segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Fazendo justiça a Adam Smith


   Adam Smith (1723-1790) é conhecido como um dos pais da Economia, e sua obra mais lembrada é A riqueza das nações (1776).  Contudo, quem conhece um pouquinho só de História da Filosofia sabe que ele foi um dos "nossos". Nesta área do saber, sua obra mais importante é Teoria dos sentimentos morais (1759).
   Smith era professor de Ética na Universidade de Glasgow. Na obra em questão, que parece ter como base justamente suas reflexões provenientes da cátedra, o escocês se propõe compreender a natureza do "sentimento moral" - assunto tão caro aos iluministas. O filósofo moral propõe a existência de uma "simpatia humana" que torna os indivíduos capazes de superar o egoísmo, tornando-os sensíveis ao sofrimento alheio. 
   O motivo de escrever sobre Adam Smith, aqui, é que fiz uma referência "negativa" ao seu princípio da "Mão Invisível", justamente utilizando o exemplo de uma situação em que o egoísmo suplantava o cuidado com os outros, e a tal "mão invisível" acabava não atuando como a proposta inicial, isto é, servindo ao interesse geral, ainda que se buscasse o interesse individual.
   Então, façamos justiça a Adam Smith.
   A expressão "mão invisível", para começar, aparece justamente em A teoria do sentimento moral, sendo utilizada em A riqueza das nações em apenas três oportunidades - pelo menos é o que informa Edmund Conway, em 50 ideias de Economia que você precisa conhecer. Aliás, em outro post, gostaria de falar mais sobre este livro.
   E é justamente neste livro sobre Economia que aparece o elemento que isenta a tese de Smith de qualquer culpa. 
   Lá está escrito:
   "[...] mas há algumas condições importantes. Smith tomou o cuidado de distinguir o interesse pessoal da pura cobiça egoísta. É de nosso interesse pessoal ter um conjunto de leis e regulamentos que nos protejam de sermos tratados injustamente como consumidores. [...] A mão invisível precisa ser apoiada pela regra da lei". (Grifos nossos)
    E o autor fecha o texto referente a este tema - "A mão invisível" -, da seguinte forma:
   "Alguém que é movido pura e simplesmente pela cobiça pode decidir burlar a lei na tentativa de enriquecer em detrimento dos demais. Adam Smith nunca teria aprovado isso".
   Portanto, ao contrário do exemplo que eu dei da água sendo vendida por um preço abusivo em locais onde o desabastecimento deste produto se instalou momentaneamente, isto não corresponderia à tese de Adam Smith. Este tipo de atitude não seria aquela que o escocês pensou como visando ao "interesse pessoal", e sim estaria melhor classificada no que ele entendia como ação motivada por "cobiça egoísta", que tenderia a burlar regulamentos que visam a nos tratar justamente como consumidores.
   Desta feita, podemos considerar que a ideia da "mão invisível" continuaria válida, e corresponderia a uma boa teoria para fortalecer a iniciativa pessoal como melhor produtora do bem geral do que um planejamento estratégico estatal amplo, que abarcaria todas as possibilidades de negócios.
   Por último, eu diria que, se Adam Smith era amigo bem considerado de um gigante filosófico como David Hume, fraco é que o sujeito não era... não é? Rsss.

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