sábado, 28 de novembro de 2015

Falando em desigualdade...


   Leandro Narloch, em seu livro, dedica um capítulo ao que ele chama de "Bolsa Família ao contrário", ou seja, a algumas ações governamentais - algumas referentes a práticas já históricas - que agravam a concentração de renda e a desigualdade. Mas a abertura do capítulo faz referência ao Programa Bolsa Família "direito" - e não "ao contrário".
   Diz o texto:
  "A ONU diz que o Bolsa Família é um exemplo de combate à pobreza e à desigualdade. The Economist [...] diz que o programa 'transformou vidas' ao cortar 'a pobreza em 28% em uma década usando apenas 0,5% do PIB'. Para o New York Times, o Bolsa Família reforçou a renda, a educação e a saúde das crianças pobres do Brasil."
   Aliás, essa é a grande propaganda que o governo faz, quando fala do programa... quase sempre sem dar o devido valor ao "pai" original, o hoje senador Cristovam Buarque - por quem, aliás, nutro um profundo respeito.
  Volto agora à questão dos dados tomados sem uma reflexão mais profunda.
  Em Iniciação à Sociologia, de Nelson Dacio Tomazi (coord), publicado pela Editora Atual, em 2000 (2ª edição) - mas que, até onde eu sei, está esgotado -, há um capítulo tratando das desigualdades sociais no Brasil. Nele, há uma chamada interessante: "Se a análise se restringir aos números, ficará a ideia de que a desigualdade diminuiu durante o regime militar, pois o número de pobres caiu do ano de 1970 (39,3% da população) para o ano de 1980 (24,3% da população)" - aliás, fazendo-se parênteses aqui, essa redução de 15 pontos percentuais, sobre os 39,3%, equivale a uma redução de aproximadamente 38% da pobreza, o que seria bem mais do que o obtido pelos governos petistas. Mas... sigamos. E agora vem a chamada de atenção - "No entanto, na análise da questão da desigualdade, deve-se fazer a seguinte pergunta: a diminuição do número de pobres, em alguns momentos, expressava ou não uma diminuição da distância entre os mais ricos e os mais pobres? Ou será que um aumento temporário no nível de renda não impede que os mecanismos de concentração continuem atuando e se amplie o abismo que separa ricos e pobres? É uma questão básica para um estudo sociológico".
    Reforçando a ideia: a solução para a desigualdade não é só criar "saídas" temporárias para diminuir o "número de pobres", mas sim eliminar os mecanismos existentes de concentração de riquezas, que continuam sempre, mesmo nos tempos de aparente melhora da situação, a operar no sentido contrário ao que se deseja.
   
PS: O livro Iniciação à Sociologia citado é muito bom. Há vários capítulos que tratam especificamente da situação brasileira. Seus defeitos são dois: o preço e a não produção de uma nova edição, ampliada, contendo os ganhos e perdas sociais no Brasil a partir do ano 2000.

Nenhum comentário: