terça-feira, 31 de março de 2009

"Gaiatos" por natureza

Aposto que não há no mundo inteiro povo tão "gaiato" quanto o que habita o Rio de Janeiro. Para provar isso, há uma coluna de O Globo, chamada "Entreouvido por aí", que publica frases ouvidas pelos leitores e enviadas à redação do jornal. Vejamos algumas de domingo passado:
- de uma mãe para a filha de cinco anos que pedia tudo num shopping do Leblon: "Queria... do verbo 'não vai ter'";
- de um faxineiro lavando calçada em Botafogo: "Pô, o cara que inventou a água é dez!";
- da criança, depois de ter ouvido a explicação do pai sobre a expressão 'conjuntivite nos olhos' ser pleonasmo: "Ué, então eu tô com pleonasmo" e
- de um rapaz ao colega: "Mulher minha não anda a pé: eu tenho dois Riocards!".
Eita, cariocada engraçada! Rsss

segunda-feira, 30 de março de 2009

A coluna de Míriam Leitão

Gosto muito de ler a coluna "Panorama Econômico", de Míriam Leitão, em O Globo. Normalmente, ajuda-me a entender um pouquinho mais o cenário econômico do Brasil e do mundo, sem nenhuma pretensão acadêmica, mas meramente informativa.
Entretanto, a coluna de ontem, foi diferente. Míriam, mais como uma cidadã do mundo emocionada do que como uma analista econômica racional, abordou a situação feminina no mundo, diante da revelação de mais um "caso repugnante de estupro sequencial de pai e filho contra a mesma mulher, filha e irmã dos dois", bem como dos que já circulavam na mídia - o do "monstro austríaco", o da menina de 9 anos grávida do padrasto em Recife, o da menina de 13 anos que passou a ser abusada pelo pai após a morte da esposa -, bem como outros que já deixaram de circular há algum tempo - como o da moça Eloá, morta em São Paulo por um ex-namorado.
Míriam demonstra a ilusão de algumas mulhers que acham que só está faltando abrir mais espaço no mercado de trabalho para que se considere igualado o direito de homens e mulheres. Mulheres focadas só nisso deixam de ver o absurdo, exemplificado por Míriam, que é a possibilidade, no Paquistão, de mulheres serem escolhidas para pagar a condenação de membros de sua família, que se converte, para a nova "culpada" - que é mais "vítima" da lei, na minha opinião -, normalmente em pena de "estupro público e coletivo". Assim, por exemplo, nos conta a paquistanesa Mukhtar Mai, no seu livro "A desonrada".
Parabéns, Míriam, pela sensibilidade com as palavras e pela escolha oportuna do tema. Aliás, a intenção tem que ser mais do que acusar e punir os agressores, mas também repensar a relação homem-mulher, principalmente nesse aspecto em que o sexo deixa de ser troca de prazeres, para ser um ato de prazer único, acompanhado de outro de violência.
De minha parte, fico abismado ao saber que alguém olha um corpo angelical e pleno de pureza, como o de uma menina de oito anos, e consegue enxergar ali algo de luxúria, passível de promover prazer. E beiro o ódio em pensar que um "abjeito" (mistura de "abjeto" com "sujeito") desses possa ser o próprio pai da criança.
É, Spinoza, não posso negar que, vez por outra, tenho que concordar mais com o Thomas Hobbes, com sua frase "O homem é o lobo do homem", do que com você, que considera o homem (o outro) como sendo a maior possibilidade de realização do homem (o eu). Mas eu sei que sua abordagem é a do companheiro, daquele outro que sabe como é importante a boa convivência. Esse é, justamente, aquele que se indigna, como a Míriam Leitão e a maioria de nós, contra pedófilos abusadores de crianças... de ambos os sexos, inclusive, o que me parece aumentar ainda mais a vileza do ato.

sábado, 28 de março de 2009

A enquete "Metafísica vs. Fenomenologia"

No post anterior, fiz uma espécie de enquete. Vai uma ajuda para os amigos, tirada do livro do qual falei.
A autora cita o exemplo de uma urna mortuária inca que pode ser usada como um mero vaso por um brasileiro. Segundo a visão fenomenológica, a urna não deixou de ter presença, mas o que e como ela é mudou. Então, seu "ser" teria mudado, porque o "ser" não está grudado na coisa, visto que a coisa não é uma "coisa em si mesma", dependendo da "trama de significados" que são dados a ela.
Já o pensamento metafísico tradicional propõe que aquele objeto percebido é, em si mesmo, uma coisa. É verdade que essa coisa carrega "potencialidades", que se "atualizam" (termo de Aristóteles), ou se "realizam" no quotidiano, diante de nossa consciência existencial. Então, aquele objeto, que é, em si mesmo, um sólido com tal forma, feito de tal material, com uma finalidade planejada inicialmente - a de urna mortuária, no caso -, pode, de acordo com qualidades "acidentais", que estão "potencialmente" contidas nele, servir ao sujeito de modo distinto - como vaso, por exemplo. Segundo essa visão, o objeto "urna mortuária" não deixou de ser, em essência, uma urna mortuária; mas passou a ser uma "urna-mortuária-utilizada-como-vaso"... o que é diferente de ser vaso.
E a enquete continua...

sexta-feira, 27 de março de 2009

Aniversário da Deia Mundy

Hoje é aniversário da "comadre" Deia Mundy. Aproveito o espaço do blog para desejar-lhe os parabéns - afinal, ela é seguidora do blog -, acrescentando os votos de que ela consiga realizar todos os seus planos, sejam eles da área empresarial, financeira, familiar, existencial... tudo, portanto, o que ela merece, por todo o seu esforço - acompanhado a distância, é verdade, por mim.
Muita felicidade, Deia!

Uma dívida com Bernardo

Ando em grande dívida com o amigo Bernardo, com quem mantenho uma troca de "cartas" filosóficas. Mas vou usar o blog para dizer que não ando totalmente parado em relação ao assunto. Lá vai...
Bernardo, estou lendo um livro que parece a nossa discussão. O nome é "Analítica do Sentido", de Dulce Mára Critelli. Veja só o subtítulo: "Uma aproximação e interpretação do real de orientação fenomenológica". Não tem realmente a "cara" das nossas trocas de pensamento? Rsss.
O livro apresenta, no início, uma comparação entre o "pensamento tradicional metafísico ocidental" e o "pensamento fenomenológico" - principalmente na linha de Heidegger.
Uma pergunta geral para "diagnóstico". O que os amigos pensam: existem objetos separados de nossas consciências, que se escondem por trás das "aparências" que percebemos no mundo (pensamento metafísico tradicional) ou o ser das coisas - seu modo mais íntimo de existir - está diretamente no que se mostra, dependendo, portanto, de uma "malha" de significados que a consciência lhes acrescenta, enquanto se põe diante dessas coisas (pensamento fenomenológico)?
Eu sou, assumidamente, um "metafísico tradicional", mas gosto de pensar nas possibilidades de significados acrescentadas às coisas no plano existencial. Talvez, uma saída "honrosa" seria considerar a possibilidade das duas abordagens, em diferentes planos ou momentos. Afinal, embora contra a visão da Fenomenologia, acho que dá para pensar aristotelicamente nas coisas (em si) atualizando suas potências no convívio com o nosso "mundo vivido", com a nossa existência fática.
Caramba... esse post ficou filosófico mesmo! Quem se arrisca, agora, a responder a enquete? Rsss.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Depois da tempestade...

Aqui em casa houve uma tempestade, um terremoto, um furacão no quesito "saúde". Mas, ao que parece, estamos em período de bonança, agora. Para comemorar o retorno à tranquilidade, vamos de post novo.

Esses dias estive vendo algumas vídeo-aulas. A primeira delas foi do sempre polêmico Olavo de Carvalho - que, aliás, deixou de escrever para o Jornal do Brasil não sei por quê. O título prometia: Husserl. Fiquei imaginando que veria uma super-aula sobre a Fenomenologia de Husserl... mas me decepcionei bastante. Metade do tempo é dedicado a Husserl, mas parece que o Olavo pretendia mesmo era falar mal do ateísmo de Richard Dawkins - o que não dá para entender, já que um assunto não tem nada a ver com outro. É bem verdade que Dawkins não teria muitos argumentos contra um filósofo "profissional", já que suas teses, no campo filosófico, são "requentadas". De qualquer forma, a defesa que faz de sua "intuição" científica, aplicada ao campo filosófico, é interessante e, parece-me, mereceria um tratamento mais respeitoso por parte do inteligente Olavo de Carvalho. Nesse ponto, infelizmente, acho que sua crença católica atrapalha um pouco sua abordagem do problema.

No contraponto dessa vídeo-aula, assisti aos dois DVDs do professor Paulo Ghiraldelli Jr., da coleção "Filósofos essenciais". Tudo é diferente. Em vez da filmagem de um curso ministrado, como no DVD de Olavo de Carvalho, o vídeo do professor Ghiraldelli Jr. apresenta uma espécie de entrevista deste a uma jornalista. As perguntas são formuladas para que se atinja um objetivo específico, previamente elaborado pelo professor. O tom de Ghiraldelli Jr. é muito mais "suave" que o de Olavo e, embora com conteúdo mais básico, acho que os objetivos de Ghiraldelli Jr. são mais bem alcançados que os de Olavo... até porque, especificamente nesta aula sobre Husserl, parece que o pensamento do filósofo alemão é secundário em relação à polêmica sobre o ateísmo de Dawkins.

O primeiro DVD "Filósofos essenciais" trata de Sócrates, Platão, Aristóteles, Epicuro e Santo Agostinho; enquanto o segundo apresenta Descartes, Kant, Schopenhauer, Marx, Nietzsche e Wittgenstein. Apesar da qualidade de ambos, gostei mais do segundo. Duas críticas seriam que o pensamento de Kant é muito levado para o aspecto moral - apagando um pouco o brilho de suas considerações epistemológicas - e que Marx é considerado um filósofo que voltou para a "estante" após a ruína da União Soviética - sem se comentar o seu "retorno", quando da atual crise americana... não sei se o vídeo teria sido produzido antes desse acontecimento.

De qualquer forma, as explicações são bem encaminhadas pelo repertório de perguntas da jornalista. Mesmo com a minha crítica à apresentação de Marx, o conteúdo é muito bom. Ghiraldelli Jr. responde à pergunta sobre o que teria perdido o sentido no pensamento de Marx e sobre o que ainda seria pertinente. Sobre o que seria sem sentido, Ghiraldelli Jr. fala sobre imaginar que seria possível um controle absoluto do mercado pelo Estado. Destaca, inclusive, que a perda de liberdade do mercado corresponde a uma perda de liberdade política por parte do povo; ou seja, não se conseguiu uma democracia nos moldes marxistas de pensar. Com toda lucidez, entretanto, o professor indica que a aplicação de um sistema filosófico teórico à prática política de um país pode apresentar "defeitos" que não estavam originalmente no modelo teórico e que Marx teria sido um dos poucos filósofos a ter instituída uma práxis da sua teoria... arriscando-se mais do que outros pensadores meramente especulativos.

Já sobre o que ainda é "atual", Ghiraldelli Jr. fala da "reificação" do ser-humano, diante do comando do mercado e das mercadorias. Ele dá um exemplo interessante, principalmente para o mundo feminino. Diz que a mulher vê uma calça linda na vitrine de uma loja; entra; experimenta o modelo e constata que seu manequim não se adequa à calça. Indica Ghiraldelli que a calça dá uma ordem à moça: "Vá; faça uma dieta e volte aqui!". Ele explica que as coisas "falam" conosco, tornando-nos as verdadeiras "coisas" na relação. Somos, então, manobrados pelo mercado... o que Marx já teria constatado no incipiente capitalismo que se desenhava em sua época.

Nietzsche também é bem apresentado, bem como a "filtragem" de suas ideias por sua irmã, e o pensamento de Wittgenstein é comentado em relação aos seus dois períodos, de forma bem ilustrada. Destaca, inclusive, Ghiraldelli Jr. que, quanto ao austríaco, não há necessidade de se "dividir" seu pensamento em fases, pois ele mesmo já o faz para nós.

Vale a pena conferir as vídeo-aulas de Ghiraldelli, que são vendidas nas bancas de jornais, pela simpatia com que ele nos apresenta os pensadores em questão.

sábado, 14 de março de 2009

Ainda sobre moral e Igreja

Nilton Bonder escreve que o mandamento original seria "Não assassinarás!", em vez de simplesmente "Não matarás!". Perceba-se que o "assassinar" tem um "peso" maior que o "matar". Mata-se, inclusive, para alimentação; embora ninguém vá pensar em "assassinato de bois" ou de alfaces.
Voltando para o âmbito humano, que é do nosso interesse discutir, pode-se "matar em legítima defesa", mas não se "assassina em legítima defesa". Pode-se matar "legalmente" para preservar um bem de valor igual ou superior à vida do "morto". Suponho, por exemplo, que Sua Santidade, o papa, aprovaria que um soldado do Vaticano matasse um "novo" Ali Agka, salvando sua pele, em detrimento da do tal muçulmano. Portanto, o "Não matarás!" é relativo também.
Imaginemos um filho olhando para o pai que abusa dessa criança e repetindo: "Honrarás pai e mãe!". Regras descontextualizadas não são nada!
Spinoza, muito acertadamente, percebeu cedo que os Dez Mandamentos são regras sociais, divulgadas por Moisés para a manutenção da unidade de um povo. Se elas fossem absolutas, não haveria necessidade dos juízes ou de Salomão. Imaginem, inclusive, Salomão se propondo a resolver a contenda das senhoras que queriam o mesmo filho dizendo "Corte a criança ao meio!", e uma observando "Salomão, tu, que és o maior dos sábios, 'matarás' um mandamento do Senhor, junto com meu filho ?".
Enquanto a Igreja não perceber, como Spinoza já o fizera, que essas regras são meramente humanas, para lidar com grupos humanos, e não divinas, ela não terá capacidade de colocar-se corretamente diante de um mundo em que seus valores podem ser válidos, mas suas opiniões são anacrônicas.
Ah... só para lembrar... a Igreja não ligou muito para o "Não matarás!" durante a Inquisição e as Cruzadas.

sexta-feira, 13 de março de 2009

A moral kantiana

É interessante como, mesmo sendo avesso à moral kantiana, eu consiga concordar com a raiz de seu sistema: uma moral baseada em imperativos hipotéticos (do tipo: "faça isso para obter aquilo") não merece valor. Isso é somente troca de interesses, à qual imagino seja indigno dar-se o nome de "moral", ou de "ética". Até Spinoza, quando avalia a "moral religiosa" vigente à sua época, que "faz X para obter Y", critica esse tipo de entendimento.

É verdade que a alternativa de Kant para superar essa "moral de imperativos hipotéticos" não me parece a ideal. Eu não tenho a mesma certeza de Kant de que exista realmente um "imperativo categórico", algo universal e necessário, que pudesse guiar qualquer ação humana, em qualquer local e momento histórico. A mim parece que a moral é sempre "circunstancial". Concordo, entretanto, que devam existir valores que possam ganhar relevo, a fim de que a escolha pessoal se apoie em algum "parâmetro externo", mesmo que esse parâmetro possa ser interiorizado pelo caminho da razão.

A crítica que Bernard Shaw faz à moral kantiana, se for entendida de maneira séria - embora a seriedade não pareça ser o traço mais característico de Shaw -, não é coerente. Shaw repensa o imperativo categórico da seguinte forma "Faça somente aquilo que pode virar uma regra universal, mas antes pergunte ao outro se ele gosta". A pretensão de Kant, muito louvável, era estabelecer uma moral universal. Se a regra só pode ser aplicada se ela agradar ao outro, ela não é universal. Pergunte a um bandido se ele quer ser preso. Ele dirá que não, e mesmo assim deveríamos agir de modo a torná-lo um presidiário.

Mas, como eu disse, a crítica de Bernard Shaw é uma brincadeira inteligente, como tudo o que brota dele. Filosoficamente, há respostas diversas da de Kant, sendo as que me parecem mais coerentes aquelas que relativizam o rigor das regras, mas que tentam "fixar" algo como objetivo, quando mais não seja, para facilitar seu uso prático.
Depois eu volto a isso.

sábado, 7 de março de 2009

Mais sobre o aborto em Pernambuco

É difícil eu concordar com o presidente Lula, mas a declaração dele sobre o caso foi de uma coragem irrepreensível, considerando o país "católico" em que vivemos.
Vejamos o que ele disse: "Como cristão e como católico, lamento profundamente que um bispo da Igreja Católica tenha um comportamento, eu diria, conservador como esse. Ou seja, não é possível que uma menina estuprada por um padrasto tenha esse filho até porque a menina corria risco de vida. Eu acho que, nesse aspecto, a medicina está mais correta que a Igreja. A medicina fez o que tinha que ser feito: salvar a vida de uma menina de nove anos".
Por outro lado, na contramão do bom senso e do mínimo de humanidade para uma criança que, segundo a polícia, vinha sendo estuprada desde os seis anos de idade, vemos nova declaração do "iluminado" arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso, que afirmou: "Ele [o padrasto] cometeu um crime enorme, mas não está incluído na excomunhão", e ainda que "Esse padrasto cometeu um pecado gravíssimo. Agora, mais grave do que isso, sabe o que é? O aborto, eliminar uma vida inocente."
Entendo, Sua "Sapiência", mas eu gostaria de ter acesso a essa tabela "Pecadológica", também. Se bem que isso deve ser restrito aos "doutos" como o senhor.
Se me fosse possível fazer uma perguntinha a mais, eu gostaria de solicitar ao "infalível" arcebispo que me explicasse o que acontece quando alguém é excomungado duas vezes da mesma religião; afinal, conforme explica o site G1, "o médico Rivaldo Albuquerque, que participou do atendimento, já havia sido excomungado antes". Será que ele vai para um "andar abaixo" do Inferno de Dante? Mas não seria injusto pagar duas vezes pelo mesmo pecado, "filantropo" monge?
Bem... eu sei que Jesus louvou ao bom Samaritano, que sem ser um homem de fé (dogmática), ajudou um necessitado, ante a omissão dos "reguladores da moral" cheios de fé.
Entre o arcebispo, o cardeal, o papa e Jesus, eu fico com esse último!

sexta-feira, 6 de março de 2009

Para o outro compadre, agora...

Mundy, como é que o presidente do nosso clube consegue errar o nome do maior reforço contratado pelo futebol brasileiro nesse ano, por duas vezes? Esse Horcades está de brincadeira! Se ele não consegue nem apresentar um único sujeito com o nome certo, imagine que confusão é a sua gestão!?

Dia 6 de março...

Não poderia deixar de registrar o aniversário do compadre Paulo, no dia de hoje. É certo que as cercanias de sua casa vão tremer com a festa costumeira - em alto estilo, diga-se de passagem -, que ele sempre promove para os amigos mais íntimos - em torno de 150 pessoas - num dos anexos da sua casa. Rssss.
Brincadeiras à parte... afinal, são só 100 amigos, desejo-lhe muita felicidade, Paulão.

Jesus, alegria dos homens

Antes que alguém imagine que adotei novamente o pensamento cristão como forma de interpretar o mundo, quero dizer que "Jesus, alegria dos homens" é um dos trechos de música clássica que mais gosto. Composto por Bach, em 1723, esse movimento faz parte da cantata "Herz und Mund und Tat und Leben".
Até aqui, só informação. Agora, vejam como ficou a música nessa versão do You Tube, que está em http://www.youtube.com/watch?v=IVh0-jenY6s . É lindo!
E quem não gosta da "Ave Maria", de Schubert? Então, confiram essa versão: http://www.youtube.com/watch?v=SsTJU27a1uc&feature=related

Uma excomunhão no Brasil de 2009???

É lógico que eu não conheço nada de Direito Canônico. Mas mesmo assim, admito que estranhei muito uma notícia lida no jornal de ontem. Lá está: "A Arquidiocese de Olinda decidiu excomungar a equipe médica e a mãe da menina de 9 anos que fez aborto de gêmeos ontem em Recife". O detalhe é que a menina ficou grávida porque vinha sendo estuprada pelo padrasto.
A justificativa para a excomunhão foi dada pelo arcebispo de Olinda, dom José Cardoso Sobrinho, da seguinte forma "O que Deus decide está acima da lei dos homens". Ah... entendo... mais ou menos...
Ao final da matéria, o advogado da Arquidiocese de Olinda diz que será apresentada ao Ministério Público denúncia de homicídio contra a mãe da menina. Ah... entendo, mais ou menos...
Mas... só para entender melhor ainda, eu tenho algumas perguntas:
1) Se a gravidez da menina tivesse sido obra do Espírito Santo, eu poderia concordar com o arcebispo de que "O que Deus decide está acima da lei dos homens", mas esse não foi o caso. O que fez a menina ficar grávida foi uma ação ignominiosa de um sujeito repugnante. Se essa ação é tida como obra de uma "decisão divina", tão divina é a opção da mãe, que resultou na ação de retirada dos fetos... ou não? Se Deus escreveu, por linhas tortas, a gravidez da menina, por que também não pode ter escrito de ponta-cabeça a perda da vida dos bebês?
2) A mãe e os médicos foram excomungados - quanta beatitude deixar a menina fora dessa excomunhão, dom José! -, mas e o padrasto estuprador, não?
3) Se "O que Deus decide está acima da lei dos homens", por que a Arquidiocese vai apelar ao Ministério Público? Afinal, penso eu, ser excomungado já deve ser castigo bastante lá para o Reino dos Céus... ou do Inferno; um castigo terreno é um acessório desnecessário... imagino!
Mas... já que não sei nada de Direito Canônico mesmo, que posso eu argumentar contra a "genialidade" de dom José?

quinta-feira, 5 de março de 2009

Um livro e um site

Recentemente adquiri um livrinho bem gostoso de ler sobre Filosofia. O tal livro, de edição portuguesa, se chama "Que diria Sócrates?", organizado por Alexander George. O livro foi produzido a partir de uma experiência interessante de um site que responde a perguntas de Filosofia enviadas do mundo inteiro. Algumas dessas perguntas são respondidas até por mais de um filósofo. Como as respostas são relativamente breves, podemos ter um acesso rápido a determinado assunto sem grandes pesquisas.
Entrei no site (http://www.askphilosophers.org/) e o achei muito bom. Há uma divisão das perguntas de acordo com os assuntos abordados, o que facilita ainda mais a pesquisa. Para quem não tiver paciência para ler em inglês, e se contentar com um extrato das perguntas, eu descobri que esse ano foi lançado o tal livro no Brasil, com o nome "Existo, logo, penso", pela Editora Objetiva.
Só para aguçar a curiosidade dos amigos, lá vai a primeira pergunta do livro "Existe uma coisa que seja o Nada? Podemos dizer que as meias estão na gaveta, ou que nada está lá. Mas, se é possível que nada esteja na gaveta, então o Nada terá, de algum modo, de existir. Mas, se assim for, ocupa ao mesmo tempo o mesmo espaço que as coisas que não são nada?".
Que acharam?

terça-feira, 3 de março de 2009

O papa e o frei

Como muitos sabem, o "zeloso" cardeal Joseph Ratzinger, alguns anos antes de se tornar papa, deu uma reprimenda no nosso frei Leonardo Boff, por conta do que ele achava uma intromissão da Igreja Católica em assuntos seculares, promovida por Boff e outros, com a Teologia da Libertação. Já que Boff continuou alardeando sua defesa aos pobres, o silêncio lhe foi imposto.
Há poucos dias, concluí a leitura de "Fundamentalismo", de Leonard Boff. De modo geral, ligamos a palavra "fundamentalismo" aos muçulmanos, mas Boff expõe de modo claro o que um pouco de reflexão indica rapidamente: qualquer apego excessivo a uma determinada "verdade" gera fundamentalismo. Dessa forma, Boff nos apresenta o fundamentalismo científico e o cristão - além do já conhecido islâmico. O científico está ligado à crença de que a ciência é a última instância para qualquer decisão, inclusive aquelas de cunho moral. O fundamentalismo cristão dogmático é apresentado como tendo seu maior representante atualmente no papa Bento XVI. A justificativa de Boff é forte, já que no documento "Dominus Jesus", de 2000, assinado pelo então cardeal Joseph Ratzinger, esse "tolerante" representante de Deus na Terra afirma que só a Igreja Católica é uma religião, sendo as outras denominações cristãs apenas seitas.
Por essas "coincidências" da vida, a matéria de capa da "Revista da Semana", edição passada, era "O que pensa Bento XVI". E vejam o que esse "grandioso" papa arrumou... indiretamente. O tal padre que falou que o Holocausto dos judeus fora uma invenção, expulso da Argentina semana passada, tinha sido reabilitado na Igreja por determinação do papa Ratzinger, após ter sido excomungado por João Paulo II, em 1988!!!!
Mas voltando ao Leonardo Boff - que é a parte boa desse post -, quero citar uma passagem do seu livro: "As tragédias dão-nos a dimensão da inumanidade de que somos capazes. Mas também deixam vir à tona o verdadeiro humano que habita em nós... e esse humano em nós faz com que juntos choremos [com os atingidos pela tragédia]"

segunda-feira, 2 de março de 2009

O nome correto de "Spinoza"

Minha querida amiga Maria - portuguesa "da gema", como se diria para os cariocas (rsss) - fez um comentário ao post do filme de Spinoza, "reclamando" que eu utilizo o nome do filósofo no modo que se refere ao idioma inglês e não, como seria recomendado pela ascendência portuguesa dele, na forma "Espinosa".
Eu respondo que a escolha da grafia não é casual... mas está longe de se referir ao idioma inglês. Se eu fosse errar, inclusive, preferiria o francês, que é um idioma mais filosófico (rssss), onde se registra o mesmo "Spinoza".
Minha opção é endossada, inclusive, por Luís Machado de Abreu, autor português, no seu livro "Spinoza - a utopia da razão".
Indica Luís M. de Abreu que há várias formas de registrar o nome do mestre - como d'Spinoza, de Spinoza, Despinoza, entre outras -, mas explica que dois filólogos eruditos portugueses já se debruçaram sobre o tema, tendendo a admitir como melhor a escolha que faço.
Um desses filólogos, J. Leite de Vasconcelos, indica que o termo latino original é "spinosa", que se tornou "Espinhosa ou Espinoza" na Espanha, e que, em Portugal do século XVI e XVII, se transforma em "Espinosa".
É verdade que Spinoza nos confunde um pouco, pois assina a carta a Leibniz, por exemplo, como "B Despinoza"; mas nas cartas endereçadas a L. Meyer registra "B. de Spinoza". Um detalhe a mais na carta a Leibniz é que Spinoza escreve ao "D° Gotfredo Guilielmo Leibntio"... talvez como recomendasse o bom latim.
De qualquer forma, para não perder tempo na justificativa, cito duas marcas muito representativas de como Spinoza "pensava" o seu nome.
1) O único livro publicado e assinado por Spinoza em vida (1663) é o "Renati Des Cartes Principiorum Philosophiae Pars I et II More Geometrico demonstratae" - o nosso conhecido "Princípios da Filosofia Cartesiana" -, constando que fora escrito "per Benedictum de Spinoza Amstelodamensen"; e
2) O selo que lacrava as cartas de Spinoza - mesmo aquela enviada a Leibniz, e assinada como "Despinoza" - continha as iniciais "B D S".
Concluo - conforme também o faz Luís M. de Abreu - que Spinoza utilizava justamente esta grafia que registro para designar a si mesmo.