domingo, 29 de setembro de 2013

Livros


   O lugar que mais visito são as livrarias - Não contem isso à minha mãe, pois ela ficará com ciúmes destas casas comerciais. Portanto, sempre estou por dentro das novidades das estantes. Obviamente, nem todas as novidades são tão interessantes a ponto de serem adquiridas. Nos últimos dias, no entanto, encontrei duas que, penso, valeriam a pena ser comentadas.
   A ordem de apresentação é proposital, entretanto, não por conta de uma hierarquização qualitativa. Primeiro, apresento o livro de caráter mais geral quanto à Filosofia; depois, um de âmbito mais restrito, mas que tem grande apelo à nossa realidade verde-amarela.
  Primeiro, Olá, Consciência! Uma viagem pela filosofia, dos portugueses Mendo Henriques e Nazaré Barros, publicado pela É Realizações Editora, agora em 2013. 
    Depois, Filosofia política para educadores - democracia e direitos das minorias, do nosso querido Paulo Ghiraldelli Jr. - um dos amigos dos amigos, aliás -, publicado pela Manole, também em 2013.
   Enquanto o primeiro livro é bastante geral, mas não se trata apenas de um breve resumo das áreas da Filosofia - afinal, o livro tem aproximadamente quatrocentas páginas. De qualquer forma, os dez primeiros capítulos dizem respeito a "O que é a filosofia, a verdade e o conhecimento, como se distingue a filosofia do senso comum e da ciência, o que são o espaço e o tempo, a matéria e o cosmos, a linguagem e o ser"; enquanto nos capítulos seguintes, de 11 a 21, "emergem as questões sobre o ser humano, sociedade, história, economia, política, ética, estética e religião" - segundo o "Ponto de Partida", que é uma espécie de Prefácio, nos informa. 
   É verdade que esses temas podem ser encontrados em diversos livros de Filosofia, mas a linguagem é leve e o texto passeia por vários filósofos dentro de cada um dos temas abordados. Bastante interessante.
   O segundo livro está conversando com o nosso quotidiano. Ghiraldelli trata temas que precisam ser discutidos filosoficamente, e não apenas ideologicamente, como se tem usualmente feito. É o caso da legalização das drogas, da "palmada pedagógica", do aborto, da Bíblia na escola, das cotas étnicas e muito mais. Gostei muito... do pouco que li.
   Dois livros que, no mínimo, merecem ser folheados com cuidado nas livrarias. Particularmente, acho que merecem mais: serem adquiridos e lidos. Mas isso é opção de cada um.
   Comprei ambos... mas até agora, sinceramente, não consegui parar para lê-los sequencialmente. 
   

sábado, 28 de setembro de 2013

Spinoza em Inglês (3)


    Em Spinoza's Ethics - An Introduction, Steven Nadler cita algumas obras de referência para o estudo da filosofia moral spinozana. Na lista, aparece o ensaio Spinoza's Moral Philosophy, de Edwin Curley. Obviamente, parti em seu encalço. Um grande problema é que se tratava de um ensaio que fazia parte do livro Spinoza - A Collection of Critical Essays, editado por Marjorie Grene, da Anchor Press, publicado em 1973... 1973!!!
   Para minha sorte, consegui o livro. O texto do Curley é fundamental, mas... há outros fantásticos - pela rápida lida que pude dar. E me surpreendeu ainda mais ver um texto que eu já queria há muito, do Leszek Kolakowski, The two eyes of Spinoza, que eu já vira publicado isoladamente, mas não adquirira. Agora, ele veio no pacote. Especialmente a Parte Três do livro The Nature of Man and Society, parece bastante interessante, focada na psicologia, na ética e na política spinozanas.

Spinoza em Inglês (2)


   Ainda seguindo o post anterior, vejamos o que Michael Della Rocca escreve no primeiro capítulo do seu Spinoza: "All philosophers seek to make the world and our place in it intelligible. [...] However, almost all philosophers expect explanations to run out at some point, whether because of the limitations of our cognitive faculties or because of the recalcitrance of the world itself which admits of certain brute facts, facts without any explanation. 'My spade is turned', as Wittgenstein famously says when explanations reach a limit. This admission is, of course, nothing more than a sober and, perhaps, healthy acknowledgment of our finitude and of the bruteness of reality. And, as I said, almost all philosophers reach this point. Almost all philosophers. But not Spinoza. His spade is never turned. Spinoza's philosophy is characterized by perhaps the boldest and most thoroughgoing commitment ever to appear in the history of philosophy to the intelligibility of everything. For Spinoza, no why-question is off limits, each why-question - in principle - admits of a satisfactory answer".
    Esse Spinoza não é fácil... um escavador cuja pá nunca para!

Spinoza em Inglês


   Meu primeiro contato com Spinoza, como já registrei muitas vezes no blog, se deu através de um texto do francês André Conte-Sponville. Em seguida, várias doses de História da Filosofia, seguidas de nossa nacionalíssima Marilena Chauí. Ousadamente, fui então à Ética - reconheço, hoje, que sem a competência suficiente para tal. De qualquer modo, continuei transitando sempre pelos comentadores franceses. Será que, inconscientemente, desconfiava do excesso de analiticidade daqueles de língua inglesa? Sei lá!
   O fato é que comecei a me render ao "Spinoza em Inglês" por conta de Steven Nadler. Depois dele, já registrei minha admiração pela leitura de Michael Della Rocca, Don Garrett, Edwin Curley e, por último, Stuart Hampshire - embora, cronologicamente, o "Renascimento Inglês de Spinoza" tenha começado justamente por este último. Ou seja, o idioma Inglês está em alta nas leituras spinozanas do autor deste blog.
   Mas o que eu queria mesmo registrar aqui era a minha percepção de que, apesar da admiração dos franceses - e dos comentadores de outras nacionalidades também, como os brasileiros e os portugueses -, os anglo-americanos são fascinados pelo holandês. Os elogios ingleses são de uma magnitude ainda maior do que aqueles que encontramos em Francês ou Português.
   Vejam só o que escreve Hampshire, em Spinoza and Spinozism: "A philosopher has always been thought of as someone who tries to achieve a complete view of the universe as a whole, and of man's place in the universe. He has traditionally been expected to answer those questions about the design and purpose of the universe, and of human life, which the various special sciences do not claim to answer. Philosophers have generally been conceived as unusually wise or all-comprehending men whose systems are answers to those large, vague questions about the purpose of human existence which present themselves to most people at some period of their lives. SPINOZA FULFILS ALL THESE EXPECTATIONS" (Grifo meu).
   Quanta admiração, hein, Spinoza! Mas também... Quanta responsabilidade, hein, Spinoza!

Racismo no futebol


   Em conversas futebolísticas com amigos, sempre louvo o Clube de Regatas Vasco da Gama pela iniciativa de eliminação do racismo no futebol brasileiro. Neste ponto, aliás, tenho que reconhecer que meu Fluzão, com aquela estória de passar pó-de-arroz para "branquear" os atletas negros marcou um grande "gol contra".
   Hoje, saiu uma matéria em O Globo que conta a história dessa iniciativa vascaína. Lá está escrito o seguinte: "Quando o Vasco tentou disputar a primeira divisão carioca, em 1924, a associação futebolística condicionou sua participação na liga à retirada de doze negros e mulatos de seu time. [...] O Vasco se recusou a cumprir a medida e preferiu competir entre os times pequenos". 
   Para se perceber como foi grande a atitude do clube, basta ler o que diz Carlos Alberto Figueiredo da Silva, autor do livro Racismo no futebol, na própria matéria: "Foi o primeiro manifesto mundial contra o racismo de uma entidade esportiva". Repito: Primeiro manifesto mundial!!!
   Apesar desse reconhecimento que presto ao Vascão, vim a saber, através da matéria, e quero registrar aqui, que o glorioso Bangu Atlético Clube teve o primeiro atleta negro a disputar uma partida oficial no Brasil, já em 1904.
   Parabéns, Bangu!
   E se não fossem por essas atitudes espetaculares, talvez, tivéssemos ficado sem o nosso rei Pelé.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Laurent Bove


   Hoje, participei da palestra, na UFRJ, do pensador spinozano Laurent Bove. Aliás, assisti apenas à primeira parte da palestra, que foi prevista como uma espécie de "entrevista" do grupo de estudos do professor André Martins ao convidado francês. As perguntas feitas durante a minha presença - certamente preparadas com a supervisão do nosso dileto especialista brasileiro em Spinoza - foram de alto nível, pensadas pelos companheiros Pablo e Eduardo - com os quais tive o prazer de cursar uma disciplina ministrada pelo professor André. Mais impressionante ainda foram as respostas, bem estruturadas e claras, de Bove. 
   De quebra, ainda obtive um autógrafo no meu exemplar do livro Espinosa e a psicologia social - Ensaios de ontologia política e antropogênese, o único publicado por Bove no Brasil.
   Depois comento mais.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Novos amigos dos amigos

   
   Hoje, escrevo só para atualizar a recepção dos "amigos dos amigos" de Spinoza. A última vez em que fiz isso, cumprimentei a Mariana Belize. Já contamos com mais amigos, desde então. Embora meu desejo seja sempre recepcionar os novos amigos individualmente, como não foi possível fazê-lo, registro as boas vindas de forma coletiva.
   Então, vamos lá!
   Sejam bem vindos os novos "amigos dos amigos" Alex from Ipanema, Ana Lúcia de Souza Silva, Regina Costa e Francis Newton Boccia.
   Espero que gostem do blog, que voltou a funcionar, depois de uma paradinha, mas que ainda está longe das pretensões deste que vos escreve. De qualquer forma, sintam-se à vontade para colocar suas ideias por aqui.
   Grande abraço a todos... os noventa!

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Spinoza e Aristóteles

   
   Há bem pouco tempo, fiz um trabalho traçando um paralelo entre o Tractatus de Intellectus Emendatione, de Spinoza, e a Ética a Nicômaco, de Aristóteles. O texto não cobria integralmente as duas obras, mas tão somente o início das duas. 
   Na minha concepção, as aproximações são muito fortes. Tentei mostrar isto no tal trabalho. Continuo achando, cada vez mais, que a beatitudo spinozana é idêntica à eudaimonia aristotélica. Além disso, os desdobramentos políticos das duas "éticas" - spinozana e aristotélica - são óbvios, principalmente a partir da análise destas duas obras dos filósofos.
   Um problema que encontrei, no entanto, foi conseguir uma forte ancoragem em algum comentador. Normalmente, as comparações entre os dois eram sempre muito breves.
   Stuart Hampshire, por exemplo, diz: "In his account of pleasure as arising from a strong sense of activity (energeia), Spinoza comes close to Aristotle's account in the Nicomachean Ethics".
   Steven Nadler reforça uma possível ligação, dizendo: "The person who is virtuous has achieved the supreme natural condition of well-being and happiness. He experiences what the ancient Greeks called eudaimonia, happiness or flourishing as a human being".
   Entretanto, só agora encontrei uma apresentação melhor fundamentada desta ligação, no livro Spinoza: une lecture d'Aristote, de Frédéric Manzini - do qual, por enquanto, eu só tenho uma resenha. Esta explica que "The first part [do livro de Manzini] discusses Spinoza's ethical and political theories - where, the autor claims a influence of Aristotle is most manifest - against the background of the Nicomachean Ethics and the Politics. Here, much attention is given to the notions of the summum bonum and beatitude". E a resenha ainda diz que "According to Manzini, Aristotle was one of Spinoza's first major philosophical interlocutors".
    Tão logo seja possível, providenciarei o livro. 

Método Geométrico e Racionalismo (2)

   
   Continuando o post que relacionava o método geométrico a Descartes, mas usando, agora, a referência do comentador Wolfgang Bartuschat.
   Bartuschat começa contando a mesma estória sobre o pedido feito a Descartes, nas segundas objeções às Meditações Metafísicas, para que expusesse sua doutrina segundo o método geométrico, e escreve:
   "Mas esse tipo de apresentação, Descartes salienta-o, nada prova por ele mesmo; por isso, é mais fraco que o procedimento praticado nas Meditações, e poder-se-ia apenas conferir-lhe um significado pedagógico com respeito ao leitor. O procedimento 'analítico' das Meditações, que atinge princípios na forma meditativa, requereria do leitor, a cada um dos seus passos, a máxima atenção, sem a qual a exposição facilmente poderia perder em força persuasiva. Ante isso, o procedimento 'sintético' do método geométrico, que tira consequências de proposições prévias, teria a vantagem de conseguir, pela constante referência às proposições prévias, a anuência também do leitor".
   Portanto, o "método geométrico", segundo Descartes, prestar-se-ia apenas para prender mais a atenção do leitor, não tendo a força comprobatória da exposição meditativa. 
   Diante disso, realmente fica parecendo que o empirista Hobbes se empolgou mais com o mos geometricus que o racionalista - e matemático - Descartes.
   Quem diria, hein?!

"Spinoza and Spinozism"

   O título do post é o mesmo do famoso livro de Stuart Hampshire, publicado pela Oxford University Press. A versão que tenho é a reimpressão de 2009.
   O que impressiona no livro é que ele é uma coletânea de três textos de Sir Stuart Hampshire (1914-2004), tendo estes sido produzidos ao longo de 53 anos - Repito... 53 anos!!! - de estudos de Spinoza.
   O primeiro, na ordem apresentada na coletânea, foi escrito entre 2001 e 2004, portanto, nos últimos anos de vida do emérito professor; o segundo, é uma introdução clássica ao pensamento spinozano, publicado em 1951, enquanto o último trata especificamente da ideia de liberdade em Spinoza, produzido em 1962.
   Depois, escreverei mais sobre estes textos.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

A segunda parte da "Outra parte"

  Spinoza escreve, logo no Prefácio da Parte 5 da Ética, que passa à "alteram ethices partem". Ficamos com impressão de que as quatro primeiras formavam uma única parte, enquanto "A Potência do Intelecto ou a Liberdade Humana" é outra totalmente diferente.
   De qualquer modo, não é exatamente a "Parte 5" que me chama atenção, como um todo pelo menos. Até a Proposição 20, tudo vai bem. No entanto, quando nosso filósofo conclui o escólio da mesma proposição, com aquela frase "É, pois, agora, o momento de passar àquilo que se refere à duração da mente, considerada sem relação com o corpo" (Grifo nosso), a coisa fica esquisita.
   Particularmente, assumo que não entendo o que se passa. Não chego a pensar - como li certa vez - que, daí em diante, o texto poderia ter sido enxertado na obra spinozana. Mas, que não entendo, isso não entendo. Mas sigo tentando... com meus parcos recursos intelectuais.
   Entretanto, hoje me senti mais feliz. Estava lendo Steven Nadler, justamente sobre essa parte, no que pode sugerir uma aparente crença de Spinoza na "imortalidade da alma", e vi que estou bem acompanhado. Nada mais, nada menos que Edwin Curley diz "in spite of many years of study, I still do not feel that I understand this part of the Ethics at all", e completa "I feel the freedom to confess that, of course, because I also believe that no one else understands it adequately either". Ou seja, não só ele reconhece que não entende esta parte, como também diz acreditar que ninguém entende... incluindo, obviamente, este que escreve. 
   Ufa... sinal que não sou tão burro assim. Rsss