quinta-feira, 22 de agosto de 2019

A "novela" História do Brasil


   Sei que a História tem uma "dialética" própria, que supera a ação individual. Mas, é fato, que ela se materializa justamente através das ações dos indivíduos. Sempre achei, então, que valeria à pena estudar essa dinâmica processual, mas incluindo as idiossincrasias daqueles que "realizam" - ou que "se fazem realizar através da" - História. No mínimo, o enredo da "novela" de cada personagem histórico estabeleceria um link bem conveniente para entender o processo. 
   Estou dando uma lida em algumas partes do livro Se liga nessa História do Brasil, de Walter Solla e Ary Neto, publicado pela Editora Planeta do Brasil, agora em 2019. 
   Vou contar uma parte que adorei, falando da Revolução de 1930. 
   Estuda-se na escola que a Revolução de 1930 tem lugar por conta da quebra da política do Café com Leite, pelo presidente Washington Luís (representante do "Café" paulista), que, para as eleições seguintes, apoiou outro do seu "time", Júlio Prestes. Este saiu vitorioso das urnas, na eleição de março de 1930. A chapa adversária era formada pelo gaúcho Getúlio Vargas e pelo paraibano João Pessoa, fazendo pesadas críticas ao governo de Washington. Em julho de 1930, João Pessoa é morto a tiros. Os "paulistas" levam a culpa. A pressão aumenta. Em outubro, Washington Luís é preso. E em novembro de 1930, Getúlio Vargas assume a presidência.
   Tudo certinho. Mas... quem matou João Pessoa? E... por que motivo?
   Agora entra a "novela", descrita no livro que citei.
   "João Pessoa queria aumentar a fiscalização em algumas regiões da Paraíba para aumentar a arrecadação de impostos. O coronel Zé Pereira, da cidade de Princesa, não queria pagar mais imposto. João Pessoa então retrucou: 'Vai pagar [...]'. [José] Dantas [o atirador], e a turma do Zé Pereira, queriam pagar para ver. João Pessoa, furioso, contratou espiões e os colocou no encalço de Dantas. [...] E foi aí que ele teve acesso a cartas de amor eróticas que Dantas trocava com sua amante Anayde. O governador da Paraíba, num golpe baixo, publicou essas cartas num jornal. Para defender a honra de sua amada, Dantas [...] meteu tiro [em João Pessoa]". 
   Caraaaambaa... estória de folhetim... Mas a novela não acaba por aí... 
   "Algumas semanas depois, a namorada, consumida de vergonha, se matou". 
     Viiiiixiiii... novela mexicana total...
   

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

As "eupatheiai" estoicas


   A Internet Encyclopedia of Philosophy, em seu verbete "Stoic Philosophy of Mind" - mais especificamente, no item "b. Passion and Eupatheia" - segue a linha que apresentamos no post anterior, quando indica que:
    "It is a mistake to assume that if the Stoics reject passion that they seek a life void of any emotion [...]. A better reading of Stoicism is that the goal is not absence of emotion, but a well-disposed emotional life. [...] This view is supported by the Stoic doctrine of the eupatheiai. Calling positive emotions 'good-passions' may have been an attempt to rectify the misrepresentation of their school as being void of emotion. [...] [I]n the eupatheiai the force of the impulse is appropriate to the value of the object, the impulse is consistent with rational behavior, and finally the belief or judgement regarding the nature of the object is true". 
   Portanto, a desvalorização generalizada das "paixões", que é a interpretação corrente do Estoicismo, parece que deve ser reconsiderada. Afinal, se existem as paixões "ruins", também existem as "boas paixões" (eupatheiai), que, segundo os estoicos, precisariam ser valorizadas.

A 'apatia' estoica


   Os estoicos se referem ao "sábio" como alguém que atingiu a "tranquilidade" e a "liberdade" da escravidão das paixões.
   Contudo, esse empreendimento de superar as "paixões" causa muita confusão e leva a uma concepção enganosa de que os estoicos seriam sem emoção, procurando reprimir seus sentimentos.
   Mas, conforme explica Diógenes Laércio, o próprio Zenão indica que:
  "O homem sábio é 'desapaixonado' [apathê], porque ele não é vulnerável a elas".
   Donald Robertson, em Stoicism and the art of happiness, explica:
   "Zeno meant that the wise man was not enslaved by his feelings of fear or desire, but we're explicitly told here [na continuação da passagem aí de cima] that's not the same as being 'hard-hearted' and 'insensitive', which is the false impression many people have today of Stoicism".
   E em outra passagem, Robertson reforça essa "falsa impressão", ao dizer:
   "However, these endeavours to overcome the 'passions' have caused much confusion and led to the widespread misconception that the Stoics are somehow 'unemotional' or seek to repress their feelings".
   Vou explorar um pouco mais este assunto nos próximos posts. Isso, principalmente, porque me lembro de, no mestrado, ter feito um trabalho que se referia à possibilidade de Spinoza ser um "neo-estoico". Demarquei bem a diferença entre o pensamento do nosso filósofo daquele dos estoicos. Mas tenho achado que a barreira é uma zona mais cinzenta do que percebi à época.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Evanescence


   Adorei a música "Bring me to life", do Evanescence, desde a primeira vez que a ouvi... nem sei há quantos anos. 
  A batida forte, as guitarras pesadas, uma voz cavernosa de tempos em tempos, mas, principalmente, a maravilhosa voz de Amy Lee. 
  Vale a pena assistir ao vídeo antigo: https://www.youtube.com/watch?v=kI01QzkNT7M
    Mas não há como negar que a versão acústica, bem mais suave, ficou maravilhosa, também. 

Algumas visões pessimistas da felicidade


   "Ser imbecil, egoísta e ter boa saúde: eis as três condições necessárias para ser feliz. Mas, se a primeira lhe faltar, tudo está perdido" (Flaubert, carta a Louise Collet - 13/08/1846)

   "Se a Providência quisesse que fôssemos felizes, não nos teria dado a inteligência" (Kant, Fundamentos da Metafísica dos Costumes - 1785)

    "O conceito de felicidade é tão indeterminado que, apesar do desejo que todo homem tem de ser feliz, ninguém jamais pode dizer em termos precisos e coerentes o que verdadeiramente deseja e quer. [...] Quer a riqueza? Quantas preocupações, quanta inveja [...] ele pode, com isso atrair sobre sua cabeça! Quer muito conhecimentos e saber? Talvez isso só lhe proporcione um olhar mais lúcido sobre males que ele doravante enxergará de maneira mais aterrorizante, ao passo que antes se esquivavam à sua visão, e que no entanto são inevitáveis [...] O problema que consiste em determinar de maneira segura e geral qual ação pode favorecer a felicidade de um ser razoável é um problema totalmente insolúvel" (idem)

   

Ainda divagando sobre "determinado" Spinoza


   Louis Althusser  dizia, em Ler O Capital, que "[Spinoza] é o único ancestral direto de Marx".
  No artigo Is it simple to be Spinozist in Philosophy? (https://www.radicalphilosophyarchive.com/article/is-it-simple-to-be-a-spinozist-in-philosophy), a autora Katja Diefenbach, apresenta de modo interessante a visão de Althusser sobre Spinoza, no que concerne a sua relação com o marxismo. 
  Vejamos a parte em que o filósofo franco-argelino "critica" Marx por ele não ter captado um ponto importante da teoria spinozana:
      "At strategic points in Reading Capital, Louis Althusser introduces Spinoza's idea of an immanent cause as the decisive concept that is absent from Marx's discourse. For the Althusser of 1965, Spinoza's model of causality is the great missing link in Marx'se thought, a philosophical omission and lacuna of symptomatic force. It explains the whole detour that Marx was forced to take through Hegel's system of thought. Because Marx was neither aware of the concept of immanent causality in Spinoza nor produced it himself, the idea of the effectivity of structure is foun only in practical state in the complexity with which Marx depicts the social reproduction of economic relations in Capital".
   

Spinoza, o bom jogador (2)


   Aliás, continuei dando uma olhada e descobri um artigo russo - já traduzido para o Português, obviamente... caso contrário, eu não leria - sobre nosso querido filósofo. 
   Olhei rapidamente. Volto a ele depois. Por alto, dá para perceber umas coisinhas questionáveis. Mas... se alguém quiser dar uma lida, aí vai o endereço:

   É sempre bom ver nosso "bom jogador" entrando em campo. Rsss

Spinoza, o bom jogador


   Todo bom jogador é disputado pelas grandes equipes. Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar (???) e outros estão sempre na mira dos dirigentes de clube para serem contratados.
   Não é que nosso querido Spinoza também vive algo assim. Rsss. 
   Estava dando uma espiada na Introdução da versão eletrônica da Contribuição para a Crítica da Economia Política (1852), de Marx, quando vi que o holandês possui seu nome citado no texto... com um hyperlink.
    A passagem é essa:
a) Produção e Consumo
A produção é também imediatamente consumo. Duplo consumo, subjetivo e objetivo: o indivíduo que, ao produzir, está desenvolvendo as suas capacidades, está também dispendendo-as, isto é, consome-as no ato da produção, tal como na procriação natural se consomem forças vitais. Em segundo lugar: consumo dos meios de produção utilizados, os quais se desgastam e se dissolvem em parte (como na combustão, por exemplo) nos seus elementos naturais; do mesmo modo, as matérias-primas utilizadas perdem a sua forma e a sua constituição naturais: são consumidas. Portanto, em todos os seus momentos, o próprio ato da produção é também um ato de consumo. Aliás, os economistas admitem-no. Chamam consumo produtivo à produção que corresponde diretamente ao consumo e ao consumo que coincide imediatamente com a produção. Esta identidade da produção e do consumo remete para a proposição de Espinoza: determina tio est nega tio.

   Há um errinho, ali, obviamente: "determinatio est negatio". Mas, sigamos. Fiquei curioso para onde apontava o hyperlink. Fui ver e...
era para o Dicionário Político do site www.marxists.org. Vejam o que consta lá:
logotipo
  Spinoza, Baruch
foto(1633-1677): Filosofo originário de uma família de comerciantes judeus de Amsterdam, a cidade burguesa mais desenvolvida da época. Foi excluído da comunidade em consequência das duvidas que emitiu, com referencia à autenticidade dos textos sagrados Retirou-se para as vizinhanças da cidade de Haia e, depois, da própria cidade, afim de se dedicar à meditação, ganhando a vida como polidor de lentes para microscópios. Publicou, em 1670, o seu Tratado teológico-político, no qual desenvolveu seu racionalismo religioso e seu liberalismo politico. Suas outras obras só foram publicadas após sua morte. Spinoza foi o cérebro mais livre em filosofia no século XVII. Deve ser considerado como um dos antepassados do materialismo dialético. Sua obra principal é a Ética, publicada em suas obras póstumas (1677): Sua filosofia exerceu influência revolucionária, tanto na França do século XVIII como na Alemanha em fins do século XVIII e princípios do século XIX. Sobre Spinoza, consultar Karl MarxA Sagrada Família. Spinoza escreveu: Ética, 1677; Tratado político-teológico, 1670, etc

    Achei bem estranha a afirmação de que Spinoza "Deve ser considerado como um dos antepassados do materialismo dialético". De onde se tirou isso? Para mim, da vontade de todo grande time ter o craque. Rssss

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Lembrança das férias de julho



                          Spinoza... e eu, em Amsterdã. Rsss