segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Por falar em avaliações valorativas...


   Eu comentei que havia lido o Manifesto do Partido Comunista há pouco, e fiquei impressionado com duas ideias do Marx e do Engels, que achei avaliações meio apressadas demais.
   A primeira está logo em "I - Burgueses e Proletários": "A burguesia rasgou o véu sentimental da família, reduzindo as relações familiares a meras relações monetárias". Se isso pode ser verdade para a família do proletário, a quem interessa dispor de seu filho, o mais imediatamente possível, como força de trabalho, não sei se o mesmo ocorre com a família do burguês. Além disso, isso me pareceu mais um preconceito, do mesmo estilo daquela frase bombástica, para evitar o crescimento da esquerda: "Comunista come criancinha".
   A outra está em "II- Proletários e Comunistas": "Os nossos burgueses, não contentes como fato de que as esposas e filhas dos proletários estão a sua disposição, isso sem falar das prostitutas em comum, têm um prazer especial em seduzir as esposas uns dos outros.
   O casamento burguês é, na realidade, um sistema de esposas em comum".
   Os jovens Marx e Engels veem a cobiça pela mulher do próximo como um dado do Capitalismo. Particularmente, acho que não estão corretos. Parece-me que esta é uma situação que acompanha o homem ao longo de toda a sua história. Penso, também, que dizer que "o casamento burguês é, na realidade, um sistema de esposas em comum" é, no mínimo, deselegante para com as mulheres... ainda que eu concorde que o elemento "panfletário" pertença à característica central do documento onde foi dito. Um pouco adiante, os dois jovens alemães falam da "prostituição pública e também privada". Considerariam eles as esposas burguesas todas "prostitutas privadas"? Xiiii....

2 comentários:

Anibal Werneck de Freitas disse...

Não sei se vem ao caso. Na Idade Média existia o costume da noiva escolhida a dedo passar a primeira noite com o senhor feudal. Este costume existia em alguns feudos. Pois bem, não seria aí, uma instituição da prostituição particular?. Neste caso, o poder econômico é que dava condições do senhor feudal ter tal privilégio. O Capitalismo já estava dando os seus primeiros passos, donde concluo ser a prostituição uma decorrência deste sistema.

Ricardo disse...

Querido amigo Aníbal:
Antes de tudo, quero dizer que é um enorme prazer relê-lo.
Eu quero lembrar que já na Grécia e em Roma havia a instituição da prostituição "pública". Além disso, em Roma também havia essa questão dos senhores poderem usufruir das filhas e recém-casadas esposas dos servos. Você lembra do filme "Calígula"?
Portanto, continuo achando que esta questão da "prostituição privada" não é exclusiva do Capitalismo. Além disso, é bom lembrar que Marx está tratando exclusivamente do período moderno, e não dos "primórdios do Capitalismo".
Grande abraço.