sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Ainda no mesmo festival...


   ... temos a doce guitarra de Lee Ritenour e o fantástico teclado de Dave Grusin.
   Muito show...!!!!
    Nesse vídeo há uma coisa que, para mim, é uma novidade extrema: um baixo de sete cordas. Além do usual, com quatro, já vi de cinco e, no máximo, de seis cordas. Mas de sete?!?!? Aí, só o violão do Dino Sete Cordas. Rssss

Spyro Gyra


   Quem curte Jazz Fusion vai ficar louco com a apresentação da banda americana Spyro Gyra no Java Jazz Festival de 2013. O vídeo está disponível no You Tube.
   É imperdível! Lá vai o link: https://www.youtube.com/watch?v=qLu_FOa1S_c
   Só para lembrar que a banda é de meados dos anos 1970... e o show em questão é de 2013!!!!! 

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Mês de comemorações múltiplas


   Novembro chegou... e, com ele, os dias:
   
   - 17 : Dia Mundial da Filosofia (terceira quinta-feira do mês);
   - 19 : aniversário deste blog (Oito aninhos, hein!)
   - 21 : meu aniversário; e
   - 24 : aniversário do nosso querido Baruch Spinoza.

   Haja cerveja para comemorar. Rsss

Liberal, Libertário e Neoliberal (2)


    Prosseguindo...
   Se imaginarmos que o liberal, em seu sentido clássico, quer um Estado mínimo, não descartamos desta linha um "liberal igualitário", como John Rawls, por exemplo, que admite uma certa ingerência estatal a fim de garantir direitos sociais considerados essenciais. É lógico que, neste caso, o "Estado Mínimo" já não será tão mínimo assim. 
   Antes de falar do "libertário", façamos uma pequena digressão em relação ao termo "liberal".
   Na Europa, "liberal" tem mais a conotação positiva de alguém preocupado com as liberdades individuais, enquanto nos EUA há uma visão negativa em relação ao termo, como se este representasse alguém que tem menos cuidado com o dinheiro dos impostos ao dar-lhe um destino mais social que retributivo, ou seja, define alguém que preza mais o aspecto social que o individual.
   Dito isto, podemos passar ao "libertário" como uma definição que leva em conta uma oposição ao "liberal" neste sentido "americano" do termo. Se o liberal aceita a aplicação social dos tributos, o libertário a rejeita.
   Assim define Will Kymlicka o "libertarismo", em Filosofia política contemporânea:
   "Os libertários defendem as liberdades do mercado e exigem limitações ao uso do Estado para a política social. Portanto, eles se opõem ao uso de esquemas de tributação redistributiva para implementar uma teoria liberal de igualdade. [...] Portanto, não há nenhuma educação pública, nenhuma assistência médica pública, transporte, estradas nem parques. Todos eles envolvem a tributação coerciva de algumas pessoas contra a sua vontade [...] [e] a única tributação legítima é a que se destina a levantar receitas para manter as instituições de fundo necessárias para proteger o sistema de livre troca - por exemplo, o sistema de polícia e o de justiça [...]"
    Só falta o "neoliberal"... 

Não-eleitor (2)


   Voltando à questão dos não-eleitores, trago dados específicos para pensarmos. 
   Em Niterói, cidade próxima à capital do Estado do Rio de Janeiro, e que já foi capital no passado, as eleições de 2004 e 2008 contaram com 22% de abstenções, votos nulos e votos brancos. Já em 2012, esse número subiu para 34%, e, agora em 2016, nova subida para 40%.
   Em relação a estas duas últimas eleições, há uma curiosidade maior. O número de abstenções quase foi o mesmo nas duas eleições - 82.749, agora, e 82.779, em 2012. Como a base de eleitores caiu, de 382 mil para 370 mil, percentualmente houve um aumento nas abstenções, embora nominalmente elas tenham caído. Mas o dado mais interessante é o aumento, até nominal, dos nulos e brancos - de 48 mil, em 2012, para 65 mil, agora em 2016. Ou seja, aumentou em aproximadamente 35% o número de pessoas que só foram às urnas para dizer que não queriam nenhum dos dois candidatos à Prefeitura no segundo turno.
   Tá aí... esse me parece um modo mais cidadão de indicar o descontentamento: ir e dizer "Não voto em nenhuma das opções!". Em termos práticos, nenhum dos três (o das abstenções, dos nulos e dos brancos) é eleitor e alguém segue sendo escolhido para o cargo, mas simbolicamente me parece muito mais representativo cumprir o direito/dever de ir ao local de votação e registrar "por escrito" seu descontentamento.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Não-eleitor


   No Brasil todo, aproximadamente um terço dos eleitores não votou em ninguém. Ou eles não foram nem votar; ou votaram em branco; ou anularam seu voto. É muita coisa!!!
   No Rio, por exemplo, o candidato "Abstenção-nulo-branco" venceu a disputa; deixando Crivella e Freixo logo abaixo. Como a legislação brasileira ainda não reconhece a "subjetividade" do primeiro colocado, ele não poderá assumir seu mandato. Resta-nos empossar o senhor Marcelo Crivella - tecnicamente, o segundo colocado. Rssss
   Apesar de, em termos práticos, essa não-votação não significar nada, visto que alguém, por menor que seja o número de seus votos, acaba chegando ao poder, resta a discussão sobre a insatisfação patente do eleitorado com os candidatos apresentados... ou, quiçá, com a classe política como um todo. 

"O assassinato de Trótski"


   A Folha de S. Paulo publicou uma série de livretos biográficos contendo filmes produzidos sobre o biografado. Um destes livretos conta a história de Leon Trótski... ou melhor Lev Davidovitch Bronstein (1879-1940).
   O livreto é em papel de boa qualidade e narra a história completa de Trótski, desde o seu nascimento; passando por sua aproximação das ideias de Marx e Engels; por seu desterro antes da Revolução de 1917; por seus casamentos; por suas divergências com Stálin; até o período em que se exila no México - a convite dos pintores Diego Rivera e Frida Kahlo -, que culmina com seu assassinato.
   O filme, de 1972, porém, trata especificamente deste último período vivido por Trótski, sendo estrelado por um time poderoso: Richard Burton, Alain Delon e Romy Schneider... entre outros.
   Vale a pena assistir...

Não entendi bem essa...


   Conta-nos a História que houve muita luta para que o brasileiro pudesse voltar a votar, depois de um longo período de ditadura.
   Parte dessa luta foi empreendida por pessoas como Lula e Dilma. Reconheço isso.
   Não entendi, portanto, justamente Lula e Dilma não terem ido utilizar esse direito. O Globo começa essa notícia assim: "Sem candidatos do PT ou aliados na disputa do segundo turno em seus domicílios eleitorais, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff não apareceram para votar ontem". Segundo suas assessorias, Dilma não foi para evitar confusões e Lula, para ficar com a família, até porque, com seus setenta anos, não é obrigado a votar.
   Explica, mas... não justifica. Pelo menos é o que acho. Rssss

Déficit primário vs. Déficit nominal


   O déficit primário, aquele resultado (negativo) da diferença entre receitas e despesas, no Brasil é assustador: R$ 170 bilhões. Mas o pior ainda é o déficit nominal, aquele que também inclui os valores para pagamento dos juros da dívida pública. Nada menos que R$ 587 bilhões!?!?! 
   Caracas... e a dívida pública sob a forma de títulos está aumentando... atualmente beira os 70% do PIB, mas está a caminho dos 80% do PIB. E os juros ainda estão lá em cima: 14%.
   Matemática complicada...

Tomara que ele esteja errado...


   Stefan Zweig dizia que "O Brasil é o país do futuro, e sempre será". Mas espero que, um dia, o futuro se torne presente. 

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Voto facultativo?


   Sempre estranhei a ideia de o voto ser um "direito", mas ser obrigatório. A percepção mais espontânea é a de que um direito pode ser exercido... ou não, segundo a vontade daquele que o detém. Por isso, durante algum tempo, defendi que o voto não deveria ser obrigatório.
   Após ver o que aconteceu na França, quando um ultradireitista foi para o segundo turno porque houve uma abstenção muito grande entre os eleitores, comecei a repensar minha posição.
   Percebi que a descrença na "Política", trazendo o desinteresse pela participação na vida em comunidade, acaba por dar espaço aos mais "mobilizados"... seja lá qual for o tipo de ideologia que carregarem. Ou seja, se, num local onde o voto não for obrigatório, a população esteja desinteressada pela Política, os nazistas desejarem se fazer representados e se organizarem para isso, haverá um governo nazista. É lógico que estou falando em tese, mas podemos acabar tendo um determinado tipo de Estado que seja governado por valores que não são os mesmos da maior parte da população, simplesmente porque essa maioria não quer participar do processo de escolha dos seus representantes. Donde se conclui que, talvez, enquanto nossa maturidade política for pequena, valha a pena manter o voto obrigatório... ainda que com a possibilidade de se fazer uma escolha errada, ou até mesmo de se optar ativamente por uma não escolha, como quando se vota nulo ou em branco.
   Aquele livro que tenho lido, Em defesa da Política, retrata essa minha discussão, quando diz:
   [...] os que se organizam com maior competência podem se fazer representar de modo qualitativamente superior e, nessa medida, podem participar melhor da vida pública, influenciar os mecanismos de decisão, conquistar direitos e posições mais vantajosas na escala distributiva.
   

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

As políticas


   Sempre digo que há mais de uma "política"... ou mais de uma percepção do que seja a "política". 
   Existe a política "profissional", digamos assim, que é aquela que implica busca de poder, e a política "do povo", que visa ao bem comum. 
   Podemos imaginar até que o político profissional inicia sua vida, enquanto cidadão participativo e interessado no bem estar comum, pensando na política "do povo". Mas, enquanto vai se profissionalizando, o viés de suas ações tende a voltar-se primordialmente para a política "profissional".
   Contudo, um livro interessante que leio agora - Em defesa da política, de autoria de Marco Aurélio Nogueira - fala em três políticas. Além da "política dos políticos" e a "política dos cidadãos" - que seriam conceitos equivalentes àqueles que já tratamos acima -, haveria a "política dos técnicos". Esta última seria uma espécie de "política sem política", visto que não há discussão, nem tentativa de acordo. Há, em lugar disso, uma pretensa verdade, teórica e tecnicamente comprovada, que deve ser posta em prática, a fim de que sejam obtidos os melhores resultados possíveis. 
   Interessante esta abordagem...

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Rousseau em tempos atuais


   Durante aquelas inquirições a testemunhas, ao longo do processo de impeachment da ex-presidente Dilma, eu achava muito curiosa a  atuação da senadora Fátima Bezerra, do PT do Rio Grande do Norte. Ela fazia uma pergunta à testemunha de acusação, invariavelmente lendo uma folha de papel. O sujeito respondia de forma absolutamente clara. Na sequência, em seu direito de réplica, ela pegava a mesma folha, que já tinha uma contrarresposta pronta. E sempre começava algo como "Vossa Senhoria não respondeu à minha pergunta...".
   Eu me interrogava: Não respondeu? Putz, o cara deixou claro o que ela perguntou! Obviamente, não era o que ela queria ouvir, mas a questão, então, seria contra-atacar com novos argumentos que desconstruíssem o discurso da testemunha.
   Aí, a gente lembra Jean-Jacques Rousseau, em Do Contrato Social: "não conheço a arte de ser claro para quem não quer ser atento". 

"Filosofia Política", do José Antônio Martins


   Já falei, aqui no blog, do livrinho que dá título a este post. Pequeno, mas interessante. Separei algumas passagens que merecem destaque, seja como informação histórica, seja como base para alguma reflexão.
   Cito com alguma liberdade:
   - Guilherme de Ockham (1288-1347), em Brevilóquio sobre o principado tirânico, defendeu a autonomia do poder civil em relação ao poder papal, sendo um dos precursores das teorias de separação entre os poderes civil e religioso.

   - Não é de todo correta a definição presente em livros escolares, segundo a qual a palavra grega cratós significa "poder". Para entender o sentido antigo do termo cratós, é importante distinguir entre poder e governo, lembrando que a noção de governo não significava uma relação de comando e obediência, imposta pela força do soberano que governa. Dessa perspectiva, traduziremos melhor democracia por "governo do povo", em vez de "poder do povo".

   - Se, a partir de Machiavelli, o poder passa a ser visto como algo cuja finalidade é ele mesmo e não mais a realização de alguma finalidade extrínseca a ele (como o bem comum, por exemplo), era legítimo, do ponto de vista machiavelliano, considerar a Política à parte, em si mesma, como jogo de obtenção e conservação do poder. A Política, assim, deixa de ser a atividade de governar em vista do bem como para tornar-se a atividade de exercer o poder.

   - Uma das missões da sociedade civil (enquanto conjunto dos sujeitos políticos que são os cidadãos) é fazer um contraponto ao poder do Estado.

   - Vemos em nossos dias que o poder político submete-se a outro poder, o econômico.

   

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

"What's It All About?"


   Antes de continuar com a discussão sobre liberal, libertário e neoliberal, gostaria de registrar algo que li no livro com o mesmo título do post, de autoria de Julian Baggini.
   Trata-se da ideia do autor de propor uma discussão "secular" sobre a questão que dá título ao livro.
   Diz ele: 
   "By 'secular' I do not mean 'atheist'. I mean simply that our arguments must not start from any supposed revealed truths, religious doctrines or sacred texts. Instead they must appeal to reasons, evidence and arguments that can be understood and assessed by all , whether they have a faith or not".
   É uma visão esclarecedora sobre o que significa exatamente "secular".
   

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Liberal, Libertário e Neoliberal


   É interessante perceber como os três termos citados guardam diferenças, apesar de sua raiz comum, referente à liberdade do indivíduo.
   Há que se ressaltar ainda que, em determinados países, alguns dos termos têm significados diversos daqueles que vemos em outros.
  Comecemos pelo que parece dar origem a tudo: liberalismo.
  "Liberalismo" é um conceito que expressa, em princípio, uma doutrina política da Modernidade, trabalhando com a ideia da defesa da liberdade do indivíduo, em relação aos possíveis abusos de poder cometidos pelo Estado. Este seria o chamado "liberalismo clássico", que tem como formalizadores do conceito os filósofos britânicos John Locke e Thomas Hobbes.
   Locke advogava a ideia de que o Estado deveria ter uma ingerência mínima sobre a vida individual. O papel das instituições governamentais seria apenas o de garantir ao indivíduo sua vida, sua segurança e suas propriedades. Tudo seria regulamentado, a fim de que não houvesse "invasão" do Estado nos assuntos privados.
   Esse ponto de vista político-social, digamos assim, de Locke, teve sua contrapartida econômica, no pensamento de outro britânico, o filósofo e economista Adam Smith. Para este, o indivíduo deveria ficar livre para buscar seus próprios interesses pessoais, pois, desta forma, toda a sociedade viria a se beneficiar. O envolvimento do Estado na economia seria mínimo, já que o "mercado" se autorregularia.
   Assim, não sem um bom motivo, a ideia de "liberalismo político" ficou associada ao "liberalismo econômico"... e liberdades individuais começaram a ter um significado também de operação de um mercado livre.
    Depois continuo...

Reforma do Ensino Médio


   É triste que, nessa época de polarização política, percamos a oportunidade de analisar de modo imparcial algumas iniciativas governamentais. 
   Deveríamos estar em meio à discussão sobre a proposta de reforma no Ensino Médio que foi enviada pelo governo Temer, através de Medida Provisória, mas não estamos. Em vez disso, vemos manifestações absolutamente partidárias sobre a questão.
   Inicialmente, deveríamos lembrar que a tal reforma enviada por Temer vinha sendo elaborada desde o governo de Lula. Isso já deveria quebrar alguma resistência em relação à proposta.
   Outra lembrança que deveríamos ter em mente era a de que vários educadores solicitavam alguma reforma, em função da inadequação do modelo atual.
   Os alunos também pareciam sentir certo cansaço com o excesso de conteúdo. E questionavam o fato de aprenderem algumas coisas que não teriam uso em sua vida futura, como profissionais de outra área de atuação.
   Juntando tudo isso, deveríamos todos estar esperando ansiosamente por uma reforma. Obviamente, isso não significa que devamos aprovar incondicionalmente o modelo proposto. Há que se analisar criteriosamente o que está no papel. 
   Mas aí surge uma pergunta interessante: O que está no papel? E a resposta é curiosa: Pouco!
   Já sabemos que, por um ano e meio, haverá um conjunto de matérias obrigatórias - que ainda não conhecemos quais são, e só devem ser definidas em meados de 2017 - e que, na metade seguinte do curso, os alunos poderão escolher um determinado grupo de matérias que teriam mais a ver com seus planos futuros de vida profissional. Assim, haveria uma formação mínima mais genérica e outra mais aprofundada - e, por certo, mais estimulante -, que diria respeito à carreira pretendida pelo aluno.
   Matemática e Português - também o Inglês, como língua estrangeira "universal" - seriam disciplinas constantes ao longo de toda a formação... como não poderia deixar de ser.
   A ideia de que disciplinas que estimulam o senso crítico, como Filosofia e Sociologia, pudessem ser expurgadas do currículo, ainda não é certa. Portanto, o tal uso "político" dessa informação parece, no mínimo, precipitado.
   Gostaria de refletir um pouco mais sobre esse assunto...

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Democracia?


   Interessante como a "democracia" é tão defendida, mas temos tanta dificuldade em precisar o que ela é.
   Outro dia, conversando com um amigo que não é ignorante em Política, ele disse: "Democracia é fazer valer a vontade da maioria". Bem... parece que, na prática, ele está certo. Mas a isso também poderíamos chamar de "ditadura da maioria", não é? Se for, então, "democracia" e "ditadura" estão bem próximas?!?!? 
   Vale lembrar que a ideia de "democracia" vem lá dos gregos, significando um modo de deliberação em que "cada cidadão, um voto". Mas os assuntos eram debatidos, antes. Havia um momento, portanto, de informação a respeito do assunto que iria ser posto em votação. Nesse período, a arte da retórica entrava em cena. E, aí, embora o fim da estória fosse a de que a decisão correspondia à vontade da maioria, esta podia só estar materializando o interesse de uma minoria bem articulada em seus discursos e poder de convencimento. De qualquer modo, a ideia de "cada cidadão, um voto" é o cerne da democracia, em vez das eleições censitárias, onde um determinado cidadão, por sua proeminência social, tinha direito a mais votos que outro, com menor expressão diante da sua própria comunidade.
   Bom assunto, esse...

Da comunidade até a sociedade


   É interessante perceber que a distinção estabelecida por Ferdinand Tönnies - citada no post anterior -, entre comunidade e sociedade, foi retrabalhada por Émile Durkheim, com seus conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. Contudo, ao contrário de Tönnies, Durkheim parecia identificar uma evolução histórica dos grupos sociais, migrando do primeiro tipo de solidariedade para o segundo, nas sociedades primitivas para as contemporâneas. Em certa medida, o que percebemos é que há a possibilidade de coexistência de ambos. E aí entra um velho conhecido nosso, Aristóteles.
   O Estagirita explica a associação dos homens partindo da oikos, a casa; para a komê, a vila/aldeia; até a polis, a cidade. O aumento da complexidade dos grupos sociais não impede a permanência da sua convivência. Isto é, havendo a cidade - o que poderíamos associar à sociedade, naquele sentido de Tönnies -, não deixam de existir a casa e a aldeia - com as quais faríamos a analogia à comunidade, em Tönnies.
   Reforçamos nossa impressão, já registrada no post anterior, de que as diversas "aldeias" se fazem representar na "cidade", com seus valores díspares, de acordo com sua dimensão de poder.

Comunidade vs. Sociedade


   Uma coisa que pode nos ajudar a compreender melhor nossa sociedade - e seus problemas - é estabelecer uma diferença entre esta e uma comunidade.
   No século XIX, Ferdinand Tönnies formulou estes dois conceitos - comunidade e sociedade.
   As comunidades seriam organizações sociais nas quais predominam relações mais pessoais, sendo o comportamento pautado pelos hábitos tradicionais. Nelas, há forte coesão social.
   Nas sociedades, por outro lado, os membros mantêm relações mais impessoais, sendo o comportamento predominantemente individual e menos cooperativo. Em vez de as relações buscarem estabelecer laços e satisfazer as necessidades coletivas, procuram alcançar o benefício e as vantagens particulares.
   Pelo fato de existir, nas comunidades, uma maior homogeneidade nos modos de pensar, sentir e agir dos membros, percebe-se ser mais fácil determinar um valor comum que una o grupo social. 
   Quando falamos de "sociedade", a coisa se torna mais complexa. Percebemos que, neste grupo social, a diversidade de valores reinante dificulta - ou até mesmo impede - o estabelecimento deste ponto comum. O que acontece, então, é a constante disputa entre projetos no seio da sociedade. Obviamente, esses projetos traduzem concretamente os valores nos quais se apoia. E, também de modo muito claro, há que se reconhecer uma primazia de alguns projetos sobre outros, em função de uma certa assimetria de poder dos grupos envolvidos nesses projetos.
   Só reconhecendo este fato é que poderemos ter uma verdadeira compreensão do que é democracia, deixando de lado uma expectativa idealizante de seu funcionamento.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Esquerda e Direita


   O livro que estou lendo ainda - e a que me referi no post anterior - é Esquerda e Direita: Guia histórico para o século XXI, do escritor e historiador português Rui Tavares.
   Trata-se de um texto muito interessante, que nasce de um questionamento bastante objetivo: Fazem ainda sentido a esquerda e a direita?
   A resposta de Rui Tavares também é objetiva e direta: Sim. Ainda há uma distinção clara entre "direita" e "esquerda" - ainda que isso não signifique falar apenas em "neoliberalismo" e "socialismo". E é aí que entra a explicação da longevidade desses termos, segundo o autor.
   Para ele, os termos ainda guardam sentido justamente porque não há um conceito específico, unívoco e integral para eles. Há, sim, um "ambiente" que corresponde à direita e à esquerda. 
   Depois, comento mais.

Polêmicas


   Eu não sou um polemista. Mas gosto de observar os assuntos por seus diversos ângulos possíveis de abordagem. De acordo com esta perspectiva, encontrei um bom livro para ser lido: Pensando bem..., do filósofo e articulista da Folha de S. Paulo Hélio Schwartsman. O livro foi publicado pela Editora Contexto, agora em 2016.
   Na verdade, o título é maior: Pensando bem... um olhar original a respeito de liberdade, religião, história, política, violência, comportamento, educação, ciência. Ufaaaa... Isso é o que consta da ficha catalográfica, mas o que está em destaque na capa é o que eu já havia registrado acima... embora, em letras menores, isso também esteja visível exteriormente.
   Mas eu começo com uma frase que consta do livro e que reforça essa ideia de abordagem por diversas perspectivas. A afirmação é do jornalista norte-americano H. L. Mencken (1880-1956). Ele diz:
   "Para todo problema complexo existe uma solução clara, simples e errada.".
   Isso bem serve àqueles que, numa situação tão complexa quanto a do Brasil atual, tendem eleger boias salvíficas únicas para sairmos desse nosso embaraço social... quaisquer que sejam esses portões mágicos de saída da crise.
   Vale à pena ler. Ainda estou concluindo outro livro. Mas, depois, já tenho encontro marcado com esse... pelo menos como leitura alternativa e descontínua, já que os textos são pequenos, e podem ser lidos isoladamente.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

"Verdades e mentiras - ética e democracia no Brasil"


   O título do post se refere a um livro publicado pela Editora Papirus Sete Mares, agora em 2016. Trata-se do registro de um diálogo entre Mário Sérgio Cortella, Gilberto Dimenstein, Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé.
   O texto é bem atual. Alcança fatos como a aceitação da proposta de impeachment de Dilma pela Câmara dos Deputados. E é uma discussão de ótimo nível. 
   Fica claro que, quando o assunto toca o caso concreto de Dilma, somente o Cortella se mostra mais inclinado a defender a ex-presidente. Apesar dessa inferioridade numérica, como a discussão é feita com respeito, há espaço suficiente para que compreendamos a posição de cada "lado". 
   Depois, falo mais sobre este livro.

"A nervura do real"


   Em 1999, Marilena Chauí lançava A nervura do real - imanência e liberdade em Espinosa. A obra constaria de dois volumes. O primeiro volume, referente à imanência, era um "tijolão" - aliás, um tijolão e um tijolinho, já que havia o volume de notas e referências bibliográficas - com conteúdo bastante relevante. Mas os anos se passavam e a parte que mais me interessava, aquela sobre a liberdade, não aparecia. Imaginei até que a professora Marilena Chauí tinha abandonado o projeto. Ainda bem que eu estava errado. Agora, em 2016, foi lançado o segundo volume. 
   Viva!!! Parabéns à professora Marilena Chauí pela grande obra. Aliás, certamente uma referência definitiva no cenário nacional, e mesmo internacional, dos estudos spinozanos.

Quanto tempo, hein!

   Imaginei que julho seria um mês superprodutivo para este blog, afinal eu estive de férias. Mas foi tanta correria que meu plano não só foi frustrado, como ocorreu o contrário: nenhuma postagem.
   Aí, veio agosto. Viagem da filha e esposa; Olimpíadas e impeachment da Dilma mobilizaram minhas atenções... e novo silêncio.
   Mas vamos voltar ao trabalho... Rsss

quinta-feira, 30 de junho de 2016

"O que é socialismo, hoje"


   O título do post é o mesmo do livro de autoria de Paul Singer, e é a propósito dele que eu trato neste post.
   É um livro pequeno, de pouco mais de setenta páginas. Só comecei a ler hoje, mas gostei das primeiras ideias do autor. Ele foi escrito em 1979, portanto, não reflete sobre o relevantíssimo evento da queda do muro de Berlim. Mas... vamos lá.
   Logo na Introdução, ele diz: "quando hoje se levanta a bandeira do socialismo, surge inevitável e justificadamente a pergunta: mas, afinal, de que socialismo se trata?"
   Esta questão se mostra absolutamente pertinente a partir da observação do autor de que "a concepção do que seja socialismo não pode ser sempre a mesma, na medida em que o capitalismo avança".
   Uma questão interessante que o autor põe é: "Onde os meios de produção são propriedade privada e os trabalhadores, assalariados - eis o capitalismo. Mas onde os meios de produção são juridicamente do Estado podemos ter qualquer coisa - capitalismo de estado, economia centralmente planejada ou até socialismo".
   Esta última observação é importante porque, segundo ele: "A abolição da propriedade privada dos meios de produção é, certamente, uma condição necessária à superação do capitalismo e portanto à construção do socialismo, mas não é condição suficiente".
   Quando avançar, falo mais sobre o texto.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

"10 Lições sobre..."


   Gosto muito da Coleção "10 Lições sobre...", da Editora Vozes. Os livrinhos possuem um volume de informações e uma densidade que não parece combinar com a reduzida extensão do texto. É coisa de mágico! Rsss.
   Os últimos volumes que comprei foram Adorno, Leibniz e Weber. Mas, só comecei a bisbilhotar o referente a Max Weber. E... sem nenhuma surpresa, achei-o ótimo. Este volume é de autoria de Luciano Albino, doutor em Sociologia, e professor no Programa de Pós-graduação da Universidade Estadual da Paraíba. 
   A primeira lição é biográfica. Interessante, mas só para situar a polimatia de Max Weber.
   A segunda lição é um show! O título é "Fundamentos sociológicos". São apresentados vários dos conceitos utilizados por Weber em sua formulação de Sociologia. 
   Diz o texto:
   "o principal conceito sociológico de Weber é a ação social, quer dizer: 'um comportamento humano sempre que e na medida em que o agente ou os agentes o relacionem com um sentido subjetivo".
   E explica que:
   "A sociologia, em particular, seria a ciência especializada em interpretar a ação social [...] [e] compreender a conexão de sentido objetivada pelo agente".
   Contudo, para que não percamos de vista a ciência específica que está em jogo, o autor diz:
   "Torna-se oportuno [...] destacar o caráter social da ação, tendo em vista que Weber se preocupou em diferenciar a sociologia da psicologia. [...] [A] Teoria da Ação Social se torna mais sistemática e sociológica no momento em que ele elabora tipos para as mesmas".
    E o livro apresenta, então, de modo breve essa tipologia ideal de Weber: a ação racional com relação a fins;  a ação racional referente a valores; a ação irracional - eu prefiro ação afetiva - e a ação tradicional.
   Como se não bastasse, ainda trata, neste mesmo pequeno número de páginas, de poder e dominação. Ah... é mágica mesmo! Rsss.
   Depois, falo mais.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

"Viagens com Epicuro" (2)


   O livro é bem interessante. Dentro da estória que se desenrola, vamos travando contato não apenas com a filosofia epicurista - como era de se esperar -, mas também com figuras como Edmund Husserl, Martin Heidegger, Soren Kierkgaard, etc. Além disso, há  pequenas citações sobre livros, como Filosofia do tédio, de Lars Svendsen, entre outros. E, ainda, explicações de alguns conceitos filosóficos, inclusive indo ao grego clássico para esclarecê-los.
  Apesar disso, o texto é leve e a leitura flui bem. 
  Boa dica. Depois, comento mais.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

"Viagens com Epicuro"


   Comprei hoje um livro que parece ser bem divertido, cujo título é o do post. O autor é Daniel Klein, que também escreveu Platão e um ornitorrinco entram num bar: a filosofia explicada com senso de humor. A editora é a LP&M.
   Vou dar uma lida rápida, e depois escrevo algo.
   De qualquer modo, antecipando as minhas observações, vou pegar carona no que está no próprio livro.
  "Quando nos deparamos com uma encruzilhada na vida, a quem recorrer: Daniel Klein recorreu aos gregos [...]. Tomando como principal mentor Epicuro, filósofo grego que se dedicou a entender os caminhos que conduzem à felicidade e observando os hábitos dos moradores locais [...], Klein arrebanha o leitor e o leva numa jornada transformadora. Graças à sua prosa saborosa e bem-humorada, e ao seu talento ímpar de aproximar a filosofia da vida cotidiana, o resultado é uma obra encantadora sobre os segredos do bem viver. Tão aprazível quanto repleto de ensinamentos, Viagens com Epicuro fará o deleite de todos os tipos de jovens - dos jovens de idade aos jovens de espírito". 
   O marketing é bom...

"A Short History of Ethics"


   O título do post é o mesmo de um livro de autoria de Alasdair MacIntyre, publicado pela Routledge.
   Eu tenho o livro há algum tempo. Cheguei a utilizar parte dele na minha dissertação do mestrado - o capítulo "Luther, Machiavelli, Hobbes, and Spinoza". Aliás, há passagens fantásticas nesta parte do livro.
   Mas, agora, eu estou lendo outro capítulo, que trata da Ética em Aristóteles, comentando obviamente a Ética a Nicômaco. Mas há referências, também, à Política.
   Como meu alvo é um estudo filosófico da "felicidade", chamou minha atenção logo o começo do capítulo:
   "And the work which is called the Politics is presented as the sequel to the Ethics. Both are concerned with the PRACTICAL SCIENCE OF HAPPINESS in which we study what happiness is, what activities it consists in, and how to become happy. The Ethics shows us what form and style of life are necessary to heppiness, the Politics what particular form of constitution, what set of institutions, are necessary to make this form of life possible and to safeguard it". (Grifo meu)
   Projeto "pequeno" esse do Estagirita, hein! Rsss

Corrupção e financiamento de campanha


   O livro da Míriam Moraes, de alguns posts atrás, traz uma informação que tem se confirmado a cada vez que um político envolvido em recebimento de dinheiro desviado é acusado numa delação premiada. Tais políticos lançam notas curtas, dizendo simplesmente que todos os recursos recebidos em suas campanhas  eleitorais são legais, e foram registrados junto ao TSE.
   Vejamos o que nos diz Miriam: 
 "Entenda: Na esfera do Poder Público não existe o termo 'corrupção", existe apenas 'contribuição para campanhas'".
   Ou seja, para lavar um dinheiro sujo obtido em corrupção - ou por obter, num momento futuro -, basta que este valor seja transformado em doação de campanha para os políticos que podem favorecer as tais empresas "doadoras".


Janot vs.Cunha


   Acho difícil alguém que se diga ético ter simpatia pelo presidente afastado da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha. Por tudo o que já surgiu, parece que o nobre deputado está num "enrosco" danado, seja com a Receita, seja com a Comissão de Ética da Casa, seja com a Lava Jato... e sei lá mais com quem.
   Contuuuuuudo... penso ser muito esquisito o comportamento do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, para com o deputado - aliás, do jeito que vai, está mais para ex-deputado. Explico-me. Janot pediu a prisão de Cunha. Ok! Sem problemas! Mas, no mesmo pedido, ele solicita que, caso a prisão não for decretada, se utilize tornozeleira eletrônica para monitorar Cunha. Ok! Sem problemas! Porém, há mais. Janot quer que Cunha seja impedido de manter qualquer contato com um sem número de autoridades, seja por telefone, e-mail ou qualquer outro meio, e que não frequente repartições públicas sem autorização prévia.
   Isso não é exagero, não?

terça-feira, 14 de junho de 2016

Sérgio Besserman Vianna


   Neste último fim de semana, o economista Sérgio Besserman escreveu em O Globo uma coluna bem interessante, sob o título "Esquerda?".
   No texto, Sérgio registrou o momento de polarização política atual. De um lado, os favoráveis ao impeachment; do outro, os "contra o golpe" - nas palavras do próprio autor.
   Sérgio marca claramente sua posição quando diz: "A narrativa do 'contra o golpe' [...] não apenas não se sustenta no confronto com as evidências como contém em si um núcleo profundamente autoritário e antidemocrático". Portanto, não se trata, para o economista, apenas de não ser correta, mas de ser "autoritária", a posição dos "contra o golpe".
   Ele explica sua opinião. 
   Há gente boa e qualificada apoiando cada um dos dois lados. Cada um deles apresenta fundamentos aparentemente igualmente sólidos para justificar suas posições. Diz Sérgio: "Fosse apenas uma questão de opinião, cada um ficava com a sua, e vida que segue. Como se trata do encaminhamento da vida política, é preciso um critério de decisão e uma instância final para o contraditório".
   Aí vem a justificativa que, penso, embasa bem a opinião de Sérgio a respeito do engano na tese dos "contra o golpe": "Numa democracia, esse critério só pode ser a Constituição, e a instância final sobre a constitucionalidade, o STF. Como isto está sendo integralmente observado, é incoerente e absurda a afirmação de que está ocorrendo um golpe".
   É importante lembrar que quem começou a falar em manipulação dos ministros do STF foi justamente os que fala de golpe. Pelo menos, é que depreendemos dos trechos de gravação divulgados.
   Já em relação à tese do autoritarismo e viés antidemocrático desta posição, Besserman diz: "Quem é 'contra o golpe', consciente ou inconscientemente, tem na mente alguma forma de resolver o contraditório que passa por impor sua posição pela força, assim definida qualquer outra forma que não o recurso ao STF".
   Gostaria de destacar, na passagem acima, a questão do "consciente ou inconscientemente". Decerto há os que falam em "guerra", em "resistência até o último homem", em "luta armada", que fariam parte daqueles que defendem uma posição antidemocrática conscientemente; mas há, também, os que estão embarcando nessa postura de modo menos óbvio. 
   Por fim, só explicando o título. Sérgio explica que o Brasil ainda guarda uma cicatriz profunda em sua sociedade, que é a desigualdade. Para combater isso, segundo ele, precisaríamos de uma "esquerda do século XXI, democrática e antenada com os imensos desafios do mundo contemporâneo". Mas o que temos, de acordo com sua opinião, é uma esquerda que não corresponde a isso. Diz: "Não é a esquerda à qual sinto, desejo e quero pertencer. Não é a esquerda de que o Brasil necessita. Não é nem esquerda".
   É isso. 

Faltou dizer...


   ... sobre Míriam Moraes, que ela é membro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), como especialista em jornalismo político, além de pedagoga.
   Essas informações fazem todo o sentido diante do conteúdo do livro, que, como eu disse, contém tanto informações mais básicas, quanto mais avançadas sobre Política, digna de alguém que sabe conduzir bem o aprendizado.
   Parabéns, Míriam!

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Miriam Moraes


   Passei os olhos, e registrei algumas coisas, pelo livro Política: como decifrar o que significa a política e não ser passado para trás: um guia politicamente correto para entender o sistema de poder no Brasil, opinar e debater a respeito. Ufa... que título enorme! Rsss
   Na verdade, na capa do livro, o que vemos escrito em letras maiores é simplesmente "Política". Em letras menores, aparentemente sem fazer parte do título, veem-se essas outras informações. O que eu lancei como título "oficial", contudo, é o que está na ficha catalográfica.
   O livro é muito interessante. O público alvo não me parece bem definido, contudo. Embora isso, na verdade, possa representar uma qualidade do livro. Há informações muito básicas, mas existem outras que ajudam a fundamentar discussões mais elevadas, como, por exemplo, às que dizem respeito à reforma política.
   De um modo geral, é um livro com bom conteúdo, escrito de forma muito agradável. Parabenizo a autora Míriam Moraes.
   Só para dar início aos comentários sobre o livro, gostaria de fazer uma citação que consta do mesmo:
   "O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo". (Bertold Brecht)

"A política como vocação"


   Leio, agora, A política como vocação, de Max Weber. 
   O texto é interessante sob diversos aspectos. Além de uma visão histórica sobre a questão da Política, há vários conceitos específicos desta área que interessam a qualquer estudioso.
   Gostaria de compartilhar alguns deles aqui. Um pouco em função do último post, sobre doação para partidos com ideologias possivelmente diferentes das dos doadores, gostaria de registrar algo sobre "partidos". 
   Um pouco descontextualizado, lá vai...
   "[...] os partidos, sem nenhuma base doutrinária, reduzidos a puros instrumentos de disputa de postos, opõem-se uns aos outros e elaboram, para cada campanha eleitoral, um programa em função das possibilidades eleitorais. [...] A estrutura dos partidos subordina-se, inteira e exclusivamente, à batalha eleitoral [...]".
   Alguma semelhança com nossos partidos sem ideologia? 

"Doações"


   Fico imaginando por que alguém fazendo uma "delação premiada" mentiria, correndo todos os riscos de invalidar seu acordo e aumentar sua pena. Mas, admito que isso possa ocorrer... em tese.
   Numa das mais recentes delações premiadas, Sérgio Machado diz que captou recursos para a campanha da deputada Jandira Feghali, do Partido Comunista do Brasil (PC do B) junto a empresas fornecedoras da Transpetro. Notícia veiculada em O Globo, por exemplo, diz:
"Em suas duas últimas eleições, 2010 e 2014, Jandira recebeu doações da UTC, Keppel Fels, Brasfels e Queiroz Galvão, todas empresas envolvidas na Lava-Jato".
   Em sua defesa, a nobre deputada indicou que todas as doações que recebeu para suas campanhas foram devidamente registradas. Ok... Fico, contudo, pensando: Por que um grande capitalista doaria seus recursos para financiar a campanha de uma representante de um partido comunista? Ué... capitalistas e comunistas não são adversários no campo ideológico?
   E alguém poderia dizer: Quanta inocência, Ricardo! 

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Frédéric Lenoir


   Estou lendo, agora, Sobre a felicidade - uma viagem filosófica, do autor que dá título ao post. Para quem não conhece Frédéric Lenoir, transcrevo o que diz a orelha do livro: "Filósofo, sociólogo e historiador das religiões, Frédéric Lenoir é também romancista e dramaturgo. É doutor e pesquisador associado na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS)".
   É mole, ou quer mais? Rsss
   Eu já tinha visto um outro livro dele - A cura do mundo -, mas achei o título por demais otimista, e não dei muita bola. Rsss. Como o tema "felicidade", analisado filosoficamente, muito me interessa, comprei o que trata deste assunto. Logo a seguir, fui procurar o outro, e constatei que se tratava, também, de um bom livro para ler... ainda que não exatamente neste momento.
   Mas... trato agora de Sobre a felicidade. 
   O livro apresenta o pensamento de diversos filósofos sobre o tema. Desfilam diante de nossos olhos, a opinião de Sócrates, Aristóteles, Epicuro, Voltaire, Kant, Schopenhauer, entre outros. Há capítulos cujos títulos já remetem diretamente ao pensamento de um filósofo, enquanto em outros aparecem só algumas referências dentro do tema, para dentro dele serem suscitadas os pensadores. Além de filósofos, há também a referência a mestres como Jesus, Buda, Chuang-Tzu. E até a cientistas contemporâneos.
   Embora eu não tenha citado antes, obviamente não poderia ficar de fora dessa lista de tão eminentes pensadores o nosso tão querido Baruch Spinoza. Além de aparecer em um capítulo específico, ele é citado em vários momentos do texto.
   Depois eu conto mais.
   

terça-feira, 24 de maio de 2016

Impeachment ou golpe?


   Não farei uma discussão técnica sobre o tema. O que me faz escrever sobre esse tema é uma observação mais sociológica do que propriamente política.
   Estou estupefato com a temperatura do ambiente social, quando se discute esse tema. Mas o pior é que não se trata apenas de um "achismo" de pessoas ignorantes. Nããão! Outro dia, o ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, pareceu ter entrado nesse modus operandi esquisito.
   O UOL Notícias, em 12 de maio, divulgou uma notícia com o seguinte título: "Impeachment é destituído de legitimidade porque excluiu o povo, diz Joaquim Barbosa". O ex-ministro, e presidente, do STF, teria dito isso numa palestra na VTEX Day, em São Paulo. 
   A citação exata do que disse Barbosa, segundo a própria matéria, é que o impeachment de Dilma é "destituído de legitimidade profunda". Mas completa: "Do ponto de vista puramente legal, está tudo certo, mas não é assim que se governa um país. Isso precisa de nós, o povo".
   Acho que há alguma confusão na fala de Joaquim Barbosa... se é que foi assim mesmo que ele a proferiu. Vejamos o porquê.
   Em primeiro sentido, o mais óbvio e direto, "legítimo" quer dizer "legal", ou seja, que atende à lei. Portanto, se "do ponto de vista puramente legal, está tudo certo", aparentemente é tudo "legítimo". A questão da "profundidade" desta "legitimidade" é algo bem esquisito de se tratar. 
   É certo que há outros sentidos mais descolados desse original, onde "legítimo" significaria algo como "genuíno". Poder-se-ia, então, apelar a esse sentido. Contudo, aí também aparece um engano. Ora, houve, sim, manifestações populares em volume significativo. Até onde pude perceber, a maioria delas a favor do impeachment da Dilma, ou seja, a "legitimidade profunda" estaria garantida.
   Mais do que isso: o supercompetente ex-presidente do STF bem sabe que este processo não envolve a participação popular. Não se faz plebiscito para decidir pelo afastamento do presidente. Portanto, não há que se falar em ilegitimidade do processo por falta de participação popular, se não está prevista no rito original esta participação.
   Coisa de louco...
   

"Ética" e Pierre Hadot


   O livro Exercícios espirituais e Filosofia Antiga, de Pierre Hadot, contém um capítulo chamado "O que é ética?", que corresponde a uma entrevista feita com o especialista em Filosofia Antiga. 
   Logo na primeira pergunta, questiona-se Hadot sobre seu interesse em "ética", mas em que sentido deste termo.
   Hadot diz: "De uma maneira geral, não sou muito estudioso da moral e temo que a palavra 'ética' seja demasiadamente restrita, a menos que seja entendida no sentido da ética de Espinosa. Afinal de contas, Espinosa intitulava Ética um livro de metafísica. Seria preciso portanto, tomar a palavra 'ética' num sentido muito amplo".
   Nosso querido filósofo é destacado até por especialistas em Filosofia Antiga e que se dizem não estudiosos da Filosofia Moral. Esse Spinoza não é fácil, não! Rsss

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Norberto Bobbio


   Estou lendo, agora, O final da longa estrada - Considerações sobre a moral e as virtudes, de Norberto Bobbio. Não se trata exatamente de um livro, mas sim de uma coletânea de textos que foram reunidos sob o título em questão.
   O primeiro dos textos se chama "Ética e Política". Muitíssimo interessante. Em cerca de quarenta páginas, Bobbio expõe as diversas possibilidades acerca da complexa relação entre Ética e Política. 
   Há dois grandes grupos: um monista e um dualista. Estes se subdividem em mais dois - pelo menos. Bobbio chama-os de "monismo rígido" e "monismo flexível", contra o "dualismo aparente" e o "dualismo real".
   Grosso modo, o monismo representa uma redução de um dos reinos normativos - o moral ou o político - ao outro. O dualismo diz respeito ao reconhecimento de duas dimensões normativas, a moral e a política. O que muda é a hierarquização das mesmas. 
   Depois eu falo mais.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Um machista romântico


   Estou lendo o Guia Politicamente Incorreto dos Presidentes da República. Aliás, para dizer a verdade, por enquanto, estou lendo a parte que vai de Collor em diante. Percebe-se claramente que o autor Paulo Schmidt não é nada neutro. Ele advoga flagrantemente contra Lula e o PT. De qualquer modo, é uma boa forma de recordar a História do Brasil recente. 
   Por ora, só queria destacar uma frase do ex-presidente Lula, que o autor registrou como uma das gafes do mandatário anterior à atual presidente Dilma Rousseff.
   Há outras, mas gostei muito daquela que poderia ser atribuída a um machista romântico. Vamos lá: "Uma mulher não pode ser submissa ao homem por causa de um prato de comida. Tem que ser submissa porque gosta dele". 
    Só rindo...

quarta-feira, 20 de abril de 2016

As "musas" do impeachment


    Para quem não lembra, em 1992, havia uma "musa do impeachment", era a cunhada do presidente Collor, a bela morena Thereza Collor.

   Aparentemente, ela entregou a faixa para a loura senhora Temer, agora.
   
   Quem disse que não há nada de bom em impeachments?

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Sem ficar em cima do muro


   Quando declarou que o agora ministro da Justiça Eugênio Aragão não parecia ser confiável, porque sempre vinha com uma palavra diferente sobre algo que se pretendia fazer,  Lula aparentemente não refletiu sobre o fato de que esses "cuidados" podiam corresponder exatamente ao oposto: Aragão era tão "companheiro" que queria se adiantar, em pensamento, às possíveis oposições que surgiriam em relação às ações que se intentava implementar. Ou seja, falar sobre outras possibilidades não é sinal, necessariamente, de ser adversário.
   Diante disso, eu sou um daqueles que o ex-presidente nunca teria como "confiável". Isto porque sempre gosto de ficar "girando em torno" dos fatos, a fim de observar-lhe as múltiplas facetas. Essa minha atitude faz com que as perspectivas saltem à minha vista, e que eu as possa discutir com mais riqueza - pelo menos, em teoria tento fazê-lo.
   Nesse caso do impeachment - para não ficar "em cima do muro" -, acho inaceitável a tese de "golpismo". Esse ataque descabido às pretensões daqueles que procuram o impedimento da presidente Dilma parece estabelecer-se justamente naquele campo da "violência intelectual" citada no post anterior, que é o do sofisma.
   Ora, a possibilidade deste processo está impressa na Constituição Federal. Logo, não há porque atacá-lo em tese. O que pode acontecer é que, na prática, ele esteja eivado de algum vício, o qual deverá ser eliminado, sob pena de todo o processo ir para o lixo. Um exemplo é a alegada inexistência de "crime de responsabilidade". Mas, vejamos, se este é realmente o caso, o STF ou o Senado acabarão por indeferir as pretensões dos adversários do governo.
   A mera alegação de que Cunha é bandido e que é inimigo de Dilma, e que essa foi a motivação para abertura do processo, não se sustenta, de modo algum. Essa fase, que já foi comparada a de um inquérito policial, e, portanto, pré-processual, não estabelece um verdadeiro juízo sobre a presidente. Seria o mesmo que dizer que um delegado, por me ter como desafeto, a partir de uma alegação frágil, abriu um inquérito contra mim. O que virá depois? Provavelmente, quando ele oferecer a peça ao Ministério Público, a mesma será desconsiderada. E, se ainda prosseguir até a abertura do processo, o juiz teria que possuir o mesmo ânimo negativo em relação à minha pessoa para me condenar. Lembrando que, neste momento, eu teria todo o direito de me defender diante de um juízo isento. 
   Desde que as instituições estejam funcionando de modo correto - o que não implica dizer que não haverá pressão sobre elas -, tudo acabará bem... sem nenhum ataque à nossa "democracia".
   Talvez o problema é que os governistas saibam muito bem como essa "democracia tupiniquim" é construída: à base de trocas nada "republicanas" - palavra tão cara aos defensores de Dilma, nos últimos tempos. E se eles têm conhecimento de como é o funcionamento exato desta nossa "politicagem miúda", estão assustados porque os oposicionistas podem simplesmente usar as mesmas armas para conquistar o poder que uma vez eles usaram.
   Sabe aquela mulher que "rouba" o marido da outra se valendo de sua sedução? Pois é. Ela nunca terá segurança suficiente de que seu, agora, marido não sucumbirá aos mesmos impulsos, e trocará de cama e de esposa, diante de outra linda e sedutora mulher.

Discussão vs. Debate


   Vivemos um momento complicado aqui no Brasil. Embora haja problemas de ordem econômica que são muito sérios, penso mais nas questões políticas.
   A maior dessas questões, pelo menos de modo declarado, já que outras andam pelos submundos políticos que não nos são dados a acompanhar, é a do impeachment da presidente Dilma.
   O que tenho visto de pior nesta questão não é exatamente o fato de estar correto ou não proceder ao impedimento da presidente. Isto terá seu local adequado de análise e decisão. O que me parece mais preocupando é que os dois lados "emburreceram", apoiados nas suas crenças. Não há mais diálogo, o que há são meras repetições de clichês elaborados por algum ideólogo. E se segue declarando aquilo vezes e mais vezes, como isto pudesse transformar uma versão em verdade. Mil pessoas falam, mas só se ouvem as mesmas coisas de um lado e de outro. As ideias não foram elaboradas, pensadas e escolhidas, são apenas "mantras". E contra um mantra não há argumentos, só se recita aquilo, como se aquelas palavras tivessem o mágico condão de realizar algo.
   Estive lendo Karl Jaspers, no seu livro muito básico, Introdução ao pensamento filosófico, e me pareceu ter encontrado um texto que explica bem esse nosso momento. O título é "Conhecimento e Juízo de Valor".
   Faço a ressalva, aqui, da confiança, aparentemente, cega na existência de uma "verdade", por parte de Jaspers. Mas o texto admite uma certa flexibilidade interpretativa de nossa parte, sem pretender feri-lo mortalmente. Além do que, o que quero destacar com mais força é a diferença entre "discussão" e "debate".
   Selecionei livremente alguns trechos do texto.
   "A verdade, que é válida para todos, distancia-se muito da convicção, que é a verdade de que vivemos no momento. [...] Não temos o direito de exigir que nossas convicções pessoais sejam admitidas pelos outros. [...] A multiplicidade das convicções em choque nos afeta a todo instante. Confrontados com oposição e hostilidade temos de tomar uma decisão fundamental: admitimos ou não admitimos que todos partilham de uma humanidade comum? Se o admitimos, não há por que tratar os que pensam de maneira diferente da nossa como inimigos. [...] [Se] Nós e o outro não queremos a mesma coisa [...] devemos calar-nos os dois e recorrer à violência - na vida comum, à força física de nossos músculos e, no debate, à violência intelectual, que é o sofisma? Nossa humanidade comum pede algo diferente: se a verdade parece múltipla, devemos tentar esclarecê-la. Isso requer energia intelectual e disciplina. Em vez de nos obstinarmos a afirmar nossa opinião, buscamos razões. [...] Numa discussão hostil entre indivíduos inflexíveis, cada qual busca impor sua opinião ao outro; num debate aberto entre indivíduos esclarecidos, ambos querem assegurar-se da posse da verdade. Esse tipo de diálogo - método civilizado de encontrar caminho comum, mesmo quando há oposição entre os que o procuram - exige o preenchimento de certos requisitos básicos ".
   Jaspers continuará tratando do conhecimento científico, e aí estabelecerá os tais requisitos. Esta parte, contudo, não nos interessa em especial, pois seria metodológica. Priorizamos aqui o aspecto fundacional da questão, a intenção maior em procurar esclarecer o fato em debate, em vez de tão somente discuti-lo violentamente. E, aqui, vale registrar o que Jaspers chama de "violência intelectual", que é o uso de "sofismas".
   Gostei do texto.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Max Weber e a liberdade


   Como estou fazendo uma pós em Sociologia, ando meio em falta com tudo o mais. Ainda mais agora, em que se aproxima o momento da monografia. Entre as leituras, há aquelas que vão se apresentando como absolutamente necessárias, mas há também as que são fruto de uma curiosidade de aprofundamento no tema escolhido. Para minha sorte, apareceu uma que atende a esses dois requisitos. E lá fui eu tomado de interesse por Max Weber - entre a paixão e a razão, de Héctor Luis Saint-Pierre, publicado pela Unicamp.
   Gostaria de transcrever, aqui, uma passagem do livro que pode vir a gerar alguma reflexão no futuro.
  "Weber não foi um filósofo profissional, mas, mesmo assim (ou justamente por isso), colocava permanentemente bases para interessantíssimas especulações filosóficas [...]. Ele expressamente dizia que esse âmbito, impenetrável para a ciência, era a esfera específica do filosofar e, com um respeito digno de admiração, nunca, ou quase nunca, se atreveu a transpor os umbrais que separam a ciência da filosofia". (p.32)
   A questão suscitada no livro, que justifica essa referência à Filosofia, é a da liberdade humana. 
    Assim aparece no livro:
   "[...] o posicionar-se perante os valores implica uma livre escolha entre eles, o que supõe um dado anterior [...]: um sujeito livre. Weber não esclarece o caráter ontológico desse sujeito [...]. No entanto, podemos supor que [...] se trata de um mero suposto [...]. Porém não é isto o que ocorre. [...] [O] sujeito cognoscente livre vai aparecer como suposto e fundamento da teoria da dominação weberiana, como 'ser humano livre' empírico". (p.31)
   O mais interessante dessa abordagem de Weber é que ele propõe uma liberdade de escolha dentro de um âmbito onde não há racionalidade prevista.
   Aí, Héctor Saint-Pierre detecta um "ponto morto", como ele chama.
   "[...] em que sentido este sujeito de conhecimento pode posicionar-se livremente dentro de uma esfera cuja característica é a irracionalidade? Ou talvez: que tipo de sujeito é este que pode ser livre, apesar de (ou justamente por) ser não racional?" (p.32)
   Vale uma reflexão séria...

segunda-feira, 28 de março de 2016

O Brasil já venceu antes


   Embora pareça uma batalha inglória, o Brasil já venceu o Aedes aegypti antes... e duas vezes.
   Vejamos trechos da matéria publicada hoje em Huffpost Brasil.
  "[E]m 1955, o Brasil inteiro foi considerado livre do mosquito Aedes aegypti. Ima Aparecida Braga, do Programa Nacional de Controle da Dengue, e Denise Valle, do Departamento de Entomologia da Fiocruz, explicam em um artigo que a eliminação do mosquito no Brasil veio de uma ação articulada da Organização Pan-Americana da Saúde e da Organização Mundial da Saúde, iniciada em 1947. [...] Em 1967, o mosquito foi novamente introduzido no Brasil e eliminado em 1973."
   A estratégia foi "agressiva", com entrada nas casas - como foi liberado agora, por Medida Provisória - e aplicação maciça de inseticidas.  
  "Autora do artigo 'Um desafio para a saúde pública brasileira: o controle do dengue’, Maria Lucia Penna explica que a erradicação 'se deu pela utilização do método perifocal que constituía na aplicação de inseticidas de efeito residual de seis meses em paredes externas e internas de todos os depósitos domiciliares com ou sem água, assim como nas paredes próximas até 1m de distância dos eventuais criadouros'. [...] Tal método torna os criadouros preferenciais do mosquito armadilhas mortais para fêmeas, além de eliminar as larvas provenientes dos ovos aderidos às paredes dos recipientes quando estes são novamente preenchidos por água."
   Então, vamos ganhar de novo!

O Brasil...


   ... tem cura, e eu também.
  Depois de uma Zika que me derrubou completamente, eis que estou de volta.
   Impeachment para os mosquitos Aedes Aegypti! Rsss

sexta-feira, 11 de março de 2016

"O Brasil tem cura" (2)


   O Capítulo 1 se chama "O diagnóstico - Integridade no Brasil". Particularmente, acho que aqui há um grande problema no livro. Contudo, não é só dela este problema, mas de vários analistas do Brasil.
   Rachel escreve: "Em seu revelador livro Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda afirma que a colonização portuguesa moldou o caráter dos brasileiros". Depois indica que, para aquele autor, "o português vinha buscar riqueza, mas riqueza que custa ousadia, não riqueza que custa trabalho". A fixação dos portugueses, aqui no Brasil, não era uma vontade dos aventureiros, e "a fim de contornar essa dificuldade, Portugal passou a enviar ao Brasil um número cada vez maior de degredados", conta a jornalista.
   O Capítulo 2 se chama "A doença - Problemas do Brasil". Sheherazade identifica bem que "O Brasil não sofre de um único mal, mas de múltiplas mazelas que inviabilizam o presente e comprometem o futuro da nação". Ponto para ela. Mas há uma insistência naquela questão da nossa colonização, quando ela diz "Busquemos, nas raízes de nossa terra, a origem de nossos problemas". 
   Neste segundo capítulo, ela trata da violência, da impunidade, da legislação falha, da educação, da maioridade penal, da perseguição religiosa - a Cristofobia - e da crise de valores. Há uma boa análise das tais mazelas que nos afetam. Embora não dê para concordar com tudo o que está aí dito. Por exemplo, na parte "Crise de valores", Rachel escreve: "O Brasil vive uma crise de valores sem precedentes em áreas como família, educação, moral, cultural, justiça e política. Conceitos tidos como absolutos no mundo ocidental, e que serviram de alicerce para a construção e a consolidação da nossa sociedade, foram postos em xeque. [...] Tudo aquilo que, por séculos, foi tido como claro acabou envolto em uma nuvem de dubiedade, indefinição e incerteza. Vivemos os tempos do relativismo". Ora, aquilo que foi "claro" por séculos não é necessariamente um valor absoluto. Vejamos: uma mulher inteligente e letrada, dando suas opiniões em público, como é o caso da ilustre jornalista, já foi algo que claramente não pertencia aos valores vigentes na nossa tradição ocidental. Foi necessário criticar o valor instituído a fim de que as coisas melhorassem.
   Não vou me estender aqui sobre este capítulo, pois ele merece uma análise mais específica, visto que são vários os pontos questionáveis. 
   No Capítulo 3, "O tratamento - A renovação do pensamento e a transformação individual e social", nos deparamos novamente com a questão da nossa má origem. Diz Sheherazade: "Como já vimos, a desonestidade cultural do brasileiro está na gênese do nosso povo, desde a colonização". 
   Vou parar um momento para perguntar: O Brasil realmente sempre foi o reino da desonestidade? Quem presenciou a Política do passado destaca a honradez de vários personagens que dela participaram. Minha geração viu a seriedade de muitos dos nossos antepassados. Eu lembro do meu pai falando da época em que "um fio do bigode de um homem valia mais que um papel escrito" ou até que "a palavra de um homem dispensava qualquer outra formalidade". Sinceramente, discordo veementemente do diagnóstico da continuidade da desonestidade desde os tempos de nossa colonização. 
   As opiniões sobre a mudança da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília, por exemplo, reforça minha opinião. É comum ouvirmos as pessoas mais velhas dizerem: "Quando a capital era no Rio, os políticos não podiam fazer besteiras, porque estavam perto do povo de verdade. Agora, isolados lá em Brasília, onde todos são funcionários públicos, os políticos não encontram povo de verdade, e podem roubar e fazer tudo o que querem". Ora... então houve um "antes" para as roubalheiras dos políticos, até porque o povo tinha seus valores e cobrava a compatibilidade do comportamento dos mesmos com isto em que eles acreditavam. Onde está, então, a "desonestidade cultural dos brasileiros [...] desde a colonização"? 
   Impossível concordar com a tese de Sheherazade.
   Depois, escrevo mais.

O erro do pedido de prisão de Lula


   Se os promotores erraram, ou não, especificamente em relação às acusações lançadas contra o ex-presidente Lula, isso eu não sei. Mas que eles se enrolaram, ao longo do texto do pedido, em relação à Filosofia, isso eu sei.
   Eles escreveram: "As atuais condutas do denunciado Luiz Inácio Lula da Silva, que outrora chegou a emocionar o país ao tomar posse como Presidente da República em janeiro de 2003, certamente deixariam Marx e Hegel envergonhados".
  Ops... Marx e Hegel? Na verdade, a referência seria à ideologia comunista de Marx e Engels. 

quinta-feira, 10 de março de 2016

"O Brasil tem cura"


   Eu já havia sinalizado, aqui no blog, que estava lendo - com muita curiosidade - o livro O Brasil tem cura, de Rachel Sheherazade. Já findei minha leitura há algum tempo, mas acabei por não registrar aqui minhas impressões. Passo a fazê-lo agora.
   De um modo geral, gostei do livro. Ele reacende na memória muita coisa da História do Brasil recente e traz alguns bons diagnósticos e soluções. Contudo, acho que peca por acreditar na simplicidade de uma solução óbvia, mas que é monstruosamente complicada: "Só é possível transformar o Brasil redefinindo nossos modelos mentais, as formas pré-estabelecidas de ver e julgar a realidade para, consequentemente, passarmos a agir de modo diferente".
   Antes de analisar a obra, gostaria de fazer um pequeno registro da carreira vitoriosa da bela jornalista paraibana. 
   Rachel conta que, em 1992, na Universidade Federal da Paraíba, onde estudava, "alguns professores eram militantes ferrenhos e verdadeiros aliciadores da esquerda" e que "no ambiente acadêmico, intitular-se 'de direita' era confessar-se um antidemocrata, saudoso da ditadura, amante de torturas, enfim, uma completa aberração política e social". 
   Sinceramente, penso que não mudamos muito sobre isso. Ainda temos, na Filosofia e na Sociologia, um grande número de professores tentando doutrinar os jovens, soprando-lhes ventos "esquerdistas". Além disso, dizer-se "de direita" parece significar endeusar o deputado Bolsonaro, mesmo que isso esteja longe de ser o caso.
   Ela conta também que "sem qualquer crise de consciência política, identificava-me com princípios de ambos os lados, como o Estado mínimo e as liberdades individuais - bandeiras à direita - e mais justiça social - preceito da esquerda".
   Não gosto muito da expressão "Estado mínimo", preferindo  o "Estado suficiente". Lógico que esse "suficiente" é bem longe daquela "burocracia" enorme, que incha o Estado, fazendo dele um monstrengo que custa muito caro à sociedade. Mas, vá lá... Estado mínimo e liberdades individuais. Ora, quem não quer "liberdades individuais"? Não acredito que um socialista responda negativamente a isso. É certo que ele diria que, em prol de maior justiça social, seria admissível restringir uma parcela dessas liberdades... mas, em tese, não é necessário ser contra elas. Por outro lado, será mesmo que alguém que não é de esquerda faria franca oposição a uma sociedade onde houvesse mais justiça social? A menos de algumas pessoas que poderiam enxergar que o custo excessivo de programas sociais atrapalha suas vidas, não vejo uma definitiva oposição a este ponto por parte daqueles "de direita".
   Depois, Sheherazade trata da ascensão do PT. Diz ela: "Para quem acreditou na mudança, era como um divisor de águas, como se a moralidade do Brasil, enfim, ali nascesse". Contudo, segundo ela: "Transcorrido um ano da chegada do PT ao poder, as máscaras do partido começaram a cair". E a jornalista passa a narrar os escândalos que envolvem o Partido dos Trabalhadores e alguns de seus afiliados, para concluir que "o PT revelava-se um partido como qualquer outro, com integrantes sujeitos a todas as fraquezas morais e éticas, e passíveis de se corromper".
   A partir daí, segundo a autora, seu interesse pela Política aumentou. Ela continua, então, a falar de sua trajetória pessoal, inicialmente como repórter na Paraíba até ser convidada, por orientação do próprio Sílvio Santos, para ser âncora do SBT Brasil. 
   Depois eu conto mais...

terça-feira, 8 de março de 2016

Feliz Dia 8 de março...


   ... a todas essas maravilhosas mulheres!

segunda-feira, 7 de março de 2016

Pior tempo da minha vida...


   Neste final de semana, fiz a pior corrida da minha vida. Parti bem para os 10 km da etapa Outono da Corrida das Estações. Fechei bem o primeiro quilômetro. É verdade que o sol estava atrapalhando, mas fui continuando bem, enquanto passava pelo segundo, terceiro... No sexto quilômetro, algo passou a incomodar sob a sola do tênis - esse é o que reservo somente para corridas, para não sofrer com o desgaste dos treinos. Pensei que algo estava grudado, e tentava arrastar o pé entre as passadas, de modo ao "troço" se soltar. Com 6,5 km, aquilo já estava atrapalhando, e até machucando, em algumas pisadas. Decidi parar para ver o que era. Uma borracha transversal estava se soltando. Tentei, em vão, arrancá-la em definitivo. Parei, então. Não dava mais para correr com aquele incômodo.
   Fui caminhando desolado ao longo do percurso. O pedaço de borracha dobrava e desdobrava. Contudo, eu nunca havia parado no meio de uma prova. Seria a primeira vez, depois de muitos anos de corrida. Quando já chegava ao sétimo quilômetro, pensei: "Caracas, ainda vou ter que andar com esse tênis mais três quilômetros?! Isso será horrível!". Decidi, então, voltar a correr... mesmo com aquela pisada estranha - ora apoio total, ora piso de lado.
   Cheguei com 1h 00 min de corrida... mais dez minutos que meu melhor tempo para os 10km. Mas cheguei! Rsss.
   A dúvida agora: o que fazer com meu tênis de estimação? Consertá-lo? Cortar a borracha em definitivo? Usá-lo só para treinos? Jogar fora o objeto? Nem sei!

Dia 13 de março


   Espero que o dia 13 de março, em que estão convocadas manifestações contra o governo, seja pacífico.
   Nenhum dos dois lados deve ceder a provocações. Cada qual se arme única e exclusivamente de seu discurso. Ninguém deve aceitar opiniões que não são as suas simplesmente porque elas estão em um jornal ou porque um líder disse que é assim. Mas se não for possível argumentar em meio à manifestação - o que normalmente é o caso -, que se respeite a posição alheia.
    Somos adversários apenas partidários, mas somos um só povo.
   Uma solução há de se pactuar, em prol do nosso Brasilzão!

"Lula coagido a depor"


   O título do post é o mesmo de outro artigo do jornal O Globo, desta vez, de autoria de Frei Betto.
   Tanto o título quanto o início do artigo parece ser uma defesa franca do ex-presidente. Frei Betto lembra que, na primeira prisão de Lula, em 1980, estava na casa de seu amigo. Ao falar desta segunda "prisão" - as aspas são colocadas pelo próprio autor -, é solta uma farpa contra aqueles que "transformaram a convocação em prisão e o depoimento em confirmação de que há um novo réu na Lava-Jato". Resta uma crítica ao juiz Sérgio Moro, como "homem midiático", o que "não combina com a egrégia função". E o governo Dilma ganha um elogio por respeitar a autonomia da Polícia Federal.
   Mas, depois, Frei Betto parece mudar um pouco os ares do artigo. Reconhece que "o PT cometeu muitos erros ao longo de seus 14 anos à frente do governo do Brasil" e que "os três símbolos da identidade do partido perderam credibilidade: organizar a classe trabalhadora; ser ético na política; realizar reformas estruturais".
   Ainda descrevendo os erros do PT, Betto indica que o partido agarrou o poder e começou a tropeçar nessa necessidade de mantê-lo a qualquer custo, tanto assim que "alianças promíscuas o [PT] fizeram perder a credibilidade".
   Uma crítica àqueles que abandonam a racionalidade, pré-julgando Lula, aparece no penúltimo parágrafo: "Quando o emocional se sobrepõe ao racional, faltam pedras para jogar na Geni!".
   Mas outra lambada no PT, no último parágrafo: "Um fato preocupa: o PT jamais julgou a conduta ética de seus militantes acusados pela Lava-Jato. Nem os absolveu, nem os condenou. Calou-se. E quem cala consente".
   Frei Betto já foi muito mais próximo de Lula do que é hoje - pelo menos é o que se diz. De mentor pessoal do ex-presidente a mais um dos ex-companheiros de lutas pregressas, o frei perdeu espaço para os "compadres" de Lula. No artigo, contudo, Frei Betto parece alguém que, sem querer esquecer o passado de lutas sociais, algumas vitoriosas, não se ilude com o presente cheio de problemas do Partido dos Trabalhadores. Acho, porém, que mesmo quando defende a racionalidade contra um juízo meramente "emocional", Betto se engana, visto que a maior parte daqueles que defendem Lula e o PT só o faz justamente porque se nega à crítica racional dos fatos, apegando-se exclusivamente à ideologia irrefletida do "nós, humildes, contra eles, elite". 
   Aliás, uma pergunta: mais pessoas passaram a defender o PT ou a recusar seu modus operandi? A mim parece que mais gente, inclusive petistas históricos, como é o caso do próprio Frei Betto, está passando por um processo de rejeição ao "novo PT", do que está começando a apoiá-lo agora.