quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Liberal, Libertário e Neoliberal


   É interessante perceber como os três termos citados guardam diferenças, apesar de sua raiz comum, referente à liberdade do indivíduo.
   Há que se ressaltar ainda que, em determinados países, alguns dos termos têm significados diversos daqueles que vemos em outros.
  Comecemos pelo que parece dar origem a tudo: liberalismo.
  "Liberalismo" é um conceito que expressa, em princípio, uma doutrina política da Modernidade, trabalhando com a ideia da defesa da liberdade do indivíduo, em relação aos possíveis abusos de poder cometidos pelo Estado. Este seria o chamado "liberalismo clássico", que tem como formalizadores do conceito os filósofos britânicos John Locke e Thomas Hobbes.
   Locke advogava a ideia de que o Estado deveria ter uma ingerência mínima sobre a vida individual. O papel das instituições governamentais seria apenas o de garantir ao indivíduo sua vida, sua segurança e suas propriedades. Tudo seria regulamentado, a fim de que não houvesse "invasão" do Estado nos assuntos privados.
   Esse ponto de vista político-social, digamos assim, de Locke, teve sua contrapartida econômica, no pensamento de outro britânico, o filósofo e economista Adam Smith. Para este, o indivíduo deveria ficar livre para buscar seus próprios interesses pessoais, pois, desta forma, toda a sociedade viria a se beneficiar. O envolvimento do Estado na economia seria mínimo, já que o "mercado" se autorregularia.
   Assim, não sem um bom motivo, a ideia de "liberalismo político" ficou associada ao "liberalismo econômico"... e liberdades individuais começaram a ter um significado também de operação de um mercado livre.
    Depois continuo...

Reforma do Ensino Médio


   É triste que, nessa época de polarização política, percamos a oportunidade de analisar de modo imparcial algumas iniciativas governamentais. 
   Deveríamos estar em meio à discussão sobre a proposta de reforma no Ensino Médio que foi enviada pelo governo Temer, através de Medida Provisória, mas não estamos. Em vez disso, vemos manifestações absolutamente partidárias sobre a questão.
   Inicialmente, deveríamos lembrar que a tal reforma enviada por Temer vinha sendo elaborada desde o governo de Lula. Isso já deveria quebrar alguma resistência em relação à proposta.
   Outra lembrança que deveríamos ter em mente era a de que vários educadores solicitavam alguma reforma, em função da inadequação do modelo atual.
   Os alunos também pareciam sentir certo cansaço com o excesso de conteúdo. E questionavam o fato de aprenderem algumas coisas que não teriam uso em sua vida futura, como profissionais de outra área de atuação.
   Juntando tudo isso, deveríamos todos estar esperando ansiosamente por uma reforma. Obviamente, isso não significa que devamos aprovar incondicionalmente o modelo proposto. Há que se analisar criteriosamente o que está no papel. 
   Mas aí surge uma pergunta interessante: O que está no papel? E a resposta é curiosa: Pouco!
   Já sabemos que, por um ano e meio, haverá um conjunto de matérias obrigatórias - que ainda não conhecemos quais são, e só devem ser definidas em meados de 2017 - e que, na metade seguinte do curso, os alunos poderão escolher um determinado grupo de matérias que teriam mais a ver com seus planos futuros de vida profissional. Assim, haveria uma formação mínima mais genérica e outra mais aprofundada - e, por certo, mais estimulante -, que diria respeito à carreira pretendida pelo aluno.
   Matemática e Português - também o Inglês, como língua estrangeira "universal" - seriam disciplinas constantes ao longo de toda a formação... como não poderia deixar de ser.
   A ideia de que disciplinas que estimulam o senso crítico, como Filosofia e Sociologia, pudessem ser expurgadas do currículo, ainda não é certa. Portanto, o tal uso "político" dessa informação parece, no mínimo, precipitado.
   Gostaria de refletir um pouco mais sobre esse assunto...

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Democracia?


   Interessante como a "democracia" é tão defendida, mas temos tanta dificuldade em precisar o que ela é.
   Outro dia, conversando com um amigo que não é ignorante em Política, ele disse: "Democracia é fazer valer a vontade da maioria". Bem... parece que, na prática, ele está certo. Mas a isso também poderíamos chamar de "ditadura da maioria", não é? Se for, então, "democracia" e "ditadura" estão bem próximas?!?!? 
   Vale lembrar que a ideia de "democracia" vem lá dos gregos, significando um modo de deliberação em que "cada cidadão, um voto". Mas os assuntos eram debatidos, antes. Havia um momento, portanto, de informação a respeito do assunto que iria ser posto em votação. Nesse período, a arte da retórica entrava em cena. E, aí, embora o fim da estória fosse a de que a decisão correspondia à vontade da maioria, esta podia só estar materializando o interesse de uma minoria bem articulada em seus discursos e poder de convencimento. De qualquer modo, a ideia de "cada cidadão, um voto" é o cerne da democracia, em vez das eleições censitárias, onde um determinado cidadão, por sua proeminência social, tinha direito a mais votos que outro, com menor expressão diante da sua própria comunidade.
   Bom assunto, esse...

Da comunidade até a sociedade


   É interessante perceber que a distinção estabelecida por Ferdinand Tönnies - citada no post anterior -, entre comunidade e sociedade, foi retrabalhada por Émile Durkheim, com seus conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. Contudo, ao contrário de Tönnies, Durkheim parecia identificar uma evolução histórica dos grupos sociais, migrando do primeiro tipo de solidariedade para o segundo, nas sociedades primitivas para as contemporâneas. Em certa medida, o que percebemos é que há a possibilidade de coexistência de ambos. E aí entra um velho conhecido nosso, Aristóteles.
   O Estagirita explica a associação dos homens partindo da oikos, a casa; para a komê, a vila/aldeia; até a polis, a cidade. O aumento da complexidade dos grupos sociais não impede a permanência da sua convivência. Isto é, havendo a cidade - o que poderíamos associar à sociedade, naquele sentido de Tönnies -, não deixam de existir a casa e a aldeia - com as quais faríamos a analogia à comunidade, em Tönnies.
   Reforçamos nossa impressão, já registrada no post anterior, de que as diversas "aldeias" se fazem representar na "cidade", com seus valores díspares, de acordo com sua dimensão de poder.

Comunidade vs. Sociedade


   Uma coisa que pode nos ajudar a compreender melhor nossa sociedade - e seus problemas - é estabelecer uma diferença entre esta e uma comunidade.
   No século XIX, Ferdinand Tönnies formulou estes dois conceitos - comunidade e sociedade.
   As comunidades seriam organizações sociais nas quais predominam relações mais pessoais, sendo o comportamento pautado pelos hábitos tradicionais. Nelas, há forte coesão social.
   Nas sociedades, por outro lado, os membros mantêm relações mais impessoais, sendo o comportamento predominantemente individual e menos cooperativo. Em vez de as relações buscarem estabelecer laços e satisfazer as necessidades coletivas, procuram alcançar o benefício e as vantagens particulares.
   Pelo fato de existir, nas comunidades, uma maior homogeneidade nos modos de pensar, sentir e agir dos membros, percebe-se ser mais fácil determinar um valor comum que una o grupo social. 
   Quando falamos de "sociedade", a coisa se torna mais complexa. Percebemos que, neste grupo social, a diversidade de valores reinante dificulta - ou até mesmo impede - o estabelecimento deste ponto comum. O que acontece, então, é a constante disputa entre projetos no seio da sociedade. Obviamente, esses projetos traduzem concretamente os valores nos quais se apoia. E, também de modo muito claro, há que se reconhecer uma primazia de alguns projetos sobre outros, em função de uma certa assimetria de poder dos grupos envolvidos nesses projetos.
   Só reconhecendo este fato é que poderemos ter uma verdadeira compreensão do que é democracia, deixando de lado uma expectativa idealizante de seu funcionamento.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Esquerda e Direita


   O livro que estou lendo ainda - e a que me referi no post anterior - é Esquerda e Direita: Guia histórico para o século XXI, do escritor e historiador português Rui Tavares.
   Trata-se de um texto muito interessante, que nasce de um questionamento bastante objetivo: Fazem ainda sentido a esquerda e a direita?
   A resposta de Rui Tavares também é objetiva e direta: Sim. Ainda há uma distinção clara entre "direita" e "esquerda" - ainda que isso não signifique falar apenas em "neoliberalismo" e "socialismo". E é aí que entra a explicação da longevidade desses termos, segundo o autor.
   Para ele, os termos ainda guardam sentido justamente porque não há um conceito específico, unívoco e integral para eles. Há, sim, um "ambiente" que corresponde à direita e à esquerda. 
   Depois, comento mais.

Polêmicas


   Eu não sou um polemista. Mas gosto de observar os assuntos por seus diversos ângulos possíveis de abordagem. De acordo com esta perspectiva, encontrei um bom livro para ser lido: Pensando bem..., do filósofo e articulista da Folha de S. Paulo Hélio Schwartsman. O livro foi publicado pela Editora Contexto, agora em 2016.
   Na verdade, o título é maior: Pensando bem... um olhar original a respeito de liberdade, religião, história, política, violência, comportamento, educação, ciência. Ufaaaa... Isso é o que consta da ficha catalográfica, mas o que está em destaque na capa é o que eu já havia registrado acima... embora, em letras menores, isso também esteja visível exteriormente.
   Mas eu começo com uma frase que consta do livro e que reforça essa ideia de abordagem por diversas perspectivas. A afirmação é do jornalista norte-americano H. L. Mencken (1880-1956). Ele diz:
   "Para todo problema complexo existe uma solução clara, simples e errada.".
   Isso bem serve àqueles que, numa situação tão complexa quanto a do Brasil atual, tendem eleger boias salvíficas únicas para sairmos desse nosso embaraço social... quaisquer que sejam esses portões mágicos de saída da crise.
   Vale à pena ler. Ainda estou concluindo outro livro. Mas, depois, já tenho encontro marcado com esse... pelo menos como leitura alternativa e descontínua, já que os textos são pequenos, e podem ser lidos isoladamente.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

"Verdades e mentiras - ética e democracia no Brasil"


   O título do post se refere a um livro publicado pela Editora Papirus Sete Mares, agora em 2016. Trata-se do registro de um diálogo entre Mário Sérgio Cortella, Gilberto Dimenstein, Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé.
   O texto é bem atual. Alcança fatos como a aceitação da proposta de impeachment de Dilma pela Câmara dos Deputados. E é uma discussão de ótimo nível. 
   Fica claro que, quando o assunto toca o caso concreto de Dilma, somente o Cortella se mostra mais inclinado a defender a ex-presidente. Apesar dessa inferioridade numérica, como a discussão é feita com respeito, há espaço suficiente para que compreendamos a posição de cada "lado". 
   Depois, falo mais sobre este livro.

"A nervura do real"


   Em 1999, Marilena Chauí lançava A nervura do real - imanência e liberdade em Espinosa. A obra constaria de dois volumes. O primeiro volume, referente à imanência, era um "tijolão" - aliás, um tijolão e um tijolinho, já que havia o volume de notas e referências bibliográficas - com conteúdo bastante relevante. Mas os anos se passavam e a parte que mais me interessava, aquela sobre a liberdade, não aparecia. Imaginei até que a professora Marilena Chauí tinha abandonado o projeto. Ainda bem que eu estava errado. Agora, em 2016, foi lançado o segundo volume. 
   Viva!!! Parabéns à professora Marilena Chauí pela grande obra. Aliás, certamente uma referência definitiva no cenário nacional, e mesmo internacional, dos estudos spinozanos.

Quanto tempo, hein!

   Imaginei que julho seria um mês superprodutivo para este blog, afinal eu estive de férias. Mas foi tanta correria que meu plano não só foi frustrado, como ocorreu o contrário: nenhuma postagem.
   Aí, veio agosto. Viagem da filha e esposa; Olimpíadas e impeachment da Dilma mobilizaram minhas atenções... e novo silêncio.
   Mas vamos voltar ao trabalho... Rsss