terça-feira, 30 de junho de 2009

Ah... ainda sobre o senador

Eu nem contei que também li que outro filho do amigo de Arthur Virgílio está lotado como funcionário do senador, e que um terceiro filho já trabalhou também em seu gabinete.
Pior, nem contei que li que o Agaciel teria depositado US$ 10 mil na conta de Arthur Virgílio, quando o senador teve problema com o cartão de crédito, numa viagem particular a Paris, em 2003. O senador diz que apenas pediu ajuda a seu amigo - aos filhos de quem deu cargos -, sem saber que o dinheiro viria do ex-diretor Agaciel.
Antes que me esqueça: a fonte é o jornal "O Globo", matéria assinada por Isabel Braga.
Por último... li numa outra coluna: vocês já leram o nome do Sr. Agaciel ao contrário? Pelo conteúdo, acho que ele "não está nem aí" para as leis!

Futebol e política

Ganhamos, brilhantemente, a Copa das Confederações!
Fora a virada da final, só tivemos emoção verdadeira em outro momento... o gol, no finalzinho, contra o Egito, num pênalti "descarado" do jogador egípcio. De resto, passeamos sobre os adversários. Afinal, futebol e Brasil são duas palavras que combinam bem com uma terceira: campeão. Rsss.
Bem... indo ao que interessa: a política - no caso desse post.
Li no jornal que o senador Arthur Virgílio - tão preocupado com as "prestigiditações" do peemedebista Sarney como presidente do Senado - admitiu ter mantido um funcionário fantasma em seu gabinete.
A ligação entre o futebol egípcio e o senador diz respeito ao fato de que ambos, apesar de fazerem a coisa errada - o pênalti, no primeiro caso, e a contratação irregular, no segundo -, têm lá duas justificativas curiosas.
O primeiro reclamou do árbitro, que teria usado inapropriadamente o recurso da televisão para descobrir o seu toque de mão dentro da área. O fato de ele ter, irregularmente, feito o pênalti é secundário, sendo o principal o uso, também "irregular", do recurso eletrônico pelo árbitro. Inversão de valores!
O segundo reclamou que a sua ação "gentil", de contratar o filho de um amigo e assessor seu, que viajou e continuou a perceber sua remuneração, está sendo usada, irregularmente, pelo ex-diretor do Senado, Agaciel Maia.
Inversão de valores, novamente!
Em ambos os casos, o autor do "deslize" questiona aquele que aponta o erro, indicando que a sinalização é pior que o seu próprio ato.
Ué... era tão fácil não deixar ninguém apontar-lhes os erros... era só não errarem!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

DVD do Pessoa

O título do post poderia ser, também, "Deixando a Maria com inveja". Rsss.
Vi o documentário sobre Pessoa e gostei muito. Trago aqui algumas informações que deixariam nossa amiga portuguesa enciumada. Só para "torturá-la", farei questão de registrá-las aqui.
Primeira. O Sr. José Blanco, escritor que prepara uma edição de todos os livros escritos por e sobre Pessoa, trabalhando nisso há décadas, perguntado sobre o interesse por Pessoa atualmente em Portugal, afirmou que está caindo. Mas... disse que, em outros lugares, principalmente no Brasil, este interesse continua aumentando.
Segundo. Hoje em dia existe um grupo de trabalho, em Portugal, chamado Equipe Pessoa, que se debruça sobre as 25 mil "peças" inéditas de Pessoa - adquiridas pelo governo português. O fato é que essa equipe teve a participação de uma professora brasileira, "especialistíssima" em Pessoa, chamada Cleonice Berardinelli.
Já foi suficiente para que nossa amiga Maria perceba que nós, brasileiros, também nos "apossamos" um pouquinho do Pessoa dela. Rsss.
Então, passo a duas informações para todos os que gostam de Pessoa.
Primeira. O Sr. Ivo Castro, principal responsável pela Equipe Pessoa, em Portugal, afirmou que a criação dos heterônimos no tal "Dia Triunfal", conforme nos narrou o próprio Pessoa, é só uma lenda. Na verdade, no tal acervo em posse do governo fica claro que Pessoa experimentou diversos modos de execução dos poemas que se refeririam futuramente aos seus heterônimos. E há poemas datados - obviamente, antes do tal "Dia Triunfal" - escritos e reescritos, ou seja, Pessoa foi modelando seus heterônimos cuidadosamente... muito mais "com transpiração" do que "com inspiração". É lógico que isso não tira nada do brilhantismo dos "produtos finais"... talvez até, pelo contrário, acrescente valor ao seu trabalho.
Outra informação. Há divergências sobre a causa da morte de Pessoa. Uma hipótese - descartada pela sobrinha, entrevistada no vídeo - é que ele teria morrido de cirrose. Os pesquisadores comentam que, apesar de nunca ter sido visto bêbado, Pessoa bebia ao longo do dia e que gostava principalmente de "cachaça".
Sabias dessas, amiga Maria?

domingo, 28 de junho de 2009

Sobre Lógica

Acostumado àqueles silogismos simples e intuitivos, do tipo "Todo homem é mortal/Sócrates é homem/Então, Sócrates é mortal", venho me aventurando no estudo da Lógica... e estou assustado. Rssss.
Só para terem uma ideia, meus amigos, mesmo esses silogismos que, nos livros introdutórios são tão intuitivos, perfazem um total de 256 tipos. É bem verdade que só 24 são considerados válidos - mesmo assim, desses, cinco são ditos "válidos fracos". E pensar que essa é só uma das formas de Lógica, a Lógica Silogística, que é considerada mais simples que a Lógica Moderna.
É óbvio que, como não pretendo me transformar em um especialista em Lógica, estou fazendo apenas um estudo um pouco além do mais básico... Mas imaginem como funcionavam as cabeças dos positivistas lógicos, como a de Wittgenstein, por exemplo?
Até porque sou um apaixonado por Metafísica, nunca poderia ser um lógico positivista. Afinal, essa escola filosófica foi mais uma a tentar "assassinar" a pretensão do ser-humano fazer Metafísica. E, penso, não conseguiu, pois, como disse Kant, essa é uma tendência inata ao ser-humano.

sábado, 27 de junho de 2009

Sobre o Irã (2)

Ainda refletindo sobre os eventos que se desenrolam no Irã, li uma coluna de Miriam Leitão e um Editorial de O Globo que versavam sobre o assunto. A bem da verdade, acho que a resposta sobre o que mudou no Irã não foi respondida, mas... sempre ganhamos mais alguns dados para enriquecer nossa meditação.
Miriam Leitão escreve o seguinte: "Os levantes populares sempre parecem surpreendentes para quem está de fora. Mas eles são construídos devagar. Embaixo da capa de uniformidade que os regimes autoritários conseguem construir, as mudanças acontecem sem que externamente se saiba". Escreve ainda que "... a corrente dos descontentes vai se adensando, até que um fato detona a explosão". Realmente, isso é o que percebemos a partir dos fatos: algo explode e, deve haver um fato que explique isso. Relacionamos esse fato inicial a uma "agitação" interna ao sistema, que já existe, mas que não é visível... principalmente para quem está de fora daquela sociedade, e ainda mais se o sistema não é um exemplo de transparência. Mas será que existia uma "corrente de descontentes", ou será que existiam só "descontentes", de uma forma atômica? Será que há um "movimento articulado" de ação? Sinceramente, não é o que parece a mim!
O Editorial fala de "aiatolás divididos". Não sei se isso é só uma constatação, ou se essa divisão seria a causa do acontecido. Se já existia uma preferência de alguns poderosos - como dos ex-presidentes Rafsanjani e Khatami, bem como do aiatolá Ali Montazeri - pela eleição de Moussavi, enquanto o grupo do aiatolá Khamenei continua seu apoio ao atual presidente Ahmadnejad, poder-se-ia explicar o movimento atual como um movimento orquestrado pelo primeiro grupo, a fim de afastar do poder o outro grupo.
Novamente, a mim não parece que seja este o caso. Mas, realmente, o problema é complexo para uma avaliação tão superficial.
Espero, de qualquer forma, que a solução seja a menos traumática possível... com a menor quantidade de violência necessária a um confronto dessas proporções.
"Que Alah proteja todos os seus filhos!"... quisera eu poder dizer isso.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Sobre o Irã

Como o mundo todo, tenho acompanhado o desenrolar dos fatos no Irã. Entretanto, ao contrário de muitos, tenho me permitido uma reflexão mais demorada do que testemunho, através de leituras e reportagens feitas pela televisão.
O que mais me tem impressionado é o comportamento "ativo" do povo, exigindo o que acha um direito: escolher o seu presidente de forma justa.
Digo que me impressiona, em função de um filme ao qual assisti não há muito tempo, de nome "Persépolis".
Para quem não assistiu, conto um pouco. O filme se passa no Irã, e mostra o período da Revolução Islâmica, com a queda do xá Reza Pahlevi e a ascensão do aiatolá Khomeini. A personagem principal vivencia, enquanto criança, essa mudança.
Como em tantas outras revoluções, o tempo mostra que a proposta revolucionária inicial não se "encaixa" bem com a prática quotidiana. Parte do povo, principalmente os intelectuais, então, começa a questionar os governantes revolucionários. Infelizmente, de forma similar àquela ocorrida sob a atuação da polícia política do xá deposto, esse grupo não pode expressar suas opiniões. O povo acaba se submetendo à força dos poderosos e permanecendo passivo diante do que ocorre.
E, aqui, voltamos ao que ocorre neste momento: o que mudou, para que o povo manifeste com tanta força sua opinião?
O regime não se flexibilizou - prova disso é a postura do aiatolá Khamenei, que já sinalizou com um derramamento de sangue, caso as manifestações continuem -; o povo continua armado de paus e pedras, contra as milícias "Basij" e a polícia, perfeitamente equipadas para o extermínio, conforme a jovem Neda Agha-Soltan já descobriu, da pior forma possível, pagando com a própria vida; e não parece haver um apoio externo ao povo, tentando enfraquecer o regime ditatorial.
O que mudou, então? Continuo refletindo sobre isso...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Ainda na linha pessoana

O texto que eu citei no último post, analisava o lançamento de um livro "Fernando Pessoa - o poeta fingidor". E mais, o tal livro vinha acompanhado de um DVD comemorando os 120 anos do nascimento de Pessoa, produzido em 2008.
Não foi fácil achar o livro, mas na terça consegui adquiri-lo. Apesar de pequeno, é muito bem produzido. Há reprodução de fotos e de escritos originais de Pessoa, além de algumas poesias dos diversos heterônimos, em papel de ótima qualidade.
O DVD, que eu ainda não vi, é um documentário apresentado pela Globo News em 2008. O poeta e jornalista Claufe Rodrigues, que ajudou a produzir o documentário, escreve no prefácio do livro que havia feito uma pesquisa independente em 2000, e, por isso, achou que não haveria muito a ser acrescentado nesse trabalho. Entretanto, indo a Portugal, descobriu que muita informação nova havia sido produzida sobre Pessoa, tendo esse material sido incluído no vídeo produzido.
Entre os poemas apresentados não poderia deixar de estar "O guardador de rebanhos", do Alberto Caeiro; e eu - que sou um amante da Metafísica - leio: "Há metafísica bastante em não pensar em nada/O que penso eu do mundo?/Sei lá o que penso eu do mundo!/Se eu adoecesse pensaria nisso."... ou seja, o Pessoa me chamou de "doente". Mas como é o Pessoa, eu deixo. Rssss.
Para fechar... "Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?" (de "Tabacaria").

terça-feira, 23 de junho de 2009

Quando Pessoa assina Pessoa

O título do post se refere a uma matéria do Jornal do Brasil de 13 de junho de 2009, quando Fernando Pessoa completaria 121 anos. Registro aqui essa matéria, principalmente em homenagem a nossa amiga Maria, admiradora apaixonada de Fernando Pessoa.
O artigo não traz tantas novidades para quem acompanha o mercado literário de Portugal. Mas para nós, brasileiros, a coisa pode mudar um pouco de figura.
A primeira informação interessante é que a arca de originais de Pessoa foi vasculhada pela pesquisadora Teresa Rita Lopes, revelando MAIS DE SETENTA heterônimos... Caracas!!!! Setenta!!! A pesquisadora é autora de "Pessoa por conhecer", lançado em 1990, nas terras lusas e, infelizmente, não publicado por aqui.
Mais sorte temos nós quanto ao trabalho de Manuela Parreira da Silva e equipe, que descobriram e publicaram 123 poemas inéditos de Pessoa, assinados como próprio Pessoa, referentes ao período entre 1931 e 1935... afinal, "Poesia (1931-1935)", já foi publicado aqui, pela Editora Martins Fontes.
Fecho minha homenagem a nossa amiga portuguesa com o final do artigo do jornal:
"Uma das características mais curiosas da tradição literária é, sem dúvida, sua vívida contemporaneidade. É possível mesmo afirmar que certas obras tornam-se lapidares para uma cultura, não apenas porque apreendem o espírito de seu tempo, mas porque subvertem justamente o caráter histórico que lhes contextualiza, fixando, desse modo, traços extemporâneos do humano, recorrentes em épocas entre si muito diversas. A obra de Fernando Pessoa é um magno exemplo disto. Inscrita na convulsão da modernidade literária portuguesa, sua expressividade lírica e envergadura dramática fundaram bases incontornáveis para o longo devir estético do século XX e, diga-se, para além da lusofonia. Não é de surpreender tanto, pois, que os poemas pessoanos sustentem hoje seu fôlego com a mesma vitalidade que soprava os desassossegos e as pungências dos corações humanos, décadas atrás, em tempos, como o nosso, de semelhante fragmentação subjetiva e declínio humanístico-civilizacional" - Autor: Sebastião Edson Macedo - poeta, mestre em Literatura Portuguesa e professor.
Esse "tempos, como o nosso... de declínio humanístico-civilizacional" é completamente desconfortável e verdadeiro.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Cinefilô e Nietzsche

Coloquei, há algum tempo, um post que dizia respeito à opinião de Nietzsche sobre a importância da doença para ligar o homem ao instante atual. Relendo uma parte do "Cinefilô" vi algo que reforça isso:
"Quando não podemos mais nos desvencilhar, quando não há mais possibilidades para um projeto, quando não há mais futuro, o presente assume um relevo, uma intensidade, uma duração...".
Outros trechos interessantes do livro:
"Para falar como Bergson, enquanto na ação não percebemos senão o que nos é útil, na contemplação percebemos de maneira distanciada, gratuita, pura. O tempo da ação é um tempo submetido a uma finalidade, um tempo sofrido, enquanto o tempo da contemplação é um tempo livre, ativo.";
"Assim como o morango tem gosto de morango, a vida tem gosto de felicidade, diz Alain. Spinoza acrescentaria que essa felicidade não tem o mesmo gosto para todo mundo.";
"A alegria do ébrio que esvaziou sua garrafa nada tem a ver com a alegria do filósofo... A alegria causada pela garrafa depende da garrafa, e o beberrão nunca é a causa adequada de sua alegria. Sem garrafa, ele é incapaz de alegria. Mesmo com ela, nada garante que ele não terá o vinho-triste. O problema da alegria é, em primeiro lugar, encontrá-la. E depois, fazê-la durar. Se somos nós mesmos sua fonte, e não a garrafa, estamos seguros de poder reencontrar essa alegria com frequência, ou fazê-la durar mais tempo... A alegria de que somos a fonte, que Spinoza chama de 'amor intelectual de Deus' - essa alegria de que somos a causa adequada, em que somos plenamente ativos, e que é o próprio da Filosofia -, nos faz sair do tempo, nos torna 'tão eternos quanto possível."

domingo, 21 de junho de 2009

"Os Pensadores" - Heidegger

Enfim, tive o prazer de encontrar Heidegger na Casa do Saber. Não pessoalmente, lógico. Do contrário, teria me assustado com seu fantasma. Rsss.
Outro desafio: falar de Heidegger I e Heidegger II - alguns até sugerem um Heidegger III - em tão pouco tempo, e para um grupo de não especialistas. Desafio absolutamente vencido pelo professor Edgar Lyra!
Edgar preparou um roteiro muito objetivo; prendeu-se a ele e caminhou de modo seguro até a "linha de chegada". Nesse roteiro, contemplaram-se duas etapas: a primeira ficou por conta de aclarar o Heidegger I, baseando-se nos conceitos apresentados em "Ser e Tempo", e uma segunda, apresentando a "virada" (Kehre) para o Heidegger II.
Parti para a aula tendo feito uma breve revisão das minhas leituras sobre Heidegger, radicalmente voltadas para "Ser e Tempo", por conta de minha "veia metafísica". A apresentação foi muito boa... mas não se abriu tempo para perguntas, num primeiro momento.
Após a degustação de um bom vinho sul-africano (perfeito em tempo de Copa das Confederações. Rsss), corte de Cabernet Sauvignon e Merlot - um dos meus preferidos... quase um bordalês -, voltamos para a segunda parte.
E aí... a "virada" foi completa. A ênfase de Heidegger II é a "hegemonia planetária da técnica". Lá estava o tema, apresentado de maneira superatual, trazendo do pano de fundo heideggeriano assuntos como internet, clonagem, consumismo... Eu, apegado ao Heidegger desconstrutor da Metafísica, tomei um choque! Nunca havia me interessado pelo Heidegger II, e eis que ele se mostra um pensador cheio de vida, que diz "Presente!" em nossas discussões atuais.
Continuo afastado do que seria um terceiro Heidegger, voltado para a "poesia, psicanálise e orientalismo"... mas, talvez, por pouco tempo.
Fato é que, ao lado de "Ser e Tempo", já ganharam espaço na minha estante os recém-adquiridos "Marcas do Caminho" e "Ensaios e conferências" - este último, aberto pelo texto "A questão da técnica".
Ao final da apresentação, abriu-se um espaço para perguntas e debates. Mesmo sob a euforia da apresentação do Heidegger II, fiz minhas "desagradáveis" considerações sobre o "desonesto" filósofo da Floresta Negra, o Heidegger I.
Para minha surpresa, o professor concordou com a colocação de que o primeiro Heidegger, apesar de arrasar a Metafísica ocidental, faz uso generalizado dos conceitos produzidos pelos filósofos de até então. Edgar Lyra explicou que fica claro que, até "O que é a Metafísica?" (1929), Heidegger ainda está tentando salvar o projeto metafísico. Há concepções diferenciadas, mas que se apoiam, sim, no que existia até a época. Concordou também que é difícil fazer a diferença entre os estados psicológicos e os ontológicos de um ser-humano aos moldes do Dasein. Por último, fiz referência à linguagem obscura de Heidegger, tanto no primeiro período quanto no último. Ele mostrou que Heidegger disse o seguinte sobre isso - na segunda fase, preocupado que estava com a linguagem : "A tarefa do pensamento exige um novo cuidado com a linguagem e não a invenção de termos novos como eu pensava outrora". Isso responde ao obscurantismo da linguagem do primeiro Heidegger. Quanto ao do último, o professor indica que Heidegger realmente acha que a arte responde melhor ao mundo do que a linguagem filosófica. Mas destaca que Heidegger não submete sua linguagem à poesia, porque imagina que é necessária uma polarização arte-filosofia, a fim de dar conta do todo do mundo.
Por último, uma informação interessante. Como muitos sabem, Heidegger, no final da vida, ocupou-se em organizar seus escritos para publicação. O fato é que estão previstos, nada mais nada menos que, 102 volumes, dos quais já foram publicados 90. O restante está previsto para estar disponível, em alemão, até 2015. Ou seja, ainda há muito de Heidegger inédito.
Será que descobriremos um Heidegger IV, um Heidegger V? Rsss.

sábado, 20 de junho de 2009

"Os Pensadores" - Nietzsche

Deixei de registrar, aqui, as últimas aulas do curso "Os Pensadores", que concluí na Casa do Saber.
Nietzsche foi apresentado pela professora Cláudia Castro. Embora ficasse a impressão de que ela dominava o assunto, passando-o com serenidade, sem nenhuma afetação, parece-me que ficou faltando algo. É certo que enfrentar o desafio de "trancafiar" sob conceitos um pensador como Nietzsche é algo muito complexo. Contou-se um pouco da biografia do "bigodudo", usou-se a famosa classificação dos "três Nietzsches", de Charles Andler, comentando-se os livros emblemáticos de cada um dos períodos e o fechamento foi com um estudo um pouco mais atensioso de "Assim falou Zaratustra" - "dissecando" os conceitos nietzscheanos que aí aparecem, como a "Morte de Deus", a "Vontade de Potência" e o "Eterno Retorno".
Comentou-se a "reabilitação" de Nietzsche - depois do seu uso... e abuso, pelo nazismo -, através das interpretações de Heidegger. Curiosamente, Heidegger sofreu, de certo modo, parte desse uso e abuso, também.
Interessante foi que a professora abriu o curso dizendo a seguinte frase: "Não entendi tudo, mas chegar perto de ideias assim é como montar numa vassoura de bruxa. Eu já não era mais o mesmo homem". Mas a frase não se refere a Nietzsche, e sim a... Spinoza; e é de autoria de Deleuze. A professora apenas disse que não encontrou melhor frase para definir seu encontro com Nietzsche.
Outra coisa interessante foi ela ter dito que, se tivesse que concentrar o pensamento de Nietzsche em uma palavra, esta seria "Alegria". Será que ela está lendo Spinoza, pensando que é Nietzsche? Rsss. Eu, na minha humilde opinião, sugeriria "Vida", como palavra-chave para o pensamento de Nietzsche.
Cláudia destacou que a tradução "Vontade de Poder", em vez de "Vontade de Potência" é muito problemática. A primeira dá a impressão de que o que se deseja é dominar, ter poder. Mas isso corresponderia a depender de valores estabelecidos. A segunda expressão dá o tom certo do objetivo de Nietzsche. Algo parecido com o "conatus" spinozano, a "Vontade de Potência" é o "desejo" pela maior atividade do homem, em oposição à sua corriqueira passividade - como a famosa figura da "ovelha do rebanho" da "Genealogia da Moral".
Aliás, aqui cabem parênteses. Como se explicaria Nietzsche dar apoio a um movimento como o nazismo, se este era a maior presentificação do "rebanho", tão desvalorizado por Nietzsche? Roupas, ações, imagens e ideias iguais - isso que é o nazismo -... o que poderia ser menos nietzscheano? Outra confusão que se faz, em relação ao nazismo, é que Nietzsche acolheria a violência dos fortes contras os fracos, pela maior "Vontade de Potência" dos primeiros; o que indicaria que a "raça ariana" seria melhor que outras mais débeis. Isso é absurdo! Os "melhores" de Nietzsche eram melhores não pela força, nem pela "raça", mas pela sua atitude diante da vida, pela sua ausência de passividade - usando o vocabulário spinozano.
O conceito do "Eterno Retorno" também foi bem explicado; afastando-o de um "fato metafísico", que pode sugerir o apoio a uma espécie de espiritualismo, e enquadrando-o sob um enfoque "ético". Se vale a pena que determinado evento se repita eternamente, é porque ele nos traz alegria, ele responde bem à nossa "Vontade de Potência"... então, vale a pena realizá-lo esta vez... ainda que, efetivamente, ele não venha a se repetir. Naquele instante - como já coloquei no post sobre a "eternidade spinozana" -, o tempo fica como que suspenso num instante que é como se fosse eterno.
Valeu a pena!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

"Cinefilô" lido

O livro "Cinefilô" já valeu vários posts aqui no blog. Ontem, concluí a leitura da parte referente a Spinoza. Visto que há outras "pendências" de leitura, deixarei a parte do Descartes para uma próxima ocasião.

Antes de terminar a leitura, conversava sobre o livro com um conhecido do trabalho, formado em Filosofia, e também apreciador de Spinoza. Ele também gostou muito do livro, e, após uma passada d'olhos, afirmou que iria comprar um exemplar. Isso quer dizer que meu senso crítico filosófico-literário não está tão "desafinado" assim. Rsss.

Acho que o livro ainda poderá valer alguns posts, mesmo que seja apenas para "apoiar" algumas ideias de Spinoza comentadas no futuro. Mas, hoje, quero falar de um aspecto bastante "delicado" na filosofia spinozana, que têm rendido muita discussão: a eternidade, segundo Spinoza.

Em determinado momento da Ética (Parte 5, Prop. XX, escólio), Spinoza diz que é chegada a hora de falar do que "se refere à duração da alma sem relação com a existência do corpo". Muitos entenderam que Spinoza estava defendendo a "imortalidade da alma" - e entrando, assim, numa filosofia espiritualista. Destaco algumas passagens do livro de Ollivier Pourriol sobre o assunto.

"Spinoza não pede 'mais vida', pede mais da vida. O que queremos não é uma vida mais longa, mas uma vida mais viva. Queremos que cada um dos momentos de nossa vida seja tão ativo quanto possível, queremos ser a causa adequada de nossos sentimentos, não queremos sofrer as causas exteriores, em suma, queremos fazer a experiência da eternidade... Essa experiência da eternidade, Spinoza promete-nos, poder fazê-la enquanto vivos"- lendo isso, fiquei com uma impressão de que o "eterno retorno" nietzscheano seria uma espécie de "plágio" da eternidade spinozana. Ollivier vai citar essa "correspondência" -;

"Deleuze considerava Spinoza e Nietzsche muito próxmios em sua denúncia das paixões tristes, na promessa de uma eternidade ligada não a um mundo subjacente, a um alhures que seria melhor que aqui e agora, mas a uma intensificação de nossa vida presente. O que Nietzsche chama de eterno retorno não consiste em reviver eternamente a mesma coisa; é, ao contrário, um princípio seletivo, que consiste em tentar viver cada instante como se fôssemos revivê-lo indefinidamente... Reviver o passado significa que não amamos o presente, é uma negação do presente... Ao passo que viver o presente de maneira a tornar seu eterno retorno desejável não signifca que vamos revivê-lo de fato, mas que vamos vivê-lo tão intensamente, de maneira tão afirmativa que ele vai irradiar um brilho sobrenatural. Uma vida pode ser considerada eterna... desde que sejamos suficientemente ativos e afirmativos para podermos dizer que escolhemos esse instante. Escolhê-lo é afirmá-lo. É afirmar que poderíamos desejar revivê-lo eternamente";

"A eternidade consiste em sair do 'tempo ruim' da paixão... mas não se trata de sair dele pela morte, nem pela repetição indefinida de um momento prazeroso. Uma terceira solução seria a imortalidade..." - e, aqui, o autor deixa claro que não é essa a "saída" que Spinoza propõe, ao contrário do entendimento de alguns - "A eternidade não propõe uma diferença de quantidade, mas de qualidade. A imortalidade não lhe dá senão mais tempo, a eternidade lhe dá o tempo, lhe dá verdadeiramente o sentimento de durar. Não mais, melhor"; e

"Na Ética, Parte 1, Spinoza explica que 'A eternidade é o desfrute infinito da existência'... A duração é 'a continuação indefinida da existência'. O tempo é uma maneira abstrata de conceber a duração, uma maneira de contar a duração e, portanto, de degradar uma qualidade em quantidade - um pouco como se, a alguém que lhe diz: 'Eu te amo', você respondesse: 'Quanto?'" - Essa comparação me pareceu fantástica. Se o amor tem que ser "quantificado" é porque não se entendeu que sua característica mais nobre é justamente a qualidade, e não a quantidade.


Parece-me, então, que a chave para entender a "eternidade spinozana" está na afirmação de Spinoza de que "a eternidade é o desfrute infinito da existência". O aumento da nossa perfeição, ou seja, a nossa alegria ativa, muda a qualidade da nossa vida, sem precisar prolongar a sua duração efetiva. O "desfrute infinito da existência" pode se dar em um instante. Nesse instante, a alma atinge a sua perfeição porque entende as coisas adequadamente... "sub specie aeternitate" - sob uma espécie de eternidade. E, como à alma cabe o entendimento, quando esse entendimento se dá "sob uma espécie de eternidade", a alma realiza sua perfeição... e é ela também como que eterna.
Não é tão fácil... Mas "o que é raro é difícil", como nos diz Spinoza. E, sempre podemos contar com os amigos para lançar luzes sobre o assunto.

Apesar de concluída a leitura, ainda há algumas coisas que desejo registrar para o futuro.




quinta-feira, 18 de junho de 2009

Mais um pouco de Heidegger

Ao penetrarmos no pensamento de qualquer filósofo, é sempre de bom tom darmos uma olhada panorâmica nos seus defensores e acusadores. Com isso, evitamos entrar no seu "mundo" carregados de preconceitos que atrapalham a fluidez do nosso entendimento.
No caso de "Heidegger", parece-me que o problema é um pouco maior, exigindo mais cuidado ainda numa abordagem inicial. As acusações de nazismo pesam mais para o leigo do que o brilhantismo filosófico do pensador da Floresta Negra.
Recentemente, encontrei dois textos, no site "Crítica na rede", que podem servir muito bem a esse fim. O primeiro deles é a resenha do livro "As confusões de Heidegger", de Paul Edwards. O outro é o artigo "O fedor de Heidegger", de Richard Rorty.
O texto de Paul Edwards começa assim: "Bertrand Russel referiu-se a Kant como a maior catástrofe na História da Filosofia. C.D. Broad comentou que este lugar pertencia seguramente a Hegel. Tanto Russel como Broad se enganaram, porque este título pertence sem dúvida a Martin Heidegger". A íntegra se encontra em http://criticanarede.com/html/heidegger.html
O texto de Richard Rorty - um detrator convertido em admirador - vale a pena ser lido por todos, pois contém uma estorinha imaginária muito legal. A estorinha começa assim "Imagine que, no verão de 1930, Heidegger subitamente se apaixona perdidamente por uma aluna de filosofia, uma moça bonita, vibrante e adorável, de nome Sarah Mandelbaum..." e continua contando que "em 1932, após um doloroso divórcio de Elfride [a esposa com a qual Heidegger permanecerá casado na realidade], sua primeira esposa,... casa-se com Sarah...".
A moral da estorinha é obtida depois que o artigo afirma que , nesse mundo imaginário, Heidegger teria escrito as mesmas coisas que escreveu neste que conhecemos, ou seja, sua percepção errada do nazismo e das circunstâncias da sua época não resultaram numa filosofia de menor gabarito, nem comprometida com ideais espúrios.
Boa diversão, lendo o que poderia ser chamado "O mundo de Bob", quero dizer, "O mundo imaginário de Heidegger"! Rsss.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Vinhos e Heidegger

A minha afeição por vinhos começou tardiamente, em relação àquela pela Filosofia. No início, achava que um bom vinho era sempre aquele do qual eu gostava. Aos poucos, fui desenvolvendo um certo senso crítico, que me permitiu perceber que um vinho pode ser tecnicamente apreciado, sem que, no entanto, gostemos dele.
Por que digo isso?
No meu começo filosófico, também selecionava os filósofos de meu interesse de acordo com minha simpatia por eles. Erradamente, por exemplo, fugi da Filosofia Medieval... pela minha "diferença" com o Catolicismo. Ainda bem que me livrei desse preconceito... e hoje, inclusive, é um período que acho muito apaixonante.
Hoje, reconheço que um filósofo (como um vinho) pode ser tecnicamente ótimo, sem que "gostemos" dele. Talvez, essa seja a melhor classificação para o que sinto em relação a Heidegger. Acho sua filosofia tecnicamente desafiadora e de qualidade, mesmo que o ache um "embusteiro" filosófico. Estranho? Mais ou menos! Explico.
Pelo menos no que se refere ao "Heidegger I", acho que sua pretensão era mostrar que toda a tradição metafísica estava errada, fazendo da sua própria metafísica uma correção de rumo, descartando totalmente o que estava posto. Começa por analisar o ente especial, que dá acesso ao "Ser", que é o homem. E... não passa daí. Fica só na análise do ser-humano - o tal Dasein. É verdade que sua abordagem é "densa" e impressiona. Mas, por trás de tudo o que disse, ecoava a voz dos metafísicos da tradição. A troca de palavras e a invenção de novas expressões, equivalendo a conceitos aproximados já conhecidos, é um artifício usado a todo momento. O que não me parece honesto.
Outra coisa. Até que ponto as características ontológicas, que estruturam o modo de ser específico do homem, de um ponto de vista não factual, não passam de meras estruturas psicológicas? É muito bonito falar de uma "angústia ontológica", mas é difícil apartá-la da "angústia psicológica". Aliás, esta última depende fundamentalmente de um eu, de uma consciência, a qual magicamente desaparece da filosofia heideggeriana, como forma de corrigir os enganos anteriores. E Heidegger ainda atacará Sartre por destruir seu trabalho, na "interpretação" sartreana do pensamento heideggeriano de Ser e tempo, "O Ser e o Nada", quando volta a incluir um "eu" na Filosofia. Acho, no mínimo, curioso fazer uma filosofia da existência, que é uma filosofia totalmente voltada para o homem, sem haver nela a análise de um "sujeito"!
De qualquer forma... como um vinho que eu não beberia num fim de semana sozinho, "degustemos" Heidegger em conjunto, admirando os quesitos técnicos que fazem parte do seu filosofar. E, ao final da "garrafa", descobriremos que ele é "mais um" ótimo vinho-metafísico, mas que, ao contrário da opinião de Heidegger, não substitui todos os outros que gostamos de apreciar.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A ética spinozana (2)

Uma outra passagem do "Cinefilô" mostra-nos como funcionava a ética spinozana... muitas vezes, acusada de "ética egoísta", por quem não a entende bem.

O autor explica que Spinoza constata que "a tristeza de alguém que odiamos nos deixa alegres", mas nosso filósofo mostra que esta é uma "alegria ruim, falsa alegria, que à primeira vista tem aparência de real". E ela é falsa porque se baseia no ódio, que nos submete, tornando-nos passivos. E, enquanto somos meramente passivos, não aumentamos nossa "potência de viver" - esta, sim, permitiria que tivéssemos uma "alegria real".

Então, podemos dizer, realmente, que Spinoza baseia sua ética na própria alegria, mas essa alegria não é egoísta. Somente sendo uma alegria real, baseada no amor, é que ela poderá ser eticamente considerada "boa".

Ollivier mostra que, para Spinoza: "... a paixão, como a ação, ao mesmo tempo que tem efeitos fora de nós, tem, primeiro, efeitos em nós. E se, por um lado, não conseguimos nunca dominar tudo o que acontece 'fora de nós', por outro, não há salvação se não conseguimos dar conta do que acontece 'em nós'"... e "... o ódio destrói aquele que o sente... diminui sua potência". Portanto a "alegria odienta" (desculpem-me a expressão estranha!), fruto de uma "alegria fora de nós", que continua sendo, em nós, simples "ódio", só pode nos destruir!

E Ollivier mostra a sutileza da visão spinozana, dizendo: "O problema do ódio não é que seria 'mau', no sentido moral, senti-lo, mas, sim, que ele me faz mal, é ruim para mim, no sentido da potência e da saúde".

Eu prefiro ficar bem de saúde, sentindo o amor... e afetando e sendo afetado pelo mundo assim. Se isso é "egoísmo"... então, a ética spinozana é realmente uma "ética egoísta"!

domingo, 14 de junho de 2009

Mais uma do "Cinefilô"

Gostei muito dessa passagem do livro:
"... Inútil invejar a perfeição peculiar ao vizinho. Querer ser como o vizinho não é simplesmente vão e frustrante, mas suicida. Suponhamos um triângulo e um quadrado. Se o triângulo sonhasse ter, como o quadrado, um lado a mais, e o Deus da Geometria o recompensasse, acrescentando-lhe um lado, nem por isso ele se tornaria um triângulo mais perfeito; ele não seria mais em nada um triângulo, mas um quadrado. Estaria morto como triângulo...
... Imitar é morrer. O problema está em desenvolver sua perfeição própria, não a do vizinho...
... A pergunta certa não é: 'Com quem você se parece?', mas 'Como compreender e desenvolver sua perfeição própria?'. Dessa pergunta decorre outra: 'Por meio de que encontros você pode aumentar sua potência?', da qual resulta uma terceira: 'Que encontros você deve evitar?'".
Valeu, Ollivier Pourriol!

sábado, 13 de junho de 2009

Julian Marías e o Helenismo

Durante minha vivência como budista, conheci a Filosofia. Fui me apaixonando aos poucos. Logo de início, fui apresentado a André Comte-Sponville, que me fez perceber a beleza do pensamento spinozano. Lendo um pouco mais, fui aprofundando meus conhecimentos em História da Filosofia, e me interessei pelo Epicurismo, como forma ética possível de ser vivida no Ocidente. Acabei "substituindo" minha ligação com o Budismo por um pensamento ético filosófico menos envolvido com uma certa mística, sempre presente nos "orientalismos" que são trazidos para o Ocidente.
Contei tudo isso só para dizer que, lendo a opinião do filósofo cristão Julian Marías, discípulo de José Ortega y Gasset, sobre o Período Helenista em seu livro "História da Filosofia", fiquei chocado.
Marías escreve:
"... o mais grave problema que as filosofias da época helenística colocam é o seguinte: do ponto de vista do saber, todas elas - inclusive a mais valiosa, a estoica - são toscas, de escasso rigor intelectual, de pouco voo; não há comparação possível entre elas e a marvilhosa especulação platônico-aristotélica, de incomum agudeza e profundidade metafísica..."
O filósofo cristão não parece ter entendido que a principal preocupação dos epicuristas e estoicos era ética. Entretanto, embasavam suas éticas em raízes metafísicas... ainda que essa metafísica fosse apoiada nas concepções fisicalistas/materialistas de ambas as escolas. Concordo até que a Metafísica aristotélica, muito mais que a platônica, era de agudeza e profundida incomuns, batendo as helenistas. Mas a proposta de Aristóteles era de que a Metafísica fosse a Filosofia Primeira, o fundamento de tudo. Desta forma, sua exploração dessa área da Filosofia tinha que ser profundíssima.
Mas tem mais:
"A Filosofia, outra vez fora da via da verdade, vai se transformar numa espécie de religiosidade de circunstância, adequada para as massas. Por isso, sua inferioridade intelectual é, justamente, uma das condições do enorme êxito das filosofias desse tempo..."
O discípulo do grande Ortega y Gasset - infelizmente - fala de uma "religiosidade... adequada para as massas..." que, pela "inferioridade intelectual" tem "enorme êxito". Parece esquecer, entretanto, que uma das bases do Cristianismo, que ele toma como doutrina de vida, é a ética da submissão e humildade diante dos acontecimentos, ou "desígnios de Deus", que é tomada emprestada justamente aos estoicos, substituindo apenas a figura de Deus, pela de ordem do cosmos... uma espécie de "destino".
Mas o pior é que o Sr. Marías não parece perceber que, se estivesse escrevendo sobre o Cristianismo, para um grupo de ateus, não poderia ter sido mais feliz em suas palavras. As afirmações de que o Cristianismo seria uma "espécie de religiosidade adequada para as massas" e que "sua inferioridade intelectual é, justamente, uma das condições do [seu] enorme êxito" seriam recebidas com total assentimento por parte de seu público.
A sorte é que temos o professor Paulo Ghiraldelli Jr., que, em seu "História da Filosofia - dos pré-socráticos a Santo Agostinho", refuta o espanhol, dizendo: "Não é verdade que a filosofia helenística é de pouco rigor intelectual. Talvez o que incomode Marías seja o fisicalismo desse período, uma vez que o próprio Marías é um espiritualista".

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Amigo novo

O nome do nosso blog é "Spinoza e amigos", então, registro com felicidade a presença de mais um amigo de Spinoza, que é o professor de Filosofia Guilherme R. Fauque.
Embora já tenha escrito um comentário especificamente para ele, no post do dia 11 de junho, destaco aqui sua presença, a fim de que todos possam manifestar também suas boas vindas.
Aproveito para destacar que o novo amigo também tem um blog (http://philosophia-aton.blogspot.com/), aumentando a nossa possibilidade de "bons encontros" - como diria Spinoza.

Dia dos Namorados

Aproveito o blog, também, para parabenizar todos os enamorados, nesse dia 12 de junho... pelo menos, no Brasil. Acho que lá em Portugal, como nos Estados Unidos, eles comemoram a data no Dia de São Valentino. A nossa amiga Maria pode nos informar melhor.
De qualquer forma, vale lembrar que o amor (adequado) é, para Spinoza, uma das emoções derivadas da alegria... que, justamente, aumenta a nossa "potência de viver".
Então, aumentemos a nossa "potência"... de viver! Rsss. Amemos! Feliz Dia dos Namorados!

A ética spinozana

O livro "Cinefilô" já começou a ser lido, como eu havia dito. A primeira parte referente a Spinoza trata de dois filmes, Beleza Americana e X-Men - e quem pensaria que Spinoza teria algo a ver com X-Men?! Rsss.
Então, motivado pelo livro e pela constante, e justa, solicitação do amigo Júlio de que continuemos falando sobre a ética spinozana, por ora usando uma comparação com uma fábula budista de que me lembrei.
"Um nobre samurai anda pela estrada e vê um velhinho sendo assaltado. Tomado de espírito de justiça, ataca o salteador. Este, armado, reage, golpeando o samurai. Obviamente, melhor preparado, após um período de luta, o samurai retira a arma do oponente e se prepara para o golpe final, que tirará a vida do bandido. Este, em fúria, pela desonra de ser derrotado e estar próximo da morte, cospe sobre o rosto do samurai. Tomado de ódio, o defensor da justiça... liberta o bandido.
Interrogado pelo velhinho, sobre por que iria tirar a vida do salteador antes de ser ofendido pessoalmente e não o fez, depois de o ser, o samurai diz algo como: 'Antes, minha motivação para matá-lo era a justiça, iria fazê-lo pelo bem da sociedade. Isso faz parte da minha missão. Entretanto, depois do cuspe, iria eliminá-lo por ódio, um sentimento menor, referente só a mim. E isso, eu não devo fazer".
O samurai não precisaria ter sido discípulo dos grandes mestres do Japão antigo. Poderia ter nascido em outro lugar e época e ter conhecido meu admirado filósofo Spinoza, que escreveu:
"Uma ação qualquer é dita má na medida em que nasce do ódio... que nos afeta. Ora, nenhuma ação, considerada apenas em si, é boa ou má, mas a mesma... ação é ora boa, ora má". (Ética, IV, prop. 59, demonstração alternativa)
E falando sobre uma estória que não tem a ver, diretamente, com a que contei do samurai, o autor do livro "Cinefilô" diz:
"O que é mau, diz Spinoza, não é desferir um golpe, é desferi-lo com ódio, com o objetivo de destruir diretamente a relação que constitui um outro ser. O vocabulário de Spinoza não é o vocabulário da moral, não evoca o bem e o mal, mas o vocabulário da ética, do bom e do mau. Nada é bom ou mau em si, torna-se mau em função do objetivo a que serve e do afeto que acompanha essa ação. Se batemos com ódio, só então isso é mau".
O autor acrescenta algo interessante:
"Esse problema do mal leva Spinoza a considerações estranhas, por exemplo, sobre o matricídio: Nero mata a própria mãe. Isso é terrível. Entretanto, Spinoza sustenta que o problema não é ele matar a mãe, mas matá-la com ódio. Como matar a própria mãe sem ódio? Isso parece absurdo. Observemos, porém, que podemos efetivamente matar por amor - é o cerne da discussão sobre a eutanásia".
A princípio, o exemplo pode chocar. Mas é importante sempre criticar os nossos preconceitos - no sentido de "coisas que tomamos como verdades irrefutáveis, embora nunca tenhamos realmente refletido sobre elas". E esse é justamente o trabalho da Filosofia.
Vê-se, portanto, o quão contemporânea é a ética spinozana. Afinal, o homem pode ter evoluído tecnicamente, mas emocionalmente deve ter mudado muito pouco em relação aos primeiros hominídeos.
Viu, Júlio, como esse Spinoza sabe muito? E viu como eu continuo cumprindo minha promessa? Rsss

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Mais um livro...

Como sempre, tenho comprado mais livros do que consigo ler. Até aí, já nem me preocupo muito. Espero só conseguir viver muito depois da minha aposentadoria. Rsss.
Mas o fato é que tenho evitado um pouco as livrarias... para não cair em tentação. Por esses dias, entretanto, pensando em dar como presente um livro, fui obrigado a olhar uma vitrine. E... provocadoramente, lá estava um título novo: "Cine Filô - as mais belas questões da Filosofia no cinema", de Ollivier Pourriol.
Entrei, perguntei pelo tal livro que desejava presentear e, enquanto esperava meu exemplar chegar, fui folhear o "Cine Filô". Só para impedir qualquer reação minha, o arguto autor dividiu seus temas por dois filósofos apenas. E adivinhem quem era um deles? Bingo! Spinoza!
Não deu para não comprar. Vocês entendem, né?
Só fiquei com um pouco de "inveja", porque o autor parece ser mais fã do Spinoza do que eu. Afinal, vejam só o que escreve:
"Essa obra-prima... a Ética... Há poucas chances de vermos um dia no cinema um filme que seja o equivalente a esse livro. Pouco importa. Quer o conheçamos ou não, Spinoza merece sermpre ser lido e relido...";
"A bem da verdade, quanto mais o conhecemos, mais ele se torna opaco - não no sentido de obscuro, mas de denso -, e mais é preciso lê-lo...";
"Se Spinoza começa com definições [o que pretensamente representaria ideias auto-evidentes], nem por isso as compreenderemos instantaneamente. Como ele próprio diz: 'O que é belo é raro e difícil'. Não existe introdução a Spinoza, da mesma forma que não existe introdução à Filosofia: ou ficamos no limiar, ou mergulhamos...";
"Só podemos vir a compreender alguma coisa em Spinoza impregnando-nos dele, habituando-nos a ele como um novo elemento, e não achando que será preciso escalar altitudes..."; e
"Pensar é difícil. Compreender Spinoza é difícil. Alain dizia sobre Simone Weil, uma de suas melhores alunas, que ela era tão dotada que era bem capaz de haver compreendido Spinoza. Todavia, Spinoza é conhecido como o filósofo da alegria. É um indício de que podemos tentar perseverar em seu conhecimento. Não pelo prazer vaidoso de nos tornarmos especialistas, mas pela alegria de compreender, de sentir nossa perfeição característica..."
Por fim, transformei essa "afecção" que diminui meu "conatus" - a inveja -, e pude sorrir de alegria ao ver as sugestões de leitura dada por Ollivier - "Spinoza", de Alain, e "Spinoza: filosofia prática", de Deleuze -, pois já li ambos. Detalhe: o primeiro, eu nunca vi em livraria nenhuma, nem mesmo em outro idioma. Consegui, na net, um exemplarzinho em francês. Ulalá! Rsss.
Só que, desta vez, o livrinho não vai ficar esperando para ser lido, não. Já me lancei na aventura da leitura. E o primeiro capítulo da parte do Spinoza - não disse até agora, mas ignorei solenemente a parte dedicada a Descartes - é "Eu e os outros, como encontrar a alegria?".

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Outra tirinha boa...

Gostei dessa, também!
Embora saibamos, ao contrário do bonequinho, que Nietzsche tinha muita experiência com sofrimento em relação à sua saúde. Além disso, devemos lembrar que o seu Amor fati, que é um amor à vida, com qualquer vivência que dela decorra, não deixaria que Nietzsche, inautenticamente, trocasse sua opinião... apesar da "diarreia".
Ainda mais... Em Ecce homo, Nietzsche atribui à doença o privilégio de conferir uma clarividência e uma lucidez superiores, permitindo discernir os verdadeiros valores, que vão no sentido do aumento da força vital, rejeitando tudo que se oponha a essa força (o ascetismo, a renúncia, etc.)

terça-feira, 9 de junho de 2009

Já que falei do "Ricardinho"

"Ricardinho" apresentou-me um site de tiras cômicas. Há uma série só com Deus e Nietzsche, muito engraçada. O endereço é http://www.umsabadoqualquer.com
Vejam essa daqui.


segunda-feira, 8 de junho de 2009

Outro aniversário

Embora não seja um dos que acompanha o blog regularmente, não posso deixar de registrar aqui o aniversário do meu filhão, o "Ricardinho" (mais alto que o pai, é verdade, mas sempre "Ricardinho").
Felicidade, filho. Desejo que este ano possa trazer-lhe uma visão mais vívida da realidade; o que facilitará sua ação no mundo.
E, sempre, muita alegria no viver!

domingo, 7 de junho de 2009

Crítica na rede

Há poucos dias, encontrei uma revista na net que penso ser muito interessante. O seu nome é "Crítica na rede". Os artigos são bons; sendo alguns, inclusive, produzidos - ou reproduzidos - por pensadores de renome.
A apresentação da própria revista é a seguinte:
"A Crítica é uma publicação dedicada à divulgação, ensino e investigação da filosofia. Publicam-se artigos de filosofia úteis para estudantes, professores e investigadores, assim como críticas a livros de filosofia. Publicam-se ainda críticas a outros livros (sobretudo ensaios), entrevistas e críticas musicais.
A Crítica é publicada exclusivamente na Internet.
Na primeira página encontram-se as novidades do último mês, com as mais recentes no topo. Nas diversas secções encontram-se em arquivo, por ordem alfabética, todos os documentos publicados ao longo do tempo. No blog divulga-se notícias e estimula-se a discussão.
Director: Desidério Murcho (Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil) e Assistente editorial: Rolando Almeida (Escola Secundária Gonçalves Zarco, Madeira)"
Percebe-se, que é uma produção luso-brasileira, que contém um blog, bem como diversos textos interessantes, todos divididos por áreas: Metafísica, Epistemologia, Ética, Éstética, etc.
Para pessoas que começaram a gostar de Filosofia há pouco tempo, existe um texto, a meu ver, brilhante, chamado "O Especialista Instantâneo em Filosofia", de Jim Hankinson, da Universidade do Texas. Entre brincadeiras, de forma levíssima, o autor apresenta rapidamente a vida de filósofos que marcaram a História da Filosofia e uma breve indicação dos seus pensamentos; depois, explica algo sobre cada uma das diversas áreas da Filosofia; segue com algumas técnicas úteis a um especialista-impostor e, por fim, lista uma série de termos filosóficos - inclusive em alemão, visto que uma das dicas é "Não se esqueça que as coisas soam sempre melhor em línguas que as pessoas não sabem. Por qualquer razão, isto é especialmente verdade no alemão". Rsss.
O texto pode não cumprir o prometido - tornar o leitor um especialista instantâneo -, e acho que nem deve ser essa a proposta do leitor, mas acho que cumpre um papel introdutório ótimo, por ser divertido e acabar chamando atenção para aspectos interessantes de algum pensador.
O endereço da revista é http://criticanarede.com/ e o de "O especialista instantâneo em Filosofia" é http://criticanarede.com/html/bluffer.html
Vale a pena conferir.

sábado, 6 de junho de 2009

Villas-Boas Corrêa

Dia desses, estive presente à uma homenagem prestada ao jornalista Villas-Boas Corrêa, que escreve no Jornal do Brasil. Foi uma aula sobre a recente História do Brasil.
O que mais me impressionou foram os comentários sobre a política da época do Rio de Janeiro como capital da República... e a triste comparação com o que vemos hoje, com Brasília como capital.
Villas-Boas contou que, na época do Congresso Nacional instalado no Rio de Janeiro, tínhamos cerca de duzentos deputados, dos quais se sabia que três não eram pessoas dignas. Três?!?! Pasmem! Isso é menos de 2%! Se fizermos a estatística de hoje, os 2% - se tivermos sorte - serão os dignos.
Continuando...
Contou também que os deputados eram profissionais liberais comuns, a maioria deles não tinha nem carro próprio. Sua dedicação à política era por paixão, como acontece com muitos outros profissionais de todas as áreas, que mesmo remunerados aquém do valor do serviço que prestam continuam envidando esforços para realizarem um trabalho que frutifique.
Comparados aos "milionários" deputados de hoje, como lembrou o jornalista, eles eram "pobretões". Villas-Boas contou que a maioria ficava no próprio Rio de Janeiro - apesar de serem representantes de diversos Estados -, instalada em hotéis humildes, próximos ao Centro da cidade, com suas esposas.
Ou seja, essa estória de que é absolutamente necessário o número enorme de passagens aéreas para os gabinetes atuais, chegando alguns a dizer que, caso isso seja cortado, seus casamentos estarão em risco, é absolutamente ridícula. E eu nem vou lembrar que estamos em tempos de internet, que aproxima muito os políticos de suas localidades de origem.
Outra coisa destacada pelo jornalista é que, ao contrário da semana de três dias do Congresso atual, os parlamentares trabalhavam de segunda a sexta e, quando havia matérias importantes, excepcionalmente havia sessões aos sábados. É, gente, aos sábados!
A nota triste é que, durante seu discurso, Villas-Boas disse algo que eu penso também - aliás, penso sobre a política brasileira atual e sobre o estado de violência que reina no Rio -, que é o fato de ele não ver uma solução para esse tipo de problema.
Enfim... só acertando o compasso do voto é que poderemos ter políticos melhores. Mas, para isso, só tendo um povo que vote melhor. Só que, como os maus políticos favorecem os maus eleitores e os maus eleitores escolhem os maus políticos, vamos ficamos num círculo vicioso.
Mas, quem sabe, a educação pode mudar isso... uma educação de verdade, é claro! Uma educação interessada em tirar o homem de sua "imaturidade de cidadania".

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Fernando Pessoa e Metafísica

Disse Fernando Pessoa:
"Um indivíduo qualquer, desconhecedor do que seja o cálculo diferencial, não diz, ao folhear um livro sobre o assunto: 'Isto é incompreensível!', ou, 'Este homem não sabe o que diz!'; diz, simplesmente: 'Não compreendo isto'. Mas o mesmo indivíduo, se for também desconhecedor de Metafísica, já vulgarmente não diz, ao folhear um livro sobre esse assunto: 'Não compreendo isto'; a sua tendência é para dizer: 'Que confuso que é este homem!', ou, 'Isto é incompreensível'."
Será que Kant tinha razão em achar que o homem tende a desligar-se do empírico rumo ao não-sensível? E, se essa tendência for real, será que este homem julga que teria efetivamente que "compreender" tratados metafísicos, e, não os compreendendo, deduz que eles é que são "confusos"? Parece que Pessoa pensava que sim.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Uma charge ética

Já que falamos da ética kantiana, baseada no "dever", coloquei essa charge de autoria de Alex Xavier, onde Kant defende sua tese, diante de Aristóteles - que baseia a ética na ação virtuosa - e John Stuart Mill - cuja ética é utilitarista.
O aluno, ao lado dos citados mestres, fica na maior "banana" sobre o que escolher. E nós, que ética escolheríamos?

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Mais uma centena...

Ultrapassada a primeira marca dos cem posts - no total do blog -, chego aos cem posts do ano! Desejo comemorar os duzentos. E espero que os amigos tenham paciência comigo. Rsss.
Obrigado aos que leem; obrigado aos que comentam e obrigado aos que provocam mais posts.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Kant na Casa do Saber

Ontem, tive aula sobre Kant, no curso da Casa do Saber. O professor Luiz Bernardo Araújo manteve o nível dos anteriores, demonstrando muito conhecimento e muito apreço pelo filósofo de Köenigsberg. A área de especialização do professor era Ética, mas isso não impediu que ele transitasse confortavelmente pela primeira Crítica kantiana - a da Razão Pura -, que diz respeito à Epistemologia.
A aula só não foi mais interessante por três motivos. Primeiro, eu já conhecia tudo o que foi dito sobre a epistemologia kantiana. Segundo, tudo o que foi dito sobre a ética deontológica kantiana - com a qual eu nunca concordei, baseado nos poucos recursos filosóficos de que disponho - foi totalmente "arrasado" por um texto que tinha lido, poucos dias antes, intitulado "A teoria moral de Kant", retirado e traduzido do livro "Core questions in Philosophy", de Elliot Sober - texto, aliás, que farei questão de disponibilizar para os amigos. E, terceiro, porque o tempo de aula foi usado integralmente na explanação do professor, o que quase não permitiu perguntas.
Gostaria de, tendo tempo para tal, indagar o professor sobre as oposições do texto do filósofo Sober, a fim de ouvir uma defesa de alto nível. Mas não foi possível.
Então, a ética kantiana continua a me parecer uma posição intelectualmente indefensável e impraticável no quotidiano, parecendo-me só uma apresentação "elegante" e formal da ética protestante pietista absorvida desde cedo de sua mãe.
Há algum tempo, coloquei no outro blog um texto em inglês intitulado "O que está errado com Kant?" - se não me falha a memória a respeito do título. Um amigo meu, kantiano "de carteirinha", achou o texto absurdo, não pela parte teórica, mas pelo desprezo total pela filosofia de Kant. O problema é que não é só aquele pensador que tem tal opinião. Olavo de Carvalho, embora seja um filósofo "problemático", compartilha da mesma visão; mas o mais famoso dos detratores de Kant é, nada mais, nada menos que, Bertrand Russell, para quem Kant foi "a maior catástrofe na história da Filosofia". Nem vou citar o irônico George Bernard Shaw, porque esse é só um "comediante" pensador.
Amenizando, entretanto, as opiniões contra o grande prussiano, "A teoria moral de Kant", de Sober, cria embaraços à ética kantiana quando avalia os quatro exemplos que Kant utiliza para demonstrar suas teses na "Fundamentação Metafísica dos Costumes" (1785).
De qualquer forma, o autor faz uma defesa de Kant, quando escreve essa bela passagem:
"Kant pensava que uma importante consequência do teste da universabilidade é que DEVEMOS TRATAR AS PESSOAS COMO FINS EM SI E NÃO COMO MEIOS... A teoria kantiana parece fornecer bases mais sólidas do que o Utilitarismo para a ideia de que as pessoas têm direitos que não podem ser ultrapassados por considerações de utilidade". (GRIFO MEU)
De qualquer forma, a aula serviu para reforçar alguns conceitos da moral kantiana, além de esclarecer melhor o porquê da liberdade do homem no Sistema de Kant.
Nada mais distante de Spinoza, mas... "Cada um no seu quadrado!". Rsss.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Aniversário...

Hoje é dia do aniversário do meu compadre Mundy. Eu não poderia deixar de fazer o registro, desejando-lhe muita saúde e felicidade. Torço para que as coisas evoluam positivamente, a fim de deixá-lo mais tranquilo na sua relação com o mundo.
Mas, lembre-se, ajude a quem o está apoiando, para que a solução venha mais rápido.
Muitos abraços, amigão.