quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Boas festas!

   Cada ano tem suas complicações e suas alegrias. Esse 2012 não foi uma exceção. Mesmo assim, poder me dirigir aos amigos deste espaço e, como se efetivamente estivéssemos frente à frente, dizer "Feliz Ano Novo! Espero que todos os seus desejos se realizem!" é um momento ótimo.
   A despeito de toda a ausência nesse ano que está se encerrando, espero poder, em alguma medida, ter feito alguns posts interessantes e aberto a porta para algumas boas reflexões.
   Grande abraço a todos os "amigos dos amigos" e Feliz 2013!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Blogs do Além

   Depois da dica de uma amiga, fui conhecer o "Blogs do Além". A ideia do blog é a seguinte: um "medium", chamado Vitor Knijnik, recebe o espírito de algum famoso pensador, escritor, filósofo, etc., e produz um blog desta "entidade". Portanto, temos "Blog do Freud", "Blog do Sócrates", "Blog do Mozart", etc. e tal. - todos escritos na primeira pessoa, como se quem posta fosse o próprio. Dos filósofos que vi, há citações de frases deles, e depois um comentário feito pelas próprias "entidades".
   Vale a pena conhecer o blog. O único ponto negativo é não haver Spinoza escrevendo seu próprio blog. Rsss.
   O endereço é http://www.blogsdoalem.com.br/pt/Search.aspx?q=S .

Notas [Dez] Filosóficas!!!

   Ontem, tivemos o último "Notas Filosóficas" do ano. Motivo de felicidade, por um lado, já que reencontramos os amigos, o Silvério, a Faiga, e todos os demais, mas também de infelicidade, por só voltarmos a nos reencontrar no próximo ano.
   Eu sempre vou ao "Notas" sabendo que assistirei a algo interessante... e novo. A "dupla dinâmica" - Silvério e Faiga - sempre se supera. Não sei como funciona exatamente o processo de criação do evento, mas o resultado final é espetacular. 
   Se a superação do visto anteriormente virou regra, cada vez o trabalho da "dupla" é maior. Mas, eles não precisavam exagerar. Dessa vez, a "surpresa" apresentada foi demais.
   Além da Filosofia, propriamente dita - que foi um mix do ocorrido ao longo do ano -, tivemos simplesmente música ao vivo e, por fim, uma apresentação de dança. 
   Caramba... Esse literalmente foi um "show"de Filosofia.
   Parabéns a toda a equipe que produz o "Notas", aos que aparecem e aos que estão "por trás das cortinas".
   Impossível, entretanto, não fazer uma menção especial ao Silvério, que "costura" com mestria música e Filosofia, e que, nesse último encontro, encadeou maravilhosamente os assuntos que foram apresentados ao longo do ano.
   

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O sujeito

   Qualquer manual de Filosofia registra que a "subjetividade" é uma categoria que pertence à Modernidade. Insiste-se em dizer que, não diz respeito à Filosofia Clássica tratar do "sujeito"; que o "indivíduo" era absorvido pelas considerações da polis, etc. e tal. Tudo lido e absorvido por um bom aluno - no caso, eu - fica a seguinte pergunta heterodoxa: É mesmo assim?
   Outra informação dos manuais parece contradizer essa: quando se trata das filosofias helenistas, diz-se claramente que, esgotado o modelo da polis, essas filosofias fizeram o homem olhar para dentro de si, buscando sua liberdade em seu interior, e não mais no meio social, exterior a ele mesmo. Ora, essa dimensão interior já não tinha ares de "sujeito", de "eu"?
   É certo que se admite, em alguma medida, que Santo Agostinho, ao propor o seu próprio cogito, teria abordado a questão da subjetividade. Isto também está nos manuais.
   Depois, lemos - ainda nos mesmos manuais - que Montaigne inclui o "eu" na sua filosofia, inaugurando um modelo - inclusive de escrita, com os Ensaios. 
   Mas eu pergunto, ainda que ouvindo ecos das respostas que me foram dadas sobre o "anacronismo de lançar categorias posteriores sobre pensamentos anteriores": É possível ler Ética a Nicômaco, ignorando a dimensão da subjetividade que há ali? Será essa uma leitura completamente honesta?
   É lógico que ir contra uma "verdade estabelecida" é meio complicado. Para isso, há que se ter cuidado, passeando pelos textos  e revirando-os, a fim de verificar se a tese contrária a da "tradição" tem algum fundamento factual.
   Em certa medida é o que tenho feito, estabelecendo uma certa prioridade a esse assunto em minha pesquisa atual. É verdade que estou "contaminado" com a "falta de ingenuidade" de quem já leu Freud - o que pode ser considerado um problema para os "puristas" da Filosofia. Mas eu não quero simplesmente "enfiar" o sujeito freudiano na Filosofia; quero, sim, entender o sujeito, considerando também a possibilidade de utilizar ferramentas disponíveis fora do mundo considerado estritamente filosófico.
    Mas não quero começar por aí. Quero iniciar identificando na Antiguidade a presença da subjetividade... e não simplesmente do indivíduo ou da pessoa.
   No livro A Consciência - do Corpo ao Sujeito, de André Simha, em um trecho onde ele trata da "questão moderna do sujeito", há uma passagem que diz "Não se deve subestimar, porém, a riqueza das análises psicológicas produzidas pela filosofia do agir ético dos filósofos antigos (Platão, Aristóteles, os estoicos particularmente)". Embora ele diga, logo em seguida, que há uma perspectiva diferente sobre esse assunto, naquela época: "Mas essas análises dependem de uma antropologia filosófica determinada pela situação cósmica e política da alma".
   Obviamente, há que ser consideradas as circunstâncias filosóficas - e mesmo culturais - de cada tempo, mas que há, pelo menos, "indícios" de que, ainda que em gérmen, o conceito de "sujeito" já me parece pertencer à Filosofia Ocidental há muito, isso parece.
   Três livros que parecem ajudar a pesquisa são Breve História da Alma, de Luca Vanzago; A fragmentação da cultura e o fim do sujeito, de Rogério M. de Almeida, e Metamorfoses do sujeito, de Edouard Delruelle. Os dois primeiros são publicados no Brasil, pela Edições Loyola; enquanto o último português, do Instituto Piaget.
   Quem quiser colaborar com a questão...

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Breve Tratado

   Gosto sempre de registrar os lançamentos de livros ligados ao nosso querido filósofo holandês. Mas, atrasado como tenho estado ultimamente, deixei de escapar um: Breve tratado de Deus, do homem e do seu bem-estar. 
   O livro foi publicado em capa dura, pela Autêntica - nos mesmos moldes da recente edição bilíngue da Ética. Em vez, entretanto, da capa azul, agora, tivemos uma "abóbora"... até onde minha paleta de cores mentais permite definir.
   Ao contrário da edição da Alianza Editorial, a versão espanhola do livro, não foram incluídos o "Cálculo algébrico do arco íris" e o "Cálculo de Probabilidades". É uma questão de opção editorial, visto que os livros são anônimos. Mas eu acho que poder-se-ia aproveitar o lançamento de mais uma obra spinozana em Português e deixar registrados esses textos, ainda que de origem duvidosa - desde que isso fosse destacado, como o foi na versão espanhola.
   A única coisa da qual eu particularmente não gostei foi a opção da Autêntica em registrar como autor do livro "Espinosa" - aos moldes do que sempre faz nossa querida Marilena Chauí, que, a propósito, escreve o Prefácio. Achei, com todo respeito à escolha, que foi um passo atrás da editora. Se já havíamos caminhado, com a publicação por eles mesmos, para a grafia internacionalmente reconhecida no nome de Spinoza, por que voltar a esse modo de escrever? Há aqueles que escrevem até "Espinoza", o que eu, apesar de rejeitar, compreendo, visto que há registros assim em documentos da época. Mas "Espinosa"??? Aí, é muito esquisito. 
   Há que se ressaltar que até a publicação portuguesa do Luís Machado de Abreu, Spinoza - a utopia da razão, adotou a grafia mencionada por mim. E ele dedica um anexo a essa questão, apresentando as variantes "Despinoza", "Spiñoza", entre outras. É fato que há "spinosa" (palavra latina) e "espinosa" (palavra espanhola), mas, por que adotar a versão espanhola da palavra, em se tratando esta vinculação a um possível passado distante da família, que não é reconhecido pelo próprio autor - bastando atentar-se ao BDS do seu selo, provando sua aceitação do "Spinoza"?
    Disso, confesso, não gostei.
   De qualquer forma, aplausos para a publicação de mais uma obra deste maravilhoso pensador no nosso tão especial Português.
   

78...

   Vejo que mais um amigo se juntou a nós. Agora, somos, então, 78.
   Fico agradecido ao novo amigo que, mesmo com a desatualização do blog, resolveu se juntar aos outros.
   Gostaria de convidá-lo a participar, enviando suas opiniões - sem o sentido de doxoi, aqui. Rsss - sobre os posts, ou gerando conversas sobre temas específicos, se julgar pertinente.
   Seja bem vindo, e grande abraço.

"Gigantes" também se enganam

   Já há algum tempo, adquiri o livro "Introdução a Schopenhauer", de Adolphe Bossert, publicado no Brasil pela Editora Contraponto.
   Embora se trate de uma obra originalmente antiga, a versão brasileira é deste ano. 
   As mais de trezentas páginas são muito bem divididas em pequenos artigos, cada um contendo cerca de dez a quinze páginas. Há um tanto da história pessoal de Schopenhauer e um outro tanto da doutrina desse grande metafísico, inclusive com citações diretas dos seus textos. Tudo é apresentado em um estilo elegante  e claro. Ótima dica de leitura, portanto.
   O título do post, que se refere ao engano de "gigantes", não diz respeito ao autor do livro em questão, mas ao próprio Schopenhauer.
   Numa passagem de "O Mundo como Vontade e  Representação" - mais especificamente no Livro IV, § 55 -, o "gigante" alemão escreve: "A vontade tem sido considerada  um ato do pensamento; tem sido identificada ao juízo: foi o que fizeram, por exemplo, Descartes e Spinoza".
   É interessante verificar que Schopenhauer identifica, nesse aspecto específico, dois pensadores bem pouco similares nisto. Não podemos esquecer que Spinoza apela ao termo "vontade" como o "conatus" que se refere apenas à alma - com todos os problemas que essa afirmação possa causar -, e não como um "juízo".
   Bom foi verificar que o livro em questão, apesar de não se propor a comparar as doutrinas de Schopenhauer com as de nenhum outro pensador, registra o "engano" do alemão. Em nota, está dito: "A afirmativa é inexata pelo menos quanto a Spinoza; cf. Introdução de Princípios da filosofia cartesiana".
   Há que se reconhecer, entretanto, que o que vem a seguir, na citação direta de Schopenhauer, apresenta alguns pontos de aproximação com o pensamento spinozano. Mas se trata de uma aproximação que parte de um pressuposto enganoso, suportando conclusões obviamente inseguras. 
   Mas o que chama mais atenção é a apresentação da posição do filósofo alemão, em contraponto com o que ele chama de "toda a antiga maneira de ver". Nesta apresentação, vemos que Schopenhauer simplesmente repete Spinoza, mesmo pretendendo refutar a concepção do holandês.
   Vejamos o texto:
   "Posto na presença de algo, ele [o homem] começaria por reconhecê-lo como bom, após o que o desejaria - ao passo que, de fato, ele o deseja inicialmente, e em seguida o declara bom. Em minha opinião, toda a antiga maneira de ver é o contrário da verdadeira relação entre as coisas".
   Percebe-se que Schopenhauer inicia apresentando a posição que pretende refutar - supostamente a de Spinoza também -, para concluir exibindo, logo após o "ao passo que, de fato", seu próprio pensamento, que não é outro que o do holandês, ou seja, de que o homem não deseja algo porque ele é bom, mas o diz bom, justamente porque o deseja. 
   Se até os "gigantes" se enganam, o que direi eu, que sou apenas um "anão"?

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Hoje, dia 21.

   Justamente hoje, no dia do meu aniversário, aconteceu, no seio de nossa família, um fato a se lamentar: faleceu, aos mesmos 47 anos que eu comemoraria neste dia, meu cunhado. Obviamente, não houve festividades.
   
   
   

Falando em dias comemorativos...

   O mês de novembro tem outros dias importantes a serem comemorados. O próprio dia 15 de novembro é o da Proclamação da República. Temos ainda o Dia da Bandeira (19), o Dia da Consciência Negra (20) e o Dia de Arariboia (22) - este último, aliás, festividade apenas municipal.
   Em meio a essa profusão de datas comemorativas, ainda há o meu aniversário, dia 21. Mas a data que mais interessa neste nosso espaço é o dia 24 de novembro, no qual nasceu nosso querido filósofo Baruch Spinoza, o Bentinho.
   Vários "vivas"!!!!

Dia Mundial da Filosofia

   A famosa "terceira quinta-feira do mês de novembro" passou, e eu nem registrei a felicidade em termos um Dia Mundial da Filosofia.
   Certamente, nosso querido Spinoza se revirou no túmulo, lá em Haia. Mas, como sempre fazem aqueles que conhecem a minha "deslembrança" com datas, deve ter me perdoado.
   Como ainda estamos dentro do mês de novembro... ainda vale o registro.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Tetracampeão!!!

  O compadre costuma dizer - com absoluta razão - que eu não atualizo este espaço com a devida velocidade. 
   Confirmando a tese, quero registrar minha felicidade - completamente atrasado... o registro, e não a felicidade - pelo meu querido Fluzão ter se sagrado tetracampeão nacional com três rodadas de antecedência.
   O atraso foi tão grande que acabamos perdendo um jogo, neste último final de semana. Mas foi um jogo tão atípico, que a torcida tricolor, animadíssima, mesmo perdendo por 2 a 0, divertia-se gritando "Olé!".
   Tetracampeão!!!!
   E neste nosso espaço filosófico, comemoramos o campeonato tricolor!
  Mas eu, como bom spinozano, tenho que estar preocupado com aquilo que aumenta a minha "potência de existir" - nesse caso, a vitória do Flu.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Pierre Bayle

   Os spinozanos conhecem Pierre Bayle, pelo menos em relação à sua afirmação sobre Spinoza ser um "ateu virtuoso", no famoso Dictionnaire Historique et Critique. Mas, e além disso, o que sabemos de Bayle?
   Essa pergunta me passou pela cabeça, quando, durante uma aula com o professor Danilo Marcondes, falando sobre o Ceticismo Fideísta da Modernidade, foi dito que Pierre Bayle (1647-1706), originalmente protestante, havia se tornado católico e, depois, regressou ao calvinismo. 
   Naquele momento, a única pergunta em que pensei foi: Se o argumento cético da falta de critério para definir qual a doutrina filosófica correta desembocara na utilização da fé como critério, como é que se troca de "fé"? Não duplicamos o problema então, já que agora teríamos várias "fés" equipolentes, e retornaríamos ao problema do critério dos céticos?
   Nosso eterno professor Danilo indicou que foi justamente isso que deu surgimento ao Deísmo, que via em Deus o único critério de verdade, comparando as "religiões positivas" às doutrinas teóricas, a respeito das quais não havia critério definitivo a ser adotado.
   Esse "indeciso" Bayle merece mais alguma investigação, não é? 

Hume e Spinoza

   Tenho tentado fazer duas aproximações com Spinoza, ultimamente. Uma, entre os estoicos e nosso filósofa; outra, entre Hume e o holandês.
   Aquela que se refere aos estoicos parece mais imediata. Embora tenha sido interessante perceber que mesmo as possíveis semelhanças e os pontos de partida iguais redundam em diferenças interessantes de se estudar.
   Já a que se refere a Hume diz respeito especificamente à questão das paixões. É fácil perceber, entretanto,  que existe uma certa atração em relação a esse tema na Modernidade. Fiquei extremamente surpreso a ver que até Adam Smith escreve uma grande obra sobre o assunto. Aliás, comprei-a para, aos poucos, ir aprendendo as lições de um dos pais da Economia sobre o tema. 
   "Estoicismo e Spinoza" não é tão difícil de encontrar em pesquisas na net. Quanto ao par "Hume e Spinoza", a coisa já se reduz. Aliás, em relação ao primeiro par, eu mesmo já escrevi um pouco por aqui. Eu achei, entretanto, um artigo bastante interessante sobre o último. Gostaria de compartilhar com os amigos. Basta procurar em http://www.academia.edu/436530/Philosophy_as_medicina_mentis_Hume_and_Spinoza_on_Emotions_and_Wisdom
   Gostaria de chamar atenção para a nota de rodapé de número dois. Nela, o autor, Willem Lemmens, da Universidade da Antuérpia, indica que evita qualquer discussão sobre se Hume teria realmente lido Spinoza. Mesmo assim complementa a nota dizendo:
   "Spinoza’s philosophy was without doubt en vogue in France when Hume was there to write his Treatise in the period 1734–1737 (see Wim Klever, 'More aboutHume’s Debt to Spinoza',  Hume Studies, 19(1) (1993): 55–74). Klever argues that Hume’s passion theory was directly and fundamentally influenced by reading  Spinoza. I am not really convinced by this thesis, though Hume had of course knowledge of Spinoza’s philosophy through Bayle’s Dictionnaire".
     

Estudando Português

   Ontem, estudava Português com minha filha. Determinada parte do livro tratava dos tipos de composição textual. Vimos, então, o item referente a "blog". No meio do estudo, lembrei do meu compadre, "brigando" comigo sobre a necessidade de atualização constante do blog... afinal, lá se fazia a comparação com os "diários".
   A "correria" tem sido tão grande, que não tenho tido o mínimo tempo para lançar qualquer ideia neste espaço... embora, obviamente, todo dia haja uma pequena contribuição que poderia ser acrescentada, em função das constantes leituras feitas.
   Entretanto, fui dar uma espiadela no blog e verifiquei - entre assustado e decepcionado - que neste mês não houve nenhum post. Acho que é a primeira vez que não lanço nada no meu "diário" durante um mês inteiro. Tentando evitar esse recorde negativo, vamos lá. 
   

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Facebook

   Por esses dias, minha mãe falava com uma tia "postiça" minha ao telefone. Como eu cheguei no meio da conversa, minha progenitora pediu-me para trocar umas palavras com ela. Visto que pedido de mãe é ordem, tomei o telefone e mandei um caloroso "Oi, tia!". Ela me disse que sonhara comigo, e ficara preocupada. Por esse motivo, telefonou para minha mãe, a fim de perguntar se tudo estava bem. Contou-me isso, e falamos sobre minha prima "postiça", que estava voltando de Portugal, por conta da situação difícil das coisas por lá. 
   Papo vai, papo vem, ela perguntou pelo meu "Face" - como é usual as pessoas se referirem à famosa rede social Facebook. Eu informei que não tenho conta nessa "geringonça" moderna de comunicação. Fiquei meio envergonhado quando minha tia - uma senhora de mais de sessenta anos - perguntou-me, absurdamente espantada: "Você não tem 'Face'? Que iiiiisso?". 
   Pensei rápido na ironia da situação: uma senhora questionando a falta de atualização tecnológica de alguém mais jovem - não tão jovem assim, é bem verdade. Rsss.
   Justifiquei minha ausência do "Face": "Tia, todos falam muito do 'Face', lá no trabalho. Justamente por isso, eu vi que essa 'coisa' toma muito tempo. Infelizmente, eu não tenho tido tempo nem de ler meus e-mails direito". Dito isto, ouvi uma lição sobre as possibilidades de encontrar "amigos" antigos; ver fotos de pessoas que não fazem parte das nossas vidas já há quinze anos; etc. e tal. Nem tive coragem de perguntar se alguém com quem não nos relacionamos há quinze anos realmente tem tanta importância assim. Reconheço que existem honrosas exceções, mas, de um modo geral, acho que poderia continuar muito bem sem encontrar o tal "desaparecido" por mais trinta ou cinquenta anos.
   O fato é que, pouco depois dessa vexatória conversa - vexame para mim, obviamente! -, li uma pequena entrevista do Andrew Keen - aquele mesmo que faz algumas críticas a ferramentas da internet... entre elas, essa pela qual me comunico - sobre o lançamento do seu livro "#vertigemdigital", pela Zahar, no Brasil.
   Na entrevista, o "polêmico pensador sobre o mundo digital" - como ele é descrito - é confrontado com uma estória do entrevistador, que conta que a filha de um amigo seu, diante do cancelamento da conta do Facebook pelo pai, teria dito que este cometera suicídio. E Keen responde: "Eu diria o contrário. Quando você cancela sua conta, você retorna à vida e não é mais um cadáver". 
   Imaginem se eu falo isso para a minha querida tia, hein!
   Há uma outra frase de Keen, que fecha a entrevista, em que ele diz: "O fraco [das redes sociais] é que elas não permitem agregar de verdade as pessoas".
   Eu não tenho certeza se isso é sempre verdade. Penso que a net - de um modo geral, e não apenas as redes sociais - pode vir a ser uma boa forma de iniciar uma amizade verdadeira. Meu receio, entretanto, é a quantidade de tempo gasto diante dos PCs, a fim de "atualizar" constantemente as informações. Aliás, quanto a essa questão do tempo, eu já tomo meus puxões de orelha, do compadre Mundy, pela falta de presença no blog. Da próxima vez, vou dizer a ele que quero não me manter "cadáver".

Justiça complicada...



   Aplicar a Justiça nem sempre é fácil, mas há casos que realmente extrapolam todos os limites esperados de dificuldade. Um exemplo é o dessa situação publicada no site "Globo.com".

"Menor que matou irmão de 2 anos gera debate sobre Justiça nos EUA. Cristian Fernandez, de 13 anos, pode receber pena de prisão perpétua, sem possibilidade de liberdade condicional"

Um caso de direito penal envolvendo um menor na Flórida está causando um amplo debate nos Estados Unidos que vai além de questões jurídicas, fazendo a sociedade questionar o conceito de Justiça.
Cristian Fernandez, de apenas 13 anos, está sendo julgado como se fosse maior de idade por um tribunal do distrito de Duval County por dois crimes cometidos em 2011.
O menino é acusado de ter matado por espancamento seu meio-irmão David, de 2 anos, e de ter atacado sexualmente seu outro meio-irmão, um menino de 5 anos.
Se Cristian for condenado por homicídio doloso, ele pode receber pena de prisão perpétua, sem possibilidade de liberdade condicional.
O caso chamou atenção não apenas pela idade de Cristian, mas também pelo passado de abusos e de violência a que o próprio acusado foi submetido no ambiente familiar ao longo de sua vida.

Marcas da violência
Cristian nasceu marcado pela violência. Sua mãe, Bianella Susana, deu à luz o menino quando tinha apenas 12 anos. O pai de Cristian foi condenado a 10 anos de prisão por ter estuprado a, então, pré-adolescente.
Quando tinha dois anos de idade, o menino foi encontrado vagando de madrugada pelas ruas do sul da Flórida, despido e mal cuidado. A avó, que era a responsável pelo menino, estava trancada havia horas no quarto de um hotel de estrada, em uma maratona de uso de drogas.
Alguns anos mais tarde, em 2007, o Departamento de Crianças e Famílias da Flórida investigou uma alegação de que Cristian havia sido abusado sexualmente por um primo.
O menino também começou a dar sinais de distúrbio de comportamento, com um histórico de relatos às autoridades locais de que ele havia matado um filhote de gato, além de ter simulado atos sexuais e se masturbado na escola.
Mesmo assim, Cristian apresentava um excelente desempenho acadêmico.
Em 2010, foi constatado que o menino vivia novamente em um ambiente violento. O marido de Bianella deu um soco no olho de Cristian, fazendo com que sua escola o encaminhasse a um hospital.
Ao chegar à residência da família, em um subúrbio de Miami, para investigar a agressão a Cristian, a polícia encontrou o padastro do menino morto. A causa da morte indicava suicídio com arma de fogo.

Julgamento
Um ano mais tarde, Bianella deixou Cristian sozinho em casa com os dois irmãos, quando David foi espancado. Ela demorou mais de oito horas para levar o filho de dois anos, que se encontrava inconsciente, até um hospital.
Em março deste ano, a mãe dos meninos se declarou culpada por homicídio culposo, determinado pela falta de intenção em provocar a morte da vítima, e pode ser condenada a 30 anos de prisão.
Agora, a juíza Mallory Cooper enfrenta um dos casos de direito penal mais complicados já vistos nos tribunais americanos.
Muitos advogados e promotores apoiam a promotora estadual, Angela Corey, que pediu que Cristian fosse julgado como adulto.
Mas acadêmicos de direito e psiquiatria acreditam que a abordagem do direito penal no caso de delinquentes juvenis deve ser mais humana.
'Precisamos decidir se queremos um sistema que visa à punição ou à justiça', disse à BBC Brasil Jenna Saul, médica especialista em psiquiatria forense.
Segundo a psiquiatra, é possível que Cristian nem entenda as consequências dos seus atos de violência, uma vez que, na realidade dele, a agressão física é uma forma de mostrar frustração que não resulta em morte.
'Esse menino deve, sem dúvida alguma, ser julgado por um tribunal para menores, onde podem ser implementadas maneiras de reintroduzi-lo à sociedade', afirmou Saul."

   Normalmente, quando nos revoltamos diante de algum crime hediondo, fazemo-lo contra pessoas plenamente responsáveis - ou, pelo menos, que imaginamos teoricamente serem-no. Mas neste caso...

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Autoajuda filosófica

   Num dos encontros do Notas Filosóficas - acho que sobre o Epicurismo -, alguém perguntou sobre a diferença entre "Autoajuda" e aquilo que se estava lendo, no caso, as Cartas de Epicuro.
   Apesar de parecer esquisito, isso não é absolutamente óbvio de um leigo entender. Temos que pensar que, em princípio, realmente as orientações dos filósofos da Antiguidade, diziam respeito a uma "ajuda" para viver melhor - ainda que se possa questionar se a ideia seria exatamente de uma "autoajuda". Ou seja, poderíamos pensar que há diversos tipos de orientações de "autoajuda", uma mais "banal", onde se lê simplesmente o óbvio, aquilo que pretendemos ver escrito, e que tem a função clara de nos "empurrar" para frente, crendo em algo que há certamente de ser conquistado, a partir simplesmente do nosso desejo de que o seja, e uma "autoajuda filosófica", que efetivamente propõe uma reflexão sobre o mundo e sobre a vida, com o intuito de ajudar seu leitor a obter felicidade. Deixando de lado esse estilo "clichê" da autoajuda, como não reconhecer que Ética a Nicômaco é um livro que nos ajuda, a partir de uma reflexão séria, a ser mais felizes... portanto, é um livro de "autoajuda".
   Dizer isso, assim tão friamente, choca um pouco. Afinal, o prestígio da nossa tão querida Filosofia parece ficar meio abalado na comparação com esse gênero literário tão "mercadológico" quanto esse de que falamos.
   E não são só os filósofos que renegam o rótulo "autoajuda". Segundo a Revista Época dessa semana, até o óbvio "autoajúdico" Augusto Cury diz que seus livros não pertencem a esta categoria, pois são livros de "psicologia aplicada".
   Na contramão dessa rejeição está o filósofo pop Alain de Botton. E a revista conta uma coisa engraçada e, penso, correta: "Para Botton, o problema não é a autoajuda em si, mas a quantidade de autores ruins que se dedicam ao gênero".
   Legal a opinião de Botton... que a academia não nos ouça!
   Depois, escrevo mais.

Resposta ao compadre

   Compadre, o futebol tomou conta do espaço, hein!
 Bem, aproveitemos esse momento de "inautenticidade" - aos moldes heideggerianos.
   O compadre quase sempre tem razão. Mas, em relação aos últimos comentários, acho que ele está apaixonado demais por suas ponderações.
   É verdade que os números apresentados parecem corroborar a tese do compadre. Até os exercícios de "futurologia", em relação aos jogos de punição que serão recebidos por Tite e Émerson - o nosso eterno desafeto, não é?
   Eu só pergunto o seguinte: entre erros e acertos - ou só erros, se assim preferir o compadre -, o que se pretende para o Corinthians? Espera-se forçar mais um título brasileiro? Se a questão é essa, acho que eles são mais "ingênuos" que eu, até porque o próprio "Timão" já está começando a abrir mão deste Brasileirão por conta do Mundial, como já o fizera, aliás, para tentar - e conseguir - conquistar o Libertadores.

Resposta de Fernando Calazans

   No dia em que postei "A arbitragem no futebol", escrevi também para o próprio Fernando Calazans, elogiando a coluna e convidando-o para dar uma espiada no blog.
   Muito gentilmente, recebi a resposta do colunista de O Globo. Infelizmente, ele não acredita na possibilidade de adoção da minha "solução radical", sugerida no post.
   Curiosamente, ele pediu até para dar um recado para meu compadre Mundy. Lá vai, então: "Agora: explica ao seu companheiro que faz comentário, que eu tampouco estou absolvendo os juízes. Eles são fraquinhos...".

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Notas Filosóficas de agosto

   Ontem, pude participar de mais um Notas Filosóficas... ainda bem!
   Tivemos, como sempre, a competência do Silvério desenvolvendo o tema proposto, além da ótima música de Lulu Santos. Quanto a esse último ponto, mal acostumado que estou com a música ao vivo, senti a exibição apenas de vídeos.
   Como ponto negativo, apenas, um grande contratempo com nossa amiga Faiga, que foi resolvido a contento, graças à sua competência.
   Desta vez, Silvério foi muito corajoso, arriscando-se em apresentar Hegel para nós. Já não seria fácil fazê-lo num curso formal, menos ainda numa só palestra, menos ainda para não especialistas, em uma apresentação com o "formato" do Notas Filosóficos, que é extremamente leve.
   Apesar de todas essas dificuldades, Silvério escolheu uma "ancoragem" - a dialética hegeliana - e seguiu sua exposição... junto com Lulu. 
   Desta vez, como seria de se esperar, não tivemos um tempo final para as perguntas e comentários. De minha parte, já encerrado o evento, eu disse que gostaria de lembrar a ideia de que Hegel reconhecia que todo filósofo tem duas filosofias, primeiro a de Spinoza, e só depois a sua própria. 
   Queria, então, registrar meus parabéns para a execução do plano ousado do nosso professor, principalmente por perceber o quanto ele "suou" para transmitir algumas das ideias hegelianas.
   A próxima - que manterei em segredo, por questões de respeito aos nossos queridos organizadores -, será mais fácil, com certeza.

PS. Nosso amigo Bruno de Oliveira chamou minha atenção para um possível "escorregão" em relação à informação de que Hegel teria dito que "todo filósofo tem duas filosofias, primeiro a de Spinoza, e só depois a sua própria". 
   Realmente, do jeito que ficou, a afirmação está com a cara de uma frase de Henri Bergson - "Todos os filósofos têm duas filosofias: a sua e a de Spinoza". A sentença hegeliana, a bem da verdade, é a seguinte: "Ser um seguidor de Spinoza é o começo de toda filosofia".
    Correção feita, e agradecimentos registrados ao nosso querido amigo Bruno. Valeu!

A arbitragem no futebol

   Meu compadre diz que esse blog não é um espaço de futebol... mas acho que ele não tem razão. Afinal, a concepção inicial - e penso que continua assim - era a de que nossos amigos pudessem lançar aqui quaisquer questões que os "incomodassem". É bem verdade que o assunto "futebol" normalmente não aparecerá como um mero tratar do resultado de um jogo, mas reflexões sobre o esporte, de maneira geral, ou até de itens específicos do mesmo, não são rejeitadas, de forma alguma.
   Então, é com esse espírito que escrevo hoje: refletir sobre as arbitragens no Campeonato Brasileiro (de futebol).
   Dois são os motivos básicos dessa reflexão: (1) dois jogos a que assisti, há duas semanas - Cruzeiro vs. Fluminense e Palmeiras vs. Flamengo -, e (2) duas colunas do Fernando Calazans, em O Globo.
   Os dois jogos me chamaram atenção pela "violência" em campo. Entretanto, quando os jogadores/gladiadores pararam para dar entrevistas, antes de descer para os vestiários no intervalo, todos fizeram questão de minimizar as "pancadas", dizendo que "Eram coisas do jogo". Se para eles está tudo bem, para mim, que estou só me divertindo, bebendo minha cervejinha em casa, também. Mas, como alguém que já curte futebol há anos, que já viu muitas "feras" - não no sentido de que atacavam os outros, como hoje -, que "comiam a bola", me dá um certo desânimo ver aos jogos "pegados" - como se diz hoje em dia.
   Ah... só um lembrete: os técnicos de Cruzeiro e Palmeiras são, respectivamente, Celso Roth e Felipão. Quem é do mundo futebolístico conhece a fama deles, quanto a mandar "dar um cascudo" nos adversários.
   Continuemos com a outra motivação deste post: a coluna de jornal.
   Fernando Calazans já tinha escrito uma matéria, logo após os jogos em questão, reproduzindo minhas impressões sobre a violência nos dois jogos. Pensei: "Ufa, não sou tão analfabeto em futebol... Embora não tenha a sapiência do meu querido compadre Mundy!". Calazans, então, comentava que a violência estava atrapalhando o nosso futebol, e que isso precisava ser observado por aqueles que cuidam - ou deveriam cuidar - desse nosso esporte.
   Mas, hoje, a coluna completou a análise do nosso tão querido - mas sofrido - futebol.
   O título da matéria já é bastante interessante: "Repensar, reeducar". Acho que, em qualquer área de nossas vidas, repensar e reeducar são boas dicas. Calazans abre a matéria escrevendo: "Quem acompanha o futebol com algum senso crítico e capacidade de interpretar o que está acontecendo já sabia que, um dia, a tentativa ou a sensação de obrigação de mudar a arbitragem iria acontecer". 
   O foco da matéria, portanto, é a arbitragem. Um princípio de leitura poderia sugerir que Calazans iria "descer a borduna" nos árbitros, dizendo que eles são fracos, etc. e tal. Mas o "senso crítico e capacidade de interpretar" do jornalista estão aguçados. Segundo Fernando Calazans, fazendo eco, conforme ele mesmo reconhece, ao comentarista de arbitragem da TV Globo - e ex-árbitro - Arnaldo Cezar Coelho, o maior "problema" são os dirigentes, técnicos e jogadores, com seus comportamentos absolutamente antiéticos.
    Aqui, como os nossos amigos já podem perceber, é que entra nossa reflexão filosófica da questão. 
   O jornalista diz: "Outro dia, fiz aqui um breve desfile do que se vê dentro de campo. Jogadores que entram para dar pontapés, parar os adversários com falta o tempo todo, com o rodízio delas. Entram, enfim, não para o jogo, mas para o antijogo. Outros jogadores, ou os mesmos, que entram para fingir que sofreram faltas, para simular, para se atirar acrobaticamente no campo, simulando também dramáticas contusões. A qualquer marcação do juiz e dos bandeirinhas, certa ou errada, esses jogadores os cercam com ameaças, palavrões, dedos em riste, vociferações". 
    Calazans destacará, mais adiante em sua matéria, que os técnicos incentivam esse tipo de comportamento... o que corresponde totalmente à verdade, em diversos casos. Segundo ele, Arnaldo Cezar Coelho teria dito, em relação a isso, que "Ninguém colabora", ao que o jornalista acrescenta, com muita propriedade, "Pior até: todos dificultam". E diz mais: "O futebol brasileiro perdeu a civilidade". Eu arriscaria que o futebol sul-americano... mas fiquemos no nosso "Brasilzão", para seguir o jornalista. Também poderíamos escrever, talvez, que "O (futebol) brasileiro perdeu a civilidade". Colocaríamos, então, a opção de incluir, ou não, na frase a palavra "futebol".
   Mas sigamos.
   Logo a seguir, Calazans lança outro título "A cara do nosso futebol" - eu registraria "A cara (de pau) do nosso futebol", mas o escritor é ele. Rsss -, para citar o caso do zagueiro do Corinthians, Paulo André, que "criticou severamente Neymar, depois do jogo com o Santos, por simular faltas e se atirar no chão", e que, no jogo seguinte, foi criticado por seu próprio técnico, o Tite - salvou-se uma alma! -, por também ter simulado sofrer uma falta. A observação de Calazans é que "Paulo André não é exceção, é regra". Isso, infelizmente.
   Concordo em gênero, número e grau com Fernando Calazans, quanto à "picaretagem" que grassa em nossos gramados. A falta de ética é a rotina, e não a exceção. 
   Mas... eu gostaria de acrescentar um item ao que o jornalista disse, e, se fosse possível, que ele refletisse junto comigo: não podemos esperar que a "honestidade" das instituições dependa da dos homens que as compõem. Se é necessário que os árbitros encerrem todos os jogos antes dos noventa minutos, expulsando os brigões, os "botinudos" e os "atores", que se faça isso. Da mesma forma que, se for necessário marcar dez pênaltis em cada partida, por conta do "agarra-agarra" na área em 100% dos escanteios, que assim seja. A coisa ficará tão ridícula que repercutirá no mundo todo. E, talvez, nossos "trabalhadores dos gramados", com seus milionários salários, comecem a repensar seu comportamento em campo.
  
  
   

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Caricatura

Achei legal essa caricatura do Spinoza.
 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A família pós-moderna

   Marx dizia, sobre a Modernidade, que tudo o que é sólido se desmancha no ar. Se ele estava certo, então, nessa Pós-modernidade, nada sólido chega a se desmanchar no ar, já que nem chega a ficar sólido. Talvez, a maior parte das coisas fiquem num estado meio "pastoso", entre ser e não ser algo.
    Isso me lembra um pouco as versões contemporâneas de algumas coisas que parecem perder a sua "essência", como a cerveja sem álcool, o café descafeinado e o sexo virtual. Ou seja, uma bebida que é alcoólica "por natureza" - afinal, é isso o que é ser "cerveja" -, fica sem álcool. A outra, perde a cafeína, que é simplesmente o que lhe dá até o nome. E o sexo - que, para não ser simples masturbação, depende de um "encaixe" que lhe corresponda - fica sem o contato com o parceiro, em carne e osso - obviamente, queremos mais a carne. Ou seja, ficamos com coisas "pastosas".
   Bem, de qualquer forma, essa reflexão sobre a cerveja, o café e o sexo, eu já havia feito. O que me chamou a atenção nesses últimos dias foi a questão da família.
   Antes de mais nada, não sou, em absoluto, um moralista. Muito pelo contrário, minha "religião" é a ética, que é sempre uma reflexão da moral. Mas, acho que ainda sofro com a moral do meu tempo, algumas vezes. 
   Vamos aos casos concretos:
   Hoje, li na net que Deborah Secco está muito feliz com seu CASAMENTO, que já dura seis anos, e que agora comemora poder ficar com seu marido todos os dias. Ora, eu até entendo que ocorrem, principalmente por questões de trabalho, separações momentâneas. Mas um casamento que nunca passou por uma experiência constante de convivência??? Ah, isso, eu não compreendo. Não é justamente isso que caracteriza um casamento? Será que o caso não é que a atriz namorava "sério" o ex-jogador havia seis anos, e que agora se casarão?
   Sei lá... Coisas "pastosas".
   A outra é mais pela curiosidade da situação, para ver como nós nos pegamos nas velhas armadilhas do hábito, vez por outra.
   Estava eu sentado num bar, lendo um livro sobre ética, da Adela Cortina, e bebericando minha cerveja, quando ouvi a estória da família da mocinha que estava com os amigos na mesa ao lado.
   Ela deveria ter uns 17 anos, e contava que, inicialmente, odiava uma outra moça, porque descobriu que esta namorava a sua namorada. Apesar dos ciúmes, ambas continuaram "compartilhando" a outra garota. Até que, um dia, abandonaram esta última; ficaram e, hoje, moram juntas. 
    Até aqui, nenhum problema... acho. O fato curioso vem na esteira. A outra moça da mesa pergunta onde elas moram. Ela responde que na casa da sua mãe. As perguntas continuam, bem como as respostas. 
   "Sua mãe não liga?", é a pergunta que me fará "despertar do meu sono dogmático". A moça responde: "Não. Mas também, ela não pode falar nada. Ela mora com um amigo da minha irmã mais velha. Ele tem quase a idade da minha namorada, 24 anos, e minha mãe tem 42. E a minha irmã levou o namorado para morar lá em casa, também".
   Caracas... Imaginemos a situação: na casa moram, pelo menos, seis pessoas. Quatro delas em torno dos 25 anos; uma, perto dos 18 e outra com mais de quarenta. Temos um casal hetero de aproximadamente 40/25; outro, também hetero, aproximadamente de 25, ambos; e, um último, gay com aproximadamente 25/18. O "padrasto" tem uma enteada praticamente com sua idade e um genro/nora, também na sua faixa etária... além de outra(o) enteada(o) que já se relaciona com alguém próximo à sua idade, também.
   Confesso, mais do que ficar espantado com a situação, fiquei curioso a respeito de como essa casa pode "funcionar". Quem troca uma lâmpada queimada?

sábado, 18 de agosto de 2012

"Marx estava certo"

   O título do post é o mesmo de um livro recém-lançado no Brasil, publicado pela Editora Nova Fronteira, de autoria de Terry Eagleton.
   Apesar de Marx estar um pouquinho ausente das minhas reflexões recentemente, quando ouço críticas ao capitalismo - venham de onde vierem -, não consigo deixar de pensar no velho alemão.
   Coincidentemente, por estes dias, enquanto participava de um seminário, ouvi uma das comunicações a respeito de Alain Badiou. 
   Como sabemos, Badiou é um defensor do comunismo. Segundo ele, o "fracasso" do que se viu na antiga URSS representa apenas UMA tentativa sem sucesso, e não o "insucesso em si" da ideia.
   Realmente, é possível pensar - pelo menos, em tese - que os ideólogos comunistas não teriam sido tão "espertos" quanto os liberais para ir "moldando", ou adequando, seu projeto à realidade do mundo em que se instalava.
   Eis que, com esse cenário em minha cabeça, me deparei com o livro em questão. E achei interessantíssima a proposta de Eagleton.
   Vejamos o que ele diz no Prefácio:
   "Este livro teve origem em uma única e extraordinária ideia: e se todas as objeções mais conhecidas à obra de Marx forem equivocadas? Ou, no mínimo, se não equivocadas de todo, o forem em sua maior parte?"
   E o livro se divide em capítulos que, inicialmente, apresentam uma determinada crítica conhecida às ideias de Marx, para, ao longo do próprio texto, tratar da questão.
   Não posso deixar de confessar que não li o livro, ainda. Mas uma olhada no rol de críticas e no começo das "defesas", fico com impressão de que o livro serve, pelo menos, para rebater algumas das oposições mais "ingênuas" a Marx.
   Vale conferir, galera! 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Candy Dulfer

   Nem só de Spinoza vive Amsterdã. Prova disso é a "moça" que dá nome a esse post.
   Pegando uma carona na Wikipedia... "Candy Dulfer (Amsterdam, 19 de Setembro de 1969), é uma saxofonista de jazz holandesa que começou a tocar aos 6 anos de idade. Ela fundou sua banda, chamada de Funky Stuff, aos quatorze anos de idade. Seu álbum de estreia, lançado em 1990 e intitulado 'Saxuality' recebeu uma indicação ao prêmio Grammy". 
    Apesar da moça ter lançado seu primeiro álbum em 1990, minha ignorância era completa a respeito dela. Só vim a conhecê-la passando por uma loja de CDs e DVDs, enquanto era exibido um show seu. Inicialmente, não a vi; só ouvi. Pensei que era Kenny G ou David Sanborn, mas quando olhei, "descobri" que não. Fiquei assistindo ao show, com um outro passante estupefato.
   Entrei, e comprei o DVD do show, que foi em Amsterdã. Espetacular!!!
   Para quem quiser ver um pouco... lá vão dois vídeos do You Tube:

http://www.youtube.com/watch?v=5gcOHZXxG_k
http://www.youtube.com/watch?v=3SfSQ3lQmJw&feature=related
    

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Comentário de um comentário sobre a "esperança"


   Eu sempre digo que os amigos constroem esse espaço junto comigo. Mas isso não é só um papo para "inglês ouvir", não. Os comentários vão dando corpo a possíveis discussões que precisam surgir a partir de um post meu.
   Como meu compadre Fernando me ensinou - e eu não aprendi muito bem -, as respostas aos comentários têm que ser registradas rapidamente, para que o "calor" da discussão continue. Tento, tento, mas não consigo fazê-lo. 
   Mas há uma outra situação: quando o comentário é bem posterior à discussão. Nesse caso, sinto que é interessante "reaquecer" a discussão colocando-a num post... e não num comentário ao comentário que fica lá no passado. 
   Isso aconteceu recentemente, e nos ajuda a "movimentar" o blog. Falo de um comentário de MRoxy a um post sobre o sentido negativo de "esperança" para Spinoza.
   MRoxy comentou o seguinte:
   "Diferentemente do que diz Espinosa, que a esperança é uma paixão que se vincula à inércia, um esperar sem agir, considero-a um dos modos de operação do elã vital. Por isso mesmo sua existência independe da vontade do homem, antes, é um recurso da natureza que perpassa o homem, com vistas a cuidar da manutenção da vida humana e fazer aproximar através da força do desejo as realizações desejadas. A esperança não foi inventada pelo homem, ele apenas a utiliza para alcançar seus fins. Logo, não é possível viver sem esperança, pois por mais que se tente rechaçá-la através de racionalizações, sempre se espera algo, sempre se espera chegar a algum lugar, sempre se espera realizar uma conquista. A esperança está a serviço do desejo de avançar, de ir além, o que por si só já é bastante positivo, mesmo que seu resultado seja apenas terapêutico".

   Eu diria que parece haver uma certa confusão entre o que entendemos - MRoxy e eu, acompanhando Spinoza - por esperança.  No post original, eu até concedia uma alteração desse sentido, a partir de uma contribuição do Mário Sérgio Cortella, aproximando "esperança" ao verbo "esperançar" e não simplesmente a "esperar". Mas sigamos...
   A partir do comentário, podemos perceber que não é necessário ter esperança para "cuidar da manutenção da vida humana e fazer aproximar através da força do desejo as realizações desejadas". Para isso, basta o próprio desejo e a vontade - essa faculdade tão complicada de avaliar -, pensando-se nela como tendo uma certa liberdade - o que não é bem o caso de Spinoza.
    Mas, continuemos...
   A diferença entre o sujeito ativo e o sujeito passivo começa a partir desse desejo. O sujeito ativo utiliza o desejo como impulso inicial para a atuação da sua potência (não no sentido aristotélico, mas no spinozano, como "força de produção de efeitos"); já o sujeito passivo, por não ter potência para agir, limita-se a continuar desejando... com a esperança de que aquilo seja alcançado.
   O próprio senso comum percebe essa diferença, quando diz algo como "Tenho esperança de que...", pois o único ato envolvido nessa frase, ou seja, a única atividade é permanecer desejando que a coisa aconteça... sem fazer efetivamente com que aconteça.
   A confusão parece estabelecida quando MRoxy indica que a esperança faz aproximarmo-nos através da força do desejo das realizações desejadas. É o contrário. O desejo tenta impelir a vontade a agir para alcançar essas realizações desejadas, e a inércia em partir só permite que se produza um "movimento alternativo" imaginado, que é o de esperar que aconteça, ou seja, de ter esperança.
   Como MRoxy bem diz "A esperança não foi inventada pelo homem", no sentido de que não é algo racionalizado e planejado para um tal efeito. Ela é uma espécie de "mecanismo natural", talvez de "regulação" da nossa psyché. Se não posso fazer nada em prol da realização do meu desejo, posso ao menos comprometer-me a "torcer" que ele venha a ser satisfeito.
   Na sequência da frase anterior, MRoxy diz "ele [o homem] apenas a utiliza para alcançar seus fins". Discordo totalmente. O torcedor de futebol, com sua esperança de ver o time ganhar, não "utiliza essa esperança para alcançar seus fins". Ele só fará isso - mesmo assim, num grau menor do que se pudesse agir diretamente - gritando e incentivando os jogadores. Esses últimos não precisam ter esperança de ganhar, eles precisam, sim, jogar o suficiente para derrotar a situação adversa e produzir o efeito desejado - ou "alcançar seus fins" -, que é a vitória.
   Concordo com o fechamento de MRoxy, quando fala de um "resultado ... apenas terapêutico", mas, mesmo assim, numa terapia apenas "analgésica". Não há cura através da esperança, embora ainda possa haver através da ação.
    Acho necessário registrar que, ao contrário do que foi proposto por nosso amigo, a esperança não está a serviço do desejo de avançar. Ela está a serviço do reconhecimento de que não é possível avançar. Neste sentido, realmente "alivia" nossa frustração, causando o tal efeito analgésico que propus acima.
   Quem se encontra efetivamente "a serviço do desejo de avançar" é o desejo que se faz ato através da vontade posta em ação.
   Obrigado pela contribuição, MRoxy.
   E, que tal continuarmos?



terça-feira, 7 de agosto de 2012

Julgamento do Mensalão

    Não gosto muito de escrever sobre algo no calor da paixão. Normalmente, o poder de reflexão fica prejudicado. Desta forma, vou continuar, durante algum tempo, "digerindo" esse julgamento do Mensalão, até poder me sentir mais "pronto" para escrever algo... o que, certamente, farei.
    Nesse momento, entretanto, gostaria de registrar uma frase proferida pelo ministro do STF Marco Aurélio Mello - algumas vezes, maldosamente, chamado de "Voto vencido" -, no seu discurso de posse na presidência do STF, em 04 de maio de 2006:
   "O Brasil se tornou um país do faz-de-conta. Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados nada sabiam".
   Espero que agora o STF possa desfazer essa ideia de Brasil Faz-de-conta.

Nota de falecimento

   Fiquei triste ao olhar a primeira página do jornal de hoje e ver a notícia do falecimento de Celso Blues Boy. 
   O grande guitarrista brasileiro faleceu relativamente jovem, aos 56 anos, vítima de câncer.
   Não consigo deixar de lembrar aos shows dele a que fui, e dos duelos de guitarra que travava com os outros artistas no palco. Restará escutar os CDs que tenho desse, em certa medida, pouco reconhecido, mas grande guitarrista. 

Crescemos novamente

   Percebi que passamos a ser, agora, setenta e sete amigos. Não consegui identificar, entretanto, quem é o novo participante de nossa "confraria". De qualquer modo, como faço com todos nossos novos companheiros, gostaria de desejar-lhe as boas vindas, torcendo que goste do que se passa nesse espaço, convidando-o (a) a participar quando quiser.

terça-feira, 31 de julho de 2012

"A outra parte da Ética"

   O título do post é o mesmo de um dos capítulos do livro Uma suprema alegria, da fantástica Maria Luísa Ribeiro Ferreira. O texto se refere ao Livro V, da Ética.
   Particularmente, tenho muita dificuldade com este livro, principalmente no que se refere ao final do escólio da Proposição 20. Lá está escrito: "É, pois, agora, o momento de passar àquilo que se refere à duração da mente, considerada sem relação com o corpo".
   Nossa querida Maria Luísa diz que "O livro V não é um livro qualquer, não é um mero capítulo conclusivo". Mais à frente, ela escreve: "Talvez porque a compreensão deste livro pressuponha um saber que os outros livros trouxeram. Talvez porque ele se destina - nomeadamente a partir do escólio da proposição XX - a um público de iniciados, cuja aprendizagem foi já realizada pela meditação e vivência dos conceitos trabalhados nos livros anteriores".
   Fico com receio de que esse "a um público de iniciados" acabe ganhando ares de membros de uma seita spinozana.
   Entretanto, é inegável a importância deste livro, em relação ao conjunto. Maria Luísa indica, reforçando essa ideia, que "O Livro V refaz, condensando-os, os grandes trajectos esboçados nos outros livros". No final do texto, nossa mestra lusa reforça essa ideia, mas traz uma triste notícia: "Para a grande maioria, 'a outra parte' da Ética manter-se-á decisivamente impenetrável".
   Sabemos, então, que não é fácil entender esse trecho da obra spinozana. Mas não devemos sucumbir à facilidade interpretativa de achar que o "lado cabalístico" de Spinoza aparece inscrito com toda força nesta quinta parte da sua opus maius. A nossa querida mestra indica, um pouco antes, que "A Ética [...] Não é fruto de arroubos místicos nem de uma iluminação sem base. Há nela aspectos intuitivos, decorrentes de uma visão primeira. Mas esta intuição é imediatamente acompanhada pelo raciocínio dedutivo que a explica e justifica".
   Não devemos, digo novamente, sucumbir às facilidades hermenêuticas, transgredindo o espírito spinozano. Se não entendemos algo, devemos reconhecer sua dificuldade, sem tentar "forçar" uma solução que não se encaixa no quebra-cabeças geral. Mesmo que o reconhecimento da nossa impossibilidade de resposta continue perdurando por longo tempo.
   Esse me parece ser o engano de Margaret Wilson. Entretanto, sua posição é enaltecida por Don Garrett - a quem respeito muito. Este escreve, no seu artigo sobre ética spinozana incluído no Cambridge Companion to Spinoza: "Margaret Wilson convincentemente sugere que a linha final resulta de um simples equívoco da parte de Spinoza, e que deveríamos lê-la: 'É o momento de agora passarmos àquelas questões que dizem respeito à realidade da mente sem relação com a duração do corpo'."
   Sinceramente, gostei mais da explicação do próprio Don Garrett, do que daquela de Margaret Wilson. Entender a dificuldade de imaginar que Spinoza possa estar defendendo a "imortalidade da alma" diante do perecimento do corpo é importantíssimo, mas querer solucionar esse "problema" dizendo que o cuidadoso Spinoza, depois de trabalhar diversos anos sobre seu texto, tenha simplesmente "errado" na sua escrita é difícil demais.

Somos 76... ?!?!

   Num período de poucos posts, pelo menos passo por aqui para comentar a chegada de mais um amigo à nossa "confraria".
   O nome do 76º novo "amigo dos amigos", eu não sei; afinal,  no ícone aparece o de um Instituto. De qualquer forma, seja bem vindo... e contribua como achar mais conveniente.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Somos 75, agora...

   Apesar da minha "inadimplência" para com a atividade blogueira, eis que alguém nos visita e acaba se tornando mais um "amigo dos amigos". Esse foi o caso de nosso 75º amigo, o Bruno Flávio.
   Espero que ele possa participar do blog - aliás, melhor do que simplesmente aguardar isso, convido-o a fazê-lo. Se ele puder encontrar no blog alguma afinidade com seus pensamentos, ou até mesmo que surjam divergências, que acabem por produzir comentários, teremos todos grande alegria.
   Grande abraço. Seja bem vindo, Bruno.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Religião

   Alguns amigos do blog sabem que já fui budista. Apesar de considerar o Budismo uma doutrina interessante - ou, talvez, uma religião interessante -, tenho a clara noção de que não sou mais um "seguidor" da mesma. 
   Não se pode dizer que tive alguma grande decepção com o Budismo - como acontece com alguns "desencantados" com suas religiões de origem, que acabam por se converter a alguma outra. O que aconteceu, de fato, foi que a Filosofia me arrebatou por completo, e o pensamento mítico-religioso foi perdendo lugar em minha alma.
   Sempre pensei na religião como algo que pudesse tornar o homem mais humano - bem menos do que outras pessoas, que pretendem que o homem se torne mais divino - e mais feliz. E, isso, acabei por encontrar na Filosofia.
   De qualquer forma, para quem sente que a Filosofia é algo meramente "racional" - o que, em verdade, não é... ou melhor, não é só -, há filosofias claramente voltadas para o aspecto mais existencial do homem. E não me refiro, com isso, apenas ao Existencialismo. Penso, por exemplo, que as filosofias epicurista e estoica dão conta, plenamente, dessa dimensão existencial do homem, sem deixar nada a dever ao Budismo, e que podem facilmente ser adotadas como "religiões", no sentido de melhorar a vida do homem.
   A bem da verdade, o próprio Cristianismo absorveu parte do legado filosófico antigo, sendo não só um "Platonismo popular" - como afirmam alguns -, mas isto com uma mistura de Estoicismo. A Providência Divina, por exemplo, está totalmente apoiada nesta última escola helenista.
    Portanto, se alguém "precisar" de uma religião de primeira linha, sugiro a Filosofia... e, principalmente, o Estoicismo. Rsss. Nada de ir ao Oriente buscar "velhas novidades", nós já temos "rivais" bastante adequadas no nosso Ocidente mesmo. 

O "homem livre" spinozano

   Vez por outra, dou uma passeada pelos blogs dos amigos. Um pouco mais raramente, dou meus "pitacos" nos assuntos lá tratados. A andança mais recente, com direito a opiniões, foi no blog do amigo Aníbal.
   O assunto da vez foi a concepção de liberdade. Em determinada altura, havia uma colocação sobre a questão da "liberdade total" do homem.
   É interessante perceber que Spinoza toma o "homem livre" como um "modelo de natureza humana", que pode ser útil como um paradigma, mas que não é realizável para o ser humano.
   Aliás, sobre isso, Don Garrett, no artigo Spinoza's ethical theory, publicado no Cambridge Companion to Spinoza, escreve claramente: "absolute freedom is an approachable but unreachable ideal".
   Essa é, inclusive, uma das grandes diferenças entre o pensamento estoico e o spinozano. Enquanto os primeiros percebem a possibilidade efetiva de um ser humano se tornar o "sábio estoico", Spinoza não concede o mesmo, no que diz respeito ao "homem livre". Se o "sábio estoico" pode se "materializar" em um homem de carne e osso, o "homem livre", por sua vez, não poderia.
   Isso, entretanto, não é uma perda do pensamento spinozano, mas a marca do realismo do mesmo. O homem factual estará sempre submetido a algum grau de paixões; portanto, nunca poderá ser gozar de "liberdade total", que, por definição, corresponde a uma vida totalmente ativa, plena de potência de agir. 
   Por outro lado, ainda Garrett, no mesmo artigo citado diz: "The literal truth expressed in the idealizing portrait of the free man is that certain kinds of behavior become more prevalent as one becomes more free - that is, they vary proportionately with freedom". Ou seja, ainda que não haja a "liberdade absoluta", há a "liberdade relativa", na qual o homem se torna "mais livre". E é essa que nós buscamos, pois ao homem mais livre cabe uma maior felicidade... e, com isso, uma proximidade maior daquela "felicidade constante e suprema", a que Spinoza chama "beatitude".