segunda-feira, 29 de junho de 2015

"Marx estava certo" (2)


    Com essa confusão da Grécia, no plano econômico, e o primeiro-ministro Aléxis Tsípras dizendo que vai fazer um plebiscito para que a população decida se aceita os termos propostos pela União Europeia para oferecer ajuda, um trecho do livro de Terry Eagleton diz muito: "É lugar-comum entre os marxistas que o poder real hoje se encontra nas mãos dos bancos, das corporações e das instituições financeiras, cujos administradores jamais foram eleitos por quem quer que seja e cujas decisões podem afetar a vida de milhões".
   Bem... a essa altura podemos dizer que não é só entre os marxistas que é lugar-comum, mas para qualquer pessoa com um mínimo de bom senso.

"Marx estava certo"


   Em alguma ocasião, neste blog, eu já citei o título deste livro - o que dá nome ao post. Na ocasião, acho que fiz o comentário de que a edição brasileira do livro de Terry Eagleton é prefaciada por Luiz Felipe Pondé - que sabemos não ter nenhuma ligação de simpatia com o marxismo -, e que este filósofo brasileiro comenta a importância da obra, "que serve tanto a marxistas quanto a não marxistas. [...] [sendo] um texto formador, servido aos homens de boa vontade". Segundo Pondé, "se você quiser aprofundar de modo atento e claro o pensamento do grande crítico do capitalismo Karl Marx, leia Eagleton". Mas adverte: "A pergunta que fica é: a desconstrução da caricatura de Marx não serviria como antídoto, não apenas para não marxistas, mas também para os próprios marxistas mais devotos?".
    Concluí a leitura do texto hoje. Achei o trabalho de defesa do pensamento de Marx, por parte de Eagleton, bastante interessante. Mas, sinceramente, pareceu-me menos eficiente do que se propunha. A forma, em si, é bastante interessante: cada capítulo contém uma crítica comum feita ao marxismo, e Eagleton refuta a tal oposição ao pensamento marxiano, em algo em torno de vinte páginas, na média. 
   Há alguns problemas, contudo. O principal é que, em alguns dos questionamentos, Eagleton acaba por apresentar textos de Marx que dão pleno apoio ao ataque que lhe é lançado. Cabe, então, ao seu defensor apenas apresentar outros textos em que o filósofo alemão se "desdiz", ou melhor, que apresenta visões distintas daquelas do outro texto.
    Um dos aspectos mais interessantes do livro, penso, é que saímos daquela mesmice de "Em O Capital, Marx disse...", sendo apresentadas reflexões de Marx contidas em vários textos seus. 
   Acho que o livro merece uma análise mais cuidadosa, o que pretendo fazer em outros posts. Por ora, gostaria de registrar apenas duas curiosidades terminológicas.
   A primeira é sobre o termo "proletariado". Em seu sentido primeiro, ele vem da palavra latina "prole", significando aqueles que eram tão despossuídos que não podiam oferecer ao Estado nada mais do que seus corpos para a produção de filhos, ou seja, de dar sua prole à sociedade como mão-de-obra. Desta forma, o "proletariado" era formado apenas por mulheres que cediam seu útero para o Estado.
   A segunda diz respeito à expressão "ditadura do proletariado" - etapa intermediária do socialismo, necessária, antes da conclusão do processo com o comunismo -, que, apesar de tão ligada a Marx, foi cunhada, na verdade, por Auguste Blanqui, parceiro de luta política de Marx, que rotulava um governo em nome de gente comum.
    Depois, escrevo mais sobre o livro.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

"O livro mais polêmico do ano" (2)


   O livro Submissão, de que falei no post anterior, tem algumas passagens bem interessantes, normalmente pela sua ironia... mas também pela sua realidade. Gostaria de destacar algumas, aqui:
   "... uma conversa entre homens, essa coisa curiosa que sempre parece hesitar entre a pederastia e o duelo";
   "Podemos deixar as pessoas falarem bastante tempo, elas estão sempre interessadas no próprio discurso...";
   "... o verdadeiro inimigo dos muçulmanos, aquele que temem e odeiam acima de tudo não é o catolicismo: é o secularismo, a laicidade, o materialismo ateu";
   "A esquerda sempre tivera essa capacidade de fazer com que fossem aceitas reformas antissociais que teriam sido vigorosamente rejeitadas se viessem da direita";
   "Se o islã não é político, não é nada." (Aiatolá Khomeini);
   "Einstein tampouco era ateu, embora a natureza exata de sua crença seja mais difícil de definir" - é verdade que sua posição não fosse simples, mas nós sabemos que ele disse que seu Deus era o Deus de Spinoza -;
   "... tantos intelectuais no século XX tinham apoiado Stalin, Mao ou Pol Pot sem que jamais tivessem sido criticados por isso; o intelectual na França não precisava ser responsável, isso não fazia parte de sua natureza"; e
   "... se a espécie humana é um pouquinho apta a evoluir, é de fato à plasticidade intelectual das mulheres que o deve. O homem, de seu lado, é rigorosamente ineducável. Seja um filósofo da linguagem, um matemático ou um compositor de música serial, inexoravelmente ele sempre fará suas escolhas reprodutivas a partir de critérios puramente físicos, e de critérios imutáveis há milênios".
    
   Agora, confessando a minha ignorância, aprendi duas coisas com o livro. A primeira, que não deveria ser novidade para mim - mas foi -, é o fato de existir uma teoria econômica chamada "distributivismo", de origem inglesa, datando do início do século XX. A tal teoria tem como pais os pensadores Gilbert Keith Chesterton e Hilaire Belloc, e se apresenta como uma "terceira via" entre o capitalismo e o comunismo. Vale a pesquisa, depois.
   Além disso, tomei conhecimento da existência da profissão das "casamenteiras" no mundo islâmico. Elas são senhoras de grande experiência que têm o direito de ver as jovens moças nuas, a fim de indicá-las para seus respectivos futuros maridos. Há que lembrar que o homem não teria condições precisas de selecionar sua futura esposa pelos dotes físicos por trás daquele monte de pano. 

terça-feira, 23 de junho de 2015

"O livro mais polêmico do ano"


   O título do post é uma referência feita ao livro Submissão, de Michel Houellebecq, publicado no Brasil pela Editora Alfaguara.
   Não sou leitor frequente de romances, mas, vez por outra, sou "pescado" por algum, normalmente por conta de alguma relação com a História, ou seja, romances históricos, montados sobre a vida de alguma personagem real. Neste caso, contudo, a coisa foi um pouco diferente. Estava eu para ler Herege, de Ayaan Hirsi Ali, cujo tema, já comentei em outro post, é o Islã, quando, no blog do amigo Gustavo, vi uma referência ao livro. Fiquei curioso. E como o tema era, de certa forma, também o Islã, interessei-me.
   A orelha do livro conta a ideia do texto:
   "François é um professor universitário que leva uma vida solitária. [...] Num futuro próximo, ele acompanha pela TV desdobramentos dramáticos, que prometem mudar o panorama político e social da França. Pela primeira vez na história do país, o segundo turno das eleições presidenciais é disputado pelo partido de extrema direita e pela chamada Fraternidade Muçulmana. Os políticos moderados, tanto de direita quanto de esquerda, decidem apoiar o candidato islâmico - o aparentemente moderado Mohammed Ben Abbes -, e esse é o momento decisivo na vida não só de François como na de milhões de cidadãos franceses. [...] [O texto de Michel Houellebecq] é provocador, irônico, mas é também carregado de questionamentos sobre uma civilização em crise."
   Na contracapa do livro há uma referência ainda mais valorosa para o texto: 
   "Comparado a 1984, de George Orwell, e a Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, Submissão é uma sátira precisa e devastadora, sobre os valores da nossa sociedade. É um dos livros mais impactantes da literatura atual."
   Em que pese algum exagero midiático e marketeiro, o livro é realmente bom. Sua leitura flui bem e atrai o leitor, fixando-o ao texto. Eu li as quase 250 páginas entre a quinta-feira e o domingo passados, sem dificuldades. 
    Dito isto, que não é nenhuma propaganda do livro, queria destacar algumas passagens curiosas. Não são muitas, mas, neste post, colocarei apenas uma... só para vocês perceberem como Spinoza me persegue. Rssss.
   Não é que a personagem principal, comentando um texto produzido para defender a universalização do Islã evoca pejorativamente nosso querido Spinoza? Diz ele: "Mas o essencial do artigo era uma curiosa meditação, não desprovida de uma espécie de kitsch SPINOZIANO, com escólios e toda essa lenga-lenga, em torno da teoria dos grafos". (Grifo meu)
    Precisava falar mal do Spinoza? "kitsch" e "lenga-lenga"? Que falta de respeito. Eu deveria ter parado de ler aí... mas só faltavam vinte páginas. Preferi ir até o final. Rsss.
   

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Uma pedrada religiosa


   É certo que não vivemos uma cruzada religiosa de evangélicos tentando exterminar adeptos das religiões espiritualistas. Contudo, parece sintomático o fato de que uma mesma menina de onze anos, com trajes do candomblé, leve uma pedrada no domingo, e seja alvo de gritos ofensivos à sua opção religiosa na quarta.
   Sintoma de quê? De que não existe respeito pelas opções religiosas dos nossos pares na sociedade. Pior do que não haver respeito é sequer existir tolerância. Esta última está longe de ser o ideal da convivência, pois não reconhece a possibilidade do engano da nossa própria opção. O tolerante toma como princípio que ele tem a verdade, mas ainda permite que a ignorância alheia tenha espaço nesse mundo. Mas, sem dúvida, muito pior é o intolerante, que além de não ter a humildade de reconhecer a possibilidade de sua opção ser a falsa, ainda não permite que o outro persista na sua própria crença, mesmo que "errada".
   Curiosamente, a menina e sua avó pertencem ao candomblé, mas sua mãe comunga a mesma fé dos primeiros agressores, que lançaram a pedra sobre a menina.
   A avó da menina, com muito bom senso, disse: "trata-se de um grupo de fanáticos, que não pode ser confundido com o todo [dos evangélicos]". Discurso acertado, sem dúvida. Correta também foi a posição dos deputados estaduais fluminenses da bancada evangélica, que assinarão nota de repúdio à violência contra a menina. 
   Tudo certo, mas eu pergunto agora: E se, em vez de pedras, os agressores tivessem espadas? E se a lei, em vez de punir tal agressão, incentivasse a violência contra "infiéis"? Será que os "fanáticos" não estariam cortando cabeças em vez de jogando pedras? Bastaria, neste caso, a "nota de repúdio" dos líderes evangélicos?
   Acho que há, sim, um engano na própria expressão "tolerância religiosa". Insisto que devemos reforçar a ideia de "respeito interreligioso". Além disso, não acho que bastem "notas de repúdio". Há que se identificar e punir, não só criminalmente, mas também dentro da comunidade religiosa a que pertencem, os agressores. 
   Uma sociedade em que até um dos aspectos mais íntimos do ser humano, o tipo de crença no divino, é motivo de agressões e ofensas só pode ser digna mesmo de pedradas.
   Será que os "Estados Islâmicos" estão mais dentro de nós do que nos países do Oriente Médio?

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Cérebro e Sistema Linfático


   A notícia já foi veiculada há mais de uma semana, portanto, não é exatamente uma novidade o que eu vou escrever aqui, mas há uma reflexão posterior que eu gostaria de fazer.
   Pesquisadores da Universidade da Virgínia, nos EUA, encontraram estruturas similares aos vasos linfáticos interligadas aos vasos sanguíneos na superfície da meninge de camundongos - o que sugere que o mesmo ocorra nos seres humanos. Segundo os pesquisadores, isto muda completamente a maneira de ver o cérebro, quanto a seu isolamento em relação ao Sistema Imunológico.
   O achado foi tão surpreendente que os próprios pesquisadores duvidaram dele. Jonathan Kipnis, diretor do Centro para Imunologia do Cérebro e Glia da Universidade de Virgínia e autor sênior do estudo, por exemplo, disse: "Eu realmente não acreditava que haveria estruturas no corpo que ainda não conhecíamos. Achava que o corpo já tinha sido totalmente mapeado e que descobertas como estas terminaram de ser feitas em algum ponto por volta de meados do século passado, mas aparentemente isso não aconteceu".
   A descoberta levanta novas questões sobre o cérebro e seus males - inclusive o Alzheimer, que traz tanto sofrimento à minha família.
   Agora, a minha reflexão específica sobre o interessantíssimo fato. Curioso o cientista estar tão surpreso com a descoberta de uma novidade sobre a anatomia humana. A ciência, pelo menos neste aspecto, imaginava já ter descoberto todas as estruturas possíveis... e isto, desde o "século passado". É como se, apesar das críticas à existência de uma "verdade", desde Nietzsche - na verdade, os céticos, e mesmo os sofistas já o fizeram bem antes, mas deixemos os louros para nossa era -, ainda houvesse nichos que se apegam definitivamente a uma verdade imutável. Se bem que eu não precisaria apelar estritamente à Filosofia, visto que já houve suficiente contribuição da Epistemologia na ciência para que se pense na falibilidade de uma teoria científica como característica fundamental da mesma.
   Pelo menos, hoje vivemos em períodos onde cabe a derrubada de "verdades absolutas", ao contrário do que vivenciou Galileu, cujo telescópio foi acusado de ter sujeiras nas lentes, a partir da afirmação "absurda" do cientista de que havia manchas em corpos celestes no "todo perfeito" mundo extralunar. Erro, portanto, do telescópio, e não da teoria vigente. 

sábado, 13 de junho de 2015

José A. Morais


    O médico português José A. Morais, presidente da Sociedade Canadense de Geriatria, veio ao Brasil ministrar uma palestra, e deu uma entrevista ao jornalista Bruno Calixto, de O Globo.
   Disse que "A genética é fator decisivo para a longevidade. Sabemos por estudos que há genes que favorecem a vida longa". Já em relação aos fatores comportamentais, informou que "destacaria, além da alimentação, exercícios, moderação, etc, a participação social, para manter a capacidade não somente física, mas intelectual".
   Perguntado sobre sua posição em relação à eutanásia em casos terminais, disse ser contra. E fechou a entrevista dizendo: "Eu não a cometeria nem a pediria nunca. Enfrentar a doença é mais heroico que se matar".
   Eu só me questiono sobre o real valor de ser "heroico" numa situação de sofrimento extremo. Sinceramente, discordo, pelo menos em tese, do prestigiado geriatra.

Casamento...


   O cartunista brasileiro Jaguar se casou ontem com sua companheira de 24 anos de relacionamento, a médica Célia Pierantoni.
   Sabendo que este blog não se dedica a registros de casórios, resolvi fazê-lo apenas pela graça de um comentário que o noivo teria feito com um seu amigo, logo após a cerimônia no cartório. Disse ele: "Pois é, Téo, saí de uma relação estável para uma relação instável".
   Eu, que também me casei (de Direito) depois de muitos anos de "casado" (de fato), nem pensei nisso à época. Rsss

Islamofobia????


   Dia desses, um dos amigos aqui do blog postou um comentário indicando que os atentados e violências dos movimentos fundamentalistas islâmicos continuam, apesar da desaprovação dos muçulmanos mais "conscientes", digamos assim. E sugeria que não via saída para isso, pelo menos a curto prazo. 
   Concordei com sua análise, e opinei que só haveria solução se, além da simples repreensão, os fundamentalistas fossem excomungados do Islã, tendo em vista a ideia de que compreendem mal as orientações da sua religião. 
   Mas... lendo a entrevista com a escritora e ativista somali Ayaan Hirsi Ali, pensei que o problema pode ser um pouco mais sério.
   Segundo ela, "Somos [os muçulmanos] ensinados que a violência por causa de Alá é obrigação. Se você ler o material de segurança e de propaganda do Estado Islâmico, o que se vê constantemente são referências ao profeta Maomé e ao Alcorão. Quando se pergunta sobre violência, os extremistas dizem que não estão inventando essas coisas. Que o profeta fazia o mesmo. Ele também decapitou, ele também escravizou mulheres. Eles argumentam que estão fazendo justamente o que o profeta ordenou".
   Perguntada sobre a necessidade de uma reforma no Islã, ela indicou quais seriam os principais pontos da mesma: "O primeiro é atitude. Muitos muçulmanos acham que têm de agir exatamente como está escrito no Alcorão e seguindo os passos de Maomé. A reverência incondicional ao profeta e ao livro é um problema. O segundo é a narrativa da vida após a morte. O Islã é obcecado como a ideia de se preparar para a morte. A morte é o objetivo. Outra mudança seria na sharia, que regula absolutamente tudo no mundo islâmico. Por último, a jihad, que significa guerra santa, deveria ser substituída por guerra de paz".
   Depois, inquirida sobre a possibilidade destas mudanças ocorrerem em breve, a ativista diz: "Sou muito otimista e acho que vai acontecer, só não sei se isso ocorrerá enquanto eu estiver viva".
   Segundo ela, as lideranças devem encorajar a reforma, "confrontando a ideologia radical".
   Embora eu ainda não ache que a religião islâmica, em si, seja o problema - devemos lembrar, por exemplo, que o Antigo Testamento também revela um banho de sangue para com os adversários do povo judeu -, acho muito difícil frear os fundamentalistas, principalmente por causa do posicionamento frouxo em relação à última colocação de Ayaan, ou seja, ao confronto esclarecedor com a ideologia radical. Não sei se isso é por simples acomodação ou por medo, mesmo, dos mais razoáveis serem tidos como infiéis por grande parte dos muçulmanos.
   Por último, vale citar que a escritora teve seu Herege publicado no Brasil, e que devemos manter sempre em mente, diante de suas opiniões, que ela é acusada, por alguns muçulmanos, de ser "islamofóbica".

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Eleitor, um mero detalhe nas eleições


   Cada vez mais, é esta a impressão que tenho: os eleitores são um mero detalhe nas eleições. A grande maioria dos políticos só tem como programa "viver da política". Mas e o povo? "Povo? O que é isso? Eu só penso nos votos!", devem pensar estes políticos. Alguém tenta explicar "Mas os votos vêm dos eleitores, que são ninguém menos que o povo!" O tal político dirá: "Ah, se esse tal de 'povo' significa 'voto', então eu gosto deles". Mas esse entendimento dura só até o resultado das eleições, quando os votos foram os votos - conferindo-lhes, ou não, seus cargos. E sossego por mais quatro anos. Nada de ter que pensar em votos... e muito menos em "povo" - seja lá o que essa coisa esquisita queira dizer.
   A minha impressão pareceu ser a mesma do sociólogo Demétrio Magnoli, que no texto "República dos políticos", publicado em O Globo, de hoje, disse (REPRODUÇÃO PARCIAL DO TEXTO):
   "Os partidos oficiais não precisam do apoio ativo de parcelas do eleitorado, pois são sustentados por recursos públicos, nas formas do Fundo Partidário e do tempo 'gratuito' de propaganda partidária. [...]
   A Câmara [...] negou-se a vetar as coligações em eleições proporcionais, que fraudam a vontade dos eleitores mas são cruciais para a existência dos partidos sem representatividade. [...]
    No Brasil, não se completou o percurso histórico de constituição de uma burocracia pública profissional regida pela meritocracia. Nossa elite política travou o processo antes de sua conclusão, reservando para si os escalões superiores da máquina estatal. As dezenas de milhares de cargos preenchidos por indicação política [...] são alvos de uma pilhagem permanente conduzida por meio dos partidos. [...] Nessa burocracia pública capturada pelos partidos estão as fontes da corrupção endêmica que enlaça a elite política ao alto empresariado de nosso capitalismo de Estado.
   O lulopetismo não inventou o sistema política brasileiro. A Justiça Eleitoral, instrumento de oficialização dos partidos, nasceu com Getúlio Vargas, em 1932. O Fundo Partidário foi criado pela ditadura militar, em 1965. [...] Os governos de Lula, entretanto, conduziram o sistema às suas mais extremas consequências. FH governara com base em uma coalizaão coerente, nucleada pela aliança PSDB/PFL [...]. Lula e sua sucessora, pelo contrário, estabeleceram coalizões incongruentes, que conectam a esquerda à direita. O preço da governabilidade foi uma extensão inédita das redes de corrupção. Nesse passo, a corrupção tradicional, fragmentária, deu lugar ao assalto partidário centralizado e sistemático dos cofres públicos. [...]
   Na 'reforma' que ele [Eduardo Cunha, presidente da Câmara] conduz, a única mudança de fundo é a coincidência geral das eleições, o que significaria uma alteração crucial do calendário político: a voz dos eleitores só seria ouvida a cada quatro anos. [...] Nessa hipótese, em longos ciclos de quatro anos, a república dos políticos permanecerá imune ao escrutínio das urnas". 

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Racismo


   Eu já escrevi aqui no blog que, no caso do ser humano, só há uma raça, a humana. Segundo esta perspectiva, não haveria o negro, o branco, o pardo, etc.
   Já escrevi, mas... outro dia, pensei: "Quando se define racismo não se fala em raças? Ora, então há raças?"
   Vejamos. O site InfoEscola diz que "Racismo é uma maneira de discriminar as pessoas com base em motivos raciais". Ora, se existem "motivos raciais" é porque existem "raças" - e não apenas a "raça humana".
    Comecei a avaliar o conceito de "raça". A perspectiva sociológica é muito interessante: raça é como os outros nos avaliam, com base em nossas aparências. O problema, portanto, não é diferençar as pessoas em função de suas características externas - seja cor da cútis, seja determinado desenho de nariz, boca ou tipo de cabelo. A questão problemática é achar que determinado tipo de conjunto seja superior a outro.
   Desta forma, racismo não é considerar a existência de raças distintas, em função das diferentes características físicas das pessoas, e sim achar que há diferenças de valor entre estas distintas características, justificando o tratamento distinto entre as tais raças.
   Será interessante, posteriormente, considerarmos a distinção entre "raça" e "etnia'.

Como ganhar uma eleição


   O título do post é o mesmo de um livrinho que comprei hoje. Não se trata de um pequeno manual do PT, e sim de um clássico da literatura política, escrito por Quintus Tullius Cicero. 
   Só para esclarecer, este Cícero não é aquele Cícero. Explico-me. Este Cícero, o Quintus Tullius, não é aquele, o Marcus Tullius, mais famoso, que era seu irmão.
   Ainda não li o livro, mas cito alguns comentários sobre o mesmo:
   "Os conselhos nele contidos podem surpreender pelo cinismo e pelo pragmatismo, mas mostram que [...] em mais de dois mil anos nada, ou quase, parece ter mudado. [...] Cícero foi eleito..." (Rubens Barbosa, Estado de São Paulo);
    "Se estivesse vivo hoje, não há dúvida de que Quintus estaria ganhando rios de dinheiro como consultor político [...]. As palavras [...], que percorreram uma distância de mais de dois milênios até nós, são incisivas e reveladoras: elas nos fazem lembrar que, quando se trata dessa estranha coisa conhecida como política, a natureza humana não mudou muito desde então. O passado, como se vê, nem chegou a passar." (Nick Owchar, Los Angeles Times)

Conjuntivite


   Na minha época de garoto - e isso faz muito tempo -, a conjuntivite era algo relativamente banal. Eu me lembro de umas "forminhas" plásticas em que minha mãe colocava água boricada gelada, e, em torno de uns três dias, eu já podia voltar às aulas e ao futebol - este último, certamente, muito mais importante. Rsss.
   Nesses meus tempos de pai - e não de filho -, vejo meu filho há quase vinte dias sem ir ao trabalho, e minha filha há duas semanas sem poder ir às aulas - com a próxima semana de provas. E isso, com colírios de antibiótico com cortisona sendo consumidos gotas após gotas. 
   Pior... no caso do meu "menino" - agora, já com 28 anos... ou seja, não tão menino assim -, já houve até necessidade de "raspagem" de uma membrana prejudicial que se formou no olho. E mais: terá que ir ao oftalmologista nas próximas 48 horas, para ver se a tal membrana não se refez.
   Ai, ai, ai... Ser pai é padecer no Paraíso. Rsss

Dentes


  Chega a ser impressionante a pesquisa do IBGE que revela que menos da metade dos homens no Brasil usa escova, pasta e fio dental?!?!?!
   É certo que o Brasil é um país de dimensões continentais, e que as nossas impressões sobre a realidade são sempre aquelas das nossas limitadas circunscrições urbanas. Ainda assim, parece-me bastante estranho, para alguém que, como eu, procuro escovar os dentes até dez minutos após as refeições, ler que, em média, apenas 48,4% dos homens usa escova, pasta e fio dental. Diga-se de passagem que as mulheres, sempre mais inteligentes - essa é uma opinião minha, e não dos pesquisadores -, fazem-no, em média, na proporção de 57,1%.
   Agora, é realmente interessante percebermos o quanto a educação formal interfere em vários aspectos sociais, entre eles a saúde. Das pessoas com nível superior, 83,2% se utilizam desses meios de higiene bucal, enquanto somente 29,2%, entre as pessoas com ensino fundamental incompleto fazem o mesmo.
   Esses números levarão a uma incidência muito maior de problemas bucais nos menos letrados. Não por causa dos livros lidos, obviamente, mas especificamente pela maior consciência da necessidade de busca de uma saúde plena por parte daqueles que vão conhecendo melhor o mundo.

Jornais centenários na América Latina


   Foi publicado um anúncio da Associação Latino-americana de Publicidade, a Alap, que dizia "Esses jornais enfrentam os ataque à liberdade há mais de um século na capa e na coragem". Na lista dos periódicos, entre gigantes como o La Nación (argentino), o Jornal do Commercio e o Estado de São Paulo (brasileiros), há o meu querido O Fluminense - jornal aqui da cidade de Niterói -, que faço sempre questão de comprar, a fim de saber das notícias locais. Quem diria, hein, estar entre os grandes e tradicionais jornais da América do Sul? Fantástico! Dá-lhe Fluminense!