segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Ainda em "O Globo"

O jornal perguntou a diversos "famosos" para quem dariam "cartão vermelho", repetindo a atitude do senador Suplicy para o presidente do Senado José Sarney, por conta dos escândalos em que este está "metido".
Separei três opiniões:
- "Para aqueles que estão, sistematicamente, contra o presidente Lula, sem perceber que, graças a ele, nosso país tem dormido com uma consciência bem melhor" - Paulo Cézar Saraceni, cineasta.
E eu que duvidava que o nosso presidente pudesse realmente ter algum defensor além dos "bolsa-familiados".
- "Para todos os políticos que arquivaram as denúncias contra o José Sarney" - Carlos Alberto Parreita, treinador de futebol.
O Parreira só não servia como técnico do meu Fluzinho... mas, como "juiz político distribuidor de cartões vermelhos", o homem está com tudo.
- "Para o próprio Suplicy, que já tinha dois amarelos, por simulação, nos casos Renan e Sarney. E um cartão amarelão para o Mercadante" - Nelson Motta, jornalista.
Realmente, o Suplicy aparece em determinados momentos, mas se omite em tantos outros que o "cartão amarelão" vale bem para ele... e, pelo acúmulo destes, merece mesmo o vermelho.

Agamenon, de "O Globo"

Neste último domingo, na coluna do Agamenon, em O Globo, foi publicado um texto muito engraçado e crítico. Reproduzo o texto a seguir.
"Assim como a Isaura, a minha patroa, o senador Mercadante não sabe dizer 'não'. Líder da ala bundona-sindicanalhista do PT, Aloízio Militante obedeceu cegamente ao presidente que o mandou voltar atrás. Foi tão atrás, tão atrás, que o senador acabou ficando com muita dor em partes remotas de sua anatomia. Felizmente, Mercadante não ficou com nenhuma dor na consciência. Sempre ligado nas novas mídias, Mercadante anunciou sua demissão no Twitter, em caráter irrevogável. No dia seguinte, o senador mostrou que não era irrevogável e nem tinha caráter: permaneceu no cargo de onde será retirado nos braços do povo nas próximas eleições. A 'enquadrada' de Aloízio Enquadrante mostra que o presidente Luiz Stalinácio Lula da Silva trata o PT como se fosse um bando de crianças. Deu um puxão de orelha no Mercadante e disse que vai botar de castigo e deixar sem sobremesa o militante, quer dizer, o Mercadante que não lhe obedecer. Com as barbas e o bigode de molho, Aloízio Mercadante foi ao plenário pedindo penico e acabou pagando o maior mico. Mas, como conseguiu manter o cargo, pagou o mico com o cartão corporativo. Diante dos escândalos sucessivos envolvendo figurões do PT (Partido dos Trambiqueiros); muitos petistas estão começando a ficar decepcionados com o partido. Deve ser porque ainda não arrumaram emprego algum no governo".
Nem quero comentar nada... que o texto fale por si.

domingo, 30 de agosto de 2009

A inocência de Palocci

Depois da decisão do STF de não aceitar as acusações contra o ex-ministro Palocci, no caso da violação do sigilo fiscal do caseiro Francenildo, o que representa que o, hoje, deputado poderá se candidatar nas próximas eleições, o ministro Marco Aurélio de Mello - voto vencido, nessa decisão - disse: "Precisamos fazer uma revolução pelo voto no Brasil. A sociedade não é vítima dos políticos que temos, a sociedade é a autora. Que cada eleitor perceba a importância do voto".
Sempre faço questão de reforçar a ideia de que o voto, desde que seja dado conscientemente, é a única "arma" que temos contra os maus políticos. E, se não lançarmos mão dessa nossa única defesa, teremos apenas o direito de fazer um mea culpa, reconhecendo que "a sociedade não é vítima dos políticos que temos, a sociedade é a autora".

sábado, 29 de agosto de 2009

"Os filósofos e o amor" (2)

As autoras mostram, logo no início de "As asas de Eros", o que aparentava ser Heidegger, até a publicação de correspondência com Arendt, através das palavras de Karl Jaspers: "Heidegger era sem amor, logo tãopouco amável em seu estilo".
Depois da publicidade das cartas trocadas, ficamos conhecendo um Heidegger mais "doce", talvez até chegando a discordar de que era "sem amor", como dissera Jaspers.
O livro apresenta um pouco da história do amor do alemão e da judia filósofos. Porém, ao lado da representação desse ícone da ideia de amor, vêm à tona outras coisas que parecem, em conjunto, diminuir, pelo menos um pouco, a força desse sentimento em Heidegger.
Duas belas citações são feitas sobre o amor. A primeira é de Santo Agostinho - que também aparece numa nota de rodapé de "Ser e tempo": "Não se penetra na verdade a não ser pelo amor". A segunda é de Max Scheler: "O homem, antes de um ser pensante ou um ser volitivo, é um ser amante". Essa segunda citação é apresentada a fim de explicar que nas últimas aulas de Marburg, verão de 1928, Heidegger fizera referência às reflexões trocadas com Scheler.
O livro apresenta a tese do filósofo italiano Giorgio Agamben, que "sustenta que, se Heidegger recorre a Santo Agostinho e a Scheler, isso signifca que o amor é para ele o modo de abertura mais originária do que qualquer conhecimento. E, num certo sentido, 'o problema central de Ser e tempo'".
Eu não conheço o embasamento da tese de Agamben, mas acho difícil reconhecer isso no texto heideggeriano.
De qualquer forma, as passagens do livro referentes à troca de correspondência entre os dois é muito bonita. Numa delas está registrado o que Heidegger escreve à sua aluna: "Tal como és por inteiro, e tal como irás permanecer, é assim que te amo".
Triste perceber a complexidade do amor entre os dois. O livro registra: "Vivem sua relação na clandestinidade. Ele é 17 anos mais velho, é casado e já tem dois filhos. Ela é uma aluna de apenas 18 anos. Legitimamente, Hannah preocupava-se com seu futuro. Para ele, ao contrário, os questionamentos eram vãos, o amor não deixava outra escolha senão 'nos abrir um para o outro e deixar ser o que é'". Um pouco adiante, diz: "Se não resta dúvida de que Heidegger a amou e, impelindo-a a ser livre, ajudou-a a se afirmar, nem por isso deixou de recusar obstinadamente mudar o curso de sua vida por ela. Tinham, decerto, um mundo a dois, mas um mundo circunscrito a momentos fugazes... Ela queria viver a seu lado. Ele pretendia que ela continuasse a ser sua felicidade egoísta e a inspirar suas invenções teóricas. Abandonar a esposa estava fora de questão. Então Hannah partiu".
Eu sei que sou meio "ultrapassado" no que penso ser o amor. Mas que amor é esse que não quer o outro, quando é possível tê-lo... ainda que seja complicado? Eu até entenderia ela abrir mão dele, por um alegado amor, preferindo que ele continuasse a estabilidade de sua vida acadêmica e familiar, para não se ver embaraçado por um romance com uma jovem aluna. Mas essa atitude vinda dele? Pessoalmente, custa-me entender. E nem vou citar, negativamente, o texto, quando diz "ela continuasse a ser sua [dele] felicidade egoísta". "Felicidade egoísta"? Será que cabe falar em amor aqui?
O livro continua falando da relação dos dois. E, para quem lê, fica realmente a impressão de uma profunda identificação - se exatamente "amorosa", não sei! Fato é que o texto cita que Heidegger, no reencontro com Hannah, em 1949, teria dito que esta teria sido "a paixão de sua vida".
Entretanto, surpreendi-me - ser ignorante é horrível, sempre! - com o fato de Heidegger ter tido "inumeráveis casos... até os seus 80 anos". Mais ainda em saber que a própria esposa, Elfride, havia sido uma "proto-Hannah"; afinal, Heidegger, quando tinha 26 anos, fora professor de Filosofia da jovem estudante de Economia, Elfride, com 22 anos, que teria cedido aos encantos da "raposa" - como Hannah o chamaria anos depois.
De qualquer forma, o fechamento do capítulo é bonito.
"Hannah Arendt era bastante consciente de que 'as grandes paixões são raras como as obras primas', segundo frase de Balzac, de que ela se apropriou. Eis provavelmente por que, apesar de todo o horror que lhe inspirava a adesão de Martin Heidegger ao partido nazista, ela preferiu preservar a relação de ambos pela vida inteira. E, mais do que o perdão, o qual ignoramos se de fato ocorreu, deveríamos mais corretamente falar de uma vontade de não renegar o que foi vivido, o acontecimento do amor. Num bilhete de 1960, que ela nunca lhe enviou, confessava-lhe que ele era o homem a quem ela 'permanecera fiel e infiel, sem nunca deixar de amá-lo'. Hannah Arendt e Martin Heidegger - não foi decerto a história de um amor fiel, mas a história da fidelidade ao amor".

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

"Os filósofos e o amor"

Comecei a ler "Os filósofos e o amor", uma das minhas últimas aquisições. É verdade que é uma leitura meio "heterodoxa"... daquelas que pula de um capítulo a outro, sem nenhuma cerimônia. De qualquer forma, o entendimento do livro não parece perder muito com isso. Lá fui eu, então, da Introdução ao capítulo "As asas de Eros", que fala do amor de Heidegger e Hannah Arendt.
Na Introdução, cita-se Schopenhauer, falando sobre o amor: "Deveríamos nos mostrar surpresos que um objeto que desempenha papel tão notável na vida humana não tenha sido tomado em consideração pelos filósofos". Os autores indicam que essa afirmação é exagerada; mas apontam um certo mistério em que "a Filosofia, nascida na Grécia com a questão do amor... parece ter renegado essa origem... Assim, foi preciso esperar Kierkegaard para que o amor voltasse a ser considerado um modo de compreensão da existência". E completam: "Relegado ao domínio do pathos, dos afetos obscuros, de todo esse magma psicológico que o Sol da razão ilumina, por definição, tão mal, o amor não seria... um objeto para os filósofos".
Interessante os autores citarem, discordando, como eu, o seguinte: "Uma curiosa máxima impôs-se pouco a pouco em Filosofia: não se justifica, nem se esclarece um pensamento pela vida de seu autor... Nada a ver. Uma postura que teria decerto surpreendido os homens da Antiguidade, que mediam o pensamento com a régua da força interior, que ela infundia em quem o elaborava".
Aliás, o livro cita Nietzsche, que também parece indicar não ser possível uma "hermenêutica pura" do pensamento, sem remeter ao pensador, pessoalmente, quando diz: "Sempre escrevi inteiramente com meu corpo e minha vida, e não sei o que são problemas puramente mentais".
Para justificar, então, a abordagem do livro sobre o amor, os autores escreveram: "O pensamento do amor sempre foi escrito com o próprio sangue dos filósofos, com suas dificuldades singulares, suas neuroses, seus êxitos amorosos".
Por enquanto, só o aperitivo da Introdução... depois escrevo sobre "As asas de Eros".

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Mais um aniversário

Eu sabia que estávamos próximos do aniversário de uma pessoa ligada, indiretamente, ao blog, que é a filha da nossa amiga Maria. Entretanto, não tinha certeza de quando era. Só hoje, vendo um comentário dela, é que tive a certeza da data. E é hoje!
Muitas felicidades, neste dia, para ti, que é uma pessoa tão especial - afinal, sinto-te como uma sobrinha. Apesar da distância, envio-te um longo abraço e um beijo carinhoso.
Sei que já te sentes feliz, pela família que tens. Mas sei também que sempre falta algo... ou "algos" (rsss). Desejo, então, que tudo o que esperas conquistar vá chegando no tempo certo em tuas mãos, para que saibas fazer o melhor uso dessas coisas... ou eventos.
Muitas e muitas e muitas alegrias... sempre!

Concluí o "tesouro spinozano"

Há algum tempo, postei que tinha encontrado um livro chamado "O método racionalista-histórico em Spinoza", de Alcantara Nogueira, que apelidei de "tesouro spinozano".
Concluí, ontem, a leitura do livro... que é realmente fantástico! Ao longo do livro, percebe-se quão profundo foi o estudo dos textos spinozanos, e, talvez mais ainda, dos textos dos seus comentadores. E Alcantara não se limita aos mais conhecidos - pelo menos por mim. Ele transita por comentadores franceses, ingleses, russos, etc; destaca o que eles entenderam e também o que ficou despercebido, ou mesmo "mal percebido" pelos mesmos. Além disso, não se limita a um determinado título do comentador, cotejando vários textos de cada um deles, no que diz respeito ao pensamento de Spinoza.
Imagino que a composição do livro deva ter dado um trabalho hercúleo, visto que além das ideias spinozanas e dos seus comentadores, as fontes das informações são citadas claramente, indicando as páginas, inclusive.
Procederei a uma rápida releitura, colocando posts sobre pontos específicos do livro, em breve.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Fim da Comissão de Ética

Leio, com surpresa (mas nem deveria!), que um senador do PT propôs o fim da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar do Senado. Deve ser apenas coincidência o fato do proponente ser do PT... ou será que não é?
Após a surpresa inicial, comecei a pensar e percebi quão levianos foram meus questionamentos sobre o pobre senador e sua enorme boa vontade. Certamente, seu pensamento se refere aos gastos desnecessários envolvidos na manutenção de uma "Comissão de Arquivamento". São tantos pápeis, tantos funcionários, tantos chefes, tantos equipamentos, tanto tempo perdido, quando já sabemos o fim de todas as proposições apresentadas, que é o arquivamento.
"Para que, então, manter esses gastos todos?", deve ter pensado nosso sábio senador. "Melhor seria poder utilizar esses escassos recursos na compra de votos...", quero dizer "... na concessão de bolsas família, possibilitando uma melhor distribuição de renda no país", deve ter sido outro pensamento do benevolente Tião Viana.
Parabéns, senador! E me desculpe pela minha falta de visão. Isso deve ser típico daqueles ignorantes, como eu, que não pensam como a intelectualidade petista, de sapiência quase divina, como Lula e outros.

Últimas aquisições

Após ter lido, e gostado, do texto de Adauto Novaes que foi publicado em "O Globo", conforme citei em post anterior, consegui encontrar um livro organizado por ele. O livro se chama "A condição humana - as aventuras do homem em tempos de mutações". Há textos do próprio Adauto, mas também de Franklin Leopoldo Silva, Sérgio Paulo Rouanet, Antônio Cícero, Oswaldo Giacoia Júnior, Slavoj Zizek e outros. Esse livro promete, hein!
Outro livro que comprei, junto com esse primeiro, foi "Os filósofos e o amor - de Sócrates a Simone de Beauvoir", de Aude Lancelin e Marie Lemonnier. O tema, pelo menos, é interessante. Os títulos dos diversos textos também são bem bolados: "Deserto do amor" (Kant); "As asas de Eros" (Heidegger e Arendt); "Amor em liberdade" (Sartre e Beauvoir) e outros. Não sei se o resultado foi bom... mas isso, eu comento depois.
Os livros são lançamentos desse ano, ambos publicados pela Editora Agir.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Um nome para este tempo (2)

Continuando o post anterior.
"A Era do Neocapitalismo" é o título do texto do professor do Departamento de História da Uff Ronaldo Vainfas. O autor propõe que "neocapitalismo" será um conceito que servirá de alternativa aos ultrapassados "globalização" e "neoliberalismo". O "neocapitalismo" abarcará elementos ligados ao avanço tecnológico, mas "será também definido por sua preocupação em relação ao meio-ambiente e pelos projetos de desenvolvimento sustentável, combinando a reprodução do capital com a preservação do planeta". Mas Ronaldo indica que o aspecto mais notável, segundo os historiadores do futuro, "residirá no paradoxo formidável: a conversão dos regimes comunistas em capitalistas". Então, explica que não está falando de uma renúncia à ideologia socialista, em detrimento do modelo capitalista, mas, como é o caso da China, " um dos países mais integrados ao capitalismo mundial que, no entanto, mantém uma fachada de regime comunista. Um comunismo baseado, internamente, numa forma arcaica de capitalismo mascarado: o capitalismo selvagem".
Outro texto, "O novo Renascimento", é de autoria da pesquisadora Isabel Lustosa. O texto, ao contrário do pessimismo apocalíptico daquele do Francisco Carlos T. da Silva, citado no último post, é bem otimista. A autora indica que o futuro verá nosso tempo como de transição. E transição de um período em que "enquanto o Ocidente... incorporando os valores do pós-modernismo, aliado valioso do neoliberalismo, apostava no 'cada um por si e o mercado por todos', aqueles povos... entregues ao próprio destino abraçaram de forma atualizada e radicalizada, alternativas que se vinculavam às suas tradições mais remotas" para um novo momento em que "assistimos ao renascimento da certeza de que a humanidade, apesar de sua variedade e de suas infinitas possibilidades de organização, é uma só, e que estamos todos no mesmo barco. Renasce, com isto, a certeza de que é preciso agir para minorar o sofrimento do outro; de que é preciso estimular a difusão de uma agenda que recupere a ideia de que a violência só gera mais violência; de que pobreza e desigualdade só geram mais pobreza e desigualdade e de que, portanto, é preciso saber repartir".
Particularmente, gostaria muito de acreditar que seríamos lembrados por isso, mas não acho que seja o caso. Parece-me que nem o futuro conseguirá lidar tão bem com os problemas apresentados no texto. Portanto, muito menos nós seremos aqueles que irão capitanear esse processo.
Por último, temos o texto da brilhante historiadora Mary Del Priore - de quem já assisti a uma entrevista no programa do Roberto D'Ávila, e gostei muito -, cujo título é "A época da aceleração da história e das culturas plurais".
Ao contrário da autora anterior - que é, como Mary, sócia do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro -, este texto mostra uma perspectiva do que já está realmente ocorrendo. Por isso, parece-me mais adequado para "nos" representar no futuro. Chamaram-me atenção alguns trechos.
Num deles, Del Priore diz: "Enquanto marcas se globalizaram, as tradições locais se afirmaram em resposta". O interessante, parece-me, é que o texto reconhece a convivência, ainda que tensa, entre o global e o local, e, mais especificamente, entre a inovação "estrangeira" e a tradição nacional.
Em outro, diz: "As instituições religiosas entraram em declínio, mas a experiência coletiva do sagrado e a imaginação religiosa ganhara caminhos novos". Eu só não sei se esses "caminhos novos" são muito melhores que os "velhos".
Depois, diz: "A família também mudou: seus membros não têm mais papéis definidos e o casal, antes 'fusional', resultou em nova equação: 1 + 1 = 3". Para quem pensa já ter visto isso, significando que "pai + mãe = pai/mãe/filho", engana-se. Del Priore explica: "Cada qual com sua independência, o terceiro lugar sendo aquele das agendas comuns".
Outra parte interessante é quando ela fala de "todos correndo atrás do culto da felicidade" - percebam que não é "... atrás da felicidade", simplesmente, mas do "culto à felicidade - e arremata que "à infelicidade de não ser feliz, somou-se a vergonha de não se ter felicidade".
A autora fala que "o Estado-Nação, antes ator único na luta internacional, cedeu lugar a uma multiplicidade de atores que agem em função de registros políticos próprios" e da "emergência de novas guerras, ligadas à máfia das drogas ou ao terrorismo internacional".
Para nossa sorte, a autora sugere que o futuro nos reconhecerá pelo seguinte: "A ética voltou à pauta: frente à corrupção e à venalidade, propugnou-se a moralização da vida pública". E faz uma pergunta à qual eu responderia um sonoro "Sim!", que é "Afinal, a boa ética não é a solução para a má política?".
Por fim, ao contrário de sua colega de instituição, não indica que seremos vitoriosos sobre o egoísmo, mas propõe a nós "deste tempo" uma pergunta, à qual responde em seguir, fechando seu texto: "O grande desafio destes tempos? Conciliar políticas de reconhecimento da diferença com as de redistribuição de riquezas e, por meio delas, aceder a uma existência feita de plenitude, significação e dinamismo".
Parece-me que Mary Del Priore detectou várias características bastante representativas do nosso tempo, que poderão, no futuro, realmente identificá-lo.
Espero que tenhamos o discernimento suficiente para vencer o "desafio" a que a autora se referiu.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Um nome para este tempo

O título do post se refere a um "desafio" lançado pelo caderno Prosa&Verso, do jornal "O Globo", a seis pensadores brasileiros. A ideia era que cada um imaginasse como seria pensado o nosso tempo no futuro.
O resultado foi muito interessante... apesar das diferentes abordagens, tipos de textos apresentados e divergências de caracterização.
O texto do qual gostei mais foi "A herança das mutações", de Adauto Novaes - jornalista e filósofo.
Adauto concebe um mundo futuro veloz, volátil e virtual; habitado por transumanos, ciborgs e híbridos biônicos. Nosso tempo, para eles, é identificado como um momento que se define pela revolução tecnocientífica e de uma desqualificação do homem. Ecos de Heidegger? Certamente. Tanto é que Adauto cita o filósofo alemão, além de Paul Valéry.
Continuando...
O autor diz que "vivemos hoje um mundo cercado pelo vazio do pensamento. Devido à velocidade imposta pelos fatos técnicos, o pensamento não consegue acompanhar as transformações e tende a vir a reboque".
Adauto fecha seu texto da seguinte forma: "Nosso tempo será, pois, lembrado pelo vazio do pensamento e por sua condição humana que legou, entre tantos feitos positivos, invenções técnicas memoráveis e teorias bem acabadas, a morte de 191 milhões de vítimas diretas e indiretas da violência política apenas no século XX".
"O alvorecer do século XXI: um tempo perdido", do professor de História Contemporânea Francisco Carlos Teixeira da Silva, é apocalíptico. Mostra-nos um mundo sob as águas; com aumento de temperatura; pandemias; falta de água potável... Caracas! Um muro de contenção se estende do Leme ao Leblon e um dique foi construído na boca da Baía de Guanabara, a fim de evitar que sucumbamos diante da elevação das águas.
"Idade do Verbo", do artista plástico e escritor Nuno Ramos, conta uma breve estória. O autor e alguns amigos foram a um lugar paradisíaco. Enquanto andavam, apareceu um guia, que se ofereceu para mostrar o local. Diante da negativa do grupo, o guia reforçou a ideia de que somente ele poderia explicar-lhes "a proposta do lugar".
Nuno, então, conclui assim seu texto: "Talvez um bom nome para nossa época seja a época da cacofonia, da discursividade desenfreada (em que até cachoeiras têm proposta), agônica e cara de pau, onde tudo se diz e tudo se vende - como caixeiros viajantes habilidosos e aflitos, misturando matéria e espírito em sua mala infindável de ofertas".
Depois falo dos outros três textos.

sábado, 22 de agosto de 2009

Kant e Spinoza, continuando...

O texto que citei antes tem várias partes interessantes. Só não gostei de dois "momentos" do texto. Em um deles pergunta-se se a ética spinozana não seria como uma moral kantiana "avant la lettre"; em outro, aproxima-se o conceito de "potência", de Spinoza, ao de "dever", de Kant, afirmando que a ética de Spinoza, por ser uma ética da potência constituinte, seria também uma ética do dever. Para justificar isso é dito que o único imperativo spinozano seria: "Faça tudo o que puder, porque é a única coisa que deve fazer". Particularmente, não vejo essa aproximação entre os conceitos de "potência" e "dever".
Entretanto, a maior parte do texto é muito bem articulada. A indicação de que tanto Spinoza quanto Kant valorizavam uma ética autônoma - aquela em que a liberdade só pode existir se o indivíduo se impõe a própria norma -, em que a razão tinha peso fundamental na aquisição dessa autonomia, é plenamente correta.
Apesar disso, Kant considera, embora não a enumere claramente entre estas, a ética de Spinoza como heterônima - em que a norma seria imposta externamente.
Um dos pontos altos do texto é o seguinte: "Kant e Spinoza coincidem na crítica à dependência e na defesa da autodeterminação; mas, enquanto um assume a força do desejo e o valor da satisfação, o outro situa a faculdade de desejar entre os impulsos patológicos e a subordina ao sentimento de prazer [que seria um princípio da heteronomia]".
Ambos tentam dizer o seguinte: se há uma adesão pessoal a determinado tipo de comportamento, poderíamos dizer que há liberdade, ainda que se esteja cumprindo uma norma. E essa "adesão" passa, em algum sentido, por uma reflexão empreendida pela razão.
Talvez Kant e Spinoza se afastem quando temos que especificar qual é a "diferença específica" entre o que eles entendem por "razão". A "razão prática" kantiana só se preocupará com a possibilidade de universalização de uma ação, o que só se daria através de uma "lei"; enquanto a "razão" spinozana só se preocupará em aumentar a potência do "ente" que dela faz uso.
Mas a maior diferença, como fica claro pelo texto de Eugenio Fernández, é quanto à participação do desejo na "liberdade". Enquanto Kant pretende eliminar a "faculdade inferior de desejar", que representaria uma forma de "legislação exterior" - e, por isso, heterônoma -; Spinoza faz do desejo a essência do homem, restando apenas "esclarecer" essa faculdade "desejante", a fim de que ela possa querer o que há de mais adequado ao ente, a fim de aumentar sua felicidade... mas de modo ativo e não como uma felicidade que nos submete - uma felicidade passiva -, essa sim representaria uma "coação" que impediria nossa liberdade.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Kant e Spinoza

No Orkut - comunidade Spinoza/Espinosa - surgiu uma informação interessante sobre Kant. O grande prussiano escreveu na "Crítica da Razão Pura": "Quanto à filosofia de Spinoza, o despertar de meu sonho dogmático, ao ler Hume, não foi suficiente para compreender e refutar a profundidade do conhecimento e da verdade no sistema filosófico racionalista de Spinoza, ficando, então, para as gerações futuras descobrir as implicações dessa doutrina filosófica tão intrigante e bela".
A minha impressão foi ótima... apesar de saber das diferenças entre o sistema moral deontológico kantiano e a ética spinozana.
Entretanto, nosso companheiro Cleiton, que também frequenta a tal comunidade, presenteou-nos com a reprodução de um texto de autoria de Eugenio Fernández, da Universidade de Madri, sob o título "Kant contra Spinoza? Duas éticas da autonomia", que pode modificar um pouco esse ponto de vista.
Desejo registrar aqui minhas primeiras impressões sobre o texto, o que já fiz lá na comunidade, apesar de ainda não ter concluído a leitura.
A primeira delas é que Kant não parece, em todos os momentos, ter todo esse "respeito" pelo pensamento spinozano. Mesmo que reconheça que não pode refutar diretamente o filósofo holandês, ele o considera um dogmático e sonhador. É verdade que parece reconhecer a engenhosidade do sistema criado por Spinoza, mas ao mesmo tempo indica-o como falso e quimérico.
Mais curioso, entretanto, é perceber que Kant, filósofo genial e professor universitário brilhante de metafísica e ética, lecionava sem ter o aprofundamento necessário em Spinoza - pelo menos, até 1785 -, indubitavelmente um marco, na História da Filosofia, nessas áreas do pensamento. E isso é comentado por Hammann, quando escreve a Jacobi, dizendo "Kant me confessou não haver nunca estudado a fundo Spinoza". Suas opiniões eram baseadas, em grande parte, em comentadores - principalmente Wolff e Bayle. Isso soa a um comportamente "amadorístico".
E outra coisa a ser destacada, lembrada pelo autor do texto, é que mesmo na "Crítica da Razão Prática" - que deveria demarcar profundamente as concepções de Kant e Spinoza -, o filósofo alemão faz mais ataques à metafísica spinozana do que à sua ética - o que seria de esperar pelo conteúdo desta obra de Kant.
Vale lembrar que essa obra já é de 1788, e que a essa altura, com a polêmica sobre o pensamento spinozano, envolvendo Mendelssohn, Jacobi e Lessing, Kant já havia se debruçado sobre Spinoza. Ainda assim, o autor do texto faz a ressalva que Kant provavelmente não conhecia o "Tratado da Reforma do Entendimento" e a segunda parte (?) da "Ética".
Vale a pena conferir o texto no blog do Cleiton, na parte dos artigos.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Complemento de Heidegger e Spinoza

Talvez tenha faltado registrar no post de ontem que eu imagino que Nietzsche louvaria mais a preocupação com a vida, de Spinoza, do que com a morte, de Heidegger; considerando a primeira como uma atuação mais afirmativa do ser humano.
Obviamente, não falo de uma preocupação "superficial" com a vida, dedicada aos prazeres imediatos e passageiros, mas de uma atitude que revelasse a "potência" do ente humano - "lançado no mundo", sim; mas com um "projeto", onde atualizasse temporalmente esse seu "esforço" de se manter e de adquirir mais "perfeição".
Em vez da "angústia", que niiliza, a "alegria", que remete à "beatitude" e que ultrapassa o "ser para a morte", sem deixar de vivenciar a "finitude"... ainda que "sob uma espécie de eternidade".
Dito dessa maneira, acho que até Heidegger seria um spinozano. Rssss.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Heidegger e Spinoza

Um dos filmes analisados por Julio Cabrera, em "O cinema pensa", na parte que se refere a Heidegger, é "Baleias de Agosto". O filme, segundo conta o autor do livro, apresenta a vida pacata de duas irmãs velhinhas, aparentemente conscientes de que já viveram "tudo" o que tinham para viver. Numa descrição breve, entretanto, fica clara a diferença entre o "ânimo" das duas irmãs.
Cabrera escreve: "Libby tem a atitude amarga e decepcionada de uma pessoa que já não pode continuar postergando o confronto com o ser mesmo enquanto tal e lamenta não ser suficientemente jovem para continuar sendo inautêntica durante mais um tempo. Mas Sarah, com seu otimismo e sua atitude positiva diante da vida [cuidando do jardim, da limpeza da casa, da comida, de suas roupas], talvez não assuma uma atitude mais heideggeriana do que sua desagradável irmã. Simplesmente tem ainda as forças suficientes para considerar o pouco tempo que lhe resta ainda como 'um futuro', embora curto, mas suficientemente cheio de entes que podem continuar separando-a de sua verdadeira condição, que ela não assume. Sua atitude é mais spinozista do que heideggeriana, 'não pensar na morte', inclusive diante de sua presença próxima".
Quando Cabrera compara as atitudes das irmãs, e, através delas, as perspectivas de Spinoza e Heidegger para com a morte, parece que concorda plenamente com o alemão de que a autenticidade só vem com um enfrentamento antecipado com aquela... do que, particularmente, discordo. Entretanto, quando se continua a ler o texto, a "beatitude" spinozana parece clamar pelo seu reconhecimento.
Julio Cabrera fecha assim o parágrafo: "De qualquer forma, com sua atitude esperançada [Spinoza não gostaria muito do termo, mas...], Sarah parece se abrir de forma mais promissora para o âmbito do ser, ao mostrar uma capacidade de encontro com as coisas simples - flores, objetos de cozinha, roupas - infinitamente maior do que a demonstrada pela irmã. A imersão nos entes de Sarah parece ter uma peso ontológico mais profundo e autêntico do que a de Libby".
Ponto para o "nosso" Spinoza e sua filosofia da felicidade!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Heidegger e o cinema

Concluí a parte referente a Heidegger no livro de Julio Cabrera.
A metodologia de exposição do autor é a seguinte: uma pequena introdução ao pensamento do filósofo; uma explanação sobre os conceitos-imagem que aparecem em diversos filmes, que podem ser pensados sob o enfoque daquele filósofo; uma parte biográfica e uma coletânea de trechos de escritos do próprio filósofo.
Só como referência inicial, visto que penso que há espaço para alguns posts sobre Heidegger, destaco uma opinião de Julio Cabrera, que, apesar de bastante simpático ao pensador alemão, diz: "É lamentável que Heidegger tenha depreciado tanto o cinema, vendo-o somente como um produto técnico de 'esquecimento do ser', sem jamais reconhecer sua enorme capacidade de 'desvelar o ser do ente', como reconheceu na poesia".
Concordo com Cabrera. Vários tipos de linguagem, penso, podem servir tanto ao filosofar quanto ao palavrório. Por exemplo, nem toda a poesia é como a de Hölderlin - que Heidegger tanto destaca -, permitindo um acesso especial ao Ser. Há, certamente, poesias "descomprometidas" com esse resultado, ou até inadequadas para alcançá-lo. Desta forma, imagino que o cinema possa servir como mero entretenimento, guiado única e exclusivamente pela "técnica", mas também, em outros casos, como um acesso privilegiado à experiência do Ser. E isso vale também, segundo meu entendimento, para diversas "mídias de massa", ou "tipos de linguagem".

Outro livro de Julio Cabrera

Gostei tanto das partes que li do livro de Julio Cabrera que, sabendo que ele escreveu outro, parti em busca de um exemplar. Ontem, consegui comprar "De Hitchcock a Greenway pela História da Filosofia". Ainda não fui ao texto, mas imagino que, pelo fato do autor dizer que "tentou fazer uma autocrítica e, ao mesmo tempo, uma defesa das categoria básicas (conceitos-imagem e razão logopática)", o livro deve ser melhor ainda que o anterior.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

"O cinema pensa"

Como eu já havia dito que iria fazer, em post recente, dei início à leitura de "O cinema pensa - uma introdução à Filosofia através dos filmes", de Julio Cabrera. Conforme também comentei, o livro permitia uma leitura relativamente independente dos diversos capítulos... e, para saldar uma dívida com meu amigo Júlio, pretendia iniciar pelo capítulo que se referia a Heidegger.
Para entender melhor o livro, entretanto, passei pelo Prefácio e pela parte introdutória do livro ("Cinema e Filosofia - para uma crítica da razão logopática"). E veio a surpresa! Em vez de uma mera reflexão sobre o tema principal dos filmes, sob uma óptica filosófica, há uma teoria "cinefilosófica" muito interessante sendo apresentada.
Aliás, parênteses aqui: tenho que agradecer essa descoberta ao empurrãzinho que a dívida com Júlio me deu. Afinal, não fosse isso, o livro ainda ficaria muito tempo para ser lido.
Mas, voltando...
O livro apresenta dois conceitos muito interessantes: o "conceito-imagem" e a "logopatia".
O conceito-imagem seria uma variação possível do conceito-lógico, construído pela Filosofia tradicional. O conceito-imagem se apoia na duração temporal das imagens apresentadas pelo filme, ao longo da apresentação de uma determinada situação, para criar "conceitos" que, em tese, poderiam também ser construídos ao longo do discurso de um texto. Aliás, o autor demonstra que dificilmente se faz Filosofia sem recursos imagéticos, mesmo que as imagens sejam construídas pelo filósofo com auxílio do seu leitor. A possível diferença entre o conceito-imagem e o conceito tradicional seria um apelo mais profundo à vivência, por parte do espectador/leitor daquilo que é construído, no caso da utilização do primeiro tipo de conceito. Segundo o autor "um conceito-imagem é instaurado e funciona no contexto de uma experiência que é preciso ter, para que se possa entender e utilizar esse conceito".
Quanto à logopatia, Julio Cabrera explica que a "racionalidade logopática" se opõe à "racionalidade (meramente) lógica". Desta forma, o logopático diz respeito a um entendimento que seja também afetivo, e não meramente argumentativo.
Importante, aqui, é destacar, como faz o autor que "o emocional não desaloja o racional: redefine-o". Ou seja, não estamos falando de desprezar o racionalismo, em prol de um "irracionalismo", mas de reforçar que já se racionaliza a partir de um fundo afetivo. Desta forma, a compreensão logopática é racional e afetiva ao mesmo tempo.
Em outros posts, poderia expandir esses dois conceitos, a fim de que eles fiquem melhor esclarecidos. Por ora, gostaria apenas de registrar que Julio Cabrera lista alguns dos filósofos "páticos" ou "logopáticos" - embora eu ache esse segundo termo melhor - e, dentre eles estão: Schopenhauer, Nietzsche, Kierkgaard e Heidegger - para felicidade, imagino, de nosso amigo Júlio... que não é o Cabrera. Rsss. Sobre estes, diz o autor: "Eles não se limitaram a tematizar o componente afetivo, mas o incluíram na racionalidade como um elemento essencial de acesso ao mundo. O pathos deixou de ser um 'objeto' de estudo, a que se pode aludir exteriormente, para se transformar em uma forma de encaminhamento".
O último registro é apenas a impressão de que Spinoza deveria constar dessa lista... e talvez, até, de encabeçá-la.
Prometo mais posts sobre o livro.

Uma definição de Voltaire

Aprecio muito o modo irônico como Voltaire escreve - ah... esses filósofos franceses! Mesmo assim, tive um "desentendimento" com ele. Não é que, no seu "Dicionário Filosófico", o fantástico pensador e escritor definiu minha tão cara Metafísica assim: "Quando aquela pessoa com a qual alguém está falando nada entende, e quando a própria pessoa que fala nada entende, então, isso é metafísica".
Caramba... o francesinho arrasou a "Filosofia Primeira" de Aristóteles!

domingo, 16 de agosto de 2009

Contrarreforma

Eu tenho me preocupado em registrar minhas ideias segundo a chamada "Nova Ortografia". Tenho ouvido reclamações por toda parte, mas isso é natural, visto que qualquer novidade implica um período de adaptação, no qual se faz necessário um esforço maior para assimilação da nova situação.
Entretanto, as coisas ficaram mais delicadas quando li que haveria uma espécie de "revolta" contra a adoção das novas regras e que, em Portugal, já há uma lista assinada por duzentas mil pessoas contra a reforma e "em defesa do próprio patrimônio linguístico". Aí, achei um certo exagero. Mas, quando falo isso, todos que conheço dizem que estou errado e, alguns, até afirmam que não utilizarão as modificações.
Felizmente, pude ler em O Globo, opinião diversa. Ufa... não estou sozinho! E quem escreve não é um sujeito qualquer, é Paulo Geiger, editor dos dicionários Aulete.
No artigo, Geiger diz concordar com o argumento de que "a língua é um organismo vivo, que se modifica de baixo para cima", mas faz a ressalva de que não se deve confundir a "ortografia" com a "língua". A língua será sempre mais "ampla" e mais "viva" do que a ortografia. Entretanto, é necessário um certo regramento - sempre impositivo, obviamente - que mantenha a "base", relativamente "fixa", sobre a qual a língua fará suas "piruetas".
Geiger ressalta três questões sobre as quais deveríamos pensar:
1) A conveniência dessa reforma - Essa é uma questão levantada em 1986 e, aparentemente, resolvida. Tanto é que os países assinaram a carta de compromisso para implementarem as novas regras.
Neste item, Paulo Geiger faz uma observação muito interessante sobre o fato de não estar em questão os aspectos "lusófonos", mas apenas os "lusógrafos".
2) O atendimento ao objetivo de unificação ortográfica - Ao ser vago e genérico e ao admitir mais de uma grafia, o Acordo reconhecidamente não atende às pretensões iniciais.
3) O preenchimento dos vazios - A Associação Brasileira de Letras não poderia sanar as deficiências natas do processo. A não coordenação com entidades similares em todos os países da lusografia, acaba por impedir a imaginada unificação.
Neste item, o autor faz outra observação interessante: "Daí a perplexidade ante a esdrúxula situação na qual o Brasil 'unificou' por decreto uma ortografia que está usando sozinho".
Paulo Geiger opina que "o Acordo não tem a pretensão de unificar a língua, seus usos e significados em cada país, região ou nicho de uso. Portanto, além de desnecessária, a defesa das particularidades da língua gera confusão ao se misturar com as justas críticas ao Acordo e sua implementação. A particularidade do uso da língua não está ameaçada, mesmo porque não há gramático ou lexicógrafo que consiga fazer com que a língua seja usada desta ou daquela maneira. A questão da ortografia é diferente".
E conclui que "mais factível e mais construtivo do que repensar do zero a reforma será partir da nova ortografia e, nos dois anos e meio oficiais de adaptação, corrigir (inclusive, e para começar, no VOLP), por meio do diálogo e consenso, o que for necessário ou conveniente corrigir".
Agora, cá entre nós, exceto pelo hífen, as novas regras não têm nada de tão problemáticas para nós brasileiros. E mesmo as regras do hífen acabarão por ir, aos poucos, com o uso, sendo assimiladas.
Abaixo a "Contrarreforma"!

sábado, 15 de agosto de 2009

América "Latrina"

É impressionante o "gosto" dos presidentes daqui da nossa América "sulina" pelas reeleições... melhor dizendo, pelas "sucessivas reeleições"... ou "re-reeleições". Rsss.
Eu já ouvi dizer que, em termos esotéricos, o "três" é o número da perfeição. Então, deve ser por isso que ninguém quer parar mais no segundo mandato; afinal, a "harmonia" só aconteceria justamente no mandato de número "três".
Por que digo essas coisas?
Porque li que o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe - aquele mesmo da polêmica base norte-americana a ser instalada aqui na "nossa América" - começa a trabalhar por um referendo que avalize sua candidatura ao terceiro mandato.
Outro presidente - democraticamente eleito... até onde sei - partindo para essa!?!? Será que ele, que é ferrenho opositor de Chavez, não reflete sobre a confusão dessas "re-reeleições", inclusive exemplificada pelo recente caso do Zelaya?
Enquanto isso... aqui no nosso Brasilzão, vez por outra, ouvimos a estória do terceiro mandato do Lula.
Haja paciência!

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Devendo ao Júlio

Tenho dado uma olhadinha no blog e o único companheiro que vejo colocar seus comentários é você... e logo com quem eu estou na maior dívida.
Então, vou começar a me redimir.
Uma de suas últimas perguntas foi se o livro "O cinema pensa" tinha algum capítulo referente ao "seu amigo" Heidegger. A resposta é que tem. Para provocar um pouco nossas discussões, começarei justamente por essa parte do livro... e, logo que tiver algo a registrar, coloco um post aqui.
A confusão anda grande por aqui. Tenho procurado ler, além do livro sobre Spinoza, do Alcantara Nogueira, livros onde os capítulos sejam relativamente independentes - esse é o caso de "Marcas do Caminho", de Heidegger, e "Na escola da Fenomenologia", de Paul Ricoeur... mas prometo colocar "O cinema pensa" nesta lista. Afinal, ele corresponde ao perfil que tracei. Rsss.
Quanto à ética spinozana, sei que é outra dívida minha. Vou continuar falando da filosofia de Spinoza ao longo dos posts. Estávamos onde mesmo?
Ah... entrei no time do Orkut. Participo, agora, de duas comunidades do Spinoza. Se tiver tempo, dê uma olhada.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Genealogia da Malandragem

A revista "Filosofia - Ciência&Vida" deste mês tem como matéria de capa "Nietzsche e o jeitinho brasileiro". Na própria capa há a referência de que "[Nietzsche] explica a genealogia da malandragem". Já no interior da revista, o título da matéria, que é o mesmo deste post, vinha seguido das seguintes palavras "O brasileiro sempre tem um 'jeitinho' para tudo. Saiba que relação existe entre a peculiar malandragem do brasileiro e a construção da Ética e da Moral na visão de Nietzsche".
Fiquei bastante curioso. Onde encontrar o filósofo da "transvaloração de valores" falando do "jeitinho brasileiro"? Lancei-me ao texto, de João E. Neto... mas não gostei da "costura" entre as ideias de Nietzsche e o conceito de "jeitinho brasileiro".
É verdade que o texto começa corretamente apontando que "a 'ética' do jeitinho e malandragem coexiste com a ética oficial. O cidadão que cobra dos políticos o cumprimento dos preceitos da ética tradicional é o mesmo que usa o expediente do jeitinho e da malandragem".
Prossegue, também corretamente, explicanco o método genealógico de Nietzsche, que, ao criticar os valores morais, rompe com a tradição metafísico-religiosa, que considerava os valores como sendo eternos, universais e imutáveis, passando a pensá-los por um viés histórico. Escreve o autor: "o pensador alemão enxergou a necessidade de realizar um exame acerca das condições históricas por meio das quais os valores foram engendrados. E coloca as seguintes questões: De que forma esses paradigmas morais teriam sido gerados? Por quais povos e em que época? Em que condições se desenvolveram e se modificaram?". O autor cita, então, um trecho de "Genealogia da Moral", onde está escrito: "Sob que condições o homem inventou para si os juízos de valor 'bom' e 'mau'? Que valor têm eles? Obstruíram ou promoveram, até agora, o crescimento do homem? São indícios de miséria, empobrecimento, degeneração da vida? Ou, ao contrário, revela-se neles a plenitude, a força, a vontade de vida? ... O próprio valor destes valores deverá ser colocado em questão"... e completa João E. Neto "a partir do critério vida".
Até aqui tudo vai bem. A partir da tentativa de encontrar a genealogia da "ética da malandragem" no tal "critério, que é a vida", a coisa passa a ficar complicada.
O autor indica que as "violações ético-legais seriam uma espécie de 'drible' nas adversidades da vida, num país historicamente repleto de desigualdades. Tomando esse raciocínio como premissa, podemos dizer que, no Brasil, burlar as regras morais e legais foi algo que se impôs como forma de adaptação ao 'ambiente hostil'. O brasileiro precisou ser malandro para sobreviver numa sociedade cruel e de enorme abandono do poder público". E, em trecho posterior, dá exemplos de algumas dessas "violações ético-legais", dentre elas: "a mãe que fura a fila do atendimento de um sistema de saúde saturado para salvar o filho; ... o motorista que avança o sinal vermelho à noite para não ser assaltado...".
Parece-me que há dois enganos aqui. Primeiro, o "sistema de valores" que guia uma sociedade, segundo Nietzsche explica, diz respeito ao que está estabelecido como "correto e errado fazer". O paralelismo pretendido pelo autor da matéria não é válido quando se trata de falar sobre dois sistemas de valores que coexistem. Além disso, é óbvio que há "desvios morais pequenos"... ou "malandragens" em todas as sociedades. Esses "desvios morais pequenos", admitidos pelo senso comum, ainda que apenas tacitamente, aparecem desde os primórdios da sociedade ocidental. Um caso típico é o da prostituição. Os senhores casados, desde há muito, se serviam das moças "fáceis" e mantinham sua postura "moral" diante da esposa e das filhas - exigindo, inclusive, a virgindade destas como item necessário. Ou seja, sempre se admitiu uma certa "flexibilidade" quanto aos "pecadilhos".
Mas isso não tem a ver com o que Nietzsche diz. Inclusive, isso só reforça a ideia do filósofo de que os fracos criam uma determinada moral com inveja do que não podem obter às claras, por não possuírem a "potência" dos fortes. Essas "escapulidas" da moral estabelecida seriam justamente o momento em que eles podem se sentir fortes, abandonando aquela moral construída para "ovelhas", que são eles mesmos.
Em segundo lugar, alguns dos exemplos dados pelo autor não são, de modo algum, formas de "malandragem"; são, sim, necessidades. Ninguém espera com senha, enquanto seu filho morre... a não ser que não haja outro jeito. Ninguém para no sinal com a forte impressão de que será assaltado... mesmo pagando multa. A "malandragem" implica a vantagem pela vantagem, pelo mero individualismo do "Me dei bem!".
Portanto, acho que João E. Neto não obteve êxito no seu intento.
De qualquer forma, a matéria cita uma referência interessante... e preocupante, da antropóloga Lívia Barbosa, que diz "Ao funcionar como válvula de escape, ela [a transgressão pelo jeitinho] impede o surgimento de uma pressão social efetiva que leve a mudanças tão necessárias no nosso aparato legal e administrativo".
Realmente, os "jeitinhos" só vão adiando um enfrentamento necessário dos problemas profundos da sociedade brasileira... postergando a solução efetiva desses mesmos problemas.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Novo colaborador

Boa surpresa ao entrar hoje no blog: temos mais um colaborador.
Logo de início, quero dar-lhe as boas vindas e dizer, como faço com todos os amigos, que se sinta à vontade para fazer seus comentários sobre os assuntos debatidos, ou mesmo para fazer os comentários "off topic", como diz meu compadre, abrindo novos temas.
Uma curiosidade a mais, o CGA - nosso novo colaborador - é engenheiro como eu. Se bem que, pelo seu blog, acho que ele está mais ligado em outros assuntos do que na Engenharia, também como eu.
Seja bem vindo, CGA!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Extraterrestres e Filosofia

Na última vez que encontrei meu compadre Paulo, ele revelou que sempre teve curiosidade em saber qual a minha opinião sobre a vida fora do nosso planeta.
Eu expliquei que não tenho nenhuma posição mais firme a respeito do assunto. Não acho impossível que haja seres vivos em outros lugares, visto que existem inúmeras galáxias, com diversos planetas que poderiam conter organismos vivos, mesmo que diferentes das espécies que conhecemos. Aliás, além de não achar impossível, acho até que é o mais provável. Entretanto, imagino que, sobre esse assunto, contam-se várias estórias meio inverossímeis. Da existência de vida extraterrestre até a presença de comandantes de naves intergalácticas que observam a Terra, com missões espiritualistas, por exemplo, eu acho que há uma distância muito grande... quase infinita.
O assunto saiu da minha cabeça. Entretanto, por esses dias, vi a revista “Filosofia – Ciência&Vida” desse mês, que traz como matéria de capa “Nietzsche e o jeitinho brasileiro”, tem também a matéria “A afirmação cósmica da vida”, de autoria de Alexey Dodsworth.
O texto começa por apresentar a posição de Kant que, no período pré-crítico, “numa acertada intuição, nos revelou... [que] o sistema solar é apenas um entre incontáveis outros”, e confrontá-la com a de Aristóteles. Este afirmava que não poderia haver vida além da esfera supralunar, visto que aí só haveria uma substância imutável e eterna. Desta forma, a vida, que está sempre sujeita à geração e à corrpução, não poderia existir nesse lugar.
Apesar de estar errada, a posição de Aristóteles era plenamente coerente com seu sistema. Kant, por outro lado, reconhecia que não tinha evidência alguma para suas elucubrações mentais. Todavia, na “Crítica da Razão Pura” declarou: “Não devo hesitar em arriscar toda a minha reputação na verdade da proposição – que pelo menos alguns dos planetas que vemos são habitados. Portanto, digo que tenho não meramente opinião, mas forte crença na correção daquilo em que arriscaria mesmo muitas das vantagens da vida: existem habitantes em outros mundos”.
Eu nem sabia que Kant tinha se metido num assunto desses. E, apesar de acreditar na mesma coisa que ele, não tenho o mesmo tipo de certeza, nem arriscaria as “muitas vantagens da vida” nessa mera crença.
Bom texto.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Cine-filosofia

Para os amigos que acompanharam os posts sobre o livro "Cinefilô", de Ollivier Pourriol, deve ter ficado um gostinho de "quero mais". É bem verdade que, daquele livro, eu só li e comentei a parte referente ao nosso querido Spinoza, descartando Descartes (desculpem-me o trocadilho. Rsss).
Eu mesmo fiquei com saudades do livro. Nessas minhas andanças pelas livrarias, reencontrei um livro, que não é novo, mas que recebeu boas referências em jornais, na época do seu lançamento no Brasil, em 2006, que é "O cinema pensa - uma introdução à Filosofia através dos filmes", de Julio Cabrera. Ainda não comecei a lê-lo, mas já tive uma boa impressão pelo seu prefácio.
Outro livro que comprei, esse realmente um lançamento, foi "Na escola da Fenomenologia", de Paul Ricoeur. Este livro é uma reunião de textos escritos ao longo dos anos pelo filósofo Paul Ricouer, que dizem respeito, como o título indica, à Feomenologia. Fui logo ler o artigo "Kant e Husserl", que pretende "discernir, por trás da epistemologia kantiana, uma fenomenologia implícita, cujo revelador, de certo modo, será Husserl. Nesse sentido, Husserl continua alguma coisa que no kantismo estava ... no estado embrionário". Bem interessante o texto, que ainda não li integralmente.
Dois livros que prometem...

Mais uma colaboradora

Eis que abro o blog e encontro mais uma colaboradora. E, como faço sempre, quero registrar minhas boas vindas. Sinta-se totalmente à vontade para fazer qualquer intervenção, melhorando - e até corrigindo - os rumos de nossas discussões.
Seja bem vinda, Nathy!

domingo, 9 de agosto de 2009

Dia dos Pais

Entre os que colaboram com o blog, há mulheres, há jovens, há solteiros e há, como eu, pais. Para estes últimos, parabéns pelo dia de hoje. Para os outros, um dia feliz, ao lado de seus pais, se houver oportunidade.
Feliz Dia dos Pais!

Trecho final da biografia de Spinoza

O primeiro capítulo do livro do Alcantara Nogueira sobre Spinoza diz respeito à biografia deste pensador.
Para mostrar a admiração do autor pelo nosso querido filósofo, registro parte do conteúdo do último parágrafo desse capítulo.
"Preocupado com o valor do conhecimento, [Spinoza] levou de vencida verdadeira multidão de anti-homens, cuja orientação se alicerçava sob o signo do ódio, da inveja e da hipocrisa... todos sub-homens, cuja existência e ação só tiveram como mérito realçar a grandeza de Spinoza, como homem e pensador - glória da humanidade e do saber filosófico de todos os tempos".
Faço minhas as suas palavras, Alcantara!

sábado, 8 de agosto de 2009

Concluindo o "passeio"

Conforme eu havia prometido, registro um resumo da conversa do filósofo e do devoto que ocorre no livro de Diderot, "O passeio do cético".
O filósofo, habitante da Alameda dos Castanheiros, pergunta ao devoto, habitante da Alameda dos Espinhos, nos anos que percorreu as estradas com mil angústias, se havia percebido algum progresso e se havia visto mais claramente a entrada do palácio do seu soberano ou se aproximado mais dele. E ele próprio responde que, em vez de se esclarecer, o devoto teria se imposto andar às cegas, com os olhos cobertos com uma venda. Lança, então, a pergunta: "Se teu príncipe é razoável e bom, que prazer ele pode ter ao saber que vives em trevas profundas?"
O devoto fica horrorizado. Pergunta ao filósofo como ele ousa negar a existência do príncipe. E afirma para o filósofo: "Quando compareceres diante do príncipe, sem a faixa nos olhos, sem a roupa e sem bastão, serás condenado a tormentos infinitamente mais rigorosos do que os incômodos passageiros aos quais me submeti. Arrisco pouco para ganhar muito; não queres arriscar nada arriscando perder tudo" - Diderot faz clara alusão à "Aposta de Pascal".
O filósofo indica que não haverá "encontro final", se a alma for apenas O filósofo indica que não haverá "encontro final", se a alma for apenas um efeito da organização do corpo. Mas o melhor argumento do filósofo, penso, vem a seguir, quando ele diz: "Mas teu príncipe é soberanamente feliz. Se se basta a si mesmo, como dizes, para que servem tuas promessas, tuas preces e tuas contorções? Ou ele conhece de antemão o que desejas, ou o ignora absolutamente; se conhece, já está determinado a te conceder ou negar o que desejas; tuas preces inoportunas não lhe arrancarão dom algum”. Lembro, aqui, de Spinoza, quando diz algo como “Quem ama a Deus, não pode exigir que Ele lhe ame em troca”.
O devoto explica que terá como recompensa aos seus infortúnios presentes a visão do príncipe sem cessar, e diz que isso se dará “por meio de uma lanterna que nos será incrustada sobre a glândula pineal... e que nos revelará tudo tão claramente que...” – alusão óbvia ao posicionamento da alma, segundo Descartes.
O filósofo o interrompe o devoto dizendo “Mas até agora tua lanterna está embaçada: tudo o que depreende de tuas palavras é que só serves a teu mestre por medo, e que tua afeição é fundada apenas no interesse... ganharias se passasse para o nosso lado: livre do medo e de qualquer interesse, viverias pelo menos tranqüilamente, e, se arriscasses alguma coisa, seria no máximo deixar de existir ao final de sua vida”. Essa é outra passagem em que parecemos ler Spinoza, que despreza o culto que se faz pelo mero “interesse” em receber benesses divinas. Além disso, quando Diderot cita o medo, não há como deixar de lembrar do lema spinozano de que “onde há esperança há medo”... e vice-versa.
O devoto não resiste mais à conversa, que se encerra com um grito de “Demônio! Vade retro” e que chama os guias para prenderem o filósofo, que foge de volta para sua alameda.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

"Palavrório" tricolor

Vez por outra me rendo à inautenticidade heideggeriana, encarno meu comportamento "a gente", e deixo o "palavrório" correr solto.
Este é um desses momentos... e o "palavrório" será futebolístico e tricolor. Também, não é para menos, o meu Fluminense não ganhava havia onze jogos e, de repente, mete uma goleada de cinco a um! Não há procura pelo "sentido do Ser" que resista a isso! Rsss.
Apesar de continuarmos muitíssimo mal na tabela de classificação, ontem a gente "pegou um fôlego" para continuar na luta.
Dá-lhe, Nense!

Para completar

Duas rapidinhas, para completar o post anterior, que estão hoje na coluna do Ancelmo Gois, de O Globo.
"Quem anda quietinha, fingindo-se de morta, é a Câmara dos Deputados. Ou alguém acha que a Câmara é diferente do Senado em matéria de podridão?" e
"Só para lembrar. O Maranhão, onde o conglomerado Sarney dá as cartas desde 1965, tem o segundo pior IDH do país. Só perde em miséria para as Alagoas, de Collor e Renan. Ou seja, tutti buona gente."
Pobre de nós, brasileiros, sendo representados por esse pessoal!

Defendendo Sarney

Li o comentário de ontem do compadre. Tenho a dizer que não aceito que Sarney seja cassado pelas falcatruas de que o acusam. Não, não e não! Ele está com sérios problemas de memória... prova disso é que ele nem reconhece seu próprio afilhado, o tal Rodrigo Cruz. Pobre Sarney! Espero que depois de terem apresentado a bela foto em que ele aparece ao lado do casal formado pela filha de Agaciel e do jovem afilhado esquecido, ele tenha recobrado sua memória. Fiquei até preocupado, quando ele mostrou um nome e disse que era do gabinete de Roseana Sarney, que ele fosse dizer "E eu nem conheço essa tal senadora!". Que tal, então, defender a cassação de Sarney pela sua senilidade?
Agora, falando sério.
Estou tão indignado quanto meu compadre. E isso é até curioso, visto que essas coisas acontecem de modo tão corriqueiro, que nem deveríamos mais nos espantar. Aliás, talvez seja isso mesmo que os políticos esperem que aconteça um dia. Assim, eles poderão dar essas desculpas esfarrapadas sem que ninguém se incomode mais.
O maior problema é que a maioria dos políticos - e já percebemos que os seus familiares, também - pensa que o "público" é deles. E eles imaginam que essa "privatização" do público é garantido pelos votos que receberam. A partir dessa pretensa "privatização", eles não acham que estão fazendo nada errado.
Fica, inclusive, difícil apontar os inocentes, visto que percebemos que tanto a situação quanto a oposição estão "enrolados" com casos semelhantes. Se um lado emprega descaradamente seus "queridos parentes", o outro mantém na folha de pagamento um "dedicado estudante" que, para servir melhor seu país, vai estudar no exterior... obviamente, sem a possibilidade de realizar as tarefas que lhe seriam designadas pelo seu superior.
É... essas são as idiossincrasias de nossa tão cara democracia...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Lendo Alcantara

Fiquei com saudade da leitura que fiz do livro "Espinosa", de Steven Nadler... que, infelizmente, ainda não foi publicado por editora brasileira.
O volume de informações biográficas do livro de Alcantara Nogueira não poderia, obviamente, ser comparado com o de Nadler, que é uma biografia, no sentido estrito, enquanto o primeiro é um livro sobre a filosofia spinozana, que passa pela história do filósofo para detectar influências.
De qualquer forma, para um livro com apenas vinte páginas biográficas, o trabalho foi muito bem feito. Aliás, uma informação que não vi nem em Nadler foi dos nomes e matérias dos professores do jovem Spinoza - além dos muito conhecidos Menasseh ben Israel e Saul Levi Morteira -, e que o próprio Alcantara destaca que é informação inédita no Brasil... em 1976... mas que, imagino, ter continuado como inovação, apesar dos livros lançados no Brasil desde então.
Por enquanto, só uma pequena divergência quanto à importância do pensamento de Uriel da Costa sobre o menino Spinoza - com apenas oito anos, quando do "acontecimento Uriel" -; embora o autor reforce a "presença" de Juan del Prado como "quem ofereceu as primeiras inspirações para a formação da mentalidade filosófica juvenil de Spinoza", reconhecendo-lhe o aprofundamento de questões levantadas por Uriel e que viriam, posteriormente, a ser desenvolvidas por Spinoza. Talvez, então, Uriel esteja presente apenas indiretamente em Spinoza.
Valeu muuuuuuuuuuito a pena ter comprado o livro!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Mais um novo colaborador

Como já é o costume, gosto sempre de registrar a entrada de um novo colaborador (afinal, aquele rótulo de "seguidor" é horrível!). Agora, temos como companheiro o jovem (afinal, eu já passei dos 40, e quem tem menos de 30 é "jovem" para mim! Rsss) Cleiton.
Seja bem vindo, amigo! Esperamos, todos, sua colaboração nos debates que se iniciam por aqui. Apesar de saber que você é um spinozano convicto, saiba que os nossos "devaneios filosóficos" passeiam por vários assuntos... e você sempre estará convidado a participar de todos eles.
E, mais importante de tudo: sempre que houver um engano de minha parte, fico feliz em vê-lo apontado pelos amigos.
A casa é sua. Entre; fique à vontade e usufrua da amizade de todos.

O Spinoza de Ghiraldelli

Gosto muito do filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. Um de seus últimos livros, "História da Filosofia - dos pré-socráticos a Sto. Agostinho", me parece uma obra de referência. Entretanto, nas obras que tenho de sua autoria, mesmo as que passam por diversos períodos históricos, percebo que ele sempre "esquece" de Spinoza. Fiquei, então, curioso, aguardando o próximo "História da Filosofia", que incluísse nosso caro filósofo. O livro ainda não foi publicado, entretanto, pude ouvir o que Ghiraldelli Jr. pensa sobre Spinoza no CD que acompanhou a revista "Amantes do Pensar - grandes filósofos da História em 30 questões"... e não gostei.
Logo na apresentação do luso-holandês, feito pela entrevistadora Sílvia Sibalde", é dito que Spinoza "ao contrário dos pais, não tinha qualquer identificação com a religião". Na verdade, logo no início, não consta que Spinoza não tivesse identificação com a religião. Ao que parece, durante o período em que seu pai estava vivo, Spinoza manteve-se um estudante dedicado, sendo aluno, inclusive, de um dos mais respeitados rabinos de Amsterdã, Saul Morteira.
Ainda na introdução, a entrevistadora nos informa sobre os motivos da excomunhão de Spinoza. Tudo vai bem, até que ela diz que o luso-holandês morreu de tuberculose com apenas 35 anos, quando sabemos que foi aos 44. O homem já morreu tão cedo, por que "matá-lo" com menos nove anos ainda?
Inicia-se, propriamente, a entrevista com Paulo Ghiraldelli Jr... e surge uma informação bastante problemática: segundo Ghiraldelli, Spinoza "está totalmente voltado para resolver o problema cartesiano: a distinção corpo e mente". O plano de Spinoza me parece muito maior do que esse, embora certamente passe pela solução desse problema.
Já no tocante à diferença entre o pensamento spinozano e o cartesiano sobre a relação corpo e mente, parece que Ghiraldelli acerta ao afirmar que o luso-holandês descarta o dualismo, entendendo corpo e mente como aspectos de uma substância única, sem caracterizá-la como material ou mental.
A seguir vem a pergunta se Spinoza acreditava em Deus. Ghiraldelli responde "Ah, certamente! Não só acreditava em Deus, como esse tipo de... materialismo é determinista. Você tem um Deus que organiza o Cosmos... E essa organização não pode ser aleatória. Ela tem que ter uma inteligência por trás".
Espera lá! "Inteligência por trás" que "organiza o Cosmos"???? Isso é um Deus transcendente! Extinguiu-se a ideia máxima de Spinoza: a imanêcia de Deus na Natureza... e o famoso "Deus sive Natura". Um filósofo do gabarito de Ghiraldelli dizendo isso?! Não dá para entender!
Mesmo reconhecendo que não se pode ser especialista em tudo, se um filósofo vai gravar uma entrevista que será formadora de opinião para muitos iniciantes, ele tem a obrigação de fazer uma pesquisa anterior, para não informar errado.
Ponto negativo para Ghiraldelli nessa!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Quase concluindo o "passeio"

Continuando a viagem por "O passeio do cético", de Diderot, comento as duas últimas alamedas.
Como diz o ditado "Os últimos serão os primeiros". Então, começo pela última alameda descrita por Diderot: a "Alameda das Flores".
Como eu já havia dito antes, essa alameda diz respeito ao caminho dos prazeres. Seria de se esperar que Diderot - cuja vida é marcada por tantas estórias de amantes - elogiasse esta via. Entretanto, o que vemos é uma crítica severa - seria um reconhecimento dos erros na vida particular? Diderot, na voz da personagem, mostra as "aventuras" amorosas dos viajantes dessa alameda, deixando clara a pouca importância que eles dão ao amor verdadeiro. Os casos amorosos citados envolvem, sempre, falcatruas e espertezas.
A via que ganha maior destaque, como seria de se esperar num livro de Filosofia, ainda que seja um romance filosófico, é a "Alameda dos Castanheiros" - que corresponde ao caminho seguido pelos filósofos.
Nesta parte, Diderot explica que a "multidão está dividida em bandos" - que são as escolas filosóficas. Ele passa a descrever as posições de cada escola, sempre de modo muito irônico. A descrição dos "pirrônicos" é a seguinte: "pessoas que dizem que não há nem alameda, nem árvores, nem viajantes; que tudo o que vemos poderia ser alguma coisa e poderia também não ser nada", caracterizando bem os céticos como aqueles que têm que fazer uma suspensão dos seus juízos, visto acreditarem que não podem conhecer nada.
As descrições seguem, com Diderot delineando os perfis dos ateus, deístas, panteístas, idealistas/solipsistas, etc.
A caracterização dos ateus é muito sugestiva, também: "admitem que há uma alameda e árvores, mas pretendem... que o príncipe é apenas uma quimera, que a venda dos olhos é o uniforme dos tolos e que o temor do castigo atual é a única boa razão para se conservar a roupa limpa. Caminham intrepidamente em direção ao final da alameda, onde acham que a areia afundará.... e que serão engolidos, não sendo apegados a nada". Lembrando que "príncipe", "venda nos olhos" e "roupa limpa" são as metáforas para "Deus", "fé cega" e "alma pura", respectivamente.
Não poderia deixar de registrar o "bando" cujo líder é descrito como "uma espécie de guerreiro, que fez incursões frequentes e sempre causou alvoroço na alameda dos espinhos" - o nosso querido Spinoza, segundo a nota da edição original. O trecho do texto onde esse grupo aparece é o seguinte: "Um quarto bando dir-te-á que a alameda foi construída sobre as costas do monarca... Tira-se proveito da razão e de algumas expressões equivocadas para insinuar que o príncipe faz parte do mundo visível; que ele e o universo são apenas uma e mesma coisa e que nós mesmos somos parte de seu vasto corpo".
Há dois pontos altos nesse trecho do livro: o diálogo entre um devoto e um ateu e a reunião de representantes das diversas escolas num debate.
O primeiro, eu vou deixar para registrar num post futuro, pois ele merece um pouquinho mais de espaço. De qualquer modo, como "aperitivo", digo que o trecho é bem representativo de uma conversa entre um "crente" e um "não crente" - nem diria, necessariamente, ateu... poderia ser um agnóstico, também. Um dos pontos que vale a pena registrar é aquele em que o ateu, que pretende usar a "luz natural" da razão, vê-se embaraçado pela constante referência à Bíblia, por parte do crente. Ele diz "Ah, deixai para lá vosso código. Combatamos com armas iguais. Apresento-me sem armadura e de boa vontade, e vós vos cobris de um arnês mais apropriado para embaraçar... seu homem do que a defendê-lo... E de onde tirastes que vosso código é divino?... Que confiança podeis ter nesses relatos maravilhosos dos quais essa obra está cheia?... Acreditais e quereis obrigar os outros a acreditar em fatos inusitados, invocando escritores mortos há mais de dois mil anos, enquanto vosos contemporâneos vos enganam todos os dias sobre acontecimentos que se passam a vosso lado, e que estais em condições de verificar!".
Sinceramente, não há como deixar de concordar com Diderot de que, sem uma avaliação crítica do que lemos, no nosso quotidiano, podemos ser facilmente conduzidos por opiniões alheias... que diremos, então, de textos tão pouco verossímeis; escritos com parcialidade total; cheios de interesses, nem tão obscuros, de propaganda; narrando fatos de tantos e tantos séculos (em verdade, dois milênios) anteriores.
O outro ponto a destacar é o encontro dos representantes de céticos, ateus, deístas, panteístas e idealistas.
Nesse debate, surge um questionamento que está muito na moda hoje, no que diz respeito ao embate entre o criacionismo e o evolucionismo. Um dos representantes deístas diz: "Temos diante de nós uma máquina... um relógio não revela a inteligência do relojoeiro que o construiu? Ousaríeis afirmar que são obras do acaso?", ao que o ateu responde: "As coisas não são iguais. Comparais uma obra acabada, cuja origem e cujo autor são conhecidos, com um composto infinito, cujo início, cujo estado atual e cujo fim são ignorados, e sobre cujo autor não fazeis senão conjecturas". O deísta insiste: "Sua estrutura não anuncia um autor?" e o ateu retruca com um argumento que, penso, é realmente decisivo: "Não. Não estais vendo como ele é. Quem vos disse que essa ordem que admirais aqui não é desmentida em nenhum lugar? Será que vos é permitido tirar conclusões a partir de um ponto do espaço para o espaço infinito?".
Nota do tradutor destaca que essa limitação da prova pelos efeitos já havia sido assinalada pelo inteligentíssimo David Hume em seus "Diálogos sobre a religião natural".
Uma "simplificação irônica da filosofia de Espinosa", segundo nota do tradutor, é feita um pouco a seguir da passagem anterior. O começo deste trecho lembrou-me mais uma referência à negação da causalidade, como fizera Hume. Nele, o panteísta rejeita a tese da regularidade do mundo, indicando que o príncipe (Deus) poderia, um dia, resolver modificar o que observamos. Fico com a impressão de haver, enganadamente, uma referência a uma "vontade" em Deus/Natureza, que não parece se coadunar com o pensamento spinozano.
De qualquer forma, o trecho final é totalmente pertinente ao sistema spinozano, ao indicar que "Procurai-o [a Deus] antes em vós mesmos. Fazeis parte de seu ser; ele está em vós, vós estais nele. Sua substância é única, imensa, universal; somente ela existe: o resto são tão-somente seus modos".
Por fim, duas pequenas passagens divertidas.
Na primeira, o ateu se rebela contra a observação de que a beleza de todas as coisas existentes revela a "presença" de Deus: "Bela ocupação para esse grande monarca, a de exercer o seu savoir-faire sobre os pés de uma lagarta e sobre a asa de uma mosca".
Na segunda, um cético fala sobre o extenso conhecimento dos deístas sobre os desígnios de Deus: "Esses senhores são os confidentes do grande artífice, assim como os eruditos são os confidentes dos autores que comentam, para fazê-los dizer o que nunca pensaram".

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Um tesouro spinozano

Os últimos posts têm falado das sensações. Seguindo esta linha, este post poderia ter como título "Uma dica para a visão", dizendo respeito à leitura.
Vou contar, então, uma estorinha.
Por conta da indicação do lançamento do livro de Amauri Ferreira, fui tentar comprar o livro, chegando à Estante Virtual. Percebi que a busca se dava pelo termo "Spinoza", e que havia outros resultados nessa busca.
Fiquei surpreso, primeiramente, com a publicação "O encontro de Aristóteles e Spinoza", e mais ainda em saber que este livro estava disponível aqui no Rio de Janeiro. Visto que sou admirador de ambos os filósofos, fui em busca da publicação.
Outro título que surgiu foi "O método racionalista-histórico em Spinoza". A pequena descrição causou-me interesse na aquisição do mesmo.
Fui buscar ambos os títulos. E consegui adquiri-los... além de outros, como faço costumeiramente.
O primeiro, "O encontro de Aristóteles e Spinoza", de Orlando Mara de Barros, mostrou-se uma decepção. O autor - filósofo, jurista, poeta, orador, conferencista, professor... e, talvez justamente por tudo isso, não é nada especificamente -, parece-me, não entendeu corretamente o pensamento de Spinoza. Comecei a ler o livro. Aristóteles pareceu muito mais bem entendido que Spinoza. E o pensamento do holandês foi reduzido de tal forma que ficou mutilado. E, mutilado, foi deturpado. O livro, portanto, não foi lido até o final.
O segundo - e menos importante, no primeiro momento - livro, demonstrou-se "maravilhoso".
O autor é um professor brasileiro. O prefácio é de Miguel Reale, que destaca que o autor, Alcantara Nogueira, "se achegou à obra de Spinoza com o coeficiente de simpatia requerido por toda a exegese, pois esta jamais se reduz a um frio remoer de textos". Ao longo do livro - do qual estou apenas no início -, Alcantara Nogueira mostra-se um apaixonado por Spinoza, que entende não só pontos específicos da doutrina spinozana, mas que percebe o seu "todo".
Alcantara Nogueira avalia vários opositores de Spinoza, combatendo os enganos de seus pontos de vista, explicando a doutrina spinozana de uma maneira muito rica.
Estou bem no início do livro, mas percebo que Alcantara Nogueira se apaixonou pelo pensamento spinozano - tal como eu, mas com muito mais "bagagem" filosófica, obviamente.
Prometo vários posts - de muita qualidade... por conta do próprio livro - sobre "O método racionalista-histórico em Spinoza".
Para quem gostar do nosso querido holandês, vale a pena a leitura... e, resumidamente, os posts desse blog.

domingo, 2 de agosto de 2009

Uma dica para o paladar

Já que no último post privilegiei o sentido da audição, nesse dou uma dica para o sentido do paladar... que diz respeito a um bom vinho.
Eu tinha uma certa prevenção com vinhos do Douro, de tão acostumado que já estava com os do Alentejo e em função de uma degustação onde fui apresentado a um vinho chamado "Terra dos Homens", dessa região, que não me agradou em nada.
De qualquer forma, em função de recomendações em revistas especializadas, havia comprado esse vinho, bem conceituado entre os de uma faixa de preços bem acessível, e guardado a tal garrafa.
Ontem, enquanto aguardava o futebol e via minha esposa e filha assistirem ao filme "As crônicas de Nárnia - Príncipe Caspian", escolhi o tal vinho para degustar. Após aquela "geladinha" rápida, peguei minha garrafinha, da safra de 2004, do vinho Grandjó, que é um corte de uvas deliciosas de Portugal (Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Nacional e Touriga Francesa) e adorei. O vinho é leve, frutado e bem equilibrado, com seus 13% de teor alcoólico.
Vale a pena experimentar!

sábado, 1 de agosto de 2009

Uma dica para os ouvidos

Apesar de ser uma dica "para os ouvidos", não se trata de música.
Como sabem os amigos mais antigos, gosto de "flertar" com as ideias de Freud. Já fiz algumas leituras sobre seu pensamento e outras até diretamente dos seus textos. E a simpatia em relação a ele sempre aumenta.
Por esses dias, passando por uma banca de jornais, vi a revista "Mestres da Psicanálise", que vem acompanhada de um CD contendo uma conversa com o psicanalista Luís Carlos Menezes sobre a vida e o pensamento de Freud.
É certo que essa conversa de cinquenta minutos não poderia ser "profundíssima", mas a verdade é que representa uma boa introdução às teorias freudianas, visto que ela trata do inconsciente, da sexualidade, dos sonhos e do superego, pelo módico preço de R$ 12,90... e com a facilidade de irmos conhecendo essas teorias enquanto fazemos outras coisas, apenas emprestando nossos ouvidos ao CD.
Vale a pena conferir!