quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Aproveitando os aniversários

   O aniversariante mais ilustre dessa época é Jesus Cristo... o fundador, ainda que assim não o tenha pretendido, do Cristianismo... ou seria, dos Cristianismos?
   Pergunto isso porque estranho muito uma atitude que presencio vez por outra: a troca de "igrejas", por evangélicos meus conhecidos. Normalmente, fico sem resposta quando pergunto-lhes qual a diferença doutrinária que os fez mudar.
   Posso estar sendo pouco severo na crítica, mas, por vezes, parece-me que há igrejas que estão mais "na moda" que outras.
   O fato é que encontrei uma possível explicação num texto de José Arthur Giannotti, do livro "Notícias no espelho", ao qual já me referi em um post anterior. É bem verdade que eu espero que Giannotti esteja tão errado em sua crítica quanto eu, mas é uma possibilidade.
   Transcrevo, então, algumas passagens de "Religião como investimento".
   "Estava passeando pela TV quando dei com um culto da Igreja Mundial do Poder de Deus. [...] No culto da TV, o pastor simplesmente anunciou que, dado o aumento das despesas da Igreja, no próximo mês o dízimo subiria de 10% para 20% ['dízimo' de 20%!?!? Isso não é uma contradictio in adjecto ?!?!] [...] Notável é que o dízimo não era pensado como doação, mas simplesmente como devolução: já que Deus neste mês dera-lhe tanto, cabia ao fiel devolver uma parte para que a Igreja continuasse no seu trabalho de mediador. [...] Em vez de o salário ser considerado como retribuição ao trabalho, o é tão só como dádiva divina. [...] Se o salário é dádiva, precisa ser recompensado. Não segundo a máxima franciscana 'é dando que se recebe', pois não se processa como ato de amor pelo outro. No fundo vale o princípio: 'Recebes porque doastes'. E, como esse investimento nem sempre dá bons resultados, parece-me natural que o crente mude de igreja, como nós procuramos um banco mais rentável para nossos investimentos. [...] Esse novo crente não mantém com a Igreja e seus pares uma relação amorosa [...] sua adesão não implica conversão, total transformação do sentido de seu ser. Ele apenas assina um contrato integral que lhe traz paz de espírito e confiança no futuro. Em vez de conversão, mera negociação. Essa religião não parece se coadunar, então, com as necessidades de uma massa trabalhadora, cujos empregos são aleatórios e precários?".
   Como eu disse antes, espero que o "diagnóstico" de Giannotti esteja tão errado quanto o meu... até porque não acredito que meus conhecidos tenham em mente esse mero acordo "comercial", pelo menos de modo consciente, quando trocam de "um Cristianismo para outro". Entretanto, tenho que reconhecer que é um ponto de vista.
   Apesar disso, o que não discordo de Giannotti é um trecho que fecha o texto em questão. Escreve o autor:
   "Essa teologia pentecostal se aproxima, então, do maniqueísmo. Como sabemos, o sacerdote Mani (também conhecido como Maniqueu), ativo no século III, pregava a existência de duas divindades igualmente poderosas, a benigna e a maligna. Isto porque o mal somente poderia ter origem no mal. A nova teologia pentecostal empresta o mesmo valor aos dois princípios e, assim, ressuscita a heresia maniqueísta, misturando cristianismo com teologia pagã".
   Em alguma medida, realmente, o que o Cristianismo evangélico tende a fazer é dar ao lado mau praticamente tanta força quanto ao lado bom... ressuscitando o maniqueísmo, portanto.
   

Aniversários

   Hoje, escrevo fundamentalmente para registrar o aniversário de onze anos da minha filhota - a futura herdeira de minha biblioteca... é só o que eu tenho para deixar! Rsss.
   Entretanto, aproveito para lembrar outro aniversário que passou "em branco", o do próprio blog. Este aqui, no blogspot, foi iniciado em 19 de novembro 2008. Portanto, lá se vão três anos. E, por uma incrível coincidência, esse post é o de número 700 - bem "redondinho"! Rsss.
   Mas lembremos que o blog original teve início em  26 de julho de 2007.
   Por último, passado o Natal, desejo a todos os "amigos dos amigos" um Feliz Ano Novo!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Boas festas, amigos!

   Já se aproximam as festas de final de ano - Natal e Reveillon. Como dificilmente terei possibilidade de atualizar o blog até o final do ano, vou deixando meu abraço e desejos de muita alegria nesse fechamento de um ano e início do próximo. Portanto, "Feliz Natal e Próspero Ano Novo!", amigos dos amigos.

"Já ouvi os santos, ..."

   "... agora, escutarei Deus!"
   Foi com essa frase que me despedi do meu filhão, ontem. Ele, a caminho da "pelada", eu, do prazer "auricular".
   Explico melhor.
   Minha esposa está de férias, e já viajou. Eu ainda estou trabalhando, antes de nos reunirmos para o Natal e, depois, novamente, para o Ano Novo.
   Em casa, só com o "molecão", após o trabalho, regado à cerveja - para espantar o calor -, resolvi retirar uns DVDs da gaveta. Logo "se convidaram" as guitarras. Jonny Lang apresentou-se sem cerimônia alguma. Foi seguido por Jeff Healey.
   Mas ninguém vai à igreja para rezar só para os santos, há que se orar também para Deus. Então, sob enorme reverência, "saquei" um Eric Clapton. Aliás, "um" não, mas o melhor da dezena de DVDs que tenho dele, "Eric Clapton & friends in concert", com David Sanborn, Sheryl Crown, Mary J. Blige e Bob Dylan.
   Difícil acreditar que seres humanos possam produzir "Breakin' me", de Jonny Lang, e "Angel Eyes", de Jeff Healey. Mas a constatação de que Deus existe vem com músicas como "Tears in Heaven", "Wonderful tonight" e "Layla", por exemplo, nem que esse "Deus" seja aquele das pixações "Clapton is God".
   Se eram Schopenhauer e Nietzsche que consideravam a música a maior expressão artística, eles estavam cobertos de razão!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Hildegarda de Bingen

   A primeira vez que ouvi falar na "senhora" que dá nome ao post foi através de uma amiga chamada Maria - não a "nossa" Maria, amiga dos amigos, aqui do blog, historiadora e teatróloga -, mas uma outra, filosofante amiga, da Universidade Federal Fluminense.
   A pesquisa da "outra" Maria focava justamente essa monja, da virada do século XI para o XII, bastante avançada para a época em questão.
   Para quem não conhece Santa Hildegarda de Bingen - É, a monja é santa, gente! -, vale a pena uma breve incursão pelo Google. É surpreendente. Aqui registro apenas o começo do que lá está: "Santa Hildegarda de Bingen, em alemão Hildegard von Bingen (Bermersheim vor der Höhe, verão de 1098Mosteiro de Rupertsberg, 17 de setembro de 1179), foi uma monja beneditina, mística, teóloga, compositora, pregadora, naturalista, médica informal, poetisa, dramaturga e escritora alemã, e mestra do Mosteiro de Rupertsberg em Bingen am Rhein, na Alemanha".
   O mais curioso, entretanto, não é apenas tudo isso o que a Santa Hildegarda é - o que já é muita coisa -, mas eu ter encontrado uma referência ao seu nome nada mais, nada menos que no livro "Cerveja - Guia Ilustrado Zahar".
   Eis que eu lia o supracitado livro, a fim de conhecer um pouco mais do líquido que adoro beber, quando me deparo com o trecho "Hildegarda e o Lúpulo".
   Lá está dito que: "Registros do século VIII mostram que o lúpulo era comumente cultivado nas abadias, mas não especificamente para uso em cerveja. A primeira menção inequívoca sobre esse uso está nos textos de santa Hildegarda (1098-1179), abadessa de Rupertsberg, abadia beneditina perto de Bingen, não muito longe da cidade alemã de Mainz". Ela teria escrito: "Se alguém pretende fazer cerveja com aveia, ela é preparada com lúpulo".
   Um comentário à parte: o livro indica que Santa Hildegarda "forneceu o primeiro relato escrito sobre o orgasmo feminino".
   Para uma santa, e informado num livro sobre cerveja, o fato é bem curioso!!! Rsss.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

"Um estudo autobiográfico", de Freud

   Para quem deseja entrar no estudo da Psicanálise "pela porta da frente", nada melhor do que um texto do próprio Freud. O problema mais óbvio em relação a isso é que há diversos deles, de várias fases, com diferentes enfoques. Entretanto, há um que me parece ideal para quem quer uma visão histórica geral do movimento psicanalítico, com a apresentação de diversos conceitos que apareceram nessa história... e, como eu disse, escrito pelo "Pai da Psicanálise". Este texto é o que dá título ao post: "Um estudo autobiográfico".
   O texto em questão está incluído no volume vinte da "Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud", publicado pela Imago Editora.
   Em pouco mais de sessenta páginas, "passeamos" com Freud desde a sua infância até os desenvolvimentos mais "modernos", à época do Dr. Sigmund, da Psicanálise. "Encontramo-nos" com o Dr. Josef Breuer, o Dr. Jean-Martin Charcot, o Dr. Jung e vários outros nomes importantes na história pessoal de Freud, mas também na própria história da Psicanálise. Além disso, tomamos "ciência" - ou seja, tornamo-nos conscientes - de conceitos como: katarsis, transferência, associação livre, desenvolvimento bifásico da sexualidade, Complexo de Édipo e de Castração, and so on...
   Pretendo revisitar essa agradável leitura e ir fazendo uns registros aqui no blog. Quem quiser que me acompanhe.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

"Pequena História das Grandes Ideias" (2)

   Na parte "A Política", o autor fala de Machiavelli, e conta uma coisa bem engraçada:
   "Na morte, de acordo com uma anedota, Maquiavel manteve a postura do realista político. Com o aviso de que agora seria o momento de execrar o diabo e toda a sua obra, ele teria dado a resposta diplomática: 'Essa não é uma boa hora para fazer inimigos'".
   Eu até acho que já contei essa estória no blog, mas é engraçado relembrá-la.

"Pequena História das Grandes Ideias"

   Encontrei dois problemas no livro do título do post. Imagino que se trate de enganos na tradução; afinal, o livro é bem escrito.
   O primeiro está na página 39. Lá está escrito que "[Sócrates] quando demonstrou seu desprezo pelos atenienses, não afirmou que sabia mais de qualquer coisa, mas falou de uma voz no ouvido que o convencia desde a infância a fazer coisas ruins".
   Trata-se do famoso "daimon" de Sócrates. Mas o que Sócrates diz é que seu "daimon" não o incitava a fazer nada, só dizia "Não!" quanto às possíveis ações ruins.
   O segundo problema está na página 110. Lá está escrito diz que "A sobrecapa de Leviatã [...] Nela se vê um rei com cetro e espada, mas, quando aproximamos os olhos, descobrimos que esse monarca [o próprio Leviatã] se compõe de um mero indivíduo. Ou como diz Hobbes: o Leviatã é um 'homem artificial'".
   Na verdade, o Leviatã, no desenho, é composto de inúmeros indivíduos.
   É verdade que são enganos relativamente leves, mas que eles mudam a ideia original, mudam.  

A origem das palavras

   Para quem, como eu, gosta de "xeretar" a origem das palavras, vale a pena conferir o site http://origemdapalavra.com.br/lista-palavras/ .

domingo, 11 de dezembro de 2011

Leituras... (3)

   Um livrinho legal que já tinha sido adquirido há algum tempo, mas que não fora iniciado, é "Pequena História das grandes ideias - como a Filosofia inventou nosso mundo". O autor é Martin Burckhardt, e a editora é a Tinta Negra - da qual, eu particularmente nunca tinha ouvido falar.
   O livro é bem gostoso de ler. Em um final de semana dá para ir de cabo a rabo. Se o leitor for mais "seletivo", é possível fazer o mesmo em um dia, apenas.
   Trata-se de pequenos artigos, em média, com quatro páginas cada, que discorrem sobre "invenções" que mudaram a História. A diferença é que não são apenas invenções "concretas", como o GPS, o perfume e etc., mas de ideias, ainda que elas se apoiem em algum tipo de "concretude" para existirem.
   Ao lado das "grandes ideias", por vezes, associa-se o nome de um pensador, de um filósofo. Como os artigos são leves, com um certo ar de humor, tem-se acesso aos pensadores sem aquele ar grave de um manual de Filosofia.
   Entre as grandes ideias temos: Deus Pai, a Verdade, Autoconhecimento, o Indivíduo, a Política, a Evolução, o Inconsciente, Sexo e etc.
   Embora, pela extensão e pela proposta, algumas referências fiquem muito superficiais, não há como negar que é um acesso bastante interessante a algumas ideias filosóficas. E, mesmo que seja só por curiosidade sobre os assuntos abordados, penso que vale à pena a leitura.
   Alguns dados, entretanto, são bem interessantes. Em "A Verdade", por exemplo, o autor fala "do sofista Sócrates (469 a 399 a.C.), que se diferenciou dos demais sofistas por não aceitar dinheiro em troca de seus ensinamentos", que nós sabemos que é a realidade, visto que o método socrático de deixar o outro em enrascadas com o poder de sua argumentação é bem "sofístico". Entretanto, lendo Platão ortodoxamente, vamos ter que rejeitar totalmente essa ideia, e considerar Sócrates um completo adversário dos sofistas.
   Recomendo, não só para os interessados em Filosofia e em História, mas para a garotada em geral, que pode tomar contato com estes assuntos de um modo leve e prazeroso.

Voltem...

   Recebi um e-mail muito engraçado de um amigo, sobre a evolução darwiniana, que gostaria de compartilhar com os "amigos dos amigos".
   Lá vai!
   

sábado, 10 de dezembro de 2011

Leituras... (2)

   Hoje, lendo o caderno "Prosa & Verso", do jornal O Globo, acabei me deparando com os comentários sobre o mais recente livro do neurocientista português António Damásio, entitulado "E o cérebro criou o homem", publicado pela Companhia das Letras.
   É difícil esquecer que este senhor já nos brindou com o maravilhoso "Em busca de Spinoza" - aliás, tenho cá minha edição portuguesa, sob o título "Ao encontro de Espinosa - as emoções sociais e a neurologia do sentir". Uma curiosidade que comprova o sucesso do livro, que constato simplesmente a partir das informações internas, é que, lançado em novembro de 2003, ainda no mesmo mês saiu sua 4ª edição. Tenho a 5ª, publicada em dezembro de 2003.
   Além deste, também escreveu "O erro de Descartes" e "O sentimento de si".
   Mas voltemos ao livro mais recente.
   O jornal apresenta a seguinte ideia: "Neurociência avança no estudo da consciência e se aproxima de questões filosóficas".
   É fato que qualquer um que se dedique à Filosofia da Mente, hoje, terá que "encarar" a neurociência. Mas... é necessário, sempre, o cuidado de não transformar Filosofia em Ciência. Aliás, é um cuidado que devemos ter sempre presente. Eu mesmo, quando li o livro a respeito de Spinoza, empolguei-me "excessivamente" com o "endosso" científico dado ao nosso querido luso-holandês. Passado algum tempo, continuo adorando a perspectiva de que Spinoza pode ter tido intuições filosóficas que, hoje, podem ser cientificamente comprovadas, mas não deixo de registrar que não ache que sua filosofia tenha necessariamente que passar por esse crivo científico para ser considerada válida.
   De qualquer modo, vale à pena a leitura dos dois textos que foram publicados pelo jornal: uma entrevista com o cientista e um pequeno artigo da professora Maria Cristina Franco Ferraz.
   Purificados de alguns preconceitos, acho que podemos ver nas duas posições grandes contribuições à nossa reflexão.
   Damásio sugere que Filosofia/Psicologia e Biologia/Neurociências são campos de conhecimento complementares, mas com barreiras rígidas entre eles, e que sua intenção é promover o diálogo entre esses campos.
   Perguntado sobre os possíveis atritos entre as diversas posições, Damásio acha que eles advêm dos métodos, principalmente, pois "da perspectiva de artistas e filósofos, a objetividade científica pode parecer redutora". Particularmente, não sei se haveria como não ser redutora, mas...
   Fiquei curioso em saber como o texto trata o que o entrevistador chama de "pontos centrais do livro", que dizem respeito ao "estudo de como o cérebro constrói a mente e como torna essa mente consciente", visto que Damásio diz que "obtivemos uma série de progressos" quanto a isso, mas reconhece que "ainda há questões em aberto".
   Ao final da entrevista, Damásio parece abrir o diálogo com o texto que vem a seguir, da professora Maria Cristina, visto que ele afirma que fica "desapontado quando dizem que a neurociência reduz tudo ao cérebro e a circuitos nervosos" e que "não se pode isolar o cérebro disso tudo [afetos, relações sociais, a justiça, a política, a economia]. Não é vantajoso neurologizar todos os problemas que temos".
   O texto que se segue tem o título de "O mal-estar na 'cultura somática'".
   Nele, a professora cita o livro "O erro de Descartes", indicando que "esse 'erro' consistiria na compreensão do humano baseada em dualismos empedernidos: a cisão entre o corpo e algo que não seria corpo - quer se denomine alma, espírito ou mente" e assinala que "o problema é que a tentativa da ultrapassagem dos dualismos [...] exige a mudança radical do próprio conceito de 'corpo', sob pena de se manter tributária do 'erro' que pretende corrigir". Realmente, é um cuidado que se deve ter.
   Afirma ainda que "a somatização do 'eu', disseminada midiaticamente, produz novas 'verdades' assumidas de modo irrefletido, na medida em que são caucionadas pelas neurociências e ancoradas no poder de persuasão permitido pelas tecnologias de imagem cerebral". Novamente acerta, a professora Ferraz, quando chama atenção para essa "adesão cega" às verdades científicas, principalmente pelo leigo, visto que o cientista, da mesma forma que o epistemólogo, não tem mais essas ilusões quanto a "verdades absolutas" produzidas pelo seu saber.
   No entanto, a professora parece reforçar o desapontamento do cientista, quando fala da "tendência à redução de todo o campo do vivido à atividade cerebral espetacularizada em neuroimagens, dispensando a narração" e que "quando o mal-estar é reduzido ao mau funcionamento da materialidade do corpo, o sujeito apto a narrar suas experiências e a elaborar traumas e lutos se emudece", pois acusa de reducionismo radical à neurociência.
   Em minha opinião, a mente, em alguma medida, pode continuar sendo "suportada" materialmente, mas gozar de certa autonomia. Não seria possível, então, reduzir suas operações ao suporte material, mas também não seria correto dispensar as considerações sobre este, no que concerne às atividades da mente.
   De qualquer modo... outra sugestão de leitura fica dada. Segunda-feira, compro o meu exemplar.

Leituras...

  Férias chegando... Período das leituras não obrigatórias se aproximando. Obaaaa!
   Se os amigos quiserem uma sugestão, aí vai:
  "Notícias no espelho", de José Arthur Giannotti. O livro é uma coletânea dos textos publicados pelo filósofo brasileiro no jornal "Folha de S. Paulo", entre os anos de 2000 e 2010.
   Segundo a Introdução, escrita por Luciano Codato, também professor de Filosofia, da Unifesp, o livro é "destinado a um leitor não inteiramente versado na tradição filosófica". O interessante, entretanto, é que, conforme ainda indica Codato, "importam menos as notícias e mais o espelho refletindo a própria época, a consciência do tempo presente, dos homens presentes, da vida presente".
   Interessante, também, é a expressão usado por Codato para falar do solo a partir do onde Giannotti constrói suas reflexões: "... a matéria de Giannotti sempre foi a racionalidade irracional de nossas ações". (Grifo meu)
   O que eu achei bem estimulante foi a partição que foi feita no material escrito. Há uma seção "Em busca do sentido da arte", de fundo estético; outra "Questões morais"; mais outra "Em volta da política", além de mais algumas. Deste modo, o leitor pode escolher o tema que mais lhe agrada e esgotá-lo primeiro... ou até dispensar aqueles outros temas que não lhe falam nada.
   Sei lá... cada um que leia como quiser. Rsss. Eu já estou lendo o meu! 
   

Gosto não se discute...

   Aliás, falando em Hume, a questão básica do ensaio estético de que falei no post anterior é refletir, conforme o título sugere, sobre a existência real de um padrão - ou seja, de uma referência universalmente válida - para o gosto "mental" - isto é, nossa percepção de prazer, ou desprazer -, no que concerne às obras de arte.
   Antes de postar algo sobre o assunto, gostaria que os amigos refletissem sobre a questão... principalmente, os amigos artistas do blog.

O ateísmo de Hume

   Não é incomum, embora não seja o correto, repetirmos acriticamente informações que vamos obtendo através de várias fontes. Eu não sou exceção a isso... infelizmente.
   Uma informação que continuo passando adiante até hoje é a que diz respeito a Hume (1711-1776) ter sido o primeiro filósofo a se assumir "ateu". Escrevo "até hoje" porque ainda não encontrei algo que negasse diretamente a informação inicial... entretanto, também não achei alguma coisa que a validasse definitivamente. Prometo tentar, em leituras vindouras, chancelar essa informação... o que não parece, entretanto, uma tarefa simples; afinal, segundo consta, Hume, apesar de abertamente declarado infiel pela Igreja escocesa, não se manifestou a respeito disso.
   De qualquer forma, se não era ateu, certamente um crítico das religiões nosso brilhante escocês era. Isso fica claro em vários dos seus escritos, principalmente em "The natural History of religion", de 1757.
   Entretanto, estava eu lendo um pequeno ensaio de Estética, chamado "Do padrão do gosto", de 1757, quando me deparei com duas críticas severas à religião... ou melhor, a duas religiões: o islamismo e o cristianismo.
   A primeira delas, se fosse feita hoje, certamente colocaria Hume ao lado de Salman Rushdie como perseguido pela imposição da pena de morte por parte de alguns muçulmanos.
   Escreve Hume:
   "Os admiradores e seguidores do Corão insistem nos excelentes preceitos morais que se encontram dispersos por essa obra caótica e absurda. [...] Mas como podemos saber se o pretenso profeta conseguiu realmente chegar a uma justa concepção da moral? Concentremo-nos em sua narração, e logo veremos que dá seu aplauso a instâncias como a traição, a desumanidade, a crueldade, a vingança e a beatice, que são inteiramente incompatíveis com a sociedade civilizada [...] cada ação só é condenada ou elogiada na medida em que é benéfica ou prejudicial para os verdadeiros crentes".
   Xiiiii... melhor nem comentar essa!
   Sobre o cristianismo, nosso filósofo escreve:
   "Uma das características essenciais da religião católica romana é que ela precisa inspirar um ódio violento por toda outra forma de crença, e conceber todos os pagãos, maometanos e hereges como objetos da divina cólera e vingança. Tais sentimentos, muito embora sejam na realidade altamente condenáveis, são considerados virtudes pelos fanáticos dessa comunhão, e são representados em suas tragédias e poemas épicos como uma espécie de divino heroísmo".
   Aqui, só diminui o impacto da crítica a citação de "pelos fanáticos dessa comunhão", embora isso só apareça depois de ter sido dito que era essencial à religião católica romana "inspirar um ódio...", sem a particularidade do caso dos "fanáticos".
   Para alguém que questionou a "causalidade" e o "eu" - duas coisas aparentemente tão óbvias, pelo menos para o senso comum -, não é muito de se estranhar, não é? Rsss.

Avaliação da Uff

   A Universidade Federal Fluminense está "bem na fita", segundo o que foi publicado no jornal O Globo, caderno Niterói.
   Lá está escrito:
   "A UFF recebeu nota máxima da Comissão de Avaliação do MEC pela coerência das políticas de ensino, pesquisa e extensão; ações de responsabilidade social; comunicação com a sociedade; políticas de pessoal e gestão".
   Eu só sei que a passagem dessa comissão pelas nossas instalações sempre causa tensão. Rsss. Mas... valeu a pena!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

"Espaço para Filosofia"

   Não costumo discordar de meu assertivo compadre, mas desta vez fá-lo-ei.
   Disse meu dileto "irmão" que "Aqui nao é espaço para isso, pois trata-se de Filosofia"... e eu pergunto: O que não é Filosofia, caro compadre? Essa estória sobre a qual você refletiu, por exemplo, trata de Ética - assunto claramente filosófico. Portanto, o que você fez foi, em alguma medida, filosofar. A grande diferença é que não usou ferramentas filosóficas para tal.
   Mas pensemos juntos.
   Diz você que a Justiça absolveu a viúva do milionário da Mega-sena e que achou essa decisão problemática. Logo a seguir, você indica que a "jovem senhora" alegou carência sexual para efetuar suas "saliências", e que soube que poderia vir a ser excluída do testamento, coisa e tal, e que seu milionário marido foi morto, supostamente, pelo policial seu amante.
   Sem querer, em hipótese alguma, defender a Sra. Adriana, visto que nem conheço os detalhes do processo - e nem advogado sou -, acho que as coisas estão um pouco "confusas" na sua apresentação.
   Senão vejamos.
   O que está em julgamento é a participação da senhora na morte do marido... e foi disso que ela foi inocentada.
    O caráter da "moça" não está em jogo, muito menos suas atividades sexuais extramatrimoniais. Se ela traía o marido; se seu amante era policial; se ela sabia que iria ser excluída do testamento, e até mesmo se seu amante matou seu marido, essas são coisas que não dizem respeito efetivamente à questão de ela - afinal, é ela que está em julgamento - matar ou não o marido.
   Os juízos de valor são secundários em relação à questão principal.
   Agora, pensemos por uma outra perspectiva: o Sr. Mega-sena conquistou o amor de sua jovem manicura - posteriormente Sra. Mega-sena - ou apenas "comprou-lhe" a companhia? E se apenas comprou-lhe a companhia, saberia que ela poderia vender-se a outro, talvez não por dinheiro, mas por prazer.
   Você afirma que uma mulher "correta" se separaria. Volto a contestar seu pensamento. Afinal, uma pessoa "correta" nem teria se "vendido" pela oferta inicial que o Sr. Mega-sena fez. Tendo ela aceito a oferta, o marido não poderia esperar grandes atos de "correção" dela. Nada a estranhar, pelo menos quanto à traição... mas, obviamente, não quanto à morte dele.
   Volto a dizer que não tenho o desejo de defendê-la, mas acho que uma avaliação dessas, que, como eu disse, envolve totalmente o campo ético da Filosofia, precisa ser feita com um pouco mais de atenção. Precisamos separar, com vagar, o que se poderia esperar dela e o que tivemos. Esse seria o julgamento ético, que talvez não "inocente" nem o Sr. Mega-sena. Mas... o Tribunal não está lá para fazer esse tipo de juízo, mas o Penal. Aí, talvez tivéssemos que nos debruçar mais sobre o caso antes de discuti-lo.