de suas razões como se elas fossem ridículas, chorar, se for preciso, como se a verdade que se estivesse defendendo provocasse uma verdadeira dor quando atacada e obscurecida. Aí estão as aparências da verdade. O povo só vê essas aparências, e são elas que convencem".
  Será que os marqueteiros andaram folheando o livro do padre?

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

"Ser feliz com Espinosa" (2)

  A ideia que transparece no início do livro é a de uma abordagem existencial valendo-se da filosofia spinozana. Entretanto, a partir de títulos como "Na selva afectiva", "Diz-me o que amas, dir-te-ei quem és...", "Somos seres de desejo" e outros, o livro se desdobra, superando o que seriam aspectos meramente pessoais dentro do enfoque da filosofia spinozana. Quando chegamos em "A comunidade dos homens livres", por exemplo, percebemos parte do tal "conteúdo político" ao qual o prof. Thomass se referiu no seu comentário aqui no blog.
  Mas o texto vai mais longe - exibindo, então, um fôlego que não parecia ser possível no começo da leitura -, sob o título "Deus não está além do mundo: o MUNDO É DEUS", e se arrisca - embora com muita competência - no texto "A experiência da eternidade".
  Vamos por etapas...
  No primeiro texto citado, Thomass afirma que "nossa imagem de Deus, simplesmente, não é coerente". Nesse momento, entretanto, trabalha o já conhecido - e o mais problemático questionamento enfrentado pela Teologia - Problema do Mal. Pergunta, então: "Como poderia Deus tolerar o mal se fosse efectivamente omnipotente e infinitamente bom?".
  Entretanto, não fica preso a essa questão, quando indica: "No entanto, Espinosa persegue as incoerências da nossa ideia de Deus a um nível ainda mais fundamental". Aborda uma ideia, então, que sempre me pareceu liquidar totalmente com a argumentação da existência desse Deus que nos é costumeiramente apresentado: a impossibilidade de um Deus infinito e transcendente, simultaneamente.
  Escreve Thomass: "Se Deus é infinito, nada pode existir além dele; tudo o que lhe fosse exterior - um mundo abandonado por Deus, um diabo, criaturas não divinas - indicaria um limite à sua natureza divina e apresentaria, pois, a prova de que ele não é infinito".
  Ou seja, se há algum Deus que é infinito, a sua criação tem que permanecer coextensiva a Ele mesmo. Desta feita, resta a conclusão de que, se Deus existe, pelo menos Ele não é como pregam as religiões. Ele teria que ser, como defende Spinoza, e reforça Thomass, um Deus sive Natura.
  Depois eu continuo...

Balthasar Thomass

  Queridos amigos dos amigos, é com imensa felicidade que registro, em duas ocasiões quase seguidas, a presença de autores de textos sobre Spinoza aqui no blog.
  Primeiro, comemoramos a vinda da Dra. Maria Luísa, desta vez foi Balthasar Thomass quem nos prestigiou.
  Antes de qualquer coisa, quero agradecer ao professor Balthasar Thomass pela visita a este pequeno espaço de congraçamento de amigos que, sob diversas perspectivas, pensam a vida... sem, no entanto, isolar-se do mundo para efetuar essa reflexão.
  Agora, posso fazer um pouco mais de justiça para com o livro do professor Thomass, visto que concluí a leitura.
  Antes de qualquer novo comentário sobre o livro, gostaria de responder à colocação do autor no blog.
  Sobre o meu receio de encontrar um livro de "auto ajuda" - que foi desfeito com a leitura - Balthasar disse: "Espero que você não se chateie demais com o lado 'auto ajuda' do livro, que é meio provocação, meio oportunismo, meio cuidado real com as consequências praticas da filosofia, e meio estratégia de dissimulação do conteúdo político e militante do espinozismo, segundo a tese do Leo Strauss em seu livro sobre o Epinoza 'A perseguição e a arte de escrever'".
  Para entender como funcionaria essa "estratégia de dissimulação do conteúdo político e militante do espinozismo", penso que eu teria que ter acesso ao livro de Leo Strauss. Entretanto, achei muito coerente a ideia dessa espécie de "ajuda" - que seria mais "alter-ajuda", visto que surge a partir das ideias de Spinoza, do que propriamente "auto-ajuda" - seguir-se, quase necessariamente, como "consequência prática da filosofia", spinozana, no caso específico.
  Realmente, a partir da perspectiva a que Thomass deu relevo, ocorreria o alívio de várias angústias existenciais, como se tratasse de uma abordagem terapêutica para quem lê o texto. Visto que o "terapeuta" seria o próprio leitor, através das ferramentas apresentadas no livro, parece que teríamos mesmo uma "auto-ajuda"... embora bastante elaborada e de um nível mais profundo, contrariando radicalmente as "receitas de bolo" veiculadas nos livros que ganham o rótulo em questão.
  Muito obrigado, Sr. Balthasar Thomass!
  Vamos, agora, aos comentários sobre o livro...
   
 

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Uma anônima bem conhecida

  Nossa querida amiga dos amigos Maria, num misto de ousadia e falta de juízo, convidou a ilustre filósofa Maria Luísa Ribeiro Ferreira a conhecer o blog. E não é que a gentileza desta eminente senhora fez com que ela nos visitasse e deixasse seu registro em forma de comentário... ainda que "anonimamente assinado"?!?! Rsss.
  Pois bem, lá está, em comentário ao post do dia 02 de agosto de 2010, a Dra. Maria Luísa dizendo-se "comovida" e "agradecida" com o que leu aqui.
  E eu, o que diria? Comovido e agradecido estou eu, tanto pela visita da nobilíssima especialista no nosso Spinoza, quanto pela atitude da querida amiga dos amigos Maria, que nos propiciou tão honrosa visita.
  Obrigado às duas "Marias" pelo carinho com o blog.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

"Ser feliz com Espinosa"

  Eu tenho um mau hábito declarado: comprar livros sobre Spinoza sem uma profunda avaliação prévia. Em alguma medida, penso na ocasião, haverá algo de bom a retirar. De qualquer forma, só me arrependi profundamente uma vez... algo como "Aristóteles encontra Spinoza" - sei lá... mas até comentei aqui no blog. De modo geral, posso dar uma lida, "mapear" coisas às quais voltarei num momento posterior e deixar mais um livro esperando por mim.
  Confesso esse meu hábito por algo que ocorreu sexta-feira passada. Fui dar a minha passeada "básica" numa livraria aqui de perto. Lá chegando, meu já conhecido amigo vendedor veio mostrar-me uma obra da Scarlet Marton sobre Nietzsche... que eu informei já ter adquirido. Visita encerrada, não fosse uma pilha de livros portugueses que ele não havia ainda organizado nas estantes. Lá estava um livro de título "Felicidade e Filosofia - ser feliz com Espinosa". É verdade... o título soa meio auto-ajuda demais. Mas, exposto o meu hábito, lá no início do post, é lógico que não deixei de adquirir o volume.
  Vamos aos fatos posteriores. O livro é interessante. Embora eu desconfie muito de livros que propõem "utilizações práticas da Filosofia", não pude deixar de sentir uma certa atração por esse, que explicava assim sua intenção: "A filosofia teve desde sempre por ambição melhorar as nossas vidas [...] Mas a maior parte dos livros de filosofia interessaram-se sobretudo pela questão da verdade e consumiram-se a emitir fundamentos teóricos, sem se preocuparem com as aplicações práticas". Se essa parte causou uma certa desconfiança, logo a seguir o livro se absolve desse preconceito, ao dizer "Contudo, não se pode inflectir a prática sem rever a teoria. A felicidade e o desenvolvimento conquistam-se e não dispensam um esforço de reflexão [...] Uma nova maneira de agir e de viver implica sempre, também, uma nova maneira de pensar e de se conceber [...] Por essa razão, convidaremos o leitor a reflectir sobre conceitos, antes de lhe propor interrogar-se sobre si mesmo".
  Convite feito; convite aceito.
  Estou mais ou menos no primeiro terço do livro. De qualquer forma, se esse não é o livro mais "técnico" que já li sobre Spinoza - e não é -, não se pode tirar-lhe o mérito de uma certa adequação bastante fina entre as intuições do autor e as citações apresentadas da obra magna de Spinoza, a Ética.
  Lembrei-me muito de meu amigo Existenz, e das discussões que tínhamos sobre a peculiaridade de Spinoza enquanto representante do "Racionalismo moderno", pois, logo no início do livro, o autor diz "A realidade humana é, antes de mais, uma realidade afectiva [...] Neste sentido, é errado distinguir a 'vida afectiva' da restante vida [...] tudo o que fazemos é feito com sentimentos: estes impelem-nos [...] é um afecto que move um matemático pelos meandros do cálculo - a curiosidade, o prazer do enigma, o orgulho da descoberta...".
  Coisas interessantes sobre as "circunstâncias" do texto, agora.
  A publicação é do Instituto Piaget, de Portugal, dono de uma carta de produtos de qualidade. Bom sinal! O autor, Balthasar Thomass, indica a contracapa do livro, é "professor de Filosofia e autor de várias obras filosóficas". Tudo bem! Mas... há, a seguir, a seguinte informação, no mínimo, curiosa: "A sua atividade de filosofia, partilha-a com a de pianista de jazz. É membro da Orquestra Nacional de Jazz da Alemanha".
  Bom... leitura que segue. Depois, eu conto mais.

Somos 47 amigos!

  Dou uma sumida e, quando volto, eis que cresceu o nosso grupo de amigos dos amigos. Bem... agora, somos 47.
  Seja bem vinda, Miriam!
  Por aqui, estamos sempre ávidos por ler os comentários dos amigos. Fique completamente à vontade para colocar os seus.
  Grande abraço.