segunda-feira, 26 de março de 2012

Dinâmica de bruto

    O título do post é o nome de um blog muito divertido. Vale a pena conferir. O endereço é http://dinamicadebruto.interbarney.com/ 
    Eu já vinha querendo postar, há muito, sobre este site. Mas depois eu coloco uma estorinha legal, escrita pelo Bruno Maron, dono do espaço em questão.

"Filosofia sentimental - Ensaios de lucidez" (2)

   Ainda sobre o livro anteriormente citado.
   Interessantíssima a continuação do Prefácio - mas não todo ele, que contém um "ataque" ao nosso querido Spinoza. 
   Começa assim o texto citado - e eu lembro do meu filosofante amigo Henrique:
   "Pierre Hadot distingue duas categorias de filósofos: os falsos e os verdadeiros. Ou melhor, os acadêmicos e os práticos. Os primeiros: professores e pesquisadores; os segundos: os mestres de vida. No fundamento dessa distinção, jaz a ideia segundo a qual a filosofia, como concebida pelos Antigos, consistiria não em passar horas e horas com o nariz nos textos e a perorar na cátedra, mas em 'transformar a si mesmo' graças 'a exercícios espirituais'. Assim como o atleta treina, tonifica e aumenta sua massa muscular, segue uma alimentação pobre em gordura e tem uma vida austera para enfrentar as competições, o filósofo forjaria para si uma alma em todas as atribuições da existência, por menos que se dedicasse, todo dia, a uma ginástica do espírito - tendo em seu program a concentração sobre o presente, a visualização da totalidade do mundo, os exames da consciência, a triagem seletiva e refletida de seus desejos e a resistência fleumática às paixões hostis de seus semelhantes".
   Gostei!

"Filosofia sentimental - Ensaios de lucidez"

   O título do post é o mesmo de um livro escrito por Frédéric Schiffter, publicado pela Editora Difel, agora em 2012. Comprei-o hoje. Embora saiba que não vá lê-lo agora, queria fazer algumas considerações prévias sobre o livro.
   A orelha do livro propõe uma questão: "Que valor dão os grandes pensadores às temáticas comuns, presentes na vida de todos?". O autor procura em pensadores que "escreveram sobre as própria experiências pessoais" a resposta a essa questão. E esses pensadores são: Nietzsche, Fernando Pessoa, Proust, Schopenhauer, Montaigne, Freud, Clément Rosset e José Ortega y Gasset - além do livro Eclesiastes.
   Mesmo confirmando que não será leitura para agora, não é possível deixar de travar contato com os principais elementos pré-textuais, entre eles, o Prefácio.
    A primeira coisa a aparecer neste é uma citação de Cioran: "A infelicidade é que, uma vez lúcida, a gente o fica cada vez mais: não há meio algum de burlar ou recuar".
   É aquela velha máxima de que, uma vez conhecido algo, não dá para fingir que não é assim. O problema é que a "lucidez" cobra um preço alto no viver. Se ela é boa - e realmente é -, não quer dizer que seja "confortável".

quarta-feira, 7 de março de 2012

"Quem sou eu? E, se sou, quantos sou? Uma aventura na Filosofia"

   Nem lembro se já comentei algo sobre o livro que tem o mesmo título do post.
   Este livro - já o tenho há algum tempo - permaneceu sem ser lido por mim. O autor é Richard David Precht, um "filósofo, publicitário e escritor", segundo a "orelha" do livro. Filósofo e publicitário? Que seja! De qualquer forma... ele é formado pela Universidade de Colônia... O que não é pouco!
   O livro foi publicado no Brasil pela Ediouro, em 2009.
   Só no Carnaval "resgatei-o" da longínqua estante da outra casa da minha mãe, e o trouxe, são e salvo, de volta para o lar. Hoje, comecei, então, a folheá-lo.
   Contei tudo isto para citar um pedacinho.
   "Fazer perguntas é uma capacidade que não deveríamos perder nunca, pois aprender e apreciar são o segredo de uma vida plena. Aprender sem apreciar não satisfaz, apreciar sem aprender emburrece."
   Obrigado pela dica, Mr. Richard!
   Um pouco mais do livro.
   O mesmo está dividido em três partes, cujos nomes são um tríade famosíssima de questões: "O que posso saber?", "O que devo fazer?" e "O que posso esperar?". Alguém deixou de lembrar de Kant? Entretanto, ao contrário do alemão mais antigo, que pretendia que estas se reduzissem a uma última, este diz que, se respondidas essas três, estará resolvida aquela que pergunta por "O que é o homem?".
   O livro, então, na sua primeira parte, trata do conhecimento, através de artigos sobre a verdade, o cérebro, o "eu", a memória, a linguagem. A segunda parte diz respeito à ética, com artigos como "Há moral no cérebro?" ou "A moral é inata?". A última trata de questões como a felicidade, a liberdade, Deus e o sentido da existência. As abordagens têm sempre um ar fundo de Filosofia da Mente.
   A leitura parece ser interessante. Depois eu conto mais!
 

quinta-feira, 1 de março de 2012

Kant e os comentadores

   Um conselho muito comum nos meios acadêmicos é "Não fique lendo comentadores, vá direto ao texto do filósofo!".
    Normalmente, esse conselho é dado por alguém que já venceu o estranhamento inicial e a impenetrabilidade das primeiras "muralhas" conceituais que se põem diante do novato. Ora, a menos que alguém de boa vontade se predisponha a auxiliar essas primeiras explorações, não é tão fácil ingressar no mundo de um pensador, até então, desconhecido. 
   Rotineiramente também, quem mais dá esse conselho são aqueles que não se mostram tão "abertos" ao monte de questões - algumas até realmente óbvias - que o neófito apresenta. Respostas como "Você tem que continuar lendo, pois assim entenderá este ponto" não ajudam muito... até pelo contrário, visto que se arrastam dúvidas desnecessárias por vários capítulos, podendo, inclusive, comprometer o entendimento de toda a tese e argumentação de um livro.
   Um exemplo absolutamente contrário a isso é o de Kant. Ciente de que seu "Crítica da Razão Pura" (1781) era um livro que poderia ser censurado pela "falta de popularidade" - no sentido, aqui, de falta de acessibilidade ao público -, Kant se propõe a melhorar as coisas na segunda edição, a de 1787. No Prefácio, ele mesmo declara ter feito "o possível para remover as dificuldades e obscuridades",  mas confessa que, "no tocante ao estilo, ainda há muita coisa a ser feita".
   Kant poderia muito bem pensar, como nossos professores modernos - ou como Hegel -, que o leitor é que tem que se "virar". Afinal, o trabalho "pesado" estava feito pelo filósofo. O leitor que repasse as linhas argumentativas, no sentido de fundamentar a tese apresentada e de entendê-la.
   Mas não era assim que esse  "gigante" intelectual via as coisas. O que ele faz é solicitar "a esses excelentes homens que tão afortunadamente equilibram a perfeita sabedoria com o talento da exposição lúcida (talento a que não posso aspirar)" que assumam a "tarefa de elevar a minha obra - muito falha neste particular - a maior perfeição". Ele só pede que esses comentadores sejam "juízes competentes e imparciais"... Era o mínimo que se poderia solicitar, não é?
    Quanta simplicidade do Immanuel, hein!
    Todavia, se reconhecia a dificuldade dele mesmo em relação ao "estilo", Kant indica, no Prefácio da primeira edição da "Crítica da Razão Pura",  que procurou obter a "clareza discursiva", oriunda dos conceitos, mais do que a "clareza intuitiva", provinda dos exemplos. E registra sua opinião - bastante curiosa - de que esta última espécie de clareza é frequentemente prejudicial àquela, e "muitos livros teriam sido mais claros se não tivessem tencionado ser tão claros".
    Sinceramente, não sei se concordo com essa última parte, mas... realmente vemos "excessos" em determinadas explicações que, parece, poderiam ter sido glosados, sem nenhum prejuízo ao entendimento da tese.
   Só para deixar a referência bibliográfica registrada, a parte da estória em relação a Kant nos é contada em "O pensamento de Kant", de Georges Pascal, publicado pela Editora Vozes, em 2003.
  

"Lectures de Spinoza"

   Ontem adquiri um "livraço". Trata-se de "Lectures de Spinoza", organizado por duas "feras", Pierre-François Moreau e Charles Ramond - ambos com produções importantes no que respeita ao filósofo luso-holandês. A publicação é pela Ellipses, francesa.
    A capa não indica nada de tão especial, mas fica a promessa de bons textos, em função do "peso" dos organizadores. Entretanto, já quando passamos os olhos pelo índice, a coisa muda radicalmente. Vemos que os capítulos vão tratando, além da biografia, de cada produção de Spinoza individualmente. Obviamente, a "Ética" não aparece em apenas um capítulo, mas cada livro da obra magna de Spinoza ganha um capítulo específico.
   Conforme indica Moreau, a tentativa não é a de "fechar" um sistema spinozano, a partir do conjunto de seus escritos, mas avaliá-los individualmente. Desta forma, fica fácil acessar o "espírito" de cada obra spinozana de per si.
   Mesmo só dando um "sobrevoo" pelo livro, deu para perceber que os capítulos são muito bem escritos. Valeu a pena!
 

Os Simpsons

   Estava eu passando os olhos por aquela coluna "Você sabia... ?" do Wikipedia, no Portal de Filosofia, quando esbarrei com uma informação, até então, pelo menos para mim, inimaginável. Lá está escrito: "…that The Simpsons and Philosophy: The D'oh! of Homer, a book that analyzes The Simpsons using philosophical concepts, is the main textbook in some university philosophy courses?".
   Ao contrário de um professor meu, que disse que se interessou, certa vez, por um livro desta série - acho que era "The Beatles e a Filosofia" -, mas que nem se atreveu a aproximar-se da estante onde o livro estava, com medo de ser flagrado folheando algo tão "esquisito" e "pouco sério" por algum aluno ou colega, eu tenho simpatia pela coleção. 
   Mas vou confessar uma coisa... quando ele contou o caso na sala, e todos riram da frase: "Imaginem um aluno ou, pior, um outro professor me vendo com um livro daqueles nas mãos!", eu nem me atrevi a contar que já adquirira um exemplar. Só confidenciei a um amigo sentado próximo a mim. Ele, tão consternado quanto eu, balbuciou que também era possuidor de um... e que apreciara a leitura do tal livrinho que sofrera o anátema.
   Aliás, o primeiro que adquiri foi "Harry Potter e a Filosofia", que acho ótimo... até hoje!
   Mas voltemos ao "Você sabia...?"
   De fugir da estante dos livros da série a transformá-lo em livro principal em cursos universitários de Filosofia vai uma distância muito grande. Eu acho até que comentar determinadas passagens desses livros - ou capítulos inteiros, que tratam de temas específicos - é algo bastante interessante, mas adotá-los como livros de estudo... e principais... Aí, é demais!
   No caso daquele meu professor, imaginem sua chegada numa universidade desse tipo e, no seu primeiro dia, tendo que dizer, em vez de "Abram no Prefácio da 'Crítica da Razão Pura', para ver o que Kant nos diz da distinção entre númeno e fenômeno!", ele teria que dizer "Abram seu 'Os super-heróis e a Filosofia', para vermos os dilemas morais de Batman!".
   Caracas... não consigo imaginar esta cena! Rsss