segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Uma ideia neoliberal louvada pela esquerda


   Não pensem que eu fiquei louco, nem que errei no título do post.
   No tal Guia politicamente incorreto da economia brasileira, Leandro Narloch escreve: "Nem Lula, nem FHC. Quem criou o Bolsa Família foram os neoliberais". 
   Estando Narloch certo, é lógico que a tal "ideia neoliberal louvada pela esquerda" a que me refiro no título seria o Programa Bolsa Família.
    Vejamos, então, o que diz Narloch:
   "A ideia que se tornou a maior bandeira da esquerda brasileira nasceu com Friedrich von Hayek e Milton Friedman. Esses dois economistas são odiados pela esquerda por serem conhecidos como os pais do neoliberalismo, a doutrina dos anos 1970 que defendia privatizações e redução do tamanho do Estado".
    Mas isso não é "fofoca da oposição", afinal "o próprio Eduardo Suplicy admite a influência neoliberal. No livro Renda de cidadania, Suplicy afirma que ele próprio, para montar um projeto de renda mínima no Brasil, se inspirou em estudos de economistas liberais que conheceu na década de 1960, durante o mestrado de economia na Michigan State University. [...] Ele inclui no final do livro até mesmo uma entrevista com Milton Friedman".
   Segundo Narloch, "A proposta de Milton Friedman está no livro Capitalismo e liberdade, de 1962". A ideia é simples: "em vez de impor leis e regulações que distorcem o mercado, como leis de salário-mínimo e controle de preços, é melhor o governo criar um 'imposto de renda negativo'. Quem ganha menos que o piso do imposto de renda deveria pagar um imposto negativo (ou seja, receber um subsídio) proporcional ao valor que falta para chegar ao piso". 
   Friedman alegava que, além do custo da ajuda ficar bem clara, pois os mecanismos de controle de arrecadação possibilitariam identificar quanto e para quem foram os recursos, ainda haveria a eliminação de uma burocracia enorme que cerca todas as políticas sociais, acarretando uma diminuição do tamanho da máquina estatal - conceito fundamental do neoliberalismo.
   Curiosamente, o economista americano anteviu um problema para sua teoria: "A principal desvantagem do imposto de renda negativo [...] são suas implicações políticas" - implicações estas que seriam, principalmente, a maioria impor impostos cada vez mais pesados a uma minoria que tivesse que ajudar sempre os mais necessitados daquela maioria.
    E Friedman reconhecia - afinal vislumbrava um cenário democrático: "Não vejo nenhuma solução para este problema - a não ser que confiemos na boa vontade e no autocontrole do eleitorado". 
   Xiiii... essa confiança deve ser fruto de alguma droga alucinógena. Rssss.

"50 ideias..."


   Não, não... Não são "50 tons..."! Nada de falar do livro ou do filme "50 tons de cinza". Rsss.
   Aqui, quero comentar outros "50". Trata-se de uma pequena coleção de livros cujo título é sempre "50 ideias de... que você precisa conhecer". Os assuntos a serem conhecidos, já disponíveis, são: Filosofia, Psicologia, Economia e Física Quântica.
   Eu comprei os livros sobre Filosofia, Psicologia e Economia - se bem que eu, na verdade, nunca vi o tal sobre Física Quântica. Mas, segundo a orelha dos livros que tenho, ele existe. A publicação se faz pela Editora Planeta.
   Os textos são leves e bem elucidativos. Acho que vale a pena conhecer. E não há necessidade de ler tudo em sequência. Pode-se pinçar o assunto que se deseja conhecer, e lê-lo isoladamente. Se bem que há referências cruzadas que podem ajudar. 
   Segue, então, uma dica literária para as férias de fim de ano. 

Fazendo justiça a Adam Smith


   Adam Smith (1723-1790) é conhecido como um dos pais da Economia, e sua obra mais lembrada é A riqueza das nações (1776).  Contudo, quem conhece um pouquinho só de História da Filosofia sabe que ele foi um dos "nossos". Nesta área do saber, sua obra mais importante é Teoria dos sentimentos morais (1759).
   Smith era professor de Ética na Universidade de Glasgow. Na obra em questão, que parece ter como base justamente suas reflexões provenientes da cátedra, o escocês se propõe compreender a natureza do "sentimento moral" - assunto tão caro aos iluministas. O filósofo moral propõe a existência de uma "simpatia humana" que torna os indivíduos capazes de superar o egoísmo, tornando-os sensíveis ao sofrimento alheio. 
   O motivo de escrever sobre Adam Smith, aqui, é que fiz uma referência "negativa" ao seu princípio da "Mão Invisível", justamente utilizando o exemplo de uma situação em que o egoísmo suplantava o cuidado com os outros, e a tal "mão invisível" acabava não atuando como a proposta inicial, isto é, servindo ao interesse geral, ainda que se buscasse o interesse individual.
   Então, façamos justiça a Adam Smith.
   A expressão "mão invisível", para começar, aparece justamente em A teoria do sentimento moral, sendo utilizada em A riqueza das nações em apenas três oportunidades - pelo menos é o que informa Edmund Conway, em 50 ideias de Economia que você precisa conhecer. Aliás, em outro post, gostaria de falar mais sobre este livro.
   E é justamente neste livro sobre Economia que aparece o elemento que isenta a tese de Smith de qualquer culpa. 
   Lá está escrito:
   "[...] mas há algumas condições importantes. Smith tomou o cuidado de distinguir o interesse pessoal da pura cobiça egoísta. É de nosso interesse pessoal ter um conjunto de leis e regulamentos que nos protejam de sermos tratados injustamente como consumidores. [...] A mão invisível precisa ser apoiada pela regra da lei". (Grifos nossos)
    E o autor fecha o texto referente a este tema - "A mão invisível" -, da seguinte forma:
   "Alguém que é movido pura e simplesmente pela cobiça pode decidir burlar a lei na tentativa de enriquecer em detrimento dos demais. Adam Smith nunca teria aprovado isso".
   Portanto, ao contrário do exemplo que eu dei da água sendo vendida por um preço abusivo em locais onde o desabastecimento deste produto se instalou momentaneamente, isto não corresponderia à tese de Adam Smith. Este tipo de atitude não seria aquela que o escocês pensou como visando ao "interesse pessoal", e sim estaria melhor classificada no que ele entendia como ação motivada por "cobiça egoísta", que tenderia a burlar regulamentos que visam a nos tratar justamente como consumidores.
   Desta feita, podemos considerar que a ideia da "mão invisível" continuaria válida, e corresponderia a uma boa teoria para fortalecer a iniciativa pessoal como melhor produtora do bem geral do que um planejamento estratégico estatal amplo, que abarcaria todas as possibilidades de negócios.
   Por último, eu diria que, se Adam Smith era amigo bem considerado de um gigante filosófico como David Hume, fraco é que o sujeito não era... não é? Rsss.

sábado, 28 de novembro de 2015

Zizek e os ataques a Paris


   Em uma brevíssima entrevista ao jornal O Globo, o filósofo Slavoj Zizek - "com seu jeito elétrico e suas declarações polêmicas" - tratou dos atentados ocorridos em 13 de novembro de 2015.
   Em alguma medida, acho que ele concordaria com o desabafo que fiz aqui no blog, no post "Eu não aguento mais...", sobre a certa "frouxidão" com que os líderes muçulmanos condenam os atentados terroristas no Ocidente.
   Zizek disse: "Os ataques terroristas em Paris devem ser condenados de verdade. É preciso mais do que esse espetáculo patético de solidariedade de todos nós - pessoas livres, democráticas e civilizadas - contra o 'monstro muçulmano assassino'. [...] Não se deve tentar compreender os terroristas do Estado Islâmico, no sentido de que 'seus atos deploráveis são reações às brutais intervenções europeias'. Eles precisam ser caracterizados pelo que são: o oposto islamofascista dos racistas europeus anti-imigração. São dois lados da mesma moeda".
   Depois falo mais desta entrevista, que envolve também o lançamento do novo livro de Zizek, O absoluto frágil.

Dívida pública brasileira


   O FMI prevê que a Dívida Pública brasileira chegará a 72% do PIB, no final do ano. 
   Segundo o economista José Roberto Afonso, um dos autores da Lei de Responsabilidade Fiscal, será a maior de todos os emergentes - superando em 23% do PIB a média dessas economias. 
   É lógico que uma dívida pública alta não indica necessariamente um estado de calamidade... basta que ela não cresça muito mais rápido do que a economia do país. Mas e se o país não cresce? Xiii... aí o bicho pega! 
   Alguém enxerga esse cenário como o atual do Brasil?

Falando em desigualdade...


   Leandro Narloch, em seu livro, dedica um capítulo ao que ele chama de "Bolsa Família ao contrário", ou seja, a algumas ações governamentais - algumas referentes a práticas já históricas - que agravam a concentração de renda e a desigualdade. Mas a abertura do capítulo faz referência ao Programa Bolsa Família "direito" - e não "ao contrário".
   Diz o texto:
  "A ONU diz que o Bolsa Família é um exemplo de combate à pobreza e à desigualdade. The Economist [...] diz que o programa 'transformou vidas' ao cortar 'a pobreza em 28% em uma década usando apenas 0,5% do PIB'. Para o New York Times, o Bolsa Família reforçou a renda, a educação e a saúde das crianças pobres do Brasil."
   Aliás, essa é a grande propaganda que o governo faz, quando fala do programa... quase sempre sem dar o devido valor ao "pai" original, o hoje senador Cristovam Buarque - por quem, aliás, nutro um profundo respeito.
  Volto agora à questão dos dados tomados sem uma reflexão mais profunda.
  Em Iniciação à Sociologia, de Nelson Dacio Tomazi (coord), publicado pela Editora Atual, em 2000 (2ª edição) - mas que, até onde eu sei, está esgotado -, há um capítulo tratando das desigualdades sociais no Brasil. Nele, há uma chamada interessante: "Se a análise se restringir aos números, ficará a ideia de que a desigualdade diminuiu durante o regime militar, pois o número de pobres caiu do ano de 1970 (39,3% da população) para o ano de 1980 (24,3% da população)" - aliás, fazendo-se parênteses aqui, essa redução de 15 pontos percentuais, sobre os 39,3%, equivale a uma redução de aproximadamente 38% da pobreza, o que seria bem mais do que o obtido pelos governos petistas. Mas... sigamos. E agora vem a chamada de atenção - "No entanto, na análise da questão da desigualdade, deve-se fazer a seguinte pergunta: a diminuição do número de pobres, em alguns momentos, expressava ou não uma diminuição da distância entre os mais ricos e os mais pobres? Ou será que um aumento temporário no nível de renda não impede que os mecanismos de concentração continuem atuando e se amplie o abismo que separa ricos e pobres? É uma questão básica para um estudo sociológico".
    Reforçando a ideia: a solução para a desigualdade não é só criar "saídas" temporárias para diminuir o "número de pobres", mas sim eliminar os mecanismos existentes de concentração de riquezas, que continuam sempre, mesmo nos tempos de aparente melhora da situação, a operar no sentido contrário ao que se deseja.
   
PS: O livro Iniciação à Sociologia citado é muito bom. Há vários capítulos que tratam especificamente da situação brasileira. Seus defeitos são dois: o preço e a não produção de uma nova edição, ampliada, contendo os ganhos e perdas sociais no Brasil a partir do ano 2000.

"Guia politicamente incorreto..."


   A série "Guia politicamente incorreto...", originalmente escrita pelo jornalista Leandro Narloch, ganhou companheiros de outros autores, como, por exemplo, "... da Filosofia" e "... do Sexo", do filósofo Luiz Felipe Pondé.
   Mas, agora, Narloch fez crescer a série, ao escrever o "Guia politicamente incorreto da Economia Brasileira", também publicado pela Editora Leya, agora em 2015.
   Como os outros, este também é muito interessante. A atualidade das referências é fantástica. Lemos sobre a Operação Lava Jato, sobre ações do governo Dilma Rousseff, etc. Isto nos faz desfrutar do livro tanto no seu viés de melhor entendimento do assunto técnico que está em jogo - a Economia -, quanto dos desdobramentos econômicos de assuntos que nos interessam no quotidiano - seja na Política ou na História.
   Li menos da metade do livro, e estou gostando muito. Contudo, penso que a leitura precisa ser cuidadosa, porque algumas afirmativas me parecem ser feitas de uma forma muito contundente, a partir de dados, números e tabelas, como se estes sempre dissessem tudo de forma inquestionável. Aliás, há que se reconhecer que o próprio autor nos adverte, em certa medida, desta "armadilha". Ele faz isso quando fala sobre a desigualdade.
   Diz:
   "A desigualdade não é algo concreto - é só uma estatística. Nem sempre a desigualdade maior significa que as pessoas pioraram de condição. Compare, por exemplo, as três situações:
   A: João e José ganham mil reais por mês cada um.
   B: João ganha 2 mil reais por mês; José, 1.400 reais.
   C: João ganha 40 mil reais por mês; José, 2.200 reais.

  Na situação A, João e José têm uma relação perfeitamente igualitária. Nas outras duas, a desigualdade cresce, ainda que os dois indivíduos tenham enriquecido. John Rawls, um dos principais filósofos políticos do século XX, sistematizou esse pensamento no seu Princípio da Diferença. Desigualdade, seguindo essa tese, é aceitável se resultar em melhoria de condição dos mais pobres".
   
   Mas, penso, cai na mesma armadilha, por exemplo, quando defende que a livre concorrência acaba por despencar o preço dos produtos, citando a ideia de Adam Smith de que "Buscando realizar os próprios interesses, as pessoas eram 'levadas por uma mão invisível' a servir o interesse público". Isto porque nem o escocês viu, nem Narloch deve ter lembrado que em momentos de seca aguda ou enchentes avassaladores, que dificultam a obtenção de água potável, os comerciantes, mesmos com seus estoques de água mineral adquiridos a preços baixos, da noite para o dia, remarcam seus produtos para venda em 300%, 400%, sem atender, de modo algum, a esse interessante mecanismo da "mão invisível" que faria com que a busca da promoção do bem individual acabaria por promover a obtenção do melhor bem social.
   Mas, volto a dizer: recomendadíssimo!

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

"Poesia, por que não?", de Marcio Tavares D'Amaral


   O texto a que o título do post faz referência foi publicado no jornal O Globo do dia 14 de novembro de 2015. 
   
   Como se trata de matéria com direitos autorais, não gostaria de desrespeitar o aviso de que é proibida sua divulgação sem autorização. Contudo, para incentivar a leitura do texto, gostaria de registrar algumas de suas passagens.
   Por exemplo:
"Se há pergunta estúpida é para que serve a poesia. Na pergunta já está o decreto da inutilidade das coisas escritas quando não vão números no meio. Ou figuras. Poesia? Poesia numa hora dessas? Pois sim, claro. Essa é que é a hora. Quando está escuro. Porque se não temos luz para ver, e uma cegueira branca nos atordoa, é a voz do poeta que estraçalha a noite. Ela e a música.

[...] Então, é assim: quando faz escuro, é preciso cantar. E acordar a cidade. Quando Roma foi atacada no século IV a. C., os gansos do monte Capitolino grasnaram até que os romanos acordassem e pusessem os invasores para correr. Nós somos os gansos do Capitólio. E tem muita gente que precisa ser posta para correr. Os que não amam, e não lhes basta não amar, o que seria um sofrimento só seu: querem contaminar o mundo com sua incapacidade de ternura. São perigosos. Inimigos da vida. Grasnar contra eles é como rir na cara do desamor.

[...] Que a poesia não servisse para nada seria o sonho dos donos do mundo, dos cogumelos que contam seus metais e explodem sobre cidades. A malícia dos poetas é deixá-los pensar que é assim. Quando acordarem, um dia, a poesia estará nos top trends das redes, nos outdoors, interrompendo a programação das rádios e televisões. Revolução é isso. E que revolução! Essa em que a beleza, irmã gêmea da verdade, abolirá a noite, que doravante servirá apenas para dormir e sonhar. E decretará o sol."

   Muito bom. Vale a pena ler por inteiro!

Eu não disse?


   Num dos últimos posts, tratei de um receio que eu tinha das pessoas começarem a rejeitar mais explicitamente o "diferente", em se tratando dos países que vivem mais próximos do risco dos radicais islâmicos. 
   Pois é, li a notícia que a dona de um salão de beleza, no Reino Unido, escreveu no Facebook do seu estabelecimento: "O Blinks of Bicester não está mais aceitando reservas de pessoas de fé islâmica, seja com o passaporte concedido pelo Reino Unido ou não. [...] Desculpe, mas é hora de colocar meu país em primeiro lugar".
   A moça foi presa, talvez sob a acusação de incitar o ódio interreligioso - isto não é informado na matéria.
   Minha preocupação é que não se trata de um neonazista, ou de um membro da ultradireita, mas sim de uma pessoa comum, que, como qualquer outra, se sente ameaçada por um grupo que tem uma "cara", a de um "muçulmano". Não são todos os muçulmanos que aderem ao perfil de homens bomba, mas todos os com perfil de homem bomba são muçulmanos - pelo menos nesse momento da história. Portanto, não se pode negar a lógica do pensamento da moça.
   É óbvio que uma análise mais profunda vai demonstrar que muitos dos que aderem a essa causa já estavam em crise social antes. E, muito provavelmente, foi justamente por isso que toparam as missões suicidas e os homicídios contra aqueles que são "maus", por não lhes darem o direito de viver como iguais na sociedade em que estão. Mas esses desdobramentos alcançados pelos estudos sociológicos não habitam a cabeça das pessoas com medo ou das que são a massa de uma sociedade.

Futebol e zumbis


   Esclareço logo que, apesar de hoje ser Dia da Consciência Negra, o "zumbi" do título não se refere ao Zumbi dos Palmares, e sim àquela figura de "morto vivo" que faz sucesso em tantos filmes.
   Ainda corrigindo possíveis enganos, quero dizer que o post não diz respeito a uma possível crítica à nossa seleção de futebol, indicando que eles estão jogando tão mal quanto zumbis.
   O vínculo entre futebol e zumbis se dá a partir de uma lembrança da inautenticidade heideggeriana.
   Quando paro para refletir sobre minha relação com o futebol, sempre fico pensando: "Caramba, por que estou perdendo tanto tempo assistindo a esses marmanjos correndo atrás de uma bolinha?"; afinal, com tanto para ler e escrever, que ausência do mundo é essa que me permito, durante quase duas horas? E aí surge o conceito do "homem inautêntico", ou seja, daquele que foge da construção de sua própria existência, deixando de refletir sobre o mundo, e simplesmente aderindo a ele e se deixando levar... alienando-se de si mesmo para não encarar a angústia existencial, e fazendo "o que todo mundo faz"... isto é, assistir ao futebol.
   Ok... o "futebol" do título já está entendido. E os tais "zumbis"?
   Esta é outra "inautenticidade" que eu tenho me permitido: o seriado "The Walking Dead".
   Comecei a assisti-lo na Netflix, que tem as primeiras quatro temporadas. Eu, a mulher e a pequena corríamos para vermos os episódios - dependendo do dia, até três seguidos.
   Xiiii... vimos as quatro temporadas. Providenciei a compra da quinta, mas conseguimos dar um jeitinho de assisti-la completa... e adentramos pela sexta temporada - que está passando na Fox.
   Não posso negar que, da mesma forma que com o futebol, por vezes me ponho a refletir sobre o que estou deixando de fazer para assistir aos episódios, e me aflijo um pouco.
   Mas... eis que o jornal O Globo conseguiu diminuir um pouco esse meu desconforto. Vejamos a crítica sob o título "'The walking dead', na sua sexta temporada, abraça grandes temas":
   "[...] Entre uma e outra empreitada, nossos heróis se deixam embalar pelo debate denso. Nessas horas, parecem estar num divã e falam sobre o sentido da vida. 'The walking dead' ultimamente anda um grande 'ser ou não ser?' [...]
   No episódio mais recente, 'Always accountable' (em tradução literal, 'sempre responsável por algo'), a mensagem foi a de que todas as decisões tomadas têm as suas consequências. E que se deve assumir a responsabilidade pelas escolhas feitas. [...] O programa esbanjou filosofia em forma de cultura pop e em ritmo de aventura." (GRIFO NOSSO)
   Brincadeiras à parte, a série mostra, cada vez mais, que Hobbes estava muito certo em seu "o homem é o lobo do homem", pois, muito mais atentos aos outros seres humanos os nossos heróis - que  estão "walking dead" - têm que estar do que aos próprios zumbis - os que estão "living dead".
   Episódio marcante, por exemplo, foi aquele em que os habitantes de "Terminus" - nome da comunidade que não deve ter chamado atenção dos telespectadores anglófonos, que não pensam em "término" como em "end"/"fim"; mas que para os lusófonos estava claro como "termo final" - explicam que, antes, recebiam bem as pessoas que até lá chegavam, até serem vítimas de viajantes que mataram e agrediram pessoas gratuitamente e estupraram as moças da comunidade. A partir daquele momento, passaram a atrair pessoas, sob a promessa de acolhê-los, apenas para se alimentarem delas, matando-as com certa crueldade numa espécie de abatedouro humano. 
    Depois daquele "o programa esbanjou filosofia", senti-me, novamente, um "homem autêntico", refletindo corajosamente sobre a vida... ainda que através de um experimento mental de uma etapa da vida humana cercada de restrições e aventuras.
   Agora... sinceramente, ainda não consegui salvar o futebol. Rsss.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Eu não aguento mais... (2)


   Na verdade, o título do post só demonstra uma continuidade de tema com o post anterior, visto que, desta vez, trata-se mais de uma preocupação.
   Cada dia mais, temo que os muçulmanos comecem a sofrer uma represália forte do mundo ocidental... forte mesmo. Algo do tipo que a História já nos apresentou com os integrantes de outra religião, os judeus, que acabaram sendo expulsos - se não convertidos à força - na Península Ibérica, nos idos do século XV para XVI.
   Isso seria o fim da União Europeia, mas seria um movimento de autoproteção inteiramente compreensível. Seria algo do tipo: "Você quer pertencer à religião muçulmana? Ok... Vá para o Oriente Médio e fique por lá!"
   É lógico que se trata de uma insensatez, mas o medo tem o condão de obliterar o bom senso.

Eu não aguento mais...


   Outro ataque covarde. Novamente, um grupo islâmico assume a autoria. De novo, vejo o comentário de que o Islã não tem culpa. Eu não aguento mais!
   Em outra oportunidade, já manifestei minha discordância veemente com esta posição de omissão dos verdadeiros líderes da religião islâmica em provocarem um movimento de repúdio interno - pois o externo parece mera ação midiática -, inclusive reivindicando a exclusão dos maus intérpretes das escrituras dos quadros da religião.
   Um artigo da Folha de S. Paulo tratava do bairro de Molenbeek, em Bruxelas, na Bélgica, que abriga uma grande quantidade de extremistas, de onde, aliás, saíram três autores dos atentados à Paris. O texto indicava que a Polícia faz buscas contínuas na região. À determinada altura da reportagem, um morador do bairro diz: "O islã não tem nada a ver com isso. O islã diz que, se você mata alguém, é como se matasse toda a humanidade".
    Muito bonito dizer que o Islamismo rejeita fortemente o assassinato, mas isso é muito pouco, porque, em nome dele, alguns continuam matando. São alguns loucos? Podem ser, mas, no mínimo, acho que as autoridades muçulmanas que dispõem da razão perfeita têm que dizer: "Meu filho, você pode continuar fazendo isso e brigando por poder, só não o faça em nome de Alá".
   Enquanto não houver isso, e principalmente uma punição pela via religiosa, continuaremos assistindo a esses absurdos.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

dez milhões de pessoas indo... e voltando


  Segundo analistas, das 3,3 milhões de famílias que migraram da classe D/E para a classe C, entre 2006 e 2012, 3,1 milhões (quase dez milhões de pessoas) farão o caminho inverso entre 2015 e 2017.

   Só para ficar bem estabelecido:
- classe C: família com renda mensal entre R$ 1.958 a R$ 4.720; e
- classe D/E: família com renda mensal até R$ 1.957.

Que exagero...


   Mosses Hess, apresentando Marx a Berthold Auerbach, escreve: "Pode se preparar para conhecer o maior - talvez o único - filósofo da atual geração. [...] Imagine Rousseau, Voltaire, d'Holbach, Lessing, Heine e Hegel reunidos numa mesma e única pessoa - e estou dizendo reunidos, e não justapostos -, e terá o doutor Marx".
   Estranho, contudo, Heinrich Heine constar de uma lista de filósofos... além do óbvio exagero do apresentador.

111...


    Agora, somos 111! Bem vindo, Claudio Dionisi. Sempre que quiser comentar algo, sinta-se à vontade. Grande abraço!

Ágora Aporética


    Já citei aqui um blog que gosto de ler, o Ágora Aporética, do amigo Gustavo. Como ele estava havia algum tempo sem postar nada, fiz uma "reclamação" formal. Rsss. Ele lançou, então, um post onde fala do pensador francês Alexis de Tocqueville (1805-1859). Lá no seu blog, elogiei o fato de Gustavo ter retomado a atividade em altíssimo nível... mandando logo um clássico. Aqui, volto a dizer que gostaria de tratar com um pouco mais de profundidade deste pensador.
   Só para atiçar a curiosidade dos amigos sobre este pensador que refletiu sobre a questão da democracia. E o fez com tal competência que Stefano Petrucciani, em seu Modelos de Filosofia Política, diz o seguinte: "O desafio fundamental da democracia está, pois, para Tocqueville, que nisto se revela como um pensador extraordinariamente perspicaz e atual, na capacidade de não se deixar absorver pelo horizonte da despolitização e de um bem-esar todo individualista, no esforço de manter viva a direta participação política dos cidadãos" (GRIFO NOSSO).
    Jacqueline Russ, no livro que citamos em post anterior, comenta que A democracia na América (1835-1840) "[...] continua sendo uma referência obrigatória para os sociólogos. É igualmente um texto 'profético' por sua admirável descrição da sociedade ocidental contemporânea".
   Vê-se, portanto, que Tocqueville continua participando das discussões sobre a democracia. E, penso, sua maior vitalidade constitui as respostas às perguntas: (1) Os governantes preocupam-se sempre com os interesses dos governados? e (2) A soberania do povo é sempre benéfica?
   Embora Tocqueville seja mais otimista que eu, penso que seu conceito de "tirania da maioria" é por demais preocupante. Um governo populista, por exemplo, pode conseguir apoio para as coisas mais estranhas que se pense, e fará aprovar legalmente não só o seu modus operandi, como também todos os instrumentos que necessitar para perdurar no comando, implantando ideias nefastas.
   Falemos mais dele, em outro momento. Por enquanto, contudo, queria deixar o link de um livro central no seu pensamento, A democracia na América.
    É http://www.libertarianismo.org/livros/adtdnacompleto.pdf

Por falar em avaliações valorativas...


   Eu comentei que havia lido o Manifesto do Partido Comunista há pouco, e fiquei impressionado com duas ideias do Marx e do Engels, que achei avaliações meio apressadas demais.
   A primeira está logo em "I - Burgueses e Proletários": "A burguesia rasgou o véu sentimental da família, reduzindo as relações familiares a meras relações monetárias". Se isso pode ser verdade para a família do proletário, a quem interessa dispor de seu filho, o mais imediatamente possível, como força de trabalho, não sei se o mesmo ocorre com a família do burguês. Além disso, isso me pareceu mais um preconceito, do mesmo estilo daquela frase bombástica, para evitar o crescimento da esquerda: "Comunista come criancinha".
   A outra está em "II- Proletários e Comunistas": "Os nossos burgueses, não contentes como fato de que as esposas e filhas dos proletários estão a sua disposição, isso sem falar das prostitutas em comum, têm um prazer especial em seduzir as esposas uns dos outros.
   O casamento burguês é, na realidade, um sistema de esposas em comum".
   Os jovens Marx e Engels veem a cobiça pela mulher do próximo como um dado do Capitalismo. Particularmente, acho que não estão corretos. Parece-me que esta é uma situação que acompanha o homem ao longo de toda a sua história. Penso, também, que dizer que "o casamento burguês é, na realidade, um sistema de esposas em comum" é, no mínimo, deselegante para com as mulheres... ainda que eu concorde que o elemento "panfletário" pertença à característica central do documento onde foi dito. Um pouco adiante, os dois jovens alemães falam da "prostituição pública e também privada". Considerariam eles as esposas burguesas todas "prostitutas privadas"? Xiiii....

Apelidos


   O meio político é cheio de apelidos engraçados. Eu tomei conhecimento de mais dois que gostaria de compartilhar: "direita mortadela" e "puxadinho ideológico".
   O primeiro deles é uma espécie de contraponto ao "esquerda caviar", inventado pelo Rodrigo Constantino. Se alguém da "esquerda caviar" é aquele sujeito que tem um discurso "social", mas quer mesmo é "se dar bem", usufruindo o que o poder pode lhe oferecer de melhor; o cara da "direita mortadela" é aquele que defende o Capitalismo, mesmo que, no fundo, não aproveite muito do que esta forma de vida oferece... ou seja, em vez do "prosciutto di Parma" do capitalista, ele come só mortadela, mas defende o modelo tanto quanto o outro. 
   Conheci a expressão através do livro Devaneios sobre a atualidade do Capital, de Clóvis Barros Filho, mas não tenho certeza se foi ele que cunhou a expressão.
   A outra que citei, li-a em um jornal. Era feita uma referência ao partido político PSOL, e logo depois estava escrito "puxadinho ideológico" do PT. Para quem não sabe, o "puxadinho" é uma expressão, pelo menos aqui no Rio, utilizada para caracterizar uma pequena construção que é anexada à outra. Ou seja, uma pequena extensão, que tem obrigatoriamente características similares à construção original, mas que, normalmente, é visivelmente um anexo incorporado posteriormente.
   Não vou entrar no mérito valorativo da questão, mas que é engraçado... isso é. Rsss.

"Filosofia - Os autores, as obras"


   O título do post é o mesmo do de um livro lançado pela Editora Vozes. Trata-se de mais um livrão de quase quinhentas páginas, cobrindo toda a História da Filosofia. Nisso, assemelha-se a tantos outros que já temos no mercado literário-filosófico brasileiro. 
   Mas... ao contrário de outros, este tem uma característica única para um livro que pretende esgotar a Filosofia em apenas um tomo: a análise conjunta de conceitos e um certo detalhamento das obras principais de cada autor.
   Eu sei, eu sei... há outras coleções que fazem o mesmo. Mas, repito, a questão é que estamos tratando de um volume único. Por isso, a obra comentada me parece ter um quê de exclusividade. 
   A autora é Jacqueline Russ, que também escreveu o ótimo Pensamento Ético Contemporâneo. 
   Só para se ter uma ideia do fôlego da obra, no caso específico de Spinoza, a autora comenta não só a Ética, mas também o Tratado da Reforma do Entendimento e o Tratado Teológico-Político. 
   Na Ética, a descrição feita diz respeito não somente a cada uma das cinco grandes "partes", mas chega às proposições de cada uma delas. 
   No Tratado da Reforma do Entendimento, descrevem-se grupos de parágrafos (como é dividida esta obra de Spinoza).
   No Tratado Teológico-Político, faz-se uma descrição de conjuntos de capítulos temáticos, e até, por vezes, de capítulos individuais.
   Como eu disse, é uma obra de fôlego, considerando seu tamanho reduzido. Eu me arriscaria a dizer que é a melhor obra que conheço para um conhecimento rápido de um filósofo com alguma profundidade mínima, que ultrapasse só a biografia, uma lista de obras e alguns conceitos esparsos. 
   Já presenteei dois amigos com o livro. Sugiro como texto obrigatório em uma biblioteca filosófica.

Novembro começou...


  Em sendo, hoje, dia 09, a verdade é que já transcorreu quase um terço do mês de novembro. Contudo, como somente hoje escrevo o primeiro post, considero formalmente iniciado novembro no blog justamente a esta altura do mês. Rsss.
   Novembro é um mês de muitas comemorações. Passemos à lista:
   - lançamento do blog "Spinoza e amigos" - na verdade, foi uma continuidade, mas...
   - Dia Mundial da Filosofia - este ano, a ser comemorado em 19 de novembro (sempre a terceira quinta-feira do mês de novembro)
   - meu aniversário - dia 21 de novembro... Presentes podem ser enviados por Sedex para Niterói. Rsss
   - aniversário do nosso querido Baruch Spinoza (Bentinho, para os íntimos) - dia 24 de novembro.
   É lógico que há muito mais: proclamação da República, Novembro Azul, Dia da Bandeira, Dia da Consciência Negra, Aniversário do Niterói, etc. e tal.
    De qualquer forma... Bom novembro para todos!