quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Aproveitando os aniversários

   O aniversariante mais ilustre dessa época é Jesus Cristo... o fundador, ainda que assim não o tenha pretendido, do Cristianismo... ou seria, dos Cristianismos?
   Pergunto isso porque estranho muito uma atitude que presencio vez por outra: a troca de "igrejas", por evangélicos meus conhecidos. Normalmente, fico sem resposta quando pergunto-lhes qual a diferença doutrinária que os fez mudar.
   Posso estar sendo pouco severo na crítica, mas, por vezes, parece-me que há igrejas que estão mais "na moda" que outras.
   O fato é que encontrei uma possível explicação num texto de José Arthur Giannotti, do livro "Notícias no espelho", ao qual já me referi em um post anterior. É bem verdade que eu espero que Giannotti esteja tão errado em sua crítica quanto eu, mas é uma possibilidade.
   Transcrevo, então, algumas passagens de "Religião como investimento".
   "Estava passeando pela TV quando dei com um culto da Igreja Mundial do Poder de Deus. [...] No culto da TV, o pastor simplesmente anunciou que, dado o aumento das despesas da Igreja, no próximo mês o dízimo subiria de 10% para 20% ['dízimo' de 20%!?!? Isso não é uma contradictio in adjecto ?!?!] [...] Notável é que o dízimo não era pensado como doação, mas simplesmente como devolução: já que Deus neste mês dera-lhe tanto, cabia ao fiel devolver uma parte para que a Igreja continuasse no seu trabalho de mediador. [...] Em vez de o salário ser considerado como retribuição ao trabalho, o é tão só como dádiva divina. [...] Se o salário é dádiva, precisa ser recompensado. Não segundo a máxima franciscana 'é dando que se recebe', pois não se processa como ato de amor pelo outro. No fundo vale o princípio: 'Recebes porque doastes'. E, como esse investimento nem sempre dá bons resultados, parece-me natural que o crente mude de igreja, como nós procuramos um banco mais rentável para nossos investimentos. [...] Esse novo crente não mantém com a Igreja e seus pares uma relação amorosa [...] sua adesão não implica conversão, total transformação do sentido de seu ser. Ele apenas assina um contrato integral que lhe traz paz de espírito e confiança no futuro. Em vez de conversão, mera negociação. Essa religião não parece se coadunar, então, com as necessidades de uma massa trabalhadora, cujos empregos são aleatórios e precários?".
   Como eu disse antes, espero que o "diagnóstico" de Giannotti esteja tão errado quanto o meu... até porque não acredito que meus conhecidos tenham em mente esse mero acordo "comercial", pelo menos de modo consciente, quando trocam de "um Cristianismo para outro". Entretanto, tenho que reconhecer que é um ponto de vista.
   Apesar disso, o que não discordo de Giannotti é um trecho que fecha o texto em questão. Escreve o autor:
   "Essa teologia pentecostal se aproxima, então, do maniqueísmo. Como sabemos, o sacerdote Mani (também conhecido como Maniqueu), ativo no século III, pregava a existência de duas divindades igualmente poderosas, a benigna e a maligna. Isto porque o mal somente poderia ter origem no mal. A nova teologia pentecostal empresta o mesmo valor aos dois princípios e, assim, ressuscita a heresia maniqueísta, misturando cristianismo com teologia pagã".
   Em alguma medida, realmente, o que o Cristianismo evangélico tende a fazer é dar ao lado mau praticamente tanta força quanto ao lado bom... ressuscitando o maniqueísmo, portanto.
   

Aniversários

   Hoje, escrevo fundamentalmente para registrar o aniversário de onze anos da minha filhota - a futura herdeira de minha biblioteca... é só o que eu tenho para deixar! Rsss.
   Entretanto, aproveito para lembrar outro aniversário que passou "em branco", o do próprio blog. Este aqui, no blogspot, foi iniciado em 19 de novembro 2008. Portanto, lá se vão três anos. E, por uma incrível coincidência, esse post é o de número 700 - bem "redondinho"! Rsss.
   Mas lembremos que o blog original teve início em  26 de julho de 2007.
   Por último, passado o Natal, desejo a todos os "amigos dos amigos" um Feliz Ano Novo!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Boas festas, amigos!

   Já se aproximam as festas de final de ano - Natal e Reveillon. Como dificilmente terei possibilidade de atualizar o blog até o final do ano, vou deixando meu abraço e desejos de muita alegria nesse fechamento de um ano e início do próximo. Portanto, "Feliz Natal e Próspero Ano Novo!", amigos dos amigos.

"Já ouvi os santos, ..."

   "... agora, escutarei Deus!"
   Foi com essa frase que me despedi do meu filhão, ontem. Ele, a caminho da "pelada", eu, do prazer "auricular".
   Explico melhor.
   Minha esposa está de férias, e já viajou. Eu ainda estou trabalhando, antes de nos reunirmos para o Natal e, depois, novamente, para o Ano Novo.
   Em casa, só com o "molecão", após o trabalho, regado à cerveja - para espantar o calor -, resolvi retirar uns DVDs da gaveta. Logo "se convidaram" as guitarras. Jonny Lang apresentou-se sem cerimônia alguma. Foi seguido por Jeff Healey.
   Mas ninguém vai à igreja para rezar só para os santos, há que se orar também para Deus. Então, sob enorme reverência, "saquei" um Eric Clapton. Aliás, "um" não, mas o melhor da dezena de DVDs que tenho dele, "Eric Clapton & friends in concert", com David Sanborn, Sheryl Crown, Mary J. Blige e Bob Dylan.
   Difícil acreditar que seres humanos possam produzir "Breakin' me", de Jonny Lang, e "Angel Eyes", de Jeff Healey. Mas a constatação de que Deus existe vem com músicas como "Tears in Heaven", "Wonderful tonight" e "Layla", por exemplo, nem que esse "Deus" seja aquele das pixações "Clapton is God".
   Se eram Schopenhauer e Nietzsche que consideravam a música a maior expressão artística, eles estavam cobertos de razão!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Hildegarda de Bingen

   A primeira vez que ouvi falar na "senhora" que dá nome ao post foi através de uma amiga chamada Maria - não a "nossa" Maria, amiga dos amigos, aqui do blog, historiadora e teatróloga -, mas uma outra, filosofante amiga, da Universidade Federal Fluminense.
   A pesquisa da "outra" Maria focava justamente essa monja, da virada do século XI para o XII, bastante avançada para a época em questão.
   Para quem não conhece Santa Hildegarda de Bingen - É, a monja é santa, gente! -, vale a pena uma breve incursão pelo Google. É surpreendente. Aqui registro apenas o começo do que lá está: "Santa Hildegarda de Bingen, em alemão Hildegard von Bingen (Bermersheim vor der Höhe, verão de 1098Mosteiro de Rupertsberg, 17 de setembro de 1179), foi uma monja beneditina, mística, teóloga, compositora, pregadora, naturalista, médica informal, poetisa, dramaturga e escritora alemã, e mestra do Mosteiro de Rupertsberg em Bingen am Rhein, na Alemanha".
   O mais curioso, entretanto, não é apenas tudo isso o que a Santa Hildegarda é - o que já é muita coisa -, mas eu ter encontrado uma referência ao seu nome nada mais, nada menos que no livro "Cerveja - Guia Ilustrado Zahar".
   Eis que eu lia o supracitado livro, a fim de conhecer um pouco mais do líquido que adoro beber, quando me deparo com o trecho "Hildegarda e o Lúpulo".
   Lá está dito que: "Registros do século VIII mostram que o lúpulo era comumente cultivado nas abadias, mas não especificamente para uso em cerveja. A primeira menção inequívoca sobre esse uso está nos textos de santa Hildegarda (1098-1179), abadessa de Rupertsberg, abadia beneditina perto de Bingen, não muito longe da cidade alemã de Mainz". Ela teria escrito: "Se alguém pretende fazer cerveja com aveia, ela é preparada com lúpulo".
   Um comentário à parte: o livro indica que Santa Hildegarda "forneceu o primeiro relato escrito sobre o orgasmo feminino".
   Para uma santa, e informado num livro sobre cerveja, o fato é bem curioso!!! Rsss.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

"Um estudo autobiográfico", de Freud

   Para quem deseja entrar no estudo da Psicanálise "pela porta da frente", nada melhor do que um texto do próprio Freud. O problema mais óbvio em relação a isso é que há diversos deles, de várias fases, com diferentes enfoques. Entretanto, há um que me parece ideal para quem quer uma visão histórica geral do movimento psicanalítico, com a apresentação de diversos conceitos que apareceram nessa história... e, como eu disse, escrito pelo "Pai da Psicanálise". Este texto é o que dá título ao post: "Um estudo autobiográfico".
   O texto em questão está incluído no volume vinte da "Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud", publicado pela Imago Editora.
   Em pouco mais de sessenta páginas, "passeamos" com Freud desde a sua infância até os desenvolvimentos mais "modernos", à época do Dr. Sigmund, da Psicanálise. "Encontramo-nos" com o Dr. Josef Breuer, o Dr. Jean-Martin Charcot, o Dr. Jung e vários outros nomes importantes na história pessoal de Freud, mas também na própria história da Psicanálise. Além disso, tomamos "ciência" - ou seja, tornamo-nos conscientes - de conceitos como: katarsis, transferência, associação livre, desenvolvimento bifásico da sexualidade, Complexo de Édipo e de Castração, and so on...
   Pretendo revisitar essa agradável leitura e ir fazendo uns registros aqui no blog. Quem quiser que me acompanhe.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

"Pequena História das Grandes Ideias" (2)

   Na parte "A Política", o autor fala de Machiavelli, e conta uma coisa bem engraçada:
   "Na morte, de acordo com uma anedota, Maquiavel manteve a postura do realista político. Com o aviso de que agora seria o momento de execrar o diabo e toda a sua obra, ele teria dado a resposta diplomática: 'Essa não é uma boa hora para fazer inimigos'".
   Eu até acho que já contei essa estória no blog, mas é engraçado relembrá-la.

"Pequena História das Grandes Ideias"

   Encontrei dois problemas no livro do título do post. Imagino que se trate de enganos na tradução; afinal, o livro é bem escrito.
   O primeiro está na página 39. Lá está escrito que "[Sócrates] quando demonstrou seu desprezo pelos atenienses, não afirmou que sabia mais de qualquer coisa, mas falou de uma voz no ouvido que o convencia desde a infância a fazer coisas ruins".
   Trata-se do famoso "daimon" de Sócrates. Mas o que Sócrates diz é que seu "daimon" não o incitava a fazer nada, só dizia "Não!" quanto às possíveis ações ruins.
   O segundo problema está na página 110. Lá está escrito diz que "A sobrecapa de Leviatã [...] Nela se vê um rei com cetro e espada, mas, quando aproximamos os olhos, descobrimos que esse monarca [o próprio Leviatã] se compõe de um mero indivíduo. Ou como diz Hobbes: o Leviatã é um 'homem artificial'".
   Na verdade, o Leviatã, no desenho, é composto de inúmeros indivíduos.
   É verdade que são enganos relativamente leves, mas que eles mudam a ideia original, mudam.  

A origem das palavras

   Para quem, como eu, gosta de "xeretar" a origem das palavras, vale a pena conferir o site http://origemdapalavra.com.br/lista-palavras/ .

domingo, 11 de dezembro de 2011

Leituras... (3)

   Um livrinho legal que já tinha sido adquirido há algum tempo, mas que não fora iniciado, é "Pequena História das grandes ideias - como a Filosofia inventou nosso mundo". O autor é Martin Burckhardt, e a editora é a Tinta Negra - da qual, eu particularmente nunca tinha ouvido falar.
   O livro é bem gostoso de ler. Em um final de semana dá para ir de cabo a rabo. Se o leitor for mais "seletivo", é possível fazer o mesmo em um dia, apenas.
   Trata-se de pequenos artigos, em média, com quatro páginas cada, que discorrem sobre "invenções" que mudaram a História. A diferença é que não são apenas invenções "concretas", como o GPS, o perfume e etc., mas de ideias, ainda que elas se apoiem em algum tipo de "concretude" para existirem.
   Ao lado das "grandes ideias", por vezes, associa-se o nome de um pensador, de um filósofo. Como os artigos são leves, com um certo ar de humor, tem-se acesso aos pensadores sem aquele ar grave de um manual de Filosofia.
   Entre as grandes ideias temos: Deus Pai, a Verdade, Autoconhecimento, o Indivíduo, a Política, a Evolução, o Inconsciente, Sexo e etc.
   Embora, pela extensão e pela proposta, algumas referências fiquem muito superficiais, não há como negar que é um acesso bastante interessante a algumas ideias filosóficas. E, mesmo que seja só por curiosidade sobre os assuntos abordados, penso que vale à pena a leitura.
   Alguns dados, entretanto, são bem interessantes. Em "A Verdade", por exemplo, o autor fala "do sofista Sócrates (469 a 399 a.C.), que se diferenciou dos demais sofistas por não aceitar dinheiro em troca de seus ensinamentos", que nós sabemos que é a realidade, visto que o método socrático de deixar o outro em enrascadas com o poder de sua argumentação é bem "sofístico". Entretanto, lendo Platão ortodoxamente, vamos ter que rejeitar totalmente essa ideia, e considerar Sócrates um completo adversário dos sofistas.
   Recomendo, não só para os interessados em Filosofia e em História, mas para a garotada em geral, que pode tomar contato com estes assuntos de um modo leve e prazeroso.

Voltem...

   Recebi um e-mail muito engraçado de um amigo, sobre a evolução darwiniana, que gostaria de compartilhar com os "amigos dos amigos".
   Lá vai!
   

sábado, 10 de dezembro de 2011

Leituras... (2)

   Hoje, lendo o caderno "Prosa & Verso", do jornal O Globo, acabei me deparando com os comentários sobre o mais recente livro do neurocientista português António Damásio, entitulado "E o cérebro criou o homem", publicado pela Companhia das Letras.
   É difícil esquecer que este senhor já nos brindou com o maravilhoso "Em busca de Spinoza" - aliás, tenho cá minha edição portuguesa, sob o título "Ao encontro de Espinosa - as emoções sociais e a neurologia do sentir". Uma curiosidade que comprova o sucesso do livro, que constato simplesmente a partir das informações internas, é que, lançado em novembro de 2003, ainda no mesmo mês saiu sua 4ª edição. Tenho a 5ª, publicada em dezembro de 2003.
   Além deste, também escreveu "O erro de Descartes" e "O sentimento de si".
   Mas voltemos ao livro mais recente.
   O jornal apresenta a seguinte ideia: "Neurociência avança no estudo da consciência e se aproxima de questões filosóficas".
   É fato que qualquer um que se dedique à Filosofia da Mente, hoje, terá que "encarar" a neurociência. Mas... é necessário, sempre, o cuidado de não transformar Filosofia em Ciência. Aliás, é um cuidado que devemos ter sempre presente. Eu mesmo, quando li o livro a respeito de Spinoza, empolguei-me "excessivamente" com o "endosso" científico dado ao nosso querido luso-holandês. Passado algum tempo, continuo adorando a perspectiva de que Spinoza pode ter tido intuições filosóficas que, hoje, podem ser cientificamente comprovadas, mas não deixo de registrar que não ache que sua filosofia tenha necessariamente que passar por esse crivo científico para ser considerada válida.
   De qualquer modo, vale à pena a leitura dos dois textos que foram publicados pelo jornal: uma entrevista com o cientista e um pequeno artigo da professora Maria Cristina Franco Ferraz.
   Purificados de alguns preconceitos, acho que podemos ver nas duas posições grandes contribuições à nossa reflexão.
   Damásio sugere que Filosofia/Psicologia e Biologia/Neurociências são campos de conhecimento complementares, mas com barreiras rígidas entre eles, e que sua intenção é promover o diálogo entre esses campos.
   Perguntado sobre os possíveis atritos entre as diversas posições, Damásio acha que eles advêm dos métodos, principalmente, pois "da perspectiva de artistas e filósofos, a objetividade científica pode parecer redutora". Particularmente, não sei se haveria como não ser redutora, mas...
   Fiquei curioso em saber como o texto trata o que o entrevistador chama de "pontos centrais do livro", que dizem respeito ao "estudo de como o cérebro constrói a mente e como torna essa mente consciente", visto que Damásio diz que "obtivemos uma série de progressos" quanto a isso, mas reconhece que "ainda há questões em aberto".
   Ao final da entrevista, Damásio parece abrir o diálogo com o texto que vem a seguir, da professora Maria Cristina, visto que ele afirma que fica "desapontado quando dizem que a neurociência reduz tudo ao cérebro e a circuitos nervosos" e que "não se pode isolar o cérebro disso tudo [afetos, relações sociais, a justiça, a política, a economia]. Não é vantajoso neurologizar todos os problemas que temos".
   O texto que se segue tem o título de "O mal-estar na 'cultura somática'".
   Nele, a professora cita o livro "O erro de Descartes", indicando que "esse 'erro' consistiria na compreensão do humano baseada em dualismos empedernidos: a cisão entre o corpo e algo que não seria corpo - quer se denomine alma, espírito ou mente" e assinala que "o problema é que a tentativa da ultrapassagem dos dualismos [...] exige a mudança radical do próprio conceito de 'corpo', sob pena de se manter tributária do 'erro' que pretende corrigir". Realmente, é um cuidado que se deve ter.
   Afirma ainda que "a somatização do 'eu', disseminada midiaticamente, produz novas 'verdades' assumidas de modo irrefletido, na medida em que são caucionadas pelas neurociências e ancoradas no poder de persuasão permitido pelas tecnologias de imagem cerebral". Novamente acerta, a professora Ferraz, quando chama atenção para essa "adesão cega" às verdades científicas, principalmente pelo leigo, visto que o cientista, da mesma forma que o epistemólogo, não tem mais essas ilusões quanto a "verdades absolutas" produzidas pelo seu saber.
   No entanto, a professora parece reforçar o desapontamento do cientista, quando fala da "tendência à redução de todo o campo do vivido à atividade cerebral espetacularizada em neuroimagens, dispensando a narração" e que "quando o mal-estar é reduzido ao mau funcionamento da materialidade do corpo, o sujeito apto a narrar suas experiências e a elaborar traumas e lutos se emudece", pois acusa de reducionismo radical à neurociência.
   Em minha opinião, a mente, em alguma medida, pode continuar sendo "suportada" materialmente, mas gozar de certa autonomia. Não seria possível, então, reduzir suas operações ao suporte material, mas também não seria correto dispensar as considerações sobre este, no que concerne às atividades da mente.
   De qualquer modo... outra sugestão de leitura fica dada. Segunda-feira, compro o meu exemplar.

Leituras...

  Férias chegando... Período das leituras não obrigatórias se aproximando. Obaaaa!
   Se os amigos quiserem uma sugestão, aí vai:
  "Notícias no espelho", de José Arthur Giannotti. O livro é uma coletânea dos textos publicados pelo filósofo brasileiro no jornal "Folha de S. Paulo", entre os anos de 2000 e 2010.
   Segundo a Introdução, escrita por Luciano Codato, também professor de Filosofia, da Unifesp, o livro é "destinado a um leitor não inteiramente versado na tradição filosófica". O interessante, entretanto, é que, conforme ainda indica Codato, "importam menos as notícias e mais o espelho refletindo a própria época, a consciência do tempo presente, dos homens presentes, da vida presente".
   Interessante, também, é a expressão usado por Codato para falar do solo a partir do onde Giannotti constrói suas reflexões: "... a matéria de Giannotti sempre foi a racionalidade irracional de nossas ações". (Grifo meu)
   O que eu achei bem estimulante foi a partição que foi feita no material escrito. Há uma seção "Em busca do sentido da arte", de fundo estético; outra "Questões morais"; mais outra "Em volta da política", além de mais algumas. Deste modo, o leitor pode escolher o tema que mais lhe agrada e esgotá-lo primeiro... ou até dispensar aqueles outros temas que não lhe falam nada.
   Sei lá... cada um que leia como quiser. Rsss. Eu já estou lendo o meu! 
   

Gosto não se discute...

   Aliás, falando em Hume, a questão básica do ensaio estético de que falei no post anterior é refletir, conforme o título sugere, sobre a existência real de um padrão - ou seja, de uma referência universalmente válida - para o gosto "mental" - isto é, nossa percepção de prazer, ou desprazer -, no que concerne às obras de arte.
   Antes de postar algo sobre o assunto, gostaria que os amigos refletissem sobre a questão... principalmente, os amigos artistas do blog.

O ateísmo de Hume

   Não é incomum, embora não seja o correto, repetirmos acriticamente informações que vamos obtendo através de várias fontes. Eu não sou exceção a isso... infelizmente.
   Uma informação que continuo passando adiante até hoje é a que diz respeito a Hume (1711-1776) ter sido o primeiro filósofo a se assumir "ateu". Escrevo "até hoje" porque ainda não encontrei algo que negasse diretamente a informação inicial... entretanto, também não achei alguma coisa que a validasse definitivamente. Prometo tentar, em leituras vindouras, chancelar essa informação... o que não parece, entretanto, uma tarefa simples; afinal, segundo consta, Hume, apesar de abertamente declarado infiel pela Igreja escocesa, não se manifestou a respeito disso.
   De qualquer forma, se não era ateu, certamente um crítico das religiões nosso brilhante escocês era. Isso fica claro em vários dos seus escritos, principalmente em "The natural History of religion", de 1757.
   Entretanto, estava eu lendo um pequeno ensaio de Estética, chamado "Do padrão do gosto", de 1757, quando me deparei com duas críticas severas à religião... ou melhor, a duas religiões: o islamismo e o cristianismo.
   A primeira delas, se fosse feita hoje, certamente colocaria Hume ao lado de Salman Rushdie como perseguido pela imposição da pena de morte por parte de alguns muçulmanos.
   Escreve Hume:
   "Os admiradores e seguidores do Corão insistem nos excelentes preceitos morais que se encontram dispersos por essa obra caótica e absurda. [...] Mas como podemos saber se o pretenso profeta conseguiu realmente chegar a uma justa concepção da moral? Concentremo-nos em sua narração, e logo veremos que dá seu aplauso a instâncias como a traição, a desumanidade, a crueldade, a vingança e a beatice, que são inteiramente incompatíveis com a sociedade civilizada [...] cada ação só é condenada ou elogiada na medida em que é benéfica ou prejudicial para os verdadeiros crentes".
   Xiiiii... melhor nem comentar essa!
   Sobre o cristianismo, nosso filósofo escreve:
   "Uma das características essenciais da religião católica romana é que ela precisa inspirar um ódio violento por toda outra forma de crença, e conceber todos os pagãos, maometanos e hereges como objetos da divina cólera e vingança. Tais sentimentos, muito embora sejam na realidade altamente condenáveis, são considerados virtudes pelos fanáticos dessa comunhão, e são representados em suas tragédias e poemas épicos como uma espécie de divino heroísmo".
   Aqui, só diminui o impacto da crítica a citação de "pelos fanáticos dessa comunhão", embora isso só apareça depois de ter sido dito que era essencial à religião católica romana "inspirar um ódio...", sem a particularidade do caso dos "fanáticos".
   Para alguém que questionou a "causalidade" e o "eu" - duas coisas aparentemente tão óbvias, pelo menos para o senso comum -, não é muito de se estranhar, não é? Rsss.

Avaliação da Uff

   A Universidade Federal Fluminense está "bem na fita", segundo o que foi publicado no jornal O Globo, caderno Niterói.
   Lá está escrito:
   "A UFF recebeu nota máxima da Comissão de Avaliação do MEC pela coerência das políticas de ensino, pesquisa e extensão; ações de responsabilidade social; comunicação com a sociedade; políticas de pessoal e gestão".
   Eu só sei que a passagem dessa comissão pelas nossas instalações sempre causa tensão. Rsss. Mas... valeu a pena!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

"Espaço para Filosofia"

   Não costumo discordar de meu assertivo compadre, mas desta vez fá-lo-ei.
   Disse meu dileto "irmão" que "Aqui nao é espaço para isso, pois trata-se de Filosofia"... e eu pergunto: O que não é Filosofia, caro compadre? Essa estória sobre a qual você refletiu, por exemplo, trata de Ética - assunto claramente filosófico. Portanto, o que você fez foi, em alguma medida, filosofar. A grande diferença é que não usou ferramentas filosóficas para tal.
   Mas pensemos juntos.
   Diz você que a Justiça absolveu a viúva do milionário da Mega-sena e que achou essa decisão problemática. Logo a seguir, você indica que a "jovem senhora" alegou carência sexual para efetuar suas "saliências", e que soube que poderia vir a ser excluída do testamento, coisa e tal, e que seu milionário marido foi morto, supostamente, pelo policial seu amante.
   Sem querer, em hipótese alguma, defender a Sra. Adriana, visto que nem conheço os detalhes do processo - e nem advogado sou -, acho que as coisas estão um pouco "confusas" na sua apresentação.
   Senão vejamos.
   O que está em julgamento é a participação da senhora na morte do marido... e foi disso que ela foi inocentada.
    O caráter da "moça" não está em jogo, muito menos suas atividades sexuais extramatrimoniais. Se ela traía o marido; se seu amante era policial; se ela sabia que iria ser excluída do testamento, e até mesmo se seu amante matou seu marido, essas são coisas que não dizem respeito efetivamente à questão de ela - afinal, é ela que está em julgamento - matar ou não o marido.
   Os juízos de valor são secundários em relação à questão principal.
   Agora, pensemos por uma outra perspectiva: o Sr. Mega-sena conquistou o amor de sua jovem manicura - posteriormente Sra. Mega-sena - ou apenas "comprou-lhe" a companhia? E se apenas comprou-lhe a companhia, saberia que ela poderia vender-se a outro, talvez não por dinheiro, mas por prazer.
   Você afirma que uma mulher "correta" se separaria. Volto a contestar seu pensamento. Afinal, uma pessoa "correta" nem teria se "vendido" pela oferta inicial que o Sr. Mega-sena fez. Tendo ela aceito a oferta, o marido não poderia esperar grandes atos de "correção" dela. Nada a estranhar, pelo menos quanto à traição... mas, obviamente, não quanto à morte dele.
   Volto a dizer que não tenho o desejo de defendê-la, mas acho que uma avaliação dessas, que, como eu disse, envolve totalmente o campo ético da Filosofia, precisa ser feita com um pouco mais de atenção. Precisamos separar, com vagar, o que se poderia esperar dela e o que tivemos. Esse seria o julgamento ético, que talvez não "inocente" nem o Sr. Mega-sena. Mas... o Tribunal não está lá para fazer esse tipo de juízo, mas o Penal. Aí, talvez tivéssemos que nos debruçar mais sobre o caso antes de discuti-lo.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Novos amigos...

   Pelas dificuldades que tenho tido em atualizar o blog, acharia muito improvável o número de "amigos dos amigos" crescer. Entretanto, foi justamente isso o que aconteceu.
   Portanto, com muito mais motivos, desejo a esses novos amigos que entraram - o Fred Cabral, o Kadu Santoro e o Jhonatan, que até já nos ajudou com sua colaboração - um grande abraço, acolhendo-os com o maior carinho.
   Espero que, como já fez o Jhonatan, os amigos possam postar seus comentários, seja sobre o que já foi "começado" a pensar aqui, seja sobre o que eles têm em suas cabeças e que pode suscitar novos pensamentos.
   Grandes abraços e sejam bem vindos! E... já somos 69 "amigos dos amigos"!

Aniversário

   Quero agradecer aos queridos amigos Maria e Mundy - meu compadre - pela lembrança do meu aniversário e pelos "Parabéns" enviados via blog.
   Muuuuuuuito obrigado.
   

O "critério" nietzscheano (2)

   Aproveito um post para fazer algumas considerações sobre os comentários do Aníbal e do Jhonatan, em relação ao nosso amigo Nietzsche.
   Pessoalmente, acho que Nietzsche foi um pensador com "insights" poderosos. Entretanto, a formalização filosófica dessas primeiras intuições me parece meio "confusa". Mesmo reconhecendo que qualquer um pode modificar sua própria opinião ao longo da vida, bem como que pode - e, talvez, até deva - refletir a partir de diversos pontos de vista distintos - conforme o "bigodudo" propunha com seu perspectivismo -, há que se ter um certo "rigor" para fazer Filosofia.
   O texto nietzscheano, muitas vezes, é de uma riqueza estética incrível. Acho isso ótimo. Aprecio muito um modo de escrever criativo e, por vezes, até poético. Mas, penso, a forma não deve ultrapassar em riqueza o conteúdo. E, aqui, muitas vezes, acho que Nietzsche mete os pés pelas mãos.

   Um exemplo claro: Nietzsche questiona o modo como entendemos a linguagem. Em alguma medida, parece antecipar-se à Filosofia da Linguagem, nossa contemporânea. Portanto, "Nota 10" para a "intuição", mas... as idas e vindas nos textos tornam as ideias tão, desnecessarimente - imagino - complexas, que dificulta a expressão clara de tudo o que tem a dizer. Quando lemos os pretéritos Locke, Berkeley e os atualíssimos Quine e Chomsky, vemos uma linearidade na condução do assunto, que concordamos não só com a intuição básica, mas também com toda a teoria produzida a partir dela.
   Sobre a questão do Eterno Retorno, penso que uma interpretação bastante razoável seria aquela referente à ação moral adequada - obviamente, entendendo "moral" sob uma perspectiva menos "moralista"... com licença do jogo de palavras. Desta forma, acabaria por concordar com nosso amigo Jhonatan. O problema é que a leitura admite claramente uma perspectiva cosmológica da noção apresentada - ou melhor, "reapresentada", se considerarmos os estoicos - por Nietzsche. Fica difícil, por uma leitura direta, rejeitar categoricamente essa perspectiva. Aliás, ainda teríamos que, dando reconhecimento às tais "experimentações perspectivistas" nietzscheanas, reconhecer que essa é uma possibilidade de leitura.
   Em relação ao "sofrimento", não o estou vinculando, no post, aos sofrimentos psicológicos relativos à culpa ou ao remorso. Não, não! Estou falando dos sofrimentos reais, que contrariam, pelo menos aparentemente, o aumento da "Potência", se falássemos à la Spinoza, ou da "Vontade de Potência", conforme o vocabulário nietzscheano. Um exemplo "rasteiro": descubro que tenho câncer terminal. Estou morrendo. Esta situação de sofrimento, obviamente, vai contra a minha Vontade de Potência de continuar existindo. Mas, segundo o "amor fati", tenho que aderir a essa experiência amando-a... repito, AAAAMANDO-A!!!
   Isso não parece estranho?
  

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Esse ano é no dia 17...

   Visto que não tenho frequentado o blog com a frequência ideal, sabendo, portanto, que posso demorar a voltar, vou logo deixando registrado que esse ano o Dia Mundial da Filosofia cai em 17 de novembro - como sempre, a terceira quinta-feira deste mês especial... em que, por acaso, faço aniversário. Rsss.

O barco de Neurath

   Otto Neurath (1882-1945) foi, entre outras coisas, filósofo. Associamos seu nome sempre ao Positivismo Lógico e ao Círculo de Viena. Certamente não serei eu a desfazer essa associação apelando aos dotes náuticos de Neurath, ao falar de seu barco. Na verdade, reforçarei os vínculos do austríaco com a Epistemologia.
   Neurath disse: "Somos como marinheiros, que têm de reconstruir seu navio em mar aberto, sem jamais poder decompô-lo em uma doca e erigi-lo novamente a partir de suas melhores partes".
   Quine, que gostava muito dessa citação, a ponto de usá-la como epígrafe em Word and Object, explica-a como dizendo respeito às modificações que ocorrem na ciência, que têm que acontecer enquanto usamos um modelo ainda não perfeito de embarcação/teoria. Não há como parar o barco; levá-lo para um estaleiro que procederá à correção absoluta de seus defeitos. Há que navegar... sempre.
   Descartes que não encontre Neurath lá no Hades, com suas ideias de começar o edifício do conhecimento a partir do zero, destruindo tudo que era tido como conhecido - ou seja, destruindo o barco enquanto se navega nele.


Já estamos quase no Notas de novembro

   Já estamos chegando próximo ao Notas Filosóficas de novembro, e eu nem registrei como foi nosso último encontro. Espero que o Silvério e a Faiga desculpem essa minha falta. Aproveitando, entretanto, um tempinho "disponível", quero comentar como foi o Notas de outubro.
   Primeiramente, há que se dizer que o quórum está aumentando "perigosamente". Explico-me. O evento é tão bom, que o número de pessoas presentes está tornando o espaço físico reduzido. E a equipe da Faiga tem que se desdobrar em "criar" espaços para acomodar o pessoal.
   Nem é preciso dizer o quanto deve ser legal para o professor Silvério e para a organizadora Faiga perceberem que seus esforços envolvendo a divulgação da Filosofia estão dando frutos e sendo reconhecidos.
   Mas, voltemos ao evento.
   Desta vez, além do compadre Paulo, consegui "arrastar" minha esposa. Na verdade, estou sendo pretensioso; quem a "arrastou" foi principalmente o Gonzaguinha. Afinal, era ele o artista que "apoiaria" a apresentação do Silvério.
   A ida de minha "senhora" foi bastante apropriada - não estou me referindo ao seu "encontro" com um velho ídolo, o Gonzaguinha, mas à possibilidade de ouvir a palestra sobre a própria Filosofia.
   O Silvério é sempre feliz nos seus exemplos e nos "links" que faz com filmes. Um deles foi "O show de Truman", com Jim Carrey.
   O comentário de nosso Silvério dizia respeito ao trecho em que a personagem de Carrey percebe a queda de um holofote que faz a iluminação de shows e estranha o fato. Os diretores daquela espécie de "Big Brother", da qual a personagem de Carrey participa sem saber, veem as imagens e decidem contornar a situação. Fazem, então, ser veiculada na estação de rádio que o infeliz manipulado ouve uma notícia explicando que o tal holofote caiu de um avião. Tomando isso como uma explicação plausível - um holofote cair de um avião??? -, nosso amigo continua a viver "sua" vida.
   A ideia era expor o nível de crítica do senso comum a respeito da realidade.
   Gostei do exemplo... e fiquei com ele na cabeça.
   Bem... foi tudo ótimo. Ah... esqueci de dizer que a "filhota" também foi. Quem sabe, no futuro, a menina cursa Filosofia também?
    O Notas de novembro promete. Segundo Silvério e Faiga, haverá um "revival" dos melhores momentos do ano.
   Agora, voltando ao exemplo do "Show de Truman".
   Poucos dias depois, estava eu lendo "Absolu et choix", de Jean Grenier. Essa leitura é fruto de minha "ideia fixa" de crítica ao conceito de "liberdade". O livro começa assim: "O problema da liberdade tem sido posto e resolvido sob perspectivas diferentes, a psicológica, a moral, a teológica e a científica. Nós a pomos aqui sob a perspectiva ontológica, partindo da ideia de Absoluto". É... dá água na boca, não é? Rsss. Obviamente, não há possibilidade de discutir o tema "liberdade", ainda mais partindo, como diz o autor, do "Absoluto", sem tocar no nome de Spinoza... e é isso o que acontece no livro.
   Mas por que eu estou falando isso? Eu explico!
   O livro indica, em determinado momento: "O filósofo não se resigna; ele protesta contra o real, e sua explicação do mundo, mesmo se ela concorda com a do sábio, é muito diferente, pois ela não é uma simples explicação, mas uma justificação".
   É interessante observar que Platão dizia que nem os ignorantes nem os sábios precisam da Filosofia, só esses "seres intermediários" que somos nós. Provavelmente, no caso do "Show de Truman", nem ele se valia da Filosofia, pela sua ingenuidade, nem os diretores, pelo seu excesso de confiança de que eram os "sábios", quando, talvez, na realidade, fossem apenas mais outras engrenagens no esquema de manipulação midiática.
   Ah... uma última colocação. O roteiro do evento continha uma série de trechos de poesias de Alberto Caeiro. Não pude deixar de perguntar o porquê da presença de um poeta - ou heterônimo - tão avesso ao filosofar - no sentido de especular sobre a realidade -, um legítimo sensualista, quando a proposta é justamente este pensar filosófico. Ao que Silvério respondeu que era justamente para provocar o pensar.
   Ponto para ele!

O tempo que me "falta"...

   Um amigo meu diz que "tempo é escolha". Obviamente, é uma escolha dentro de alguns limites... como são praticamente todas as escolhas da vida.
   Em função dessa afirmação do meu amigo é que coloquei entre aspas a "falta" do meu tempo. Entretanto, mesmo se eu assentir à proposição dele, vou fazer questão de argumentar que as opções disponíveis têm limitado bastante minha "escolha"... de, por exemplo, não estar aqui sempre registrando alguma coisa nova. 

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Dia das Crianças... bem atrasado

   Meu compadre Mundy registrou, com a habitual rapidez, um comentário sobre o Dia das Crianças. Eu, com a habitual lentidão, deixo aqui uma charge, publicada no jornal Folha de São Paulo, com um chamamento a nós, pais, sobre a relação com nossos filhos, principalmente nessa época de consumismo louco... e de falta de tempo - Ai, ai, ai, por que eu escrevi essa última parte?
   Aí vai:
 

"A arte imita a vida" (2)

   Há uma interpretação desta passagem de Aristóteles feita por ninguém menos que Fernando Pessoa, em suas Obras estéticas. Escreve ele:
   "O fim da arte é imitar perfeitamente a Natureza. Este princípio elementar é justo, se não esquecermos que imitar a Natureza não quer dizer copiá-la, mas sim imitar os seus processos".
  
   Concordamos, então, Pessoa, que "cópia", neste sentido, se refere mais à forma de produzir do que ao conteúdo produzido!


O Ministério da Saúde adverte...

... overdoses de Hegel e Quine pode fazer mal à saúde mental... e à atualização de blogs! Rssss.
   Brincadeiras à parte, realmente, meu tempo está dividido entre o grandioso Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) e o interessantíssimo Willard Van Orman Quine (1908-2000).
   Aliás, voltanto às brincadeiras, na Alemanha do século XVIII, ter os nomes "Georg", "Wilhelm" ou "Friedrich" era como chamar-se "João", "José" e "Silva", no Brasil, ou "Manuel" e "Joaquim", em Portugal... Já repararam?
   Brincadeiras incluídas, ainda... Que raios de nome americano é esse - "Willard Van Orman", gente?! E mais... tanto o americano Quine quanto o inglês Russell viveram quase cem anos. Será que ser filósofo, lógico e anglófono garante longevidade? Rsss.
   O diagnóstico preciso de que eu não estou realmente bem "de cabeça" é que, para aliviar a pressão hegeliana e quineana, tenho espairecido lendo... ... ... Nietzsche?!?!?
   Chamem um psiquiatra, rápido!!!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

"A arte imita a vida"

   A frase do título é uma modificação de "A arte imita a natureza", de Aristóteles.
   A frase original, registrada na Física, Livro II, envolve alguns conceitos que estão bem distantes daqueles que parecem ser evocados à primeira vista.  Aristóteles trabalha com os conceitos de: "arte" (techné), "imitação" (mímesis) e "natureza" (physis). Não se trata, portanto, da "arte" como poiesis e da "vida" como práxis.
   Visto que a "natureza", no caso específico da frase aristotélica, se refere a algo como a característica mais essencial da coisa, ficamos com a ideia de que "a técnica repete no artefato manufaturado a essência da coisa natural".
   Entretanto, há um outro aspecto interessante, que diz respeito efetivamente à arte, no sentido atual que usamos. Mas desta vez o texto de referência é a Poética, também de Aristóteles.
   Nesse texto, o Estagirita fala especificamente da poesia - que, na Antiguidade, tinha um alcance bem maior do que a mera poesia lírica, como bem sabemos. Lá, Aristóteles deixa bem claro que a poesia, nesse sentido mais lato, é imitação.
   Até aqui, parece que estamos no caminho da frase que entitula o post - "A arte imita a vida". Entretanto, Aristóteles observa que o que é imiatado não são pessoas, mas ações. E mais, a "imitação" não é mera cópia. Caso fosse isso apenas, estaríamos fazendo simplesmente História com métrica e ritmo. A poesia, ou a trama que nela se desenvolve, deve ser verossímil, mas não "verdadeira".
   Porém, se é assim, "a arte imita... mas não copia a vida".

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Mais um "Notas filosóficas"

   O "Notas filosóficas" de setembro - tive um cuidado enorme para não errar o mês, viu, compadre? Rsss - aconteceu ontem.
   Comecemos pela música.
   Tivemos a presença da excelente cantora Carla Moraes interpretando Adriana Calcanhoto, acompanhada pelo virtuosismo do violinista Silênio Peres (espero estar registrando corretamente o nome). Nada menos que ótimo!!!
   Passemos à Filosofia.
   Nosso querido professor Silvério inovou. Em vez de escolher um filósofo para fazer "dobradinha" com as músicas, optou por um tema. Aliás, um tema amplo e "apetitoso": o amor.
    Com a competência de sempre, Silvério usou o tema como um ímã, atraindo diversos filósofos, como Platão, Schopenhauer e Kierkegaard, por exemplo, para apresentar suas doutrinas sobre o amor.
    Aberto o espaço - democrático - para as perguntas, ouvimos os "amigos da sabedoria" da plateia fazendo suas intervenções, e Silvério respondendo, mas também tentando provocar nas pessoas um pensar autônomo. Muito legal, mesmo!
   Parabéns, Silvério e Faiga, esta última pela organização impecável do evento. Mais uma "Nota Dez!!!" para eles e para a equipe do Occhio Caffé.
   Ah... desta vez, consegui convencer um dos meus compadres, o Paulo, a ir. E, como não poderia deixar de ser, ele gostou, adiantando, inclusive, que irá ao próximo. Em relação a este futuro encontro, nosso amigo Silvério já deixou "vazar" a informação de que teremos como "fundo musical" Gonzaguinha. Como fã do artista que é, duvido que minha esposa não esteja presente.
   

Somos 66...

   Antes de tudo, tenho que comemorar a chegada de mais dois amigos dos amigos. Temos, entretanto, um probleminha: só consegui identificar a nova amiga Mariliza... por causa da foto. Nosso(a) amigo(a) que chegou antes dela, como não tem foto, fica meio perdido(a) na lista.
   De qualquer modo, os dois são bem vindos. 
   Já dei uma espiadela, e vi que a Mariliza é professora de Filosofia. Espero que se sinta à vontade para criticar os posts, sugerindo, inclusive, novas perspectivas dos assuntos abordados.
   Quanto ao outro(a) amigo(a), desejando-lhe, também, as boas vindas, prometo tentar descobrir quem é. Rsss. 

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Em época de Rock in Rio...

   ... e de guitarras, sugiro um vídeo de Armandinho e Stanley Jordan tocando juntos... nada mais, nada menos do que Hendrix!!!
    Agora, como "Claptonmaníaco" que sou, não posso deixar de dizer que vale à pena conferir também a mesma música apresentada por Eric Clapton, David Sanborne e Sheryl Crow... em http://www.youtube.com/watch?v=l6F2qExLsic&feature=related

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Algumas críticas a Hegel

   Battista Mondin, em seu "História da Filosofia - volume 3", registra algumas críticas interessantes ao pensamento de Hegel.

   "... erro... no conceito hegeliano de devir: o devir não consiste na síntese de ser e não-ser, mas consiste de ato e potência, ambos, modos de ser.
     É errôneo também o conceito de ser, identificado com o ser em potência, e este, por sua vez, identificado com o não-ser, o nada... O ser poderia ser entendido deste modo se fosse considerado tão indeterminado que não tivesse nenhuma perfeição; na realidade, porém, o ser é a raiz de toda perfeição, inclusive das do devir e do pensamento, que são modos de ser.
   Merece crítica também a identificação da realidade com o pensamento e a consequente conclusão de que o pensamento põe a realidade. O pensamento não põe, nem cria a realidade; ele o atesta.
    É exagerada a procura de sistematicidade: a existência concreta não se submete ao sistema. É excessivo o otimismo que considera o mal como simples propedêutica ao bem e que pretende elevar o homem ao 'saber absoluto', sem levar em conta os limites evidentes da capacidade humana.
    É absurda, finalmente, a pretensão de construir, graças ao método dialético, um sistema acabado, uma vez que semelhante método exclui a possibilidade... de um ponto de chegada, porque ...[este deve] jazer sob a lei triádica da tese, antítese".
  
   Eu deveria ter deixado de fora aquela crítica à "exagerada procura de sistematicidade", com a observação de que "a existência concreta não se submete ao sistema"; afinal, isso poderia "respingar" no nosso querido Spinoza. Mas, eu corro o risco de deixá-la aqui, visto que nosso querido luso-holandês tem um sistema muito mais "redondo, claro e acabado".
   De qualquer forma, vale à pena a tentativa de entender o obscuro Hegel... até para poder, eventualmente, criticá-lo. Eu, particularmente, não me atrevo.

Hegel e a arte

   Segundo Hegel, a função da arte é expressar o Absoluto em forma sensível.
   Definição que já representa, penso, um desafio muito grande para a arte. Mas a "obra de arte" e o "valor artístico de uma obra" enfrentam um desafio maior ainda, segundo as definições a seguir:
   Uma obra é artística somente quando é manifestação concreta do Absoluto.
   Noossa!!! Manifestação concreta do Absoluto?!?!
   O valor artístico da obra é proporcional à sua capacidade de tornar visível o Absoluto.
   Coitado do pobre do artista, que tem que "visibilizar" esse Absoluto!
   Uma pergunta, agora: tudo o que vemos não é "manifestação concreta do Absoluto"? Então, tudo é arte?
   Brincadeiras à parte, a verdade é que já estaríamos falando da última etapa do desenvolvimento do Espírito, onde apareceria a tríade arte-religião-filosofia.
   Apesar de não ser artista, Hegel considera sua a obra mais bem acabada possível, sendo a Filosofia em que o Absoluto se torna perfeitamente consciente de si mesmo.
   

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Schelling, "comentador" de Spinoza

   Friedrich Wilhelm Joseph Schelling (1775-1854) era um verdadeiro gênio filosófico. Com apenas 21 anos de idade, era célebre por ter escrito "Cartas filosóficas sobre o dogmatismo e o criticismo" (1796), em que delineava seu sistema filosófico como um idealismo que tentava superar tanto o determinismo absoluto de Spinoza quanto o idealismo afirmador da liberdade de Fichte. Já com 22 anos, apresentava uma proposta mais acabada desse sistema, com "Ideia de uma filosofia da natureza" (1797).
   Não é estranho, portanto, que, contando com apenas 24 anos, tenha sido convidado a Jena, para substituir Fichte (1762-1814) - que, acusado de jacobinismo e panteísmo, teve que abandonar a universidade.
   Por outro lado, surpreende-me uma carta de Schelling ao seu amigo mais novo, Hegel (1770-1831), tratando sobre seu sistema, no que diz respeito às referências feitas a Spinoza.
   Escreve Schelling:
   "... para mim também os conceitos ortodoxos sobre Deus deixaram de existir [...] nós podemos ir além de um Deus pessoal. Pensarás, talvez, que entrementes me tornei spinozista! Não temas! Explicar-te-ei logo em que sentido. Para Spinoza é o mundo (o objeto, de modo absoluto, contraposto ao sujeito) que é tudo; para mim, é o eu.
   A verdadeira diferença entre filosofia crítica e filosofia dogmática parece-me consistir no fato de a primeira partir do eu absoluto (que ainda não está determinado por nenhum objeto), e de a segunda partir do objeto absoluto, isto é, do não-eu.
   Desenvolvidas logicamente e em profundidade, a primeira leva ao sistema de Spinoza, a segunda ao de Kant".
   Antes de qualquer consideração, há que se destacar que o "eu, que é tudo", para Schelling, não representa o mesmo "eu" oposto ao "não-eu", de Fichte. Seu "absoluto" é a fusão de todos os opostos - eu e natureza; sujeito e objeto; pensamento e ser.
   Passemos ao meu estranhamento, que absolutamente não tem a ver com a posição schellingueana de defender um Deus que não seja pessoal - afinal, essa é justamente uma posição de Spinoza.
   Até aqui, portanto, tudo bem. Sigamos, pois.
   Custou-me entender a afirmação de Schelling de que "para Spinoza o mundo (o objeto, de modo absoluto, contraposto ao sujeito) é tudo". Em momento algum Spinoza opõe "mundo"/"objeto" a "sujeito". Até mesmo sua epistemologia - lugar privilegiado para uma oposição desse tipo - determina que o verdadeiro conhecimento se dá quando o "sujeito" se percebe tão pertencente ao "Todo", à Substância, enquanto modificação desta, quanto o é o "objeto". Desta feita, o que marca "sujeitos" e "objetos" - se é que eles realmente são considerados com essa clareza e distinção no pensamento do luso-holandês, visto que só lemos sobre "modos finitos" -, na filosofia spinozana, é justamente o fato de eles não serem o próprio "tudo". Não concordaria, então, com Schelling, que Spinoza teria alinhado o objeto-mundo ao lado do "tudo", em oposição a uma possível sujeito-eu.
   A minha estranheza aumenta mais ainda, quando Schelling começa a tratar dos dois tipos de filosofias possíveis: filosofia crítica e filosofia dogmática. É importante não deixar de lado que Schelling dialogava filosoficamente, em seu momento histórico, com Fichte. Poder-se-ia imaginar, então, uma aproximação terminológica entre "filosofia crítica" e "filosofia dogmática", schellingueanos, a "idealismo" e "dogmatismo", fichteanos. Entretanto, como sua primeira grande obra opunha "criticismo" e "dogmatismo", para propor o seu sistema, que seria, esse sim, o verdadeiro "idealismo" - segundo suas pretensões -, ficaremos com um paralelo aparentemente mais simples e claro pensando "criticismo" como "filosofia crítica" e "dogmatismo" como "filosofia dogmática" - afinal, Fichte indicava que "idealismo" seria o sistema que desconsiderava a existência da "coisa em si", restando ao "dogmatismo" a posição kantiana, de manutenção da "coisa em si" no mundo, ou até, enquanto mundo.
   Ora, se a "filosofia crítica", conforme Schelling - e não como costumeiramente se associa a Kant -, parte do "eu absoluto", como sua radicalização levaria ao sistema de Spinoza, se o próprio alemão indicou que o holandês fundava sua doutrina no "objeto, de modo absoluto"?
   Para salvar Schelling, só posso crer que haja um erro de sequência na tradução da carta em questão. Entretanto, se sai "vivo", Schelling não deixa de ficar "chamuscado" nessa situação. Afinal, não me parece ter entendido perfeitamente bem o "monismo substancial" de Spinoza - sem sujeito ou objeto absolutos. 
    

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Uhu... somos 64 "amigos dos amigos"!!!

   Sejam bem vindos ao "Spinoza e amigos", Lorena e Sérgio José. Fiquem completamente à vontade para comentar - concordando ou discordando - os posts, e mesmo para sugerir novas discussões.
   Grandes abraços!

O "critério" nieztscheano

   Insiste-se em dizer que Nietzsche só "destruía" a sociedade e cultura, com suas críticas. Entretanto, seus admiradores sempre o defendem dizendo que, a esse momento "negativo", segue-se um outro "positivo", onde Nietzsche efetivamente estabelece um critério para uma "boa sociedade" - aquela dos "valores transvalorados". Esse é o chamado "Critério da Vida".
   Tudo parece resolvido, então. Se temos um critério, fica fácil julgar a partir dele. Nietzsche não seria um mero "niilista" radical, então.
   Surge, entretanto, uma questão: se existe um critério - que, etimologicamente, significa algo como um "instrumento para julgar" -, há que se ter um "juiz". O juízo passará, necessariamente, pelo crivo de uma "razão" - ainda que essa seja uma "razão" ampliada, envolvendo, por exemplo, o próprio corpo.
    Sabemos, pelo próprio Nietzsche, que os "parâmetros" que serão utilizados em paralelo com esse "instrumento para julgar" são a afirmação ou a negação da "Vontade de Potência". Depreende-se, então, que há "liberdade" de escolha. Escolher-se-ão, obviamente, os valores que afirmam a "Vontade de Potência".
   Surge, então, a dificuldade de explicar como se dá essa escolha livre em um mundo que "transcorre" num "eterno retorno do mesmo".
   Mais uma... Se é preciso uma adesão completa à "vida", através do "amor fati", seja sofrendo, seja gozando, onde estará a afirmação da "Vontade de Potência" no sofrimento?
   Quanto mais eu leio Nietzsche, mais eu acho que ele se enrolou nas próprias ideias.
  

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Bamberg... A cerveja?

   Naquela degustação de cervejas, na Cervisia 1516 - que eu já comentei por aqui -, uma das primeiras cervejas que bebemos foi uma Bamberg Pilsen.
   À época, a única coisa que eu pensei foi "Ótima!". Passado um tempinho, disse a mim mesmo: "Já ouvi esse nome antes"... e deixei para lá. Entretanto, por esses dias, relendo sobre Hegel, descobri onde já havia visto o nome "Bamberg".
   Quem lembra? Para quem não lembra, vamos lá...
   Hegel escreveu em uma carta: "Eu vi o Imperador, essa alma do mundo, atravessar a cavalo as ruas da cidade... Sentado sobre um cavalo, estende-se sobre o mundo e o domina", referindo-se a Napoleão, quando da batalha de Jena, a qual pôs fim ao Sacro Império Germânico.
   Entretanto, era tudo mentira! Nosso "corajoso" filósofo tinha "migrado" - "fugido" fica muito forte, não é? - para... nada mais, nada menos que... Bamberg, antes da batalha, em 1807. Foi para lá a convite de seu amigo Friedrich Immanuel Niethammer, para dirigir o jornal Bamberger Zeitung. Segundo consta, levando os originais da Fenomenologia do Espírito.
    Depois disso, imaginei uma possível reunião da cerveja com a cidade, passando pela obra de Hegel... e pensei em redigir, em homenagem ao "conjunto" anterior, a Fenomenologia do Etílico. Como eu não tenho a competência... nem a obscuridade do alemão, fico só com o "plano da obra".
   Pensei como seria a fenomenologia, ou seja, o desenrolar histórico e concreto de um ser que fosse se entregar aos prazeres "cervejísticos", portanto, alcoólicos... ou seja, um ser "etílico".
   Seguindo o plano da obra de Hegel, minha "Fenomenologia" começaria com a "Consciência", isto é, o tal ser - que não é um Espírito... pelo menos, não sozinho... mas com um corpo junto - chegando ao boteco, cheio de consciência... do que não deve fazer.
   Ainda seguindo o percurso da obra hegeliana, a minha teria como segundo "momento", a "Consciência de si".  O tal ser "etílico", como a "Consciência de si" hegeliana, passaria a ter mais conhecimento de si mesmo. Entretanto, enquanto a "Consciência de si" hegeliana se conhece melhor enquanto manifesta sua negação dialeticamente, a "Consciência de si" ricardiana, que já deixou de ter consciência há muito tempo - talvez, depois de muitas Bamberg -, começaria a ter consciência só de si, visto que o resto do mundo estaria girando a sua volta, num processo de alteridade total... uma espécie de Revolução Copernicana às avessas, onde o ser "etílico" passaria novamente a ser o centro do mundo. Aliás, "revolução", aqui, num sentido bem literal, já que tudo gira. 
   Depois de algumas horas - talvez, já no banheiro de casa... quem sabe, abraçado ao amigo "Vaso sanitário"... chamado carinhosamente de "Raul", pelo ser "etílico" -, entraríamos no terceiro "momento" de nossa Fenomenologia do Etílico. Aí, viria a Razão... ou, pelo menos, a razão... para o ser "etílico" não beber mais.
   E o ser "etílico" ainda nem recebeu as ligações daqueles amigos excessivamente sinceros, que lhe contam os seus "micos" na noite anterior.
   Assim... só bebendo outras mais! E recomeçamos a nossa Fenomenologia do Etílico...

Notas filosóficas de "Outubro" (leia-se "Agosto")

   Ontem tivemos o Notas Filosóficas do mês de "outubro" (leia-se "agosto"... conforme observou corretamente meu compadre Mundy. Rsss) 
   Dizer que o evento foi ótimo não chega a ser novidade... mas o Silvério e a Faiga não precisam ficar querendo atingir o píncaro da perfeição a cada evento. Rsss.
   Dessa vez, além de uma ótima explicação sobre alguns aspectos da filosofia platônica, ainda nos brindaram com belas canções dos Beatles... em versão instrumental... até com violino, gente! Aí, é demais! Rsss.
   Quem não foi ao evento está pensando: "Caramba, que espetáculo!". Mas eu surpreenderei os amigos dizendo: "Ainda teve mais!". É... Depois de tudo, a dupla violão-violino ainda executou, "gratuitamente", mais três músicas! Ahhhhh... Maravilhoso! 
   A modéstia de Silvério, ao final, já em off, é que foi interessante. Quando a ele nos dirigimos, a fim de parabenizá-lo, ele disse que achou que poderia ser melhor - Ainda mais?!?!?! -, porque faltaram algumas coisas a serem ditas.
   Ah, Silvério, desencana! - como diriam os paulistas. Afinal, falar sobre Platão, para um público altamente heterogêneo, só é possível através de "recortes". E aí está, justamente, a sua maior qualidade: escolher bem esses "recortes" que comporão a apresentação.
   Parabéns, ao Silvério, à Faiga e a todos da equipe do Occhio Café.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Schelling... o segundo

   Para os que não lembram, o filósofo alemão Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling (1775-1854) forma um par inusitado com outro germânico - esse, contemporâneo -, Ludwig Wittgenstein (1889-1951), de reformuladores integrais de sua própria filosofia. Mas tanto Schelling quanto Wittgenstein não se limitaram apenas a desdizer, em um segundo momento, o que haviam dito no primeiro; eles disseram exatamente o contrário... meio ao estilo "Metamorfose ambulante" de Raul Seixas, com uma radicalidade maior.... Noooossa!!!
   Brincadeiras à parte, o fato é que o "segundo" Schelling apresenta semelhanças com nosso querido Spinoza.
   Vejamos o que diz o livro "A filosofia alemã", de Maurice Dupuy, publicado pelas Edições 70:
   "No segundo período do seu pensamento (cf. sobretudo Bruno ou o princípio divino e natural das coisas, 1802), Schelling defende uma 'filosofia da identidade', mais ou menos inspirada em Espinosa: se, como vimos, o espírito e a natureza se referem um ao outro e se condicionam reciprocamente, então é necessário que tenham um fundamento comum e que provenham de uma mesma actividade primordial, de que são duas manifestações diferentes. Por conseguinte, este princípio único do subjectivo e do objectivo não é em si-mesmo nem subjectivo nem objectivo, nem espírito consciente nem natureza. Schelling denomina-o de Absoluto ou identidade do subjectivo e do objectivo. O Absoluto não é uma unidade abstracta e vazia. É a razão absoluta, o em-si das coisas, e, pode dizer-se, 'concreto' visto que, apesar da sua unidade, contém virtualmente em si todas as diferenças e oposições. Enquanto simples possibilidades dos opostos, é, sem dúvida, 'a indiferença absoluta', a noite em que se desvanecem todas as diferenças, mas a sua 'vida' consiste no seu desdobramento na multiplicidade, na separação relativa dos opostos que nele coincidem; o mundo é o fruto desta actualização: por isso, nele o espírito e a natureza não são essencialmente diferentes um do outro; não sendo senão dois momentos ou dois modos de revelação do Absoluto, não constituem opostos reais, mas ideais ou abstractos. É por isso que um e outro estão presentes em todos os fenômenos, embora em graus diferentes. Esta 'diferença quantitativa' determina toda a diversidade das coisas finitas, que permanecem no fundo unidade dos opostos e totalidade".
   Dá para ler isso sentindo uma certa presença do espírito spinozano, não é? A parte "o espírito e a natureza não são essencialmente diferentes um do outro; não sendo senão dois momentos ou dois modos de revelação do Absoluto", então... nem falo mais nada.
   Acho, entretanto, que Schelling foi mais "esperto" que Spinoza, ao usar "Absoluto" em vez de "Deus". Quem sabe o luso-holandês não teria até evitado sua excomunhão se tivesse usado "Absolutus sive Natura", em vez de "Deus sive Natura"?

Re-voltando... ou melhor, voltando novamente

   Como sempre, o tempo é curto para tudo que há a ser feito. Por esse motivo, vez por outra, acabo deixando os "amigos dos amigos" meio "abandonados"... mas, certamente, não esquecidos.
   Então, "re-voltando"... sem nenhuma revolta!
   O título deste post poderia ser "Spinoza e Nietzsche... outra vez? (3)". Digo isto porque - acreditem se quiserem! - foi lançado o terceiro livro, só este ano, fazendo uma aproximação entre as doutrinas spinozana e nietzscheana - se é que existe alguma doutrina nietzscheana... Desculpem a brincadeira... Mas eu perco um amigo nietzscheano, mas não perco a piada!
   Mas, voltando ao que interessa.
   Foi publicado "Ilusões do eu: Spinoza e Nietzsche" - aliás, por que será que o Spinoza vem antes no título? Rsss -, da Editora Civilização Brasileira, sob a organização de Luís César Oliva, André Martins e Homero Santiago.
   Já comprei... mas... como muitos outros, ele foi direto para a estante. De qualquer forma, vi que há artigos da excelsa spinozana portuguesa Maria Luísa Ribeiro Ferreira... mas também de nietzscheanos renomados, como a brasileiríssima Viviane Mosé.
   Aliás, com licença de uma apreciação meramente intelectual, gostaria de dizer que até a capa é bonita... meio metalizada. Embora seja um juízo meramente estético, não se pode negar que já atrai o leitor. 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Somos 62 "amigos dos amigos"

   Mais uma agradabilíssima surpresa: somos 62 "amigos dos amigos", agora.
    Sintam-se bem vindos, Sol e Marcio Andrei. Quando desejarem, coloquem seus pensamentos e opiniões neste espaço que é feito a 126 mãos  - incluí as minhas também!
   Grandes abraços... e apertos de mãos... nas outras 124!

"Erro do livre-arbítrio", de Nietzsche

   Uma das teses que aproximaram - ainda que momentaneamente - Nietzsche a Spinoza foi aquela sobre a inexistência do livre-arbítrio. Em "Crepúsculo dos ídolos", no artigo "Os quatro grandes erros", Nietzsche escreve sua opinião - doxa, em Filosofia, não é legal! -, seu pensamento - sempre crítico e ácido - sobre o livre-arbítrio. Diz ele:
   "Hoje não temos mais compaixão pelo conceito de 'livre-arbítrio': sabemos bem demais o que é - o mais famigerado artifício de teólogos que há, com o objetivo de fazer a humanidade 'responsável' no sentido deles, isto é, de torná-la deles dependente... Apenas ofereço, aqui, a psicologia de todo 'tornar responsável'. - Onde quer que responsabilidades sejam buscadas, costuma ser o instinto de querer julgar e punir que aí busca. O vir-a-ser é despojado de sua inocência, quando se faz remontar esse ou aquele modo de ser à vontade, a intenções, a atos de responsabilidade: a doutrina da vontade foi essencialmente inventada com o objetivo da punição, isto é, de querer achar culpado. Toda a velha psicologia, a psicologia da vontade, tem seu pressuposto no fato de que seus autores, os sacerdotes à frente das velhas comunidades, quiseram criar para si o direito de impor castigos - ou criar para Deus esse direito...
   Os homens foram considerados 'livres' para poderem ser julgados, ser punidos - ser culpados: em consequência, toda ação teve de ser considerada como querida, e a origem de toda ação, localizada na consciência ( assim, a mais fundamental falsificação de moeda in psychologicis [em questões psicológicas] transformou-se em princípio da psicologia mesma...). Hoje, quando encetamos o movimento inverso , quando nós, imoralistas, buscamos com toda a energia retirar novamente do mundo o conceito de culpa e o conceito de castigo, e deles purificar a psicologia, a história, a natureza, as sanções e instituições sociais, não existem, a nossos olhos, adversários mais radicais do que os teólogos, que, mediante o conceito de 'ordem moral do mundo', continuam a empestear a inocência do vir-a-ser com 'culpa' e 'castigo'. O cristianismo é uma metafísica do carrasco..."
   Esse Nietzsche não mede palavras, hein!

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

"Mude"

   Como eu estava com um problema no visualizador de "amigos" do blog, só há pouco me dei conta de que já não somos mais 59, mas sim 60 "amigos dos amigos".
   Os dois amigos mais recentes, na sequência de novas fotos, são Diana Roussoglou e Edson Marques. A ambos, desejo boas vindas. Sintam-se bem acolhidos neste espaço de "amigos dos amigos de Spinoza".
    Dei uma espiadela nos blogs destes mais recentes amigos.
   Em relação à Diana, ela estava de "recesso", tendo voltado apenas agora em 07 de julho. Espero para lê-la mais.
    Quanto ao Edson, ele é autor do poema "Mude". Acostumamo-nos a ouvir Bial recitando-o, mas nem todos sabem quem é o autor - inclusive eu. Agora... para aqueles que não sabiam, sabemo-lo: Edson Marques!!!
    Então, vamos relembrar "Mude":



Mude

Mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde você passa.
Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.

Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama.
Depois, procure dormir em outras camas.
Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais,
leia outros livros,
Viva outros romances!

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.
Tente o novo todo dia.O novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.


A nova vida.
Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.
Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde, ou vice-versa.
Escolha outro mercado,
outra marca de sabonete,
outro creme dental.
Tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa,
de carteira,
de malas.
Troque de carro.
Compre novos óculos,
escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.
Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
Arrume um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.

Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.


Seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.
Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.

Só o que está morto não muda!
Edson Marques.

Fundação Biblioteca Nacional do Ministério da Cultura
Poema MUDE - Registro: 294.507 - Livro: 534 - Folha: 167






domingo, 31 de julho de 2011

"100 obras-chave de Filosofia" (5... e último)

   CONCEITOS:

   Afeto : o afeto corresponde ao que modifica nossa potência de agir, seja aumentando-a (fala-se então de afeto alegre), seja diminuindo-a (os afetos tristes). A afetividade diz respeito às  coisas finitas, necessariamente tomadas em relações com os outros seres do mundo que atestam sua passividade. Só os afetos ativos, sendo o principal deles a compreensão, nos permitem ultrapassá-la.

   Substância/atrituto/modo : esses três conceitos, explicados no Livro I, estruturam toda a ontologia da Ética. A substância é "o que é em si e se concebe por si" (I, definição 1), é nisto que Espinosa retoma seus caracteres clássicos. A originalidade está na afirmação de uma substância única (monismo) apreensível através de seus atributos, em número infinito. No entanto, os seres humanos não percebem nela mais do que duas, a extensão e o pensamento, cujas expressões particulares constituem os modos ou maneiras de existir.

   Potência : todo ser pode ser compreendido como um grau de potência, parte cujo todo é Deus, potência absoluta de existir. Cada potência é ato, isto é, tende a afirmar-se produzindo efeitos por ela mesma. A equação original de Espinosa resulta da identificação de potência e virtude, de um lado, que exclui toda definição da virtude em termos de norma transcendente e exterior à nossa natureza; e, no fundo, à liberdade, porque afirmar sua potência é agir só de conformidade com as leis de sua natureza e, portanto, escapar à passividade.

[THE END!!!]

sábado, 30 de julho de 2011

"100 obras-chave de Filosofia" (4)

   O espírito é a ideia do corpo (II,13)
   O corpo é um modo da extensão, o espírito um modo do pensamento, cada atributo exprimindo de maneira original uma mesma coisa. Deve-se, todavia, distinguir a ideia que somos das ideias que temos. Devemos também repensar o sentido da união entre as duas entidades: não há, propriamente falando, exterioridade de um ao outro e, portanto, determinação possível de um pelo outro, tal como dariam a entender, por exemplo, a ideia de um domínio do corpo pelo espírito. Falou-se de paralelismo  para qualificar a identidade de ordem e de conexão das ideias e das coisas: a consequência  é que "a ordem das ações e paixões de nosso corpo vai de par com a ordem das ações e paixões do espírito" (III,2). Espinosa inverte assim a correspondência tradicional entre paixão da alma e ação do corpo, e afirma sua igual dignidade.

   "O ser humano não é um império num império" (III, Prefácio)
   A proposição que tem em vista o estatuto do ser humano tem por pano de fundo uma crítica da natureza concebida como um império que Deus regeria como chefe. As duas ilusões estão ligadas: trata-se de retificar tanto o pensamento de Deus como o da pessoa humana. Deus não é uma pessoa, e muito menos o ser humano se governa segundo os decretos de uma vontade livre de toda determinação. Se o ser humano não é um "império", é que ele é algo singular, finito, capaz de produzir efeitos, mas determinado por sua vez pelo que o cerca; portanto, ele não é inteligível por ele mesmo, desligado do todo natural no qual se encontra imerso. Enfim, é a teoria do livre-arbítrio que Espinosa recusa, tanto nos moralistas como em sua forma cartesiana: ela supõe a crença num domínio possível e desejável das paixões e, além disso, uma disciplina do sensível pela vontade. A Ética III buscará, ao contrário, mostrar a necessidade dos afetos revelando seus mecanismos.

   "O desejo é a essência do ser humano" (III, definição geral dos afetos)
   Afirmar isto é antes de tudo reconhecer a importância e a necessidade do desejo; irredutível a uma imperfeição, uma falta, ele é suscetível de exprimir nossa natureza. Isto tem a ver com a maneira de Espinosa encarar a existência individual: cada uma é caracterizada por uma tendência a afirmar seu ser, o conatus, que no ser humano é consciente de si mesmo. Ele nasce de uma "afeição" de nossa essência, que pode referir-se só ao espírito - neste caso trata-se de uma vontade - ou simultaneamente ao espírito e ao corpo - fala-se então de apetite. Portanto, a existência é afirmação dinâmica de uma potência que se orienta sempre para o que lhe parece útil. O desejo é o suporte desta afirmação. No entanto, nem todo desejo exprime integralmente ou adequadamente minha natureza. Entre os afetos, é preciso distinguir os afetos que são paixões, determinados por uma causa exterior, dos afetos ativos. Desses últimos só podem proceder os desejos que correspondem a uma afirmação de si mesmo.

   "Nada é mais útil ao ser humano do que o ser humano" (IV, 35, corolário 1)
   É útil o que aumenta a nossa capacidade de agir e favorece os afetos de alegria. Entre as coisas singulares finitas, nada convém mais à nossa natureza do que um outro ser humano. A proposição tem evidentemente um alcance político, pois subentende a conclusão seguinte: "O que conduz à sociedade comum é bom" (IV, 40). No entanto, não se deve esperar também de nossos semelhantes o pior? Sim, mas somente se eles são governados por paixões. Pelo fato de um mesmo objeto poder afetar-nos de maneira bem diversa, as paixões criam diferenciações suscetíveis de transformar-se em oposição. Por exemplo, quando Pedro ama o que Paulo odeia. Portanto, o ser humano não é verdadeiramente útil ao ser humano, a não ser na medida em que ele vive sob o comando da razão. Também o aumento de nossa potência de agir passa por uma sociedade que se esforça para cultivar a vida racional; então, e só então, o útil próprio combina hamoniosamente com o útil comum.

[TO BE CONTINUED!]