quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Bamberg... A cerveja?

   Naquela degustação de cervejas, na Cervisia 1516 - que eu já comentei por aqui -, uma das primeiras cervejas que bebemos foi uma Bamberg Pilsen.
   À época, a única coisa que eu pensei foi "Ótima!". Passado um tempinho, disse a mim mesmo: "Já ouvi esse nome antes"... e deixei para lá. Entretanto, por esses dias, relendo sobre Hegel, descobri onde já havia visto o nome "Bamberg".
   Quem lembra? Para quem não lembra, vamos lá...
   Hegel escreveu em uma carta: "Eu vi o Imperador, essa alma do mundo, atravessar a cavalo as ruas da cidade... Sentado sobre um cavalo, estende-se sobre o mundo e o domina", referindo-se a Napoleão, quando da batalha de Jena, a qual pôs fim ao Sacro Império Germânico.
   Entretanto, era tudo mentira! Nosso "corajoso" filósofo tinha "migrado" - "fugido" fica muito forte, não é? - para... nada mais, nada menos que... Bamberg, antes da batalha, em 1807. Foi para lá a convite de seu amigo Friedrich Immanuel Niethammer, para dirigir o jornal Bamberger Zeitung. Segundo consta, levando os originais da Fenomenologia do Espírito.
    Depois disso, imaginei uma possível reunião da cerveja com a cidade, passando pela obra de Hegel... e pensei em redigir, em homenagem ao "conjunto" anterior, a Fenomenologia do Etílico. Como eu não tenho a competência... nem a obscuridade do alemão, fico só com o "plano da obra".
   Pensei como seria a fenomenologia, ou seja, o desenrolar histórico e concreto de um ser que fosse se entregar aos prazeres "cervejísticos", portanto, alcoólicos... ou seja, um ser "etílico".
   Seguindo o plano da obra de Hegel, minha "Fenomenologia" começaria com a "Consciência", isto é, o tal ser - que não é um Espírito... pelo menos, não sozinho... mas com um corpo junto - chegando ao boteco, cheio de consciência... do que não deve fazer.
   Ainda seguindo o percurso da obra hegeliana, a minha teria como segundo "momento", a "Consciência de si".  O tal ser "etílico", como a "Consciência de si" hegeliana, passaria a ter mais conhecimento de si mesmo. Entretanto, enquanto a "Consciência de si" hegeliana se conhece melhor enquanto manifesta sua negação dialeticamente, a "Consciência de si" ricardiana, que já deixou de ter consciência há muito tempo - talvez, depois de muitas Bamberg -, começaria a ter consciência só de si, visto que o resto do mundo estaria girando a sua volta, num processo de alteridade total... uma espécie de Revolução Copernicana às avessas, onde o ser "etílico" passaria novamente a ser o centro do mundo. Aliás, "revolução", aqui, num sentido bem literal, já que tudo gira. 
   Depois de algumas horas - talvez, já no banheiro de casa... quem sabe, abraçado ao amigo "Vaso sanitário"... chamado carinhosamente de "Raul", pelo ser "etílico" -, entraríamos no terceiro "momento" de nossa Fenomenologia do Etílico. Aí, viria a Razão... ou, pelo menos, a razão... para o ser "etílico" não beber mais.
   E o ser "etílico" ainda nem recebeu as ligações daqueles amigos excessivamente sinceros, que lhe contam os seus "micos" na noite anterior.
   Assim... só bebendo outras mais! E recomeçamos a nossa Fenomenologia do Etílico...

Notas filosóficas de "Outubro" (leia-se "Agosto")

   Ontem tivemos o Notas Filosóficas do mês de "outubro" (leia-se "agosto"... conforme observou corretamente meu compadre Mundy. Rsss) 
   Dizer que o evento foi ótimo não chega a ser novidade... mas o Silvério e a Faiga não precisam ficar querendo atingir o píncaro da perfeição a cada evento. Rsss.
   Dessa vez, além de uma ótima explicação sobre alguns aspectos da filosofia platônica, ainda nos brindaram com belas canções dos Beatles... em versão instrumental... até com violino, gente! Aí, é demais! Rsss.
   Quem não foi ao evento está pensando: "Caramba, que espetáculo!". Mas eu surpreenderei os amigos dizendo: "Ainda teve mais!". É... Depois de tudo, a dupla violão-violino ainda executou, "gratuitamente", mais três músicas! Ahhhhh... Maravilhoso! 
   A modéstia de Silvério, ao final, já em off, é que foi interessante. Quando a ele nos dirigimos, a fim de parabenizá-lo, ele disse que achou que poderia ser melhor - Ainda mais?!?!?! -, porque faltaram algumas coisas a serem ditas.
   Ah, Silvério, desencana! - como diriam os paulistas. Afinal, falar sobre Platão, para um público altamente heterogêneo, só é possível através de "recortes". E aí está, justamente, a sua maior qualidade: escolher bem esses "recortes" que comporão a apresentação.
   Parabéns, ao Silvério, à Faiga e a todos da equipe do Occhio Café.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Schelling... o segundo

   Para os que não lembram, o filósofo alemão Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling (1775-1854) forma um par inusitado com outro germânico - esse, contemporâneo -, Ludwig Wittgenstein (1889-1951), de reformuladores integrais de sua própria filosofia. Mas tanto Schelling quanto Wittgenstein não se limitaram apenas a desdizer, em um segundo momento, o que haviam dito no primeiro; eles disseram exatamente o contrário... meio ao estilo "Metamorfose ambulante" de Raul Seixas, com uma radicalidade maior.... Noooossa!!!
   Brincadeiras à parte, o fato é que o "segundo" Schelling apresenta semelhanças com nosso querido Spinoza.
   Vejamos o que diz o livro "A filosofia alemã", de Maurice Dupuy, publicado pelas Edições 70:
   "No segundo período do seu pensamento (cf. sobretudo Bruno ou o princípio divino e natural das coisas, 1802), Schelling defende uma 'filosofia da identidade', mais ou menos inspirada em Espinosa: se, como vimos, o espírito e a natureza se referem um ao outro e se condicionam reciprocamente, então é necessário que tenham um fundamento comum e que provenham de uma mesma actividade primordial, de que são duas manifestações diferentes. Por conseguinte, este princípio único do subjectivo e do objectivo não é em si-mesmo nem subjectivo nem objectivo, nem espírito consciente nem natureza. Schelling denomina-o de Absoluto ou identidade do subjectivo e do objectivo. O Absoluto não é uma unidade abstracta e vazia. É a razão absoluta, o em-si das coisas, e, pode dizer-se, 'concreto' visto que, apesar da sua unidade, contém virtualmente em si todas as diferenças e oposições. Enquanto simples possibilidades dos opostos, é, sem dúvida, 'a indiferença absoluta', a noite em que se desvanecem todas as diferenças, mas a sua 'vida' consiste no seu desdobramento na multiplicidade, na separação relativa dos opostos que nele coincidem; o mundo é o fruto desta actualização: por isso, nele o espírito e a natureza não são essencialmente diferentes um do outro; não sendo senão dois momentos ou dois modos de revelação do Absoluto, não constituem opostos reais, mas ideais ou abstractos. É por isso que um e outro estão presentes em todos os fenômenos, embora em graus diferentes. Esta 'diferença quantitativa' determina toda a diversidade das coisas finitas, que permanecem no fundo unidade dos opostos e totalidade".
   Dá para ler isso sentindo uma certa presença do espírito spinozano, não é? A parte "o espírito e a natureza não são essencialmente diferentes um do outro; não sendo senão dois momentos ou dois modos de revelação do Absoluto", então... nem falo mais nada.
   Acho, entretanto, que Schelling foi mais "esperto" que Spinoza, ao usar "Absoluto" em vez de "Deus". Quem sabe o luso-holandês não teria até evitado sua excomunhão se tivesse usado "Absolutus sive Natura", em vez de "Deus sive Natura"?

Re-voltando... ou melhor, voltando novamente

   Como sempre, o tempo é curto para tudo que há a ser feito. Por esse motivo, vez por outra, acabo deixando os "amigos dos amigos" meio "abandonados"... mas, certamente, não esquecidos.
   Então, "re-voltando"... sem nenhuma revolta!
   O título deste post poderia ser "Spinoza e Nietzsche... outra vez? (3)". Digo isto porque - acreditem se quiserem! - foi lançado o terceiro livro, só este ano, fazendo uma aproximação entre as doutrinas spinozana e nietzscheana - se é que existe alguma doutrina nietzscheana... Desculpem a brincadeira... Mas eu perco um amigo nietzscheano, mas não perco a piada!
   Mas, voltando ao que interessa.
   Foi publicado "Ilusões do eu: Spinoza e Nietzsche" - aliás, por que será que o Spinoza vem antes no título? Rsss -, da Editora Civilização Brasileira, sob a organização de Luís César Oliva, André Martins e Homero Santiago.
   Já comprei... mas... como muitos outros, ele foi direto para a estante. De qualquer forma, vi que há artigos da excelsa spinozana portuguesa Maria Luísa Ribeiro Ferreira... mas também de nietzscheanos renomados, como a brasileiríssima Viviane Mosé.
   Aliás, com licença de uma apreciação meramente intelectual, gostaria de dizer que até a capa é bonita... meio metalizada. Embora seja um juízo meramente estético, não se pode negar que já atrai o leitor. 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Somos 62 "amigos dos amigos"

   Mais uma agradabilíssima surpresa: somos 62 "amigos dos amigos", agora.
    Sintam-se bem vindos, Sol e Marcio Andrei. Quando desejarem, coloquem seus pensamentos e opiniões neste espaço que é feito a 126 mãos  - incluí as minhas também!
   Grandes abraços... e apertos de mãos... nas outras 124!

"Erro do livre-arbítrio", de Nietzsche

   Uma das teses que aproximaram - ainda que momentaneamente - Nietzsche a Spinoza foi aquela sobre a inexistência do livre-arbítrio. Em "Crepúsculo dos ídolos", no artigo "Os quatro grandes erros", Nietzsche escreve sua opinião - doxa, em Filosofia, não é legal! -, seu pensamento - sempre crítico e ácido - sobre o livre-arbítrio. Diz ele:
   "Hoje não temos mais compaixão pelo conceito de 'livre-arbítrio': sabemos bem demais o que é - o mais famigerado artifício de teólogos que há, com o objetivo de fazer a humanidade 'responsável' no sentido deles, isto é, de torná-la deles dependente... Apenas ofereço, aqui, a psicologia de todo 'tornar responsável'. - Onde quer que responsabilidades sejam buscadas, costuma ser o instinto de querer julgar e punir que aí busca. O vir-a-ser é despojado de sua inocência, quando se faz remontar esse ou aquele modo de ser à vontade, a intenções, a atos de responsabilidade: a doutrina da vontade foi essencialmente inventada com o objetivo da punição, isto é, de querer achar culpado. Toda a velha psicologia, a psicologia da vontade, tem seu pressuposto no fato de que seus autores, os sacerdotes à frente das velhas comunidades, quiseram criar para si o direito de impor castigos - ou criar para Deus esse direito...
   Os homens foram considerados 'livres' para poderem ser julgados, ser punidos - ser culpados: em consequência, toda ação teve de ser considerada como querida, e a origem de toda ação, localizada na consciência ( assim, a mais fundamental falsificação de moeda in psychologicis [em questões psicológicas] transformou-se em princípio da psicologia mesma...). Hoje, quando encetamos o movimento inverso , quando nós, imoralistas, buscamos com toda a energia retirar novamente do mundo o conceito de culpa e o conceito de castigo, e deles purificar a psicologia, a história, a natureza, as sanções e instituições sociais, não existem, a nossos olhos, adversários mais radicais do que os teólogos, que, mediante o conceito de 'ordem moral do mundo', continuam a empestear a inocência do vir-a-ser com 'culpa' e 'castigo'. O cristianismo é uma metafísica do carrasco..."
   Esse Nietzsche não mede palavras, hein!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

"Mude"

   Como eu estava com um problema no visualizador de "amigos" do blog, só há pouco me dei conta de que já não somos mais 59, mas sim 60 "amigos dos amigos".
   Os dois amigos mais recentes, na sequência de novas fotos, são Diana Roussoglou e Edson Marques. A ambos, desejo boas vindas. Sintam-se bem acolhidos neste espaço de "amigos dos amigos de Spinoza".
    Dei uma espiadela nos blogs destes mais recentes amigos.
   Em relação à Diana, ela estava de "recesso", tendo voltado apenas agora em 07 de julho. Espero para lê-la mais.
    Quanto ao Edson, ele é autor do poema "Mude". Acostumamo-nos a ouvir Bial recitando-o, mas nem todos sabem quem é o autor - inclusive eu. Agora... para aqueles que não sabiam, sabemo-lo: Edson Marques!!!
    Então, vamos relembrar "Mude":



Mude

Mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.

Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama.
Depois, procure dormir em outras camas.
Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais,
leia outros livros,
Viva outros romances!

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.
Tente o novo todo dia.O novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.


A nova vida.
Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.
Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde, ou vice-versa.
Escolha outro mercado,
outra marca de sabonete,
outro creme dental.
Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa,
de carteira,
de malas.
Troque de carro.
Compre novos óculos,
escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
Arrume um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.

Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.


Seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.
Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.

Só o que está morto não muda!
Edson Marques.

Fundação Biblioteca Nacional do Ministério da Cultura
Poema MUDE - Registro: 294.507 - Livro: 534 - Folha: 167