quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Somos 107


   Apesar de não aparecer nenhuma foto nova na lista de "amigos dos amigos", somos agora 107. Até pude entender, quem entrou foi o último da lista dos "sem foto", que é o(a) MM. Se eu estiver certo, seja bem vindo(a) MM. Se eu estiver errado, que seja bem vindo quem veio... e chegou. Rsss.
    Pode espiar, criticar e lançar ideias próprias. Afinal, o espaço é nosso. 
    Grande abraço!

Roberto Frejat


   Hoje pela manhã, assisti a uma entrevista com o Frejat, no canal BIS. Aliás, muito mais do que uma simples entrevista, pois havia apresentações de músicas também. 
   Ele falou sobre um monte de coisas ligadas à música, mas uma espécie de fio condutor era a figura do "guitar hero". Diversos nomes foram citados ao longo da entrevista, com uma interessante análise sua dos estilos particulares de cada um deles. 
   Uma questão que ele abordou foi a da velocidade de tocar. Parênteses aqui: eu sou super-fã do Eric Clapton, que tem o apelido de "slow hand". Fecho os parênteses, e continuo com o Frejat. Ele disse que não dá tanta importância a este fator, mas que os americanos ligam muito para a "rapidez no gatilho" - como ele brincou. Aí, para reforçar sua ideia, contou que, certa vez, o "Ezequiel" - devia estar se referindo ao jornalista e produtor musical Ezequiel Neves - escreveu que, se velocidade fosse tão importante assim, os melhores pianistas seriam os datilógrafos. 
   Como a entrevista foi dada com o Frejat segurando uma guitarra, toda vez que ele afirmava algo sobre música, mostrava no instrumento. Foi uma aula completa. Excelente!

Salvaram minha picanha!


   Eu sou fanático por churrasco. E, nele, fico babando por um bom pedaço de picanha, com aquela gordurinha amarela - é bem verdade que tiro o excesso quando vou comer, mas sempre deixo um pouquinho para dar sabor. Junto com o prazer, sempre vinha uma culpa por estar indo de encontro ao ideal de boa saúde ao ingerir aquela "gordureba". Isso até hoje... porque li que "novas pesquisas mostram que gordura saturada não faz mal à saúde".
   Quem, como eu, precisa de um "apoio" científico para poder curtir este prazer, aí vai o link da matéria:

Rui Veloso


   Fiquei tão satisfeito, hoje, em saber que há o show acústico inteiro do Rui Veloso no YouTube. Quem quiser assistir, o link é:
     Ainda tem "Jura" tocada ao piano, pelo próprio Rui Veloso.
    É imperdível! Vale a pena conferir.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

"Liberdade de expressão, mas sem ofender"


  A frase que dá título ao post é do papa Francisco. O problema é que o conceito de "ofensa" é subjetivo. A mim, por exemplo, não ofende nada dizer que Jesus foi casado, e teve filhos, com Maria Magdalena; nem fazer uma ilustração do profeta Maomé; nem ao menos dizer que o mundo não veio da divindade grega Chaos, e sim do Big Bang. Agora, dizer que o Fluminense deveria ter jogado a segunda divisão do Campeonato Brasileiro de 2014, isso ofende muito!
   Vou logo avisando ao Charlie Hebdo que se ele fizer uma charge do Fluzão jogando a segunda divisão, eu vou perder a cabeça...  e pedir a censura dos desenhos. Rsss.

Avi Tuschman


   Na mesma revista Veja da semana passada, naquelas páginas amarelas que registram sempre uma entrevista, o antropólogo americano Avi Tuschman - E isso lá é nome de americano, gente?!?!? - afirma que "a carga genética de uma pessoa influencia suas escolhas políticas tanto quanto as informações que ela recebe ao longo da vida".
   A entrevista é bem interessante. Tuschman analisou pesquisas de áreas como a Psicologia, a neurociência e a antropologia para entender quais "fatores não racionais" motivariam escolhas políticas.
   Para quem é spinozano, não causa tanta estranheza assim a afirmação de Tuschman. Aliás, para quem é freudiano, também não. Rsss. O fato é que, mesmo sem apelar à genética, Spinoza já anteviu que existe uma diversidade de "fatores não racionais" que motivam nossas escolhas, e não só políticas, mas em todas as áreas de nossa vida. Mas esse "não racional" não implica, em Spinoza, dizer que eles são "irracionais", mas tão somente que eles não fazem parte do que o holandês indica fazer parte dos "ditames da razão". De um modo geral, esses fatores seriam os "afetos passivos", que nos submetem a algo, sem que aquilo seja realmente conforme nossa natureza - muito mais do que conforme a uma racionalidade instrumental, como pensam alguns.
   Depois, falo mais um pouco sobre as análise do antropólogo Avi Tuschman.

Pierre Bayle


   Apesar das diversas referências feitas pelo professor Danilo Marcondes em minhas aulas do mestrado, nunca tive curiosidade de estudar o filósofo francês Pierre Bayle (1647-1706). Nem ao menos o famoso verbete "Spinoza", no Dicionário histórico e crítico, eu li completamente. Que confissão problemática esta, hein! Rsss.
   Duvido um pouco do que li na revista Veja da semana passada sobre ele, mas, vamos ao que está escrito como sendo a ideia de um protestante, como era Bayle: "ele propôs a tese de que toda religião é irracional e absurda. Portanto, tanto melhores serão os negócios dos homens no governo, na ciência e na filosofia quanto mais compostos de ateus forem seus quadros".
   Seria mesmo essa uma tese de Bayle? Vamos conferir? Quem souber, levante a mão. Rsss

"Carta aberta ao mundo muçulmano"


   O título do post não se refere a uma carta escrita por mim, mas de autoria do filósofo francês, de família convertida ao islamismo, Abdennour Bidar.
   Segundo o autor da carta, não basta que os muçulmanos digam, sobre os atentados, "Isto não é o Islã" ou "Não em meu nome". Eles têm que fazer mais: reconhecer que "esse monstro nasceu do Islã".
   A íntegra da carta segue abaixo - conforme a tradução do site "Comunidade brasileira na França":

"Caro mundo muçulmano, sou um de teus filhos distantes que te vê do lado de fora e de longe, na França, onde tantos dos teus filhos vivem hoje. Te vejo com meus olhos severos de filósofo, abastecido desde a infância pelotaçawwuf(sufismo) e pela mentalidade ocidental. Logo, te vejo à partir da minha posição de barzakh, do istmo entre os dois mares do oriente e do  ocidente!
E o que é que vejo ? O que é que vejo melhor do que outros, justamente por que vejo de longe, com o recuo da distancia ? Te vejo num estado de miséria e sofrimento que me deixam infinitamente triste, mas que torna ainda mais severo o meu julgamento de filósofo ! Pois te vejo parindo um monstro que se pretende nomear  “Estado Islâmico”, o qual alguns preferem nomear de demonio : DAESH. Mas o pior é que te vejo se perder – perder teu tempo e tua honra – na recusa de reconhecer que o monstro nasceu de você, das tuas erranças, das tuas contradições, da tua defasagem interminavel entre o passado e presente, da tua incapacidade tão duravel de encontrar teu lugar na civilização humana.
O que você diz face a esse monstro ? Qual é o teu discurso ? Você grita “não fui eu !”, “Isso não é o Islã !”.  Você recusa que os crimes desse monstro sejam cometidos em teu nome (hashtag #NotInMyName). Você se indigna diante de tal monstruosidade, se insurge também se o monstro usurpa a tua identidade e é claro, tem razão de fazê-lo.
É indispensavel que diante do mundo você proclame alto e forte também, que o islã denuncie essa barbárie. Mas não é suficiente ! Pois você se refugia no reflexo de auto defesa sem assumir também, e sobretudo, a responsabilidade da auto crítica. Você se contenta em se indignar, no entanto esse momento histórico teria sido uma formidavel ocasião para você se questionar! E como sempre, você acusa em vêz de tomar sua própria responsabilidade : « Parem ocidentais e vocês todos os inimigos do islã de nos associar a esse monstro !  O terrorismo não é o islã, o verdadeiro islã, o bom islã que não quer dizer guerra e sim paz !
Eu escuto esse grito de revolta que se eleva em você, oh meu caro mundo muçulmano e eu o compreendo. Sim, você tem razão, como cada uma das grandes inspirações sagradas do mundo islâmico tem criado em toda sua história, a  beleza, a justiça, o sentido, o bem, e tem poderosamente iluminado o ser humano no caminho do mistério da existencia… Eu luto aqui, no ocidente, em cada um dos meus livros, para que essa sabedoria do islã e de todas as religiões não seja esquecida nem desprezada ! Mas da minha posição distante, eu vejo também outra coisa –  que você não sabe ver ou que você não quer ver… E isso inspira a minha questão. A grande questão : porque esse monstro roubou o teu rosto ? Porque esse monstro ignobil escolheu o teu rosto e não outro ? Por que pegou a máscara do islã e não outra ? É por que na verdade atras dessa imagem do monstro se esconde um imenso problema, que você não parece estar pronto a ver de frente. No entanto é preciso, é preciso que você tenha coragem.
De onde vem os crimes desse tal « Estado Islâmico » ? Eu vou te dizer, meu amigo. E isso não vai te agradar, mas é meu dever de filósofo. As raizes desse mal que te rouba a face hoje, estão em você mesmo, o monstro saiu do teu proprio ventre, o câncer está no teu proprio corpo. E de teu ventre doente, sairão novos monstros no futuro – piores ainda que esses – quanto mais tempo você se recusar a encarar essa verdade, quanto mais tempo você tardar a admitir e a atacar enfim, essa raiz do mal ! 
Mesmo os intelectuais ocidentais, quando digo isso, tem dificuldade em enxergar: a maioria esqueceu o que é a potência de uma religião – pro bem e pro mal, na vida e na morte –  me diz « não, o problema do mundo muçulmano não é o islã, não é a religião, é a politica, a história, a economia, etc ». Vivem em sociedades tão seculares que não se lembram mais que a religião pode ser o coração do reator de uma civilização humana ! E que o futuro da humanidade passará não somente pela resolução da crise financeira e econômica, mas de modo bem mais essencial pela resolução da crise espiritual sem precedentes, que atravessa nossa humanidade inteira !
Saberemos nos juntar em escala planetária para enfrentar esse desafio fundamental ? A natureza espiritual do homem tem horror ao vazio, e se não encontra nada de novo para preenchê-la, ela o fará amanhã com religiões cada vêz menos adaptadas ao presente – e como o islã atualmente, se meterão a produzir monstros.
Vejo em você, oh mundo muçulmano, forças imensas prontas para se levantarem para contribuir com o esforço mundial de encontrar uma vida espiritual para o século XXI! Há em você, apesar da gravidade da sua doença, apesar da extensão das sombras do obscurantismo com que querem te cobrir inteiramente, uma imensidão extraordinária de mulheres e homens que estão prontos a reformar o islã, a reinventar sua vocação além de suas formas históricas e a participar também da renovação completa da relação que a humanidade mantinha até aqui com seus deuses ! É a todos esses, muçulmanos e não muçulmanos, que sonham juntos uma revolução espiritual, que me dirigi em meus livros ! Para dar à eles, com minhas palavras de filósofo, confiança no que entrevê suas esperanças!
Existe na Oumma (comunidade de muçulmanos) dessas mulheres e homens de progresso, que carregam neles a visão do futuro espiritual do ser humano. Mais eles ainda não são bastante numerosos e suas vozes ainda não são bastante potentes. Todos esses, a quem saúdo a lucidez e a coragem, observaram perfeitamente o estado geral da doença profunda do mundo muçulmano, que explica o nascimento de monstros terroristas sob os nomes de Al Qaida, Al Nostra, AQMI ou de «Estado Islâmico». Eles compreenderam que não são esses os sintomas mais graves e mais visíveis no imenso corpo doente, onde as doenças crônicas são as seguintes : Impotência em instituir democracias duraveis nas quais são reconhecidas como direito moral e político, a liberdade de pensamento perante os dogmas da religião; prisão moral e social de uma religião dogmática, paralisada e às vezes totalitária; dificuldades crônicas em melhorar as condições das mulheres na direção da igualdade, responsabilidade e da liberdade; impotência em separar suficientemente o poder político, do controle da religião; incapacidade em instituir respeito, tolerancia e um verdadeiro reconhecimento do pluralismo religioso e das minorias religiosas.
Tudo isso seria culpa do ocidente ? Quanto tempo precioso, anos cruciais, você  ainda vai continuar perdendo, oh caro mundo muçulmano, com sua estúpida acusação que nem mesmo você acredita mais, na qual você se esconde para continuar mentindo à você mesmo ? Se te critico assim duramente, não é porque sou um filósofo ocidental, mas porque sou um de teus filhos, conscientes de que você perdeu a grandeza há tanto tempo, que ela se transformou em mito !
É tempo de confessar que desde o século XVIII (particularmente), você foi incapaz de responder aos desafios do Ocidente. Ou você se refugiou de modo infantil e mortífero no passado, com a regressão intolerante e obscurantista do wahhabisme que continua a fazer  desastres em quase todas as fronteiras  – um wahhabisme que você derrama de lá dos teus lugares sagrados da Arabia Saudita como um câncer que partiria do teu proprio coração ! Ou você seguiu o pior do ocidente, produzindo com ele os nacionalistas e um modernismo que é a caricatura da modernidade –  quero dizer do frenesi do consumo, ou do desenvolvimento tecnológico sem coerência com seu arcaismo religioso que faz das tuas « elites » riquissimas do Golfo somente vitimas coniventes dessa doença atualmente mundial que é o culto ao Deus dinheiro.
Que tem você de admiravel hoje, meu amigo ? O que em você continua digno de suscitar o respeito e a admiração dos outros povos e civilizações da Terra ? Onde estão teus sábios ? Você ainda tem sabedoria a propor ao mundo ? Onde estão teus grandes homens, quem são teus Mandela, Gandhi,  Aung San Suu Kyi ? Onde estão teus grandes pensadores ? Teus intelectuais cujos livros deveriam estar sendo lidos no mundo inteiro, como no tempo onde teus matemáticos e filósofos  árabes eram referência, da India à Espanha ? Na verdade, você se tornou tão fraco, tão impotente por tras dessa certeza que sempre demonstra à respeito de você mesmo… Você não sabe mais quem é e onde vai e isso o torna tão infeliz quanto agressivo…
Você se obstina a não escutar os que te chamam para a mudança a fim de te liberar da dominação que você ofereceu à religião durante toda a vida. Você escolheu que Mohammed era profeta e rei. Voce escolheu definir o islã como religião política, social, moral, reinando como um tirano tanto quanto o Estado na vida civil, tanto nas ruas quanto em casa e dentro de cada consciência. Você escolheu acreditar e impor que o islã é submissão, quando na verdade o alcorão proclama que não há submissão na religião (La ikraha fi Dîn). Você fez do seu chamado à liberdade o império da submissão !  Como uma civilização pode trair a esse ponto seu próprio texto sagrado ? É hora da civilização islâmica instituir essa liberdade espiritual – a mais sublime e difícil de todas  – em vêz dessas leis inventadas por gerações de teólogos !
Inúmeras vozes que você não quer escutar, se elevam hoje dentro das comunidades árabes para se insurgirem contra esse escândalo, para denunciarem o tabu de uma religião autoritária e indiscutível, de onde se servem seus chefes para perpetuarem indefinidamente sua dominação… Ao ponto que muitos crentes interiorizaram uma cultura de submissão à tradição e aos « mestres da religião » (imams, muftis, shouyoukhs, etc.) e eles mesmos não compreendem porque falamos de liberdade espiritual e não admitem que falemos de escolhas pessoais face aos pilares do islã. Tudo isso se constitui em « linha vermelha » para eles, alguma coisa de tão sagrada, que não ousam sequer dar às suas proprias consciencias, o direito de se questionarem ! E há tantas familias, tantas sociedades muçulmanas cuja confusão entre espiritualidade e servidão está incrustrada em suas mentes desde a infância e a educação espiritual pobre, que tudo que se refere à religião, seja perto ou longe, não se discute.
Isso não é, evidentemente, imposto pelo terrorismo de alguns loucos, por algumas trupes de fanáticos abarcados pelo Estado Islâmico. Esse problema é bem mais profundo e mais vasto! Mas quem o verá e o dirá ? Quem quererá ouvi-lo ? Silêncio sobre o assunto no mundo muçulmano e nas mídias ocidentais. Escutamos mais do que tudo, esses especialistas em terrorismo que agravam dia após dia a miopia geral ! Não se iluda, oh meu amigo, crendo e fazendo crer que quando tivermos terminando com o terrorismo islamista, o islã terá regrado seus problemas ! Pois tudo que acabo de evocar – uma religião tirânica, dogmática, literalista, formalista, machista, conservadora, regressiva – é frequentemente, não sempre, mas frequentemente o islã comum, o islã cotidiano, que sofre e faz sofrer muitas consciências, o islã da tradição, do passado, deformado por todos os que o utilizam politicamente, o islã termina sempre por sufocar as primaveras árabes e a voz de todas essas juventudes que pedem outra coisa. Quando você vai finalmente fazer a verdadeira revolução ? Essa revolução que nas sociedades e nas consciências fará rimar definitivamente religião e liberdade, essa revolução sem retorno que se transformará num feito social em meio a tantos outros no mundo e que seus direitos exorbitantes não sejam mais legítimos !
Claro, dentro do teu imenso território, há ilhotas de liberdade espiritual : Famílias que transmitem  um islã de tolerância, de escolha pessoal, de aprofundamento espiritual ; Meios sociais onde as grades da prisão religiosa estão abertas ou entre-abertas ; Lugares onde o islã dá o melhor de si, uma cultura de partilha, de honra, da busca do saber, e uma espiritualidade em busca de lugar sagrado onde o ser humano  e a realidade que chamamos Allâh se encontrem. Na Terra do islã e por toda parte nas comunidades muçulmanas do mundo, existem mentes fortes e livres, mas são condenadas à viverem sua liberdade sem segurança, sem reconhecimento de direitos,  a seus riscos e perigos face ao controle comunitário ou mesmo o controle da polícia religiosa. Nem por um momento o direito de dizer “Eu escolhi meu islã”, “Tenho minha própria relação com o islã » foi reconhecido pelo “islã oficial” dos dignatários. Esses, ao contrário, se precipitam em afirmar que  « A doutrina do islã é única » e que « A obediência aos pilares do islã é a única via correta» (sirâtou-l-moustaqîm).
Essa recusa ao direito a liberdade face à religião, é uma das raizes do mal da qual você sofre, oh meu caro mundo muçulmano, um dos centros obscuros onde crescem os monstros que você faz surgir há alguns anos diante de rostos alarmados do mundo inteiro, pois essa religião de ferro impõe à tuas sociedades uma violência insustentavel. Ela aprisiona  muitas de tuas filhas e filhos nas prisões de um bem ou mal, de um lícito (halâl) e de um ilícito (harâm) que ninguém escolheu, mas que todos se submetem. Ela aprisiona as vontades, ela condiciona os espíritos, ela impede ou entrava toda escolha pessoal de vida. Em muitas das tuas regiões, você associa religião com violência  – contra mulheres, contra os « maus crentes », contra as minorias cristãs ou outras, contra os pensadores e espíritos livres, contra os rebeldes – de tal maneira que  essa religião e essa violência se terminam por se confundirem, entre os mais desequilibrados e os mais frageis, na monstruosidade do jihad !
Então não se espante, não faça de conta que está espantado por tais demônios travestidos de Estado islâmico terem roubado teu rosto! Pois os monstros e os demônios só roubam rostos deformados! E se você quer saber como não parir mais esses monstros, vou te dizer. É simples, quer dizer, simples e ao mesmo tempo difícil. É preciso que você comece por reformar toda a educação que dá às tuas crianças, que você reformule cada uma de tuas escolas, cada um dos teus lugares do saber e do poder. Que você os reformule para dirigir de acordo com os principios universais (mesmo se você não é o unico a transgredi-los ou a persistir em sua ignorancia) : a liberdade de consciência, a democracia, a tolerancia e o direito de cité para toda a diversidade de visões e de crenças no  mundo, igualdade de sexos e a emancipação das mulher de toda tutela masculina, a reflexão e a cultura crítica do religioso nas universidades, na literatura, na midia. Você não pode mais recuar, você não pode fazer por menos ! Sua revolução espiritual tem que ser completa ! É o único meio de você não parir mais tais monstros, e se você não o fizer,  logo será devastado por seu poder de destruição.  Quando você tiver desempenhado bem essa tarefa colossal – em lugar de se refugiar na má fé e na cegueira voluntária, nenhum outro monstro abjeto poderá te roubar a face.
Caro mundo muçulmano… Sou apenas um filósofo. Alguns dirão que a filosofia é herege. Estou tentando apenas fazer resplandecer de novo a luz – o nome que você me deu me ordena, Abdennour, “Servidor da luz”.
Eu não seria tão severo nessa carta se eu não acreditasse em você. Como se diz em francês : «Qui aime bien châtie bien». E ao contrário dos que hoje não são severos o bastante com você – que encontram sempre desculpas, que querem fazer de você uma vítima, ou que não veem a tua responsabilidade no que te acontece – todos esses na realidade não estão te ajudando !
Eu acredito em você, eu acredito na tua contribuição em fazer do nosso Planeta, um universo mais humano e mais espiritual ! Salâm, que a paz esteja com você."

Publicado pelo jornal canadense huffingtonpost: 15/10/2014 22:58 EDT Atualizado em: 09/01/2015 05:12 EST
Tradução e adaptação Carla Cristina Daher, colaboradora.
http://quebec..ca/abdennour-bidar/lettre-au-monde-musulman_b_5991640.html
  

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Estado Islâmico... no Brasil


   Hoje, noticiou-se que, em meio à rebelião em um presídio em Pernambuco, houve mais uma morte... por decapitação. Em nome de que causa estes assassinos degolaram um ser humano? Não parece mais bárbara esta morte do que a dos jornalistas pelo Estado Islâmico? Eu sei... ambos são seres humanos... talvez alguém até lembre que o homem morto no presídio é um bandido. Mas quando ainda existe uma justificativa que se acredita válida, mesmo que sem grande reflexão sobre seus fundamentos, a mim parece que a barbárie é menor - se é realmente possível graduar tal questão.
   Pensemos no seguinte: vamos supor que, após uma batalha entre dois povos, os guerreiros vitoriosos assassinem todos os soldados do exército derrotado. Inquiridos sobre a crueldade destas mortes, suponhamos duas hipóteses: na primeira, os matadores explicam que eliminaram os adversários sobreviventes simplesmente por que assim desejaram; na segunda, a explicação é que seus deuses acham uma afronta o fato de adoradores de outras divindades serem poupados, significando algo como um fortalecimento destas últimas diante das primeiras, visto que a devoção dos derrotados pode continuar, mesmo seus deuses tendo mostrado pouca força diante daqueles do dos vencedores.
   A mim parece que a barbárie perpetrada pelos matadores, no segundo caso, é menor, diante da ignorância dos mesmos quanto à realidade dos fatos, o que não acontece no primeiro, onde a gratuidade das mortes parece falar mais alto.
   Bem... essa é apenas uma impressão pessoal. Sob este ponto de vista, eu diria que o "Estado Islâmico" de Pernambuco fere mais a humanidade que o do Oriente Médio.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

"Je ne suis pas Charlie"


   Apesar de pessoalmente alinhado à indignação pelo atentado ao periódico Charlie Hebdo, como pensador honesto, sou obrigado a perspectivar minha reflexão, tomando outros pontos de vista como inicialmente válidos. Este exercício é fundamental para qualquer um que queira ultrapassar o somente dado. Por este motivo, passemos ao "Eu não sou Charlie", mas sou "o outro".
    Assustei-me ao ver, na manhã do dia 14, a seguinte manchete no Portal G1: "Polêmico humorista francês é detido após comentário sobre 'Charlie Hebdo'". Trata-se de Dieudonné M'Bala, que teria participado do ato em repúdio ao atentado, mas postado um "deboche" sobre o mesmo, dizendo "instante mágico comparável ao Big Bang" - a interpretação do "deboche" da frase é da própria notícia. Além disso, teria acrescentado "Eu me sinto Charlie Coulibaly" - misturando os nomes do periódico e de um dos terroristas mortos.
   Em que pese a acusação de seus desenhos promoverem o antissemitismo e de brincarem com o conteúdo INDEFENSÁVEL dos vídeos da degola de pessoas pelo Estado Islâmico, essas não seriam, também, manifestações satíricas da liberdade de expressão? Humor meio non-sense, de qualidade duvidosa, é certo... mas não era esse o caso, também, do Charlie Hebdo?
   Além disso, a frase "Eu me sinto Charlie Coulibaly", dependendo da intenção, pode ser tomada como bastante profunda. É necessário pensar nos jornalistas mortos por um motivo tão "fútil" quanto a sua fina ironia, mas há também que estar atento à opressão sócio-econômica que torna jovens como Coulibaly presas fáceis de uma doutrina que se diz vingadora do mal. E aqui cabe o alerta de Hannah Arendt para que presentifiquemos em nossos discursos os totalitarismos, em vez de "esquecê-los" como algo do passado, a fim de que evitemos que eles se tornem novamente algo concreto e vivo.
    Este é o primeiro post da série "Je ne suis pas Charlie"... só para pré-aquecer nossa máquina de reflexão...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

106, agora!


   Depois de mais um período quase inativo, nosso blog voltou a frutificar. E, junto com esse retorno, tivemos um acréscimo de amigos dos amigos. Agora, somos 106.
   Aos novos amigos, Osvaldo Valente Filho e Washington  de Azevedo Neto, dou as boas vindas. Torço para que se sintam bem neste nosso espaço, e que possam ajudar a construí-lo, com suas intervenções.
   Grande abraço a todos os amigos dos amigos, e mais especialmente a estes novos integrantes de nosso grupo.

"Pensadores da Nova Esquerda"


   Ainda na mesma revista Veja citada ontem, há uma matéria dedicada ao lançamento no Brasil - a publicação original se deu em 1985... Só trinta anos de atraso! - do livro Pensadores da Nova Esquerda, de Roger Scruton, pela É Realizações.
   Revela-nos a matéria que se trata de uma série de artigos do filósofo Roger Scruton - tão conhecido dos spinozanos por sua introdução à filosofia de Spinoza, publicada pela Loyola - analisando quatorze "intelectuais esquerdistas". Apesar do interregno entre a data da publicação original e a brasileira, o autor da matéria, Eduardo Wolf, garante que "o livro carrega uma triste marca de atualidade: um bom punhado das ideias e dos autores esquerdistas nele examinados ainda anima um estilo de pensamento anêmico de conteúdo e vitaminado de doutrina que segue dominante nas áreas de humanidades da academia e na vida intelectual no Brasil".
   O artigo comenta ainda - não sei se tomando o livro de Scruton como fundamento - gestos "incômodos" de alguns pensadores de esquerda, como o fato de o americano Noam Chomsky ter ridicularizado os relatos de massacres perpetrados pelo Khmer Vermelho, no Camboja, no final da década de 70; ou o orgulho do húngaro György Lukács em ter ajudado a "varrer da universidade" professores não comunistas; ou ainda a admissão, somente no final da vida, por parte de Jean-Paul Sartre, de que ele mentiu sobre as atrocidades que comprovou na União Soviética, quando lá esteve em 1954.
   Vale a pena conferir! Eu já encomendei o meu.

Parece brincadeira de mau gosto


   O Emirado Islâmico do Afeganistão - nome oficial do grupo dos talibãs naquele país - divulgou nota condenando a charge da capa do Charlie Hebdo desta quarta (14/01/15), na qual aparece uma imagem do profeta Maomé segurando uma placa com a inscrição "Je suis Charlie".
   Entenderia uma manifestação crítica da tal organização, reclamando de nova "provocação" ao ideário religioso muçulmano, mas o conteúdo, dirigindo-se aos jornalistas, parece até brincadeira de mau gosto. Diz o seguinte: "Condenamos este ato repugnante e desumano [que é a publicação de um desenho!?!?], e consideramos seus autores e os que o perpetraram como inimigos da humanidade".
    Ah... sei... "inimigos da humanidade"... de toda a humanidade? Mesmo lembrando que há 1,5 bilhão de muçulmanos no mundo, não sei se todos concordam com essa "desumanidade" do ato de veicular uma caricatura e, por outro lado, admitem o fuzilamento dos "infiéis" que "perpetraram este ato repugnante".

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O onipresente Spinoza


   Na revista Veja da semana passada - número 01 deste ano -, que tem como reportagem de capa a capacidade de o Brasil atravessar "o tempestuoso 2015", a Epígrafe da Semana dizia: "A pretexto das expectativas, as otimistas e as pessimistas, para a economia brasileira no ano que se inicia", e apresentava a seguinte citação: "Não há esperança sem medo, nem medo sem esperança", do nosso tão querido Spinoza.
   Esse holandês não é fácil... o sujeito conseguiu tratar até do momento político-econômico do nosso Brasilzão do século XXI!!! Rsss.

A atualidade de Hobbes


   Por conta do meu envolvimento com Spinoza, tenho me aproximado do pensamento de Thomas Hobbes (1588-1679). Em realidade, o filósofo inglês sempre esteve presente nos meus estudos, porém de forma pontual. Era para identificar, por exemplo, no que seu conceito de conatus diferia do de Spinoza, ou para entender as diferenças entre o "estado de natureza" dos dois filósofos. Desta vez, contudo, espero empreender um estudo, senão certamente de um especialista, pelo menos com uma amplitude e  uma profundidade maiores.
   Dito isto, gostaria de citar uma ideia do professor Fernando Magalhães (UFPE) sobre a contemporaneidade de Hobbes, registrada em seu interessante - e leve - 10 lições sobre Hobbes, da Editora Vozes. Escreve o autor, numa ideia que será mais tarde justificada em seu texto: "o Estado pós-moderno descobre o inimigo em seu interior. O terrorismo endêmico é, portanto, uma das manifestações de violência antiestatal. E esta é, sem dúvida, uma das razões principais da atualidade de Hobbes. Relevância que não é pouca diante do tempo histórico". (p. 97)
   Se Hobbes conseguiu captar esse movimento antiestatal baseado no terrorismo, realmente o filósofo seiscentista é mais que atual.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Je suis Charlie! (3)


   No rastro de violência deixado pelo atentado terrorista ao periódico Charlie Hebdo, dois muçulmanos foram figuras emblemáticas: Ahmed Merabet e Lassana Bathily. 
   O primeiro deles era o policial cruelmente executado na calçada, próximo ainda ao prédio do periódico, por um dos irmãos Kouachi. Já o segundo, que se tornou herói sem precisar - ainda bem - virar mártir, talvez tenha um simbolismo ainda maior. Isto porque, sendo funcionário do mercado kosher invadido pelo terrorista Amedy Coulibaly, ajudou diversos clientes judeus que estavam no estabelecimento a se esconderem, diminuindo a possibilidade de serem mortos.
   Vimos, então, o assassinato de um muçulmano por muçulmanos e o auxílio de um muçulmano a judeus, ameaçados por outro muçulmano. Isto mais do que comprova as palavras de Malek Merabet, irmão do policial covardemente assassinado, já que estava ferido e deitado indefeso diante de seus algozes: "Quero me endereçar a todos os racistas, islamofóbicos e antissemitas: não se pode misturar os extremistas e os muçulmanos. OS LOUCOS NÃO TÊM COR OU RELIGIÃO" (Grifo nosso).

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Quanta honestidade... no Japão


   Estava assistindo a um curta metragem, com vários estrangeiros que moram no Brasil comentando as diferenças culturais entre os seus países e o nosso. Fiquei espantado com a declaração do japonês. Ele disse que, no Japão, a cédula de votação é preenchida a lápis... Como assim?!?!? Ninguém troca seu voto???? Que país estranho. Lá, até a Política é coisa para gente honesta. Rsss.

Je suis Charlie! (2)


   Ainda bem que já houve uma avalanche de manifestações das autoridades muçulmanas contra o ataque ao periódico Charlie Hebdo. Todas essas manifestações reforçam a ideia de que o Islã não é, em si, uma religião violenta. A má compreensão do jihad por parte de alguns, além obviamente de interesses políticos, tem atrapalhado muito a boa convivência entre "nós" - todos somos "nós", tanto não-muçulmanos quanto muçulmanos.
   Certamente a captura dos terroristas é importante, contudo, penso, mais fundamental ainda é o esclarecimento, por parte dos líderes religiosos islâmicos, sobre o que é verdadeiramente a religião muçulmana, a fim de livrá-la dessa visão extremista.
   Infelizmente, já começamos a ter notícias de que houve agressão a símbolos religiosos islâmicos pelo mundo. Nada incompreensível, mas, de forma alguma, justificável. Não podemos ceder a uma reação impensada e entrar nesse círculo vicioso de violência.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Je suis Charlie!


   É espantoso um novo atentado contra a liberdade produzido por extremistas. Recuso-me, particularmente, a adjetivar os extremistas  simplesmente como "muçulmanos". Mas há que se pensar sobre essa provocada dicotomia "Ocidente" vs. "Islã". 
   Que tal fazermos isso juntos?

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Voltando...


   Caros amigos dos amigos, voltei de Marte... Rsss. Embora as viagens espaciais não estejam tão avançadas assim, é bem deste modo que me sinto. Afinal, foi atenção dada a tanta coisa diferente que eu nem consegui me concentrar nos amigos daqui, nem em várias outras coisas que demandavam minha presença.
   Assim, perdemos o Dia da Filosofia de 2014 (20 de novembro), o meu aniversário (21 de novembro), o aniversário do nosso tão caro Spinoza (24 de novembro), o Natal e o Réveillon! Não é pouca coisa, não, hein! Desses aí, o único que ainda dá para salvar é o Ano Novo, visto que ainda estamos bem no começo dele. Deste modo, aí vai o meu "Feliz Ano Novo, amigos!"
   Ufa... começamos 2015.