A série "Guia politicamente incorreto...", originalmente escrita pelo jornalista Leandro Narloch, ganhou companheiros de outros autores, como, por exemplo, "... da Filosofia" e "... do Sexo", do filósofo Luiz Felipe Pondé.
Mas, agora, Narloch fez crescer a série, ao escrever o "Guia politicamente incorreto da Economia Brasileira", também publicado pela Editora Leya, agora em 2015.
Como os outros, este também é muito interessante. A atualidade das referências é fantástica. Lemos sobre a Operação Lava Jato, sobre ações do governo Dilma Rousseff, etc. Isto nos faz desfrutar do livro tanto no seu viés de melhor entendimento do assunto técnico que está em jogo - a Economia -, quanto dos desdobramentos econômicos de assuntos que nos interessam no quotidiano - seja na Política ou na História.
Li menos da metade do livro, e estou gostando muito. Contudo, penso que a leitura precisa ser cuidadosa, porque algumas afirmativas me parecem ser feitas de uma forma muito contundente, a partir de dados, números e tabelas, como se estes sempre dissessem tudo de forma inquestionável. Aliás, há que se reconhecer que o próprio autor nos adverte, em certa medida, desta "armadilha". Ele faz isso quando fala sobre a desigualdade.
Diz:
"A desigualdade não é algo concreto - é só uma estatística. Nem sempre a desigualdade maior significa que as pessoas pioraram de condição. Compare, por exemplo, as três situações:
A: João e José ganham mil reais por mês cada um.
B: João ganha 2 mil reais por mês; José, 1.400 reais.
C: João ganha 40 mil reais por mês; José, 2.200 reais.
Na situação A, João e José têm uma relação perfeitamente igualitária. Nas outras duas, a desigualdade cresce, ainda que os dois indivíduos tenham enriquecido. John Rawls, um dos principais filósofos políticos do século XX, sistematizou esse pensamento no seu Princípio da Diferença. Desigualdade, seguindo essa tese, é aceitável se resultar em melhoria de condição dos mais pobres".
Mas, penso, cai na mesma armadilha, por exemplo, quando defende que a livre concorrência acaba por despencar o preço dos produtos, citando a ideia de Adam Smith de que "Buscando realizar os próprios interesses, as pessoas eram 'levadas por uma mão invisível' a servir o interesse público". Isto porque nem o escocês viu, nem Narloch deve ter lembrado que em momentos de seca aguda ou enchentes avassaladores, que dificultam a obtenção de água potável, os comerciantes, mesmos com seus estoques de água mineral adquiridos a preços baixos, da noite para o dia, remarcam seus produtos para venda em 300%, 400%, sem atender, de modo algum, a esse interessante mecanismo da "mão invisível" que faria com que a busca da promoção do bem individual acabaria por promover a obtenção do melhor bem social.
Mas, volto a dizer: recomendadíssimo!
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