segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Zeus

  Como todos lembram, Zeus é o "deus dos deuses" na mitologia grega. 
   Na parte referente à Filosofia Grega, em Deus e a Filosofia, Étienne Gilson  conta que "Hera é a única divindade que Zeus realmente teme... em suma, a divindade mais poderosa, capaz de influenciar qualquer homem: a sua mulher". Bem humana essa característica do divino Zeus. 
  Deixando, entretanto, esse aspecto quase jocoso da mitologia de lado, é interessante perceber o que diz Gilson logo a seguir: "Contudo, o único poder absoluto ao qual Zeus se submete não o regula a partir de fora, mas sim de dentro... Zeus fica sem poder perante o seu consentimento, depois de o ter dado". E Gilson cita o seguinte exemplo: "Quando o seu filho mais amado, Sarpédon, se envolve numa luta contra Pátroclo, Zeus sabe que estava destinado que Sarpédon morresse. Dividido entre o seu amor paternal e o seu consentimento à Sorte, Zeus hesita inicialmente; mas Hera lembra-lhe severamente o seu dever".
  Interessante pensar que, ao lado da imortalidade e do infinito poder, mesmo a "divindade mais divina" dos gregos, tivesse esse compromisso "ético" como necessidade - e não como mera contingência de sua ilimitada vontade. Ou seja, pode-se pensar que, neste sentido pelo menos, não haveria liberdade absoluta nem mesmo para o Deus "absoluto". Isto é, após ter tomado uma decisão, ainda que livremente, ele não poderia mais voltar atrás... completamente.
   O que mais chama atenção é perceber, através do texto de Gilson, que a relação de um grego religioso com o Mundo - e, obviamente, com os deuses que lá estavam - é muito diferente daquela de um cristão atual, principalmente pela sua concepção de "divino". E, aí, cabe a reflexão se conseguimos realmente compreender o que está escrito em um texto grego antigo, quando lá está a palavra "theós".
  
 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

"Bandidos e falsos espertos"

  O título do post é o mesmo do artigo escrito no sábado passado, 11/12, em O Globo, por Rosiska Darcy de Oliveira.
  O artigo se inicia com uma reflexão sobre as dúvidas quanto ao futuro da cidade do Rio de Janeiro, após a "tomada" do Complexo do Alemão pelas autoridades institucionais. Cita-se, então, o fato de que estamos acostumados com a "montanha-russa do entusiasmo e do mergulho na vida real".
  A autora destaca que "ali se quebrou o paradigma do 'tudo é permitido' ... Essa, a mais auspiciosa herança da invasão do Complexo do Alemão". Passa, então, a uma reflexão sobre um paralelismo que, embora não seja dos mais agradáveis, espelha a realidade das coisas: o desrespeito às regras não aparece só no comportamento dos traficantes expulsos, mas também no "nosso".
  Diz Rosiska: "O que tem a ver os 'pequenos' delitos com a recuperação de um território ocupado por bandidos é que todos pertencem ao paradigma do 'tudo é permitido' que impregnou a cultura da cidade".
  O fechamento do artigo é ótimo: "O carioca 'esperto' é um pobre-diabo... Quantos mais formos a perceber o quanto essa esperteza é burra, mais inteligentes seremos. A chance do Rio agora é reconstruir sua cultura. O que implica demolir o mito da esperteza. E apostar no valor de múltiplos gestos cotidianos que releguem esse mito a um passado lamentável".
  Embora os "pequenos delitos" - como "trancar" um cruzamento; estacionar nas calçadas; jogar lixo no chão - não se igualem, em termos absolutos, integralmente às atividades criminosas dos traficantes expulsos do Alemão, há que se ponderar que, mesmo aos poucos, eles vão instituindo "a transgressão como valor". 
  Gostei muito.
  Está na hora de quebrarmos esse paradigma odioso da "Lei de Gérson", da "esperteza" - já que quem respeita às leis é bobo. Está na hora de mostrar o quão inteligentes são os que respeitam às leis, porque eles compreendem que são elas que garantem a boa convivência nas cidades... pelo menos, enquanto não formos humanos o suficiente para tratarmos os outros com respeito por uma mera questão de auto-satisfação que isso traz.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Grata surpresa: "Iluminismo radical"

  Já havia cruzado várias vezes com o livro Iluminismo radical, de Jonathan I. Israel, publicado pela Editora Madras. Olhei sua capa algumas vezes, e vi os rostos de Voltaire, Diderot, Rosseau, Robespierre, Locke e mais dois senhores que não são meus conhecidos. Não me chamou, então, atenção o livro, que me pareceu ser um calhamaço de quase novecentas páginas dedicadas ao Iluminismo francês principalmente.
  Após uma conversa sobre Spinoza, o espirituoso professor Antônio Serra - que, segundo ele mesmo, é "o único Serra que votou na Dilma" - enviou-me um e-mail falando do protagonismo que era dado a Spinoza neste livro. Ahhhhh.... aí, eu fiquei curioso. E não é que o "Serra que votou na Dilma" tinha razão!?
  Leiam comigo uma passagem do Prefácio: "Meu segundo objetivo [o primeiro era mostrar o Iluminismo europeu como um movimento único, apesar das diferenças "acidentais"] é demonstrar que o Iluminismo Radical, longe de constituir um desenvolvimento periférico, é uma parte integral e vital de um quadro maior e era, à primeira vista, mais coeso em âmbito internacional do que a corrente principal do Iluminismo [a moderada]. Quase sempre, a corrente principal moderada estava reagindo com consciência e até mesmo movida a desespero, àquilo que era percebido de forma geral como a perigosa ameaça colocada pelo pensamento radical. Muitos estudiosos, creio, irão se surpreender pela proeminência dada aqui ao papel de Espinosa e do Espinosismo não apenas no continente, mas até mesmo no contexto britânico, onde, em termos historiográficos, há uma persistente recusa de se reconhecer que Espinosa teve qualquer influência. No entanto, uma leitura minuciosa nos primeiros materiais sugere, ao menos para mim, que Espinosa e o Espinososimo era, de fato, a coluna vertebral intelectual do Iluminismo Radical europeu em todos os lugares e não apenas na Holanda, Alemanha, França, Itália e Escandinávia, mas também na Grã-Bretanha e Irlanda".
  Grata surpresa esse livro! Obrigado pela dica, professor Serra!
  Vai demorar a ser lido, mas, algum dia aparece um post aqui!

Heidegger e o nazismo

   Final de ano chegando... festas em profusão, mas, pelo menos, os compromissos acadêmicos diminuem. Aí então, é possível arriscar umas leituras "a mais" - se bem que há aquelas que ficaram por serem feitas e não o foram. Mas... empurramos o dever, mais um pouquinho, com a barriga e vamos ao prazer.
  Embora Deus e a Filosofia, de Étienne Gilson, e Filhos do Céu, de Edgar Morin com Michel Cassé, tenham tido partes que serviram a propósitos técnicos, agora entraram no rol das leituras hedonistas, e serão concluídos dessa forma.
  Entretanto, o que desejo registrar aqui - conforme o título do post indica - é uma "discussão" - no mais leve sentido da palavra - sobre o nazismo de Heidegger. Logo eu, um anti-heideggeriano, acabei virando advogado de defesa do alemão.
  Como todo bom advogado, tive que buscar provas para inocentar meu "cliente". E fui procurá-las em duas fontes: na famosa entrevista do próprio Heidegger, em 1966, para a Der Spiegel e no ótimo livro Hitler e o nazismo, de Dick Geary - segundo o próprio livro, "um dos maiores especialistas na história da Alemanha do século XX" -, publicado, aqui no Brasil, pela Editora Paz e Terra, em 2010. É verdade que este último livro não trata diretamente do "erro de Heidegger" - como dizia Hannah Arendt -, mas ilustra bem o cenário da época da ascensão do nazismo na Alemanha.
  Sobre a entrevista à Der Spiegel, eu já falei aqui no blog antes. Por isso, concentrar-me-ei no livro de Dick Geary.
   Em que pese a total certeza sobre o entusiasmo de Heidegger com o nazismo, no final do ano de 1933, quando foi guindado ao cargo de reitor da Universidade de Freiburg, seu ânimo parece ter arrefecido logo em meados do ano seguinte, quando ele se desligou do cargo.
  Mas vejamos se Heidegger estava "desalinhado" com os desejos populares - lembrando que ele não era um estudioso de Filosofia Política. Quando o NSDAP - o Partido Nacional Socialista de Trabalhadores da Alemanha - saiu da ilegalidade, sua primeira participação em eleições, em 1928, rendeu-lhe míseros 2,6% de votos. Ainda sem Hitler ter ocupado nenhum cargo administrativo - o que só ocorreria com a Chancelaria, em 1933 -, algumas eleições depois, em 1932, esse percentual tinha subido para pouco mais de 37%. Havia empolgação com a propaganda nazista - não tanto ligada ao antissemitismo -, que prometia desenvolvimento interno e abandono do jugo estrangeiro, bem como afastamento da "ameça" comunista e retomada dos valores tradicionais germânicos.
  O livro narra bem o começo dos campos de concentração, que recebiam basicamente comunistas e social-democratas - os quais formariam o primeiro "time" de pessoas submetidas à violência e à morte. Os judeus teriam direitos civis cassados, bens expropriados, trânsito limitado, mas ainda não estavam na lista dos assassinados de modo contumaz. Isso aconteceria com mais brutalidade a partir de 1935, com os SA - que depois perderiam autoridade para a SS -, e, enquanto política de Estado, o isolamento em campos de concentração dos grupos "indesejáveis" passou a ocorrer, em grande quantidade, a partir de 1936, mas o pogrom mesmo é de novembro de 1938.
   Aos poucos, poderei colocar alguns posts que mostram como se deu essa ocupação de todo o governo pelos nazistas que, mesmo quando Hitler assumiu a Chancelaria, só contava com dois ministros, sendo, portanto, um partido ainda médio, que precisou fazer composições com outro partido para ter maioria no Reichstag - o Parlamento Alemão.
  Entretanto, o que eu pretendo mostrar, por enquanto, é que o fenômeno nazista é muito complexo para que se possa julgar qualquer pessoa por ter aderido "superficialmente" a ele. No caso de Heidegger, muito mais difícil é realizar esse julgamento; afinal, ele não deixou marcas pessoais no processo de nazicificação da Alemanha... e, em tese - ainda que se possa acusá-lo de omissão -, não sujou suas mãos de sangue. Para pensarmos na dificuldade que era ser ativamente oposição ao nazismo, quando o partido efetivamente tomou conta de "tudo", basta perceber que as próprias Igreja Católica e Luterana não "socorreram" abertamente as vítimas do morticídio, fossem eles judeus ou comunistas - que ainda faziam parte da lista dos que não agradavam às duas instituições -, mas também alemães "associais", doentes, aleijados, etc.
  Há ainda que se reconhecer que não era muito "saudável" ser oposição - nem mesmo velada -, num lugar em que filhos entregavam pais; alunos entregavam professores e vizinhos se vigiavam mutuamente.
  Deixo claro, obviamente, que o ideário nazista é indefensável... mas há que se avaliar com cuidado a crítica que se faz aos alemães como um todo - e, especialmente, neste caso, a Heidegger - sobre sua "participação" e "adesão" voluntária a esta sórdida ideologia.
  Depois escrevo mais!
 

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Um assunto leva a outro

   Como eu registrei no último post, vinha trabalhando a Metafísica de Aristóteles em oposição às percepções de Tomás de Aquino, em seu opúsculo A natureza da matéria.
  Acabei me defrontando com questões cosmológicas e... acabei encontrando um pequeno livro chamado Filhos do céu - entre vazio, luz e matéria, publicado pela Bertrand Brasil, que corresponde a um diálogo entre o astrofísico Michel Cassé e o pensador "polivalente" Edgar Morin.
  Depois de conversarem sobre temas altamente interessantes, caem numa parte intitulada "Quando a matéria fala", onde falam sobre o campo de pesquisa de Cassé, a antimatéria. E quem é convidado a dar uma contribuição, ainda que involuntária? Quem respondeu "Spinoza" acertou.
  Diz Morin: "... a matéria e o átomo, que pareciam ser seu [do universo] substrato fundamental, representam apenas uma pequena [...] parte dele. [...] Eu diria que em proveito de um fisicismo real, ou seja, de um mundo concebido fisicamente, segundo os gregos denominavam physis, o que faz nascer, algo não redutível nem à matéria nem à energia, esse algo do qual surge a criação, ou melhor, as sucessivas criações. Com isso, não retornamos à intuição de Spinoza? Ao rejeitar a ideia de um Deus exterior ao mundo, que o teria criado como se cria uma máquina ou um produto, e considerar que esse Deus não existe, Spinoza inscreve a força criadora no interior do universo".
  Vejam, não sou eu quem persigo Spinoza... é ele que me persegue! O homem aparece em minhas leituras até de Cosmologia!!! Rsss.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

"Deus e a Filosofia"

  Tive que me debruçar sobre a Metafísica de Aristóteles para resolver alguns problemas sobre o "Primeiro Motor Imóvel" em sua relação com o Deus de Tomás de Aquino.
  Lendo uma bibliografia secundária, cheguei à opinião de Étienne Gilson sobre o Aquinate não ser um aristotélico. Estranha, mas fundamentada, opinião.
  Fiquei curioso sobre esta posição de Gilson e continuei pesquisando, até que esbarrei com o livro que dá título ao post, de autoria do famoso medievalista francês, publicado pelas Edições 70. Como havia um capítulo dedicado especificamente à Filosofia Moderna, fui em busca do retrato que fora pintado do nosso querido luso-holandês. 
  Grata surpresa...
  Gilson escreve: "Dos sucessores de Descartes, o maior metafísico foi Espinosa, porque, com ele, alguém disse, por fim, sobre Deus o que o próprio Descartes devia ter pensado e dito desde o início, se não como cristão, pelo menos como filósofo [...] Espinosa não tinha a religião de um cristão nem a de um judeu; não tendo qualquer religião, não se podia esperar que tivesse a filosofia de qualquer religião; mas era um filósofo puro, o que explica o facto de pelos menos ter tido a religião da sua filosofia".
  Gilson, então, explica o que é o Deus spinozano, ao longo de algumas poucas linhas, e chega à famosa "fórmula" spinozana: "... um Deus que 'existe e age meramente a partir da necessidade da sua natureza', não é nada mais do que uma natureza. Ou melhor, ele é a própria natureza: Deus sive Natura".
  Mais adiante, Étienne registra um belo pensamento: "Espinosa foi muitas vezes rotulado como ateu pelos seus adversários; também foi chamado, por um de seus admiradores alemães, 'um homem inebriado por Deus'. O que torna Espinosa tão importante na história da teologia natural é que ambas as apreciações são verdadeiras. Sendo um ateu religioso, Espinosa estava verdadeiramente inebriado pelo seu Deus filosófico. As religiões positivas, tal como ele as entendia, não passavam de superstições antropomórficas inventadas pelos homens para fins práticos e políticos. Não é de espantar que para os judeus, assim como para os cristãos, Espinosa parecesse sempre um homem sem Deus. Mas não nos podemos esquecer do reverso da medalha. Como filósofo, Espinosa é provavelmente o pensador mais pio que alguma vez existiu".
  Cada vez admiro mais Étienne Gilson... e... depois, eu conto mais! 

domingo, 5 de dezembro de 2010

É campeão!!!!!!

  Eu sempre "caio de quatro" com a inautenticidade heideggeriana quando se trata de futebol... e, agora, tenho que comemorar.... Sou campeão!!!!!!! O Fluzão é campeão brasileiro!!!!
 

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Platão e Ruth Rocha

  Normalmente, lá em casa, é assim: eu leio de um lado e a minha pequena lê do outro.
   Numa das "nossas" últimas leituras, eu me debruçava sobre os problemas do convencionalismo e do naturalismo no Crátilo de Platão, e minha filhota relia Marcelo, marmelo, martelo de Ruth Rocha.
  No Crátilo, para quem não lembra, Hermógenes defende a tese convencionalista - que afirma que a linguagem é mera convenção representacional das coisas significadas -, enquanto Crátilo defende a tese naturalista - que afirma que a linguagem, mais especificamente os nomes, é a expressão da essência das coisas significadas. Sócrates entra na estória... e faz o de sempre: tumultua as coisas, com aquele brilhantismo dialético, e não chega a lugar nenhum... a não ser em mais uma aporia... e ficamos sem saber a qual doutrina Platão se alinha. Se bem que, particularmente, acho que ele teria que estar ao lado do naturalismo, do contrário, aquela tese que é atacada no Górgias, de um relativismo moral, onde os valores seriam baseados única e exclusivamente nas convenções, acabaria por sair vitoriosa... contrariamente ao desejo de Platão, ao enfrentar os sofistas.
   Para quem não lembra, ou nunca leu, Marcelo, marmelo, martelo, o garoto do título, de modo muito engraçado, faz as vezes do "nomoteta" platônico. Enquanto o "nomoteta" olha as Ideias e escolhe os nomes para elas, numa língua original, expressando a essência, ou seja, a natureza íntima das coisas sensíveis que participarão daquela Ideia, o menino Marcelo olha as coisas do mundo e tenta nomeá-las segundo o mesmo paradigma. Desta forma, o seu cão de estimação vira o "Latildo", a casinha do mesmo se transforma em "Moradeira", e quando esta se incendeia, Marcelo grita para seu pai: "Pai, a moradeira do Latildo está embrasando!".
  A estória do Marcelo é bem engraçada mesmo, e chama atenção para o fato de como há uma tendência a achar que, procedendo dessa maneira naturalista, expressa-se melhor do que da forma convencional a coisa ou o fato em questão.
  Acho que se Platão pudesse ter lido Ruth Rocha, usaria o Marcelo como defensor da tese naturalista, em vez do Crátilo... e, então, teríamos o diálogo Marcelo de Platão.

"Desesquecendo"

  Xiiii... cheio de esquecimentos por aqui.
  Vamos limpar a pauta, então... atendendo à cronologia.
  Primeiro. O Dia Mundial da Filosofia, que aconteceu, este ano, dia 18 de novembro. Para quem não lembra, a data é móvel, sendo comemorada sempre na terceira quinta-feira do mês de novembro.
   Segundo. Meu especial agradecimento ao compadre e à Maria, por registrarem aqui a lembrança da passagem do meu aniversário, que ocorreu no dia 21.
   Terceiro...  Essa, em tempo, ainda. Quero registrar aqui os 378 anos de nascimento do nosso querido Spinoza, hoje, dia 24.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A favor dos nordestinos

  Já não bastasse aquele racismo ou homofobia mal disfarçados, nesse nosso Brasilzão, agora ainda surge uma desarrazoada para postar no seu Twitter que "Nordestino não é gente. Faça um favor a SP; mate um nordestino afogado". 
  Que a moça pense isso já é um absurdo, mas que ela ainda externe sua infeliz opinião... aí, já é demais!!!
  O pior do fato, entretanto, é que a moça é estudante de Direito... isso, Direito... aquele negócio onde se estuda que "todos são iguais perante a lei" e etc. e tal. 
  Imaginem que futura advogada será a senhorita Mayara Petruso, lá de São Paulo!?!?!
  Gostei, por outro lado, da reação de um pernambucano que, conforme informou o Zuenir Ventura em sua coluna de sábado, em O Globo, respondeu assim à moça: "Eles elegem o Tiririca e vêm nos chamar de atrasados!".
  A moça bem poderia ter dormido sem essa. Rssss.  

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Presidenta do Brasil

  A Dilma ganhou. Boa sorte... para ela e para nós.
  Por enquanto, é só o que tenho a dizer.

Três novos amigos... Uhuuu!

  Sei que estou em dívida com os amigos do blog. O excesso de trabalho e de compromissos universitários está prejudicando a atualização do blog... do mesmo modo que as leituras extracurriculares. Isso é péssimo!
  Mas há um ótimo motivo para comemorar: em pouquíssimo tempo, passamos a ser 49 amigos dos amigos.
  Quero, então, agradecer à primeira visita e à presença de Leca, Gfroiman e Lívia entre os "amigos dos amigos"! Sintam-se completamente à vontade para participar, comentando os assuntos postados, ou mesmo abrindo novas discussões.
  A Leca, aliás, já fez um comentário bastante apropriado. Disse que há palavras com um significado "doloroso e especial". E listou "a Angústia...., o Ser...., o Nada" - até escrever isso causa desconforto. Eu ainda lembraria - aproveitando o viés existencialista - "o Abandono... a Queda..."
  Obrigado, Leca... e boas vindas a todos!!!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Política e Religião

  Em tempos de Política "misturada", propositalmente, com Religião, vale à pena ler o que Ancelmo Góis registrou em uma notinha na sua coluna, sob o título "Voto e religião".
  "Misturar religião com política é encrenca. Em 1932, a seção cearense da Liga Eleitoral Católica transformou-se em partido político e conseguiu eleger a maior bancada de deputados federais pelo estado. Seu slogan, criado por um padre, era o seguinte: 'Um voto para a LEC é um voto para Jesus Cristo'."
  Peraí, pessoal! A gente diz que o brasileiro não sabe votar, agora... mas antes a coisa era muito pior. Eu, particularmente, se fosse da oposição, diria: "Mas Jesus disse que seu reino não era deste mundo. Portanto, para não chatear o pobre Jesus, melhor não votar nele... quero dizer, no LEC!". E os votos dos deputados jesuíticos teriam ido para a oposição.
  Mas a nota continua: "Dois anos antes, autorizado pelo bispo de Fortaleza, o padre assumira a direção do setor de educação da Ação Integralista Brasileira no Ceará. A IAB era um movimento nacional, inspirado no regime fascista de Benito Mussolini.
  Ele se chamava Hélder Câmara e mais tarde viria a ser o pontífice do clero de esquerda brasileiro".
  Será que dom Hélder Câmara se reconheceria nessa nota? Integralista... que foi ícone do "clero de esquerda brasileiro"... pedindo votos para Jesus Cristo... Noooossa! Sem comentários, pessoal!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

"Penso, logo minto"

  "Era uma vez um país em que os candidatos a cargos eletivos anunciavam suas ideias para conquistar o eleitor e transformá-las em políticas públicas. As técnicas de propaganda eram utilizadas para dar um formato final e uma melhor comunicação a essas ideias.
  Se esse país algum dia existiu, ele foi extinto: hoje, o candidato, como qualquer produto, é moldado, em tempo real, on demand, às necessidades do público, pouco importando se o que ele diz corresponde ao que pensa".
  Bastante sagaz - e veraz - a percepção de Arnaldo Bloch, transcrita de sua coluna de O Globo, do artigo com mesmo título deste post.
  Sagaz, veraz... e triste. Não que eu seja um "romântico" da Política... mas ainda teimo em acreditar ser possível uma Política que possa ser escrita com "P" maiúsculo.
   A identificação - correta - do "candidato" como "qualquer produto", que é "moldado em tempo real", de acordo com pesquisas mercadológicas e com a ação dos "craques" dessa arte, os marqueteiros, é realmente desanimadora.
  O artigo continua, indicando que 100% da responsabilidade desse cenário atual, segundo o historiador Antônio Villa, é justamente dos marqueteiros, "os grandes inimigos da política e do eleitor".
  E Leonardo Boff complementa: "O discurso comum da política trabalha uma única intenção: a segunda intenção. Diz uma coisa, mas pensa outra. A retórica do político não está ligada à questão da verdade, mas do poder. Está, quase sempre, a serviço dos meios para alcançá-lo. A verdade só é dita quando interessa a esse fim".
  Acho que o grande mestre Machiavelli está sendo mal utilizado aqui. Afinal, o príncipe do florentino tinha uma quase missão - a unificação de uma comunidade que não se reconhecia enquanto tal - e que, para isso, precisava usar de todos os meios disponíveis. Se esse poderia ser tomado como um exemplo de quando "os fins justificam os meios", isso não deve ser tomado como regra geral... talvez, apenas, como "regra emergencial".
  Boff diz - ou, talvez, infelizmente apenas constate - que "a retórica do político não está ligada à questão da verdade, mas do poder". Bem... desde Platão, já nos acostumamos a ouvir que retórica é justamente isso: fazer um discurso verossímil... sem a necessidade real de que seja verdadeiro.
  Parece-me, entretanto, que há uma lógica perversa aqui, quando um ex-operário nordestino, de infância sofrida, que sabe - na carne - como é difícil lidar com políticos oportunistas que aparecem nos confins mais longínquos só antes das eleições e que manipulam eleitores desinformados para obter deles votos, repete um modelo político que só interessa aos exploradores de toda uma nação. Talvez, o ex-operário, migrado por necessidade de sua terra natal, devesse ser o mais aguerrido defensor de uma inversão desse modelo... inversão, não do "conteúdo", mas do próprio formato. Isso é, não da substituição dos "inimigos" pelos "amigos", mantidas as mesmas circunstâncias... algo como "só mudam as moscas, mas a m... é a mesma". Não! Uma mudança do modo de operar a política, ajudando quem tem necessidades imediatas, que não pode esperar para "aprender a pescar", num primeiro momento, e por isso precisa de um "peixe-bolsa-família", mas que não pode viver de ameaças de que esta ajuda, fundamental naquele instante, possa ser retirada se o adversário ganhar a eleição. Uma mudança que dê claros sinais de que bons programas são suprapartidários - ou, até mais, apartidários, e sim que pertencem ao povo, que deve ter o direito de deles fruir.
  Por último, eu rejeitaria a opinião do prof. Antônio Villa de que os marqueteiros têm 100% da culpa. Só tem esse poder quem atende a um sistema que valoriza o seu serviço. Portanto, políticos mal intencionados, povo desinteressado, mídia tendenciosa, etc., todos "auxiliam" na culpa desses "sofistas repaginados".

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ufaaa!!! (2)

  O segundo "Ufa!" é para comemorar a saída de todos os 33 mineiros das entranhas da Terra.
  Parabéns a todos os envolvidos nessa bela estória de salvamento. Pena que, enquanto tantos se esforcem por manter pessoas vivas, tantos outros se dediquem justamente a matar, em ataques suicidas, em assassinatos de toda sorte, em chacinas, etc.
  Mas... assim caminha a humanidade... com todas as suas belezas e todas suas mazelas.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ufaaa!!!

  Incrível o resgate do primeiro, dos 33, mineiros que ficaram mais de dois meses soterrados no Chile.
  Que felicidade vê-lo sair bem. Tomara que tudo continue correndo da forma esperada.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

"O verme de Spinoza"

  Da mesma forma que eu não conhecia o texto de Fichte sobre Machiavelli, nunca pensei em ler um artigo sobre Spinoza escrito pelo autor de "Admirável Mundo Novo" e "As portas da percepção", Aldous Huxley.
  Mas nesses dias, andando por um "sebo" - ou "alfarrabista", para nossos amigos portugueses -, vi na seção de Filosofia um livro de Aldous Huxley chamado "Visionários e Precursores". Fiquei curioso e peguei o livro para dar uma olhada. São vários artigos, sendo o primeiro sobre Pascal, o segundo sobre Spinoza - com o título deste post -, além de outros sobre Baudelaire, São Francisco e etc.
  O título do texto faz referência ao escrito de Spinoza que fala sobre um verme imaginário que habitasse o interior do sangue e tivesse discernimento suficiente para perceber que as diversas partículas sanguíneas formam, em realidade, um "todo". Huxley indica, então, que "o fundo da questão - e este é o fundo de toda a filosofia de Spinoza - é que deveríamos viver, mover-nos, ter a nossa existência no infinito, em vez de a ter no finito; que deveríamos relacionar nossos pensamentos com a unidade universal, não com as particularidades individuais".
  Eu não diria exatamente que Spinoza propôs que deveríamos deixar de "relacionar nossos pensamentos com as particularidades". O luso-holandês dizia que tínhamos que perceber as partes, suas relações mútuas e as relações destas com o "Todo". E as relações com as particularidades são necessárias justamente porque são esses "encontros" que poderão aumentar - mas também, diminuir - nosso "conatus"... trazendo-nos a alegria e a beatitude - ou, infelizmente, a tristeza.
  De qualquer forma, o texto é interessante.
  Uma passada de olhos pelo livro dá uma visão de quanta cultura tinha o Sr. Huxley, dominando assuntos bastante diversos. Com o passar do tempo... e da leitura, registrarei mais algumas coisas.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"Pensamento político de Maquiavel"

  Já que o assunto é "Política", não poderíamos deixar de lembrar daquele que desfez mitos nessa área, mostrando o que a maioria dos homens efetivamente pretende quando usa essa "ferramenta" chamada "Política"... falo, obviamente de Niccolò Machiavelli.
  O título do post é o mesmo daquele de um livro - também adquirido recentemente por mim. Apesar da minha completa ignorância, até então, sobre esse escrito, não tive dúvidas em adquiri-lo. "Por quê?", perguntarão alguns, "Afinal, há vários títulos sobre Machiavelli no mercado". O que me chamou atenção foi o autor... ninguém menos que Johann Gottlieb Fichte!!!
  Como eu disse acima, não sabia que Fichte havia escrito sobre Machiavelli. Fico pensando, cá com meus botões, antes de ler o exemplar, sobre a afinidade de intenções de unificação dos seus respectivos países que passavam nas cabeças do alemão e do italiano. Apesar de refletir também sobre a diferença de atitudes dos dois - o alemão, arrojado, militante e "agente", enquanto o italiano, meticuloso e "pensante".
  Na verdade, Fichte publicou o ensaio na revista Vesta sob o título "Sobre Maquiavel como escritor e excertos de seus escritos". 
  Na apresentação, o organizador e tradutor Rubens Rodrigues Torres Filho diz: "O ensaio tem a estrutura de uma obra de divulgação (o próprio Fichte, segundo testemunhos da época, estava tendo seu primeiro contato com Maquiavel): compõe-se de uma extensa introdução, com dados biográficos, históricos e enumeração de obras, acompanhados de ocasionais observações (e apenas um capítulo diretamente interpretativo, onde se indaga 'em que medida a política de Maquiavel se aplica aos nossos tempos'); uma seleção de textos de O Príncipe, traduzidos para o alemão e comentados; e uma conclusão geral, onde se trata menos de Maquiavel que de seus leitores atuais".
  Apesar de, possivelmente, básica, parece que o interesse maior que a obra suscita  é por representar o entendimento que um gigante como Fichte tem de outro pensador da envergadura de Machiavelli, que o organizador bem indica desta forma: "Mas a interpretação, a inflexão da leitura que Fichte faz de Maquiavel, permeia o texto do começo ao fim, incidindo sobre a própria tradução e o recorte dos trechos de O Príncipe que inclui. Fichte dá, com isso, um exemplo de escrever sobre um escritor político, o que significaria, já, escrever sobre política e - mais ainda - escrever politicamente".
  Deu água na boca...   

A política e Hannah Arendt

  Aqueles que acompanham o blog sabem o quanto aprecio Frau Hannah Arendt. Por esses dias, numa visita à livraria de dentro da Universidade, encontrei - e, obviamente, comprei - o livro "Hannah Arendt - Entre o Passado e o Futuro", organizado por Adriano Correia e Mariangela Nascimento, publicado pela Editora UFJF.
  A capa não poderia representar melhor o subtítulo do livro. Nela, foram colocadas, lado a lado, as fotos da jovem judia Hannah - de compleição magra, mas transbordando força vital - e da velha senhora Arendt - com um sorriso no rosto, mas que não deixa, também, dúvidas sobre a potência existencial ainda reinante ali.
  O prefácio - que corresponde ao artigo "A presença de Hannah Arendt" -, escrito pelo professor Newton Bignotto, do Depto. de Filosofia da Univ. Federal de Minas Gerais, em certa medida, fez-me refletir novamente sobre a decrença que vivemos em relação à Política, nesses tempos de proximidade de eleições. Aliás, esse sentimento angustiante pode ser percebido no escrito da nossa amiga dos amigos Denise, no seu comentário ao último post.
  Vamos ao que escreve o prof. Bignotto sobre o livro escrito por Arendt em 1958: "A condição humana é um extraordinário elogio da política e uma aposta em sua importância num mundo no qual ela parecia relegada a um segundo plano. Perguntada certa vez se essa atividade ainda fazia sentido, Arendt respondeu que sim, pelo simples fato de que ela se identifica com a liberdade. Sua resposta naquele momento, e talvez hoje também, não tinha nada de óbvia".
  O desencantamento com a política - principalmente com a má política - é um fato, atualmente. Mais curioso ainda é que até o "encantamento" com ela passa por manipulações que são fruto da má política. Ou seja, até o que parece participação, por vezes, é fruto de manipulação, onde o militante é mero joguete na mão de interesses que vão muito além de sua percepção.
  Mesmo assim, como dizia Arendt, a Política - essa, com "P" maiúsculo - ainda faz sentido, porque ela se identifica com a liberdade. Liberdade, entenda-se, que pode se desdobrar em diversos referenciais, além da possibilidade de apresentar livremente nossas ideias, mas também a possibilidade de um trabalho digno, de uma educação séria, de uma saúde presente, de um ambiente seguro... e muito mais.
  Viva a Política! Boa eleição - na medida da possibilidade do nível dos nossos políticos!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Como ganhar votos

  O padre francês Bernard Lamy (1640-1715) foi professor de Retórica, até ser afastado por sua defesa do cartesianismo. Entre suas lições sobre a arte de falar, consta uma que parece estar sendo utilizada por alguns políticos nesses tempos de eleições.
  "Para convencer o povo de que se diz a verdade, basta falar com mais ousadia do que seu adversário; basta gritar mais alto e dizer-lhe mais injúrias do que ele diz, queixar-se dele com mais aspereza, afirmar tudo o que se adianta como oráculos, zombar de suas razões como se elas fossem ridículas, chorar, se for preciso, como se a verdade que se estivesse defendendo provocasse uma verdadeira dor quando atacada e obscurecida. Aí estão as aparências da verdade. O povo só vê essas aparências, e são elas que convencem".
  Será que os marqueteiros andaram folheando o livro do padre?

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

"Ser feliz com Espinosa" (2)

  A ideia que transparece no início do livro é a de uma abordagem existencial valendo-se da filosofia spinozana. Entretanto, a partir de títulos como "Na selva afectiva", "Diz-me o que amas, dir-te-ei quem és...", "Somos seres de desejo" e outros, o livro se desdobra, superando o que seriam aspectos meramente pessoais dentro do enfoque da filosofia spinozana. Quando chegamos em "A comunidade dos homens livres", por exemplo, percebemos parte do tal "conteúdo político" ao qual o prof. Thomass se referiu no seu comentário aqui no blog.
  Mas o texto vai mais longe - exibindo, então, um fôlego que não parecia ser possível no começo da leitura -, sob o título "Deus não está além do mundo: o MUNDO É DEUS", e se arrisca - embora com muita competência - no texto "A experiência da eternidade".
  Vamos por etapas...
  No primeiro texto citado, Thomass afirma que "nossa imagem de Deus, simplesmente, não é coerente". Nesse momento, entretanto, trabalha o já conhecido - e o mais problemático questionamento enfrentado pela Teologia - Problema do Mal. Pergunta, então: "Como poderia Deus tolerar o mal se fosse efectivamente omnipotente e infinitamente bom?".
  Entretanto, não fica preso a essa questão, quando indica: "No entanto, Espinosa persegue as incoerências da nossa ideia de Deus a um nível ainda mais fundamental". Aborda uma ideia, então, que sempre me pareceu liquidar totalmente com a argumentação da existência desse Deus que nos é costumeiramente apresentado: a impossibilidade de um Deus infinito e transcendente, simultaneamente.
  Escreve Thomass: "Se Deus é infinito, nada pode existir além dele; tudo o que lhe fosse exterior - um mundo abandonado por Deus, um diabo, criaturas não divinas - indicaria um limite à sua natureza divina e apresentaria, pois, a prova de que ele não é infinito".
  Ou seja, se há algum Deus que é infinito, a sua criação tem que permanecer coextensiva a Ele mesmo. Desta feita, resta a conclusão de que, se Deus existe, pelo menos Ele não é como pregam as religiões. Ele teria que ser, como defende Spinoza, e reforça Thomass, um Deus sive Natura.
  Depois eu continuo...

Balthasar Thomass

  Queridos amigos dos amigos, é com imensa felicidade que registro, em duas ocasiões quase seguidas, a presença de autores de textos sobre Spinoza aqui no blog.
  Primeiro, comemoramos a vinda da Dra. Maria Luísa, desta vez foi Balthasar Thomass quem nos prestigiou.
  Antes de qualquer coisa, quero agradecer ao professor Balthasar Thomass pela visita a este pequeno espaço de congraçamento de amigos que, sob diversas perspectivas, pensam a vida... sem, no entanto, isolar-se do mundo para efetuar essa reflexão.
  Agora, posso fazer um pouco mais de justiça para com o livro do professor Thomass, visto que concluí a leitura.
  Antes de qualquer novo comentário sobre o livro, gostaria de responder à colocação do autor no blog.
  Sobre o meu receio de encontrar um livro de "auto ajuda" - que foi desfeito com a leitura - Balthasar disse: "Espero que você não se chateie demais com o lado 'auto ajuda' do livro, que é meio provocação, meio oportunismo, meio cuidado real com as consequências praticas da filosofia, e meio estratégia de dissimulação do conteúdo político e militante do espinozismo, segundo a tese do Leo Strauss em seu livro sobre o Epinoza 'A perseguição e a arte de escrever'".
  Para entender como funcionaria essa "estratégia de dissimulação do conteúdo político e militante do espinozismo", penso que eu teria que ter acesso ao livro de Leo Strauss. Entretanto, achei muito coerente a ideia dessa espécie de "ajuda" - que seria mais "alter-ajuda", visto que surge a partir das ideias de Spinoza, do que propriamente "auto-ajuda" - seguir-se, quase necessariamente, como "consequência prática da filosofia", spinozana, no caso específico.
  Realmente, a partir da perspectiva a que Thomass deu relevo, ocorreria o alívio de várias angústias existenciais, como se tratasse de uma abordagem terapêutica para quem lê o texto. Visto que o "terapeuta" seria o próprio leitor, através das ferramentas apresentadas no livro, parece que teríamos mesmo uma "auto-ajuda"... embora bastante elaborada e de um nível mais profundo, contrariando radicalmente as "receitas de bolo" veiculadas nos livros que ganham o rótulo em questão.
  Muito obrigado, Sr. Balthasar Thomass!
  Vamos, agora, aos comentários sobre o livro...
   
 

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Uma anônima bem conhecida

  Nossa querida amiga dos amigos Maria, num misto de ousadia e falta de juízo, convidou a ilustre filósofa Maria Luísa Ribeiro Ferreira a conhecer o blog. E não é que a gentileza desta eminente senhora fez com que ela nos visitasse e deixasse seu registro em forma de comentário... ainda que "anonimamente assinado"?!?! Rsss.
  Pois bem, lá está, em comentário ao post do dia 02 de agosto de 2010, a Dra. Maria Luísa dizendo-se "comovida" e "agradecida" com o que leu aqui.
  E eu, o que diria? Comovido e agradecido estou eu, tanto pela visita da nobilíssima especialista no nosso Spinoza, quanto pela atitude da querida amiga dos amigos Maria, que nos propiciou tão honrosa visita.
  Obrigado às duas "Marias" pelo carinho com o blog.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

"Ser feliz com Espinosa"

  Eu tenho um mau hábito declarado: comprar livros sobre Spinoza sem uma profunda avaliação prévia. Em alguma medida, penso na ocasião, haverá algo de bom a retirar. De qualquer forma, só me arrependi profundamente uma vez... algo como "Aristóteles encontra Spinoza" - sei lá... mas até comentei aqui no blog. De modo geral, posso dar uma lida, "mapear" coisas às quais voltarei num momento posterior e deixar mais um livro esperando por mim.
  Confesso esse meu hábito por algo que ocorreu sexta-feira passada. Fui dar a minha passeada "básica" numa livraria aqui de perto. Lá chegando, meu já conhecido amigo vendedor veio mostrar-me uma obra da Scarlet Marton sobre Nietzsche... que eu informei já ter adquirido. Visita encerrada, não fosse uma pilha de livros portugueses que ele não havia ainda organizado nas estantes. Lá estava um livro de título "Felicidade e Filosofia - ser feliz com Espinosa". É verdade... o título soa meio auto-ajuda demais. Mas, exposto o meu hábito, lá no início do post, é lógico que não deixei de adquirir o volume.
  Vamos aos fatos posteriores. O livro é interessante. Embora eu desconfie muito de livros que propõem "utilizações práticas da Filosofia", não pude deixar de sentir uma certa atração por esse, que explicava assim sua intenção: "A filosofia teve desde sempre por ambição melhorar as nossas vidas [...] Mas a maior parte dos livros de filosofia interessaram-se sobretudo pela questão da verdade e consumiram-se a emitir fundamentos teóricos, sem se preocuparem com as aplicações práticas". Se essa parte causou uma certa desconfiança, logo a seguir o livro se absolve desse preconceito, ao dizer "Contudo, não se pode inflectir a prática sem rever a teoria. A felicidade e o desenvolvimento conquistam-se e não dispensam um esforço de reflexão [...] Uma nova maneira de agir e de viver implica sempre, também, uma nova maneira de pensar e de se conceber [...] Por essa razão, convidaremos o leitor a reflectir sobre conceitos, antes de lhe propor interrogar-se sobre si mesmo".
  Convite feito; convite aceito.
  Estou mais ou menos no primeiro terço do livro. De qualquer forma, se esse não é o livro mais "técnico" que já li sobre Spinoza - e não é -, não se pode tirar-lhe o mérito de uma certa adequação bastante fina entre as intuições do autor e as citações apresentadas da obra magna de Spinoza, a Ética.
  Lembrei-me muito de meu amigo Existenz, e das discussões que tínhamos sobre a peculiaridade de Spinoza enquanto representante do "Racionalismo moderno", pois, logo no início do livro, o autor diz "A realidade humana é, antes de mais, uma realidade afectiva [...] Neste sentido, é errado distinguir a 'vida afectiva' da restante vida [...] tudo o que fazemos é feito com sentimentos: estes impelem-nos [...] é um afecto que move um matemático pelos meandros do cálculo - a curiosidade, o prazer do enigma, o orgulho da descoberta...".
  Coisas interessantes sobre as "circunstâncias" do texto, agora.
  A publicação é do Instituto Piaget, de Portugal, dono de uma carta de produtos de qualidade. Bom sinal! O autor, Balthasar Thomass, indica a contracapa do livro, é "professor de Filosofia e autor de várias obras filosóficas". Tudo bem! Mas... há, a seguir, a seguinte informação, no mínimo, curiosa: "A sua atividade de filosofia, partilha-a com a de pianista de jazz. É membro da Orquestra Nacional de Jazz da Alemanha".
  Bom... leitura que segue. Depois, eu conto mais.

Somos 47 amigos!

  Dou uma sumida e, quando volto, eis que cresceu o nosso grupo de amigos dos amigos. Bem... agora, somos 47.
  Seja bem vinda, Miriam!
  Por aqui, estamos sempre ávidos por ler os comentários dos amigos. Fique completamente à vontade para colocar os seus.
  Grande abraço.

sábado, 28 de agosto de 2010

Para o pessoal de Niterói

  Deu no Globo-Niterói: "O Projeto Notas Filosóficas retoma os encontros com o filósofo Silvério Ortiz no Occhio Café, anexo do Hospital de Olhos de Niterói, terça, às 18 h. O debate será sobre "Oceano", música de Djavan, e os pensamentos de Nietzsche".
  Para quem for possível... vale a pena conferir!

Os oitenta anos de Ferreira Gullar

  Em homenagem aos oitenta anos do nosso Ferreira Gullar, lá vai o seu existencial, estético, ético, metafísico, linguístico...

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém,
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão;
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Devo, não nego... pago quando puder

  Nunca me canso de agradecer ao amigo Existenz - agora, reveladoramente assinando-se Bernardo - os comentários no blog. Na maioria das vezes, suas análises são tão profundas que me fazem demorar demasiado nas respostas. Sua paciência, infinita, comigo, perdoa essas minhas falhas... chegando ao cúmulo da benevolência quando diz, por exemplo, que se eu não quiser voltar àquele determinado assunto não há problema, como foi o caso da nossa última discussão sobre "Lógica".
  O fato é que ele, novamente, comenta de modo interessante aspectos políticos, sociais e éticos envolvidos nos diversos regimes de governo, tanto do Ocidente quanto do Oriente, em um dos últimos posts meus. Fiquei tentado a responder logo... entretanto, tenho, pelo menos na minha "consciência", o "peso" da resposta que falta no assunto "Lógica".
  Então, caro amigo Bernardo - veja que só o chamei pelo nome depois de assumida sua "identidade secreta". Rsss -, saldarei, primeiro, essa dívida com você. E, diferentemente do que você sugeriu, porque eu acho que ainda há algo a discutirmos sobre isso.
  Aguarde minha "tréplica", portanto... para, só depois, falar do seu último comentário.

Spinoza... na veia!

  Estou assistindo a um curso de um semestre na Uff com o professor Dr. Luís Antônio Cunha Ribeiro, com tese de doutoramento em Spinoza.
  Que delícia!!! Caminho vagarosa e prazerosamente pela Ética... definição por definição... axioma por axioma... proposição por proposição...
   E já penso: num dos últimos blogs, falei sobre o infinito em Spinoza e em Cantor. Chamei atenção para o paradoxo de um infinito maior que outro. Mas não é que na própria Ética isso já aparecia? É só lembrar da Substância como um conjunto de infinitos atributos, infinitos em si mesmos. Ou seja, existe o infinito do atributo, mas que é um só infinito, e os infinitos atributos da substância, que são vários. Portanto, o infinito da Substância é maior que o infinito dos atributos.
  Depois eu conto mais sobre o curso.
 

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Deus: mito ou realidade? (2)

  De qualquer modo, não podemos dizer que, a partir das definições prévias colocadas pelo mestre Faitanin, o argumento para comprovação da existência de Deus não foi válido. Pareceu-me, entretanto, que as definições iniciais estabeleceram limitações metodológicas que nos "arrastaram", quase sob vara, a um resultado que, em circunstâncias de maior "liberdade do método", poderia ser diferente.
  A definição, por exemplo, de "mito" como algo que necessariamente implica uma violação do "Princípio da Não-contradição"... e que este não pode ser racionalmente contrariado, guia-nos, sob uma certa "manipulação", a pensar que se falamos em Deus, e nos é dado o direito de raciocinar sobre Ele, não estamos incorrendo em nenhuma quebra do princípio lógico citado... logo, não estamos falando de um mito, mas de uma realidade.
   O discurso pode até convencer, mas penso, sinceramente, que partimos de uma definição viciada, o que nos levou a um resultado com uma marca de possibilidade de ser enganoso.
  Mas isso não foi o mais importante. Chegamos à hora das perguntas. Tchan, tchan, tchan, tchan!
  Mesmo sem ter pensado minha pergunta na íntegra, arrisquei-me a ir ao microfone. A dúvida era saber se a comprovação da existência daquele Deus-Motor Imóvel metafísico atendia às expectativas dos crentes/fiéis. Citei, por exemplo, que Spinoza, que "naturalizou" Deus, foi veementemente censurado pelos judeus, e considerado ateu - apesar da alegria suprema, para ele, vir justamente do "Amor Intelectual a Deus". Outra ideia posta por mim foi a de que os deístas, apesar de acreditarem num Deus criador, por não crerem na Providência desse novo "demiurgo", também eram chamados de ateus.
  O professor Faitanin fez diversas considerações sobre os pontos colocados. Entretanto, o amigo Alan - nosso amigo dos amigos, daqui do blog -, logo depois, inquiriu o palestrante sobre a possibilidade do "Deus" aristotélico encarnar, como teria feito o de Tomás. Ficou claro que não seria possível. Ora, ora... quer dizer que pelo menos uma das características do Deus aristotélico não combina com a do Deus revelado. Haveria outras? Ainda assim seriam o mesmo e único Deus, o de Aristóteles e o de Aquino?
  A melhor resposta à minha pergunta, entretanto, parece-me, veio na última pergunta feita. Um jovem foi ao microfone, e após perguntar se o palestrante acreditava em Deus - ouvindo a resposta positiva -; inquiriu o Dr. Faitanin se o mesmo se dava com relação a Jesus, o Cristo. Nova resposta positiva. Nova pergunta, agora dizendo respeito a Jesus ser o único caminho para a salvação - não antes sem uma confissão pessoal do "perguntador", de que esse era seu ponto de vista.
  Ficou claro, portanto, que não bastou ao "crente" saber que o Deus metafísico existia, ele carecia da "certeza" do Deus religioso. E essa carência só foi satisfeita quando um especialista da área do pensamento "carimbou" a carteira de identidade desse Deus bíblico.
  Eu quase vi Blaise Pascal tomando o microfone do professor Faitanin e gritando "Eu não quero saber do deus dos filósofos; eu acredito é no Deus de Abraão, Isaac e Jacó!"... e o jovem "perguntador" gritando, em resposta: "Aleluia!"

   

Deus: mito ou realidade?

  O título do post diz respeito a uma palestra a qual assisti, apresentada pelo sapientíssimo professor Dr. Paulo Faitanin, especialista em Aristóteles e Tomás de Aquino.
  O professor usou alguns "artifícios" lógicos e conceituais pretendendo provar a existência de Deus. Numa linguagem acessível, penso que, ao fim da primeira parte da apresentação, logo antes das perguntas da audiência, tivemos a nítida impressão de que restava comprovado racionalmente que o Deus metafísico existia necessariamente.
  Os "especialistas" invocados pelo ilustre mestre Faitanin foram, nada mais nada menos, que Aristóteles e Tomás de Aquino.
  O Estagirita deu os ares da graça primeiro. Conduzidos pelo discurso hábil do palestrante, chegamos ao "Motor Imóvel" aristotélico... que, nos últimos livros da Metafísica, ganha a denominação de "theós"... e - Zapt! - estamos diante de Deus.
  O Aquinate chega um pouco atrasado à palestra, simplesmente para dizer: "Vejam. As características desse 'theós' aristotélico são bastante próximas àquelas do Deus que já sabíamos existir por revelação, meus senhores! Portanto, um é outro, o outro é um... os dois são o mesmo. Logo, Deus existe necessariamente e conseguimos comprovar isso pela via racional!".
  Reverenciei Aristóteles, mas torci o nariz para Tomás.
  Imaginar a existência de uma causa incausada é quase necessário à razão humana, por maior que seja a antinomia presente. Como temos rejeição à ideia de falta de uma explicação para algo, e também não queremos regressar ao infinito, "engolimos" a parada brusca em um "ser misterioso" que é "causa sem causa". Nisso, Aristóteles nos premia, pavimentando o caminho gnoseológico até o tal "Motor Imóvel", ontologicamente necessário, eterno e infinitamente potente.
  A artimanha tomasiana é que não me parece elegante o suficiente. Quando ele toma "aquele" Ser primeiro aristotélico, como o "seu" Deus revelado, o passo parece ter sido grande demais... aliás, eu diria que, mais do que um "passo" foi um "salto"... talvez mesmo, o "salto cego" de Kierkegaard. Podemos até considerá-lo válido, mas apenas para quem tem a fé como "asas". Aos demais, resta o fundo do abismo.
  Depois eu continuo...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O Edito de Milão

  É interessante como se tornou usual dizer que o imperador Constantino I estabeleceu o Cristianismo como religião oficial do Império Romano, através do Edito de Milão, em 313 dC.
  A bem da verdade, o edito imperial, também chamado de "Edito da Tolerância", estabelecia a liberdade de culto. Desta forma, revogava um edito do imperador Nero, que ordenava anteriormente a perseguição aos cristãos.
  Talvez, em função da conversão de Constantino ao Cristianismo, imaginou-se que ele tenha obrigado a instauração dessa crença, em vez do paganismo, majoritário então.
  Até o livro "Filosofia Medieval", organizado por A. S. McGrade, publicado pela Ideias&Letras, no artigo "A filosofia medieval em seu contexto", assinado pelo professor de História da Universidade de Tufts Steven P. Marrone, "escorrega" nesse fato histórico, quando fala do cristianismo se tornando a "religião oficial do Império Romano", após a "conversão legal, iniciada no princípio do século IV pelo imperador Constantino". Fala ainda que "a contribuição de Constantino foi ... tornar dominante a variante  cristã desse discurso [um discurso comum entre os pagãos, cristãos e judeus instruídos, que florescia no século III], eventualmente de maneira opressiva, a partir do século IV".
  Penso que não fica bem, para um livro especializado em Filosofia Medieval, num artigo escrito por um professor universitário de História, enganar-se dessa forma.
  Mais vexatório ainda passa a ser, quando constatamos que até a Wikipedia contém o texto traduzido do Edito de Milão, onde fica clara a mera legitimação do laicismo no Império Romano.

Uma "brincadeira" sobre o infinito

  Spinoza tem uma carta famosa explicando sua teoria sobre o infinito... aliás, sobre "os infinitos". Afinal, para ele, há diversos tipos de infinito.
  Lembrei disso - vagamente, é verdade - quando, dia desses, ouvi uma consideração sobre a Teoria dos Conjuntos de Georg Cantor, e um paradoxo interessante.
  O paradoxo ia na seguinte linha: o conjunto dos números naturais é infinito... bem como o conjunto dos reais. Mas, se considerarmos que entre dois números naturais, dentro do conjunto dos reais, há uma infinidade de números, chegaremos à conclusão - ou não?! - de que o conjunto de números reais é um "infinito maior" do que o infinito dos números naturais.
  É... intuitivamente, parece que a coisa funciona desse jeito mesmo. Portanto, teríamos um "infinito grande" e um "infinito pequeno".

O papa, a homossexualidade e Rorty

  Ainda sobre o livro "Uma ética laica", de Richard Rorty, desta vez, comentando uma opinião de S.S, papa Bento XVI - mas o que fez esse senhor escolher o nome do nosso querido Spinoza?
  Escreve Rorty:
  "Bento XVI lamentou-se sobre o fato de que a Igreja tem cada vez mais dificuldade para dizer em que acredita. Em breve, declara o papa, já não será possível afirmar que a homossexualidade constitui um distúrbio objetivo na estrutura da existência humana, como ensina a Igreja católica [...] Espero que seus receios sejam confirmados e que isso ocorra, pois acredito que a condenação da homossexualidade gerou uma considerável e desnecessária infelicidade humana".
  Eu continuo com uma dificuldade incrível - deve ser burrice, mesmo! - em entender com uma mensagem tão bonita como a de Jesus pode ter se transformado em uma doutrina tão "monstrengosa" quanto essa que vemos ser defendida pelo atual papa, ex-cardeal "Adolf Hitlerzenger".

"Ama o próximo..."

  Em algum post do passado, eu já havia indicado a opinião de Andre Comte-Sponville de que ele se contentaria em viver em uma sociedade em que, se cada um não amasse o próximo como a si mesmo, pelo menos que o respeitasse.
  À época, achei essa ideia fantástica. Penso que ela, talvez, reconheça a nossa realidade, enquanto simples seres humanos, portadores de vontades naturais e culturais que colocam o outro sempre um passo atrás nas filas das prioridades, onde somos sempre os primeiros.
  Por esses dias, lendo "Uma ética laica", de Richard Rorty, relembrei Sponville. Em determinada passagem, durante um debate, no interior da questão dirigida ao autor do livro, surge a famosa citação bíblica do "Ama o próximo como a ti mesmo" - que, aliás, como eu já escrevi várias vezes por aqui, já está contida no Antigo Testamento... não sendo, por isso, pelo menos formalmente, exclusivamente cristã.
  Vejam a resposta de Rorty, meio que confirmando minha visão, apoiada na de Sponville:
  "Creio que o ideal de uma sociedade em que todos amam a todos assim como amam a si mesmos é um ideal impossível. No entanto, o ideal de uma sociedade em que todos têm respeito suficiente pelos outros... é um ideal possível".
  Ele complementa ainda: "E é o segundo ideal que, através do crescimento da democracia social e da tolerância, realizamos pouco a pouco nos dois últimos séculos".
  Penso, então, o seguinte, fazendo uma ponte com outro assunto "do dia": será que a falta de uma "democracia social" - não falo apenas em "democracia" no sentido político - não acarreta, por si só, um certo nível de intolerância dentro de determinada sociedade?
  E mais: não seria justamente a falta dessa "democracia social" - e, aqui, também política - o que tem criado alguns problemas para aquilo que nós temos percebido como os "fundamentalismos islâmicos" para os "lados" do Oriente?

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Correntes filosóficas e seus sufixos

  Dia desses eu conversava com um amigo que me perguntou qual seria a forma correta: pensamento spinozano ou spinoziano. Disse-lhe que, a bem da verdade, os dois termos apareciam nos textos... bem como "spinozista"; sendo o "preferido" no meu uso "pensamento "spinozano"... e expliquei o porquê.
  A mim parece que não haveria necessidade daquele "i", acrescentado no meio do "za", visto que esta sílaba é que encerra o nome do pensador. Não é o que acontece, por exemplo, com nomes terminados em consoantes, como Hegel - que geraria o "hegeliano" -, Kant - que geraria o "kantiano" -, e por aí vai.
  Embora não fizesse parte do questionamento original, incluí a minha "fuga" do "spinozismo". Como diz um "guru da modernidade": "Já temos 'ismos' demais!", referindo-se às diversas linhas religiosas e espirituais. Portanto, para não transformar o pensamento spinozano em mais uma "seita", fiquemos com o "spinozano".
  A partir desse questionamento, pensei que as primeiras correntes filosóficas - coincidência, ou não - estavam mais bem representadas pelo sufixo "ico(a)". Vejamos: pensamento socrático, platônico e aristotélico, por exemplo.
  A partir das correntes helenistas, "migra-se" para o sufixo "ista" - e os "ismos". Por exemplo, Epicurismo, Estoicismo, Ceticismo... que acaba lembrando movimentos religiosos, como Hinduísmo, Budismo, Judaísmo e... Cristianismo.
  É certo que essa aproximação que faço é meio "forçada". Afinal, fala-se em "pensamento estóico e cético", neste último caso; e em "platonismo e aristotelismo", no primeiro. Mas... digamos, no mínimo, que estamos diante de possibilidades paralelas, cuja maior força consiste naquela primeira versão citada.
  Será que o sufixo grego "iké" - mais ligado às ideias organizadas conforme uma "técnica" - deram lugar ao "ismós" - com a ideia mais próxima de uma "doutrina"?
  Se é assim, essa história de "ismo" continua forte no "cartesianismo". Daí em diante, a coisa se modifica um pouco - e aqui se insere o pensamento "spinozano", kantiano, fichteano, hegeliano, etc e tal.
  Curiosamente, depois voltamos aos "ismos"... com o marxismo, o positivismo, o existencialismo, o estruturalismo e outros.
  É verdade que esses "rótulos" não são tão rígidos que não admitam outras "possibilidades", mas, em linhas gerais, parece haver esse "movimento"... ou, pelo menos, dá para "brincar" com essa "dança dos sufixos".
 

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Por que "peripatéticos"?

  Sabemos que um aluno de Aristóteles era um "peripatetikós" - "aquele que passeia". A explicação dada para isso, normalmente,  se faz indicando que o Estagirita lecionava enquanto caminhava pelos "jardins" do Liceu. Isso dá a impressão de que o grande filósofo se preocupava em transmitir suas lições de um modo agradável, sem a clausura das salas de aula... entretanto, o que se diz é que uma das lições aprendidas pelos "perípatoi", através desse método, era a de guardar os conteúdos em suas memórias, visto que, caminhando, não lhes era possível tomar notas.
  É... faz sentido!

"Os filósofos e a arte"

  Há algum tempo disse que estava "namorando" com a Estética e que, em breve, postaria alguma coisa sobre o assunto. A bem da verdade, minha investigação estagnou-se... questão de prioridades... como tudo na vida. Entretanto, não queria deixar de registrar uma leitura que aborda um tema bastante interessante nessa relação entre Filosofia e Arte: a oposição de Platão à arte.
  O texto a que farei referência faz parte do livro cujo título é o mesmo deste post: "Os filósofos e a arte". A organização é de Rafael Haddock-Lobo e a publicação é da Editora Rocco. Há textos tratando da arte envolvendo Kant, Schopenhauer, Nietzsche, Heidegger, Merleau-Ponty, Deleuze, Derrida e outros, produzidos por diversos pensadores brasileiros.
  Um desses textos é "Platão contra a arte", produzido pelo professor-doutor Fernando Muniz. Apesar de suspeito para efetuar juízos sobre materiais produzidos por esse magnífico professor, visto que já tenho um "preconceito"... positivo em relação às suas ideias, tendendo a achá-las brilhantes antes mesmo de as ler, tentei desvencilhar-me desses tais pré-julgamentos. Mas, ainda assim, o que aconteceu foi uma mera confirmação dos "preconceitos positivos": o texto é ótimo. E é ótimo porque, além de enfrentar o problema posto pela opinião platônica - ao contrário de outros que tentam "minimizar" seus efeitos -, não se limita às análises óbvias, que já vi em outros bons escritos, sobre a natureza mimética do ofício do artista. O professor Muniz trabalha não só esse aspecto - da mímesis -, mas também o de enthousiasmós - a inspiração - poética. Escreve Muniz: "Com a doutrina do entusiasmo, Platão retira dos poetas o direito de falar à Cidade em nome de um pretenso conhecimento; com a mímesis, ele caça a cidadania da própria poesia".
  Mais interessante ainda, na análise de Fernando Muniz, é que esta não se limita ao famoso Livro X, da República - e da possível incoerência deste face aos Livros II e III, onde "Sócrates" indica mesmo a poesia como parte da educação dos jovens. É feita uma gênese dos motivos que levaram Platão à expulsão dos poetas da cidade ideal. E esses motivos são apresentados como pertencendo a vários dos diálogos platônicos. Está escrito: "Nos primeiros diálogos... a... exclusão da poesia já se manifesta de modo inequívoco. A visão predominante desse período é fornecido pela doutrina do entusiasmo, ou seja, a poesia entendida como resultado de intervenção divina. Dos diálogos do período mediano em diante, a mímesis substitui o entusiasmo".
  E, para temperar mais ainda essa análise, Muniz inclui o Górgias, trabalhando o conceito de Kolakeia ("agrado"/bajulação).
  Depois escrevo mais...

"O que nos torna mais humanos...

  Ainda do livro "Política - para não ser idiota", gostei muito de uma frase de Cortella, reforçando a sua concordância com Aristóteles, sobre a natureza social/política do ser humano - ainda que com uma "pitada" de historicidade! -, quando diz: "O que nos torna mais humanos é justamente a capacidade do exercício da política como convivência e como conexão de uma vida".
  Boa essa, Cortella!

"Política - para não ser idiota"

  O título do post é o mesmo de um livro lançado recentemente pela Editora Papirus - Sete Mares.
  O livro apresenta um diálogo dos filósofos brasileiros Mario Sergio Cortella e Renato Janine Ribeiro. Ambos conhecidíssimos, eles dialogam sobre o tema Política. Como sempre acontece nos livros onde há a participação de Cortella, seja como autor, seja como debatedor, o nível é profundo, sem cair nas redes teórico-epistemológico-metafísicas (seja lá o que isso quiser dizer!) do rebuscamento desnecessário. Sobre esse modo de se expressar, talvez Cortella tenha ouvido a lição de Ortega y Gasset de que "a clareza é a gentileza do filósofo".
  Mas, voltando...
  A primeira informação interessante se refere à etimologia da palavra "idiota", que remete ao grego "idiotés", com o significado de "aquele que só vive a vida privada, que recusa a política". Ou seja, o "idiota", para os gregos, era aquele que não se importava em participar ativamente das decisões em sua comunidade... era uma espécie de "alienado", que não atendia ao chamamento básico da sua humanidade como "zoon politikon".
  Ainda na linha de etimologia, Cortella cita o "domus" (latim), com o significado de "casa", para mostrar que não temos "domus", mas "con-domínios". Portanto, "viver é conviver, seja... no prédio, seja no país, seja no planeta".
  Fica claro, desde o início do livro, que para "viver" - que é sempre "conviver" - é imprescindível um comportamento "político", ou seja, um comportamento que se interesse e cuide das relações que se estabelecem na "pólis", tenha ela a dimensão que tiver, seja um pequeno núcleo familiar, um prédio, um bairro, uma cidade, um país ou um planeta.
  Cortella cita uma frase típica fixada em veículos de empresas - "Como estou dirigindo?" -, que viu ganhar um acréscimo inesperado: "Mal? Dane-se, o caminhão é meu!". Segundo ele "Essa lógica 'do caminhão é meu' significa 'eu faço o que quero, sou livre'. Ora, esse exercício da liberdade como soberania é algo que se aproxima da ideia do idiotés. Não sou soberano".
  Pouco depois, ele mostra - etimologicamente, ainda - a diferença entre o "superanus" (latim), como "aquele que está sobre/acima de todos e não se subordina a ninguém", e o "autônomo" ("autós" + "nómos", do grego), como aquele que se regula por suas próprias normas... mas sempre entre outros "autônomos". Ou seja, há necessariamente um respeito, senão às normas "dos outros", pelo menos, aos outros.
  E já que estamos no campo etimológico...
  Cortella explica que a palavra "síndico" expressa a ideia de "syn" + "diké", ou seja, "alguém que se junta a outros para pedir justiça", em outras palavras, "o síndico é o representante de um grupo que vai agir para conquistar a justiça". Relacionada a essa explicação vem a ideia de que a participação, ou não, em uma reunião de condomínio é uma decisão política. Mas adverte, quanto a não participação: "Os ausentes nunca têm razão".
   Depois escrevo mais...

Recepcionando a 46ª amiga...

  O registro que tenho a fazer é sobre o aumento do nosso número de amigos dos amigos, com a entrada da nossa 46ª participante... a Cristina.
  Coloco esse nosso pequeno espaço à sua disposição, esperando que possa gostar... e participar, colocando aqui suas opiniões sobre as questões levantadas, bem como "provocando-nos" com algumas outras.
  Seja bem vinda e se sinta totalmente à vontade.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Frustração à la grega

  Dia desses, estava eu a conversar com uma amiga sobre a importância do idioma Grego para o estudo dos textos filosóficos da Antiguidade. Contei-lhe, então, que estudara o idioma - na versão ática -, a fim de enfrentar os "desafios" de um Platão, por exemplo.
  Nisso... eis que outra amiga ouviu e disse: "Ah... que legal! Como é que se diz 'Bom dia', em Grego?".
  Minh'alma se encheu de dor e frustração, mas eu tive que responder: "Não sei!". Logo emendei: "Mas é que estudamos o Grego daquela época... e coisa e tal...". Mas, cá entre nós, caros amigos desse espaço de confidências: Como é que alguém diz aprender um idioma, se não sabe nem falar 'Bom dia' nele?
  Da frustração à raiva, decidi comprar um livretinho desses de  "Grego - Guia de conversação para viagens".
  Para aqueles que já sofreram a mesma vergonha que eu... ou para os que só têm curiosidade no idioma, anotem aí:
  - Kaleméra = Bom dia;
  - Kalespéra = Boa tarde; e
  - Kalenýchta = Boa noite.
 Ainda mando, inteiramente grátis, só para os amigos:
  - Eucharistó = Obrigado(a); e
  - Parakaló = Por favor.
 Quem quiser, já pode comprar a passagem aérea para Ellas... e não morrerá de sede por lá, pedindo mpýra e krasí - cerveja e vinho, respectivamente.
  Boa viagem!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Olympia, de Manet

  Todos que leem o blog há algum tempo sabem que aprecio muito o movimento do Impressionismo. Por esses dias, O Globo publicou uma coluna do Cacá Diegues que contava a história do quadro Olympia, de Edouard Manet - embora esta história tenha servido apenas de introdução ao ponto de vista do cineasta sobre a participação de artistas no cenário político brasileiro.
  Pela curiosidade da história, deixo a parte política de fora, e passo a um excerto apenas do trecho que diz respeito à pintura.
  "Em 1865, o quadro Olympia foi recusado pelo Salão de Belas Artes de Paris. Exposto no Salão dos Recusados, provocou escândalo. O quadro retrata uma mulher nua deitada, enquanto uma criada negra lhe traz flores e um gato preto, aos pés da moça, nos encara. Atentado à boa pintura neoclássica, Olympia foi acusado também de indecente. Paris inteira linchava Olympia.
  Somente o escritor e jornalista Émile Zola ousou defender publicamente o pintor e sua obra. Zola só lamentava a presença do gato preto, que, segundo ele, servia apenas como elemento de distração no rigor poético da composição. Como Zola se recusou a atender pedido de retratação do editor do jornal, este despediu o escritor e as portas de todos os jornais se fecharam para ele. Manet, como agradecimento por seu gesto, pintou-lhe então um retrato - que se encontra atualmente exposto ao lado de Olympia. Nesse quadro, Zola está escrevendo, cercado de livros, e na parede está exposta uma reprodução do Olympia, sem o gato preto no canto da tela".
  Deixando a parte histórica, passo a uma reflexão interessante, que utiliza Zola como exemplo. Escreve Cacá: "De Émile Zola a Susan Sontag (que teve a ousadia de explicar ao americano comum o que ele não havia entendido do 11 de setembro), muitos desses intelectuais não arriscaram apenas seu reconhecimento, mas, às vezes, a própria vida no cumprimento da missão de pensar o mundo e o estado das coisas segundo sua própria consciência, conhecimento e intuição, sem se submeter à palavra de ordem majoritária de grupos, partidos ou corporações".
  Boa, Cacá!!!
 
 
   

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Por falar em filósofas...

  Já que o assunto do post anterior dizia respeito a "filósofas", quero falar de duas aquisições recentes, que têm a ver com a grande filósofa - se bem que ela recuse este "título" - Hannah Arendt.
  Uma dessas aquisições é o clássico "A vida do espírito - o pensar, o querer e o julgar", que, infelizmente, permaneceu inacabado, faltando-lhe a última parte. Vale lembrar que, quando da publicação original, esta terceira parte foi "composta" com excertos das conferências de Arendt sobre a "Filosofia política de Kant". Até hoje, entretanto, eu não tinha o livro, que estava esgotado. Consegui, então, um exemplar de 1991, da Editora Relume Dumará-UFRJ.
  A outra aquisição é um lançamento. Trata-se de mais um livro da coleção "Compreender...", da Editora Vozes. Desta vez, "Compreender Hannah Arendt", de Karin A. Fry, professora de Filosofia da Universidade de Wisconsin. Só folheei este último, mas, a julgar pela qualidade da coleção, deve representar uma boa fonte de estudo.

Maria Luísa Ribeiro Ferreira (2)

  Essa é só para fazer justiça à Dra. Maria Luísa, nossa tão cara pensadora lusa, registrando mais alguns títulos que contaram com sua participação - seja como autora, seja como organizadora -, sob a perspectiva do pensar feminino. São eles: "As teias que as mulheres tecem" (2003); "As mulheres na Filosofia" (2009); "Pensar no feminino" (2001) e "Também há mulheres filósofas" (2001).

Esqueci um aniversário...

  Daqueles que consigo lembrar - e a minha memória já tem dado sinais do "desgaste" -, sempre faço questão de registrar a passagem dos anos, aqui no blog.
  Mas a verdade é que esqueci de um aniversário relativamente importante... o do próprio blog. É verdade que são dois aniversários: um, daquele primeiro "Spinoza e amigos", do globolog, e este, mais recente, do blogspot. Mas podemos considerar que houve uma "metempsicose" daquele primeiro para este último e, por isso, dá para falar que são o mesmo "indivíduo".
  Comemoremos, então, a primeira "manifestação fenomênica" do "Spinoza e amigos", que se deu em 26 de julho de 2008.
  E, como eu sempre faço - quando lembro do aniversário -, registro o primeiro post: "Começo o blog citando Bertrand Russell, a respeito de Spinoza: 'Spinoza é o mais nobre e o mais amável de todos os grandes filósofos. Intelectualmente, alguns outros o superaram, mas eticamente é supremo".

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O "homem" para Marx

  O livro "Antropologia Filosófica", de Henrique C. de Lima Vaz, traz uma explicação interessante sobre a Antropologia Marxista. Evidencia-se, nessa antropologia de Marx, uma percepção bem aguda sobre o homem.
  Diz o livro: "Para Marx, a especificidade do homem se destaca sobre o fundo das características que ele tem em comum com os animais. Seja o homem, seja o animal se definem pelo tipo de relação que os une à natureza, isto é, pela forma como vivem sua vida. Ora, enquanto o animal é sua própria vida, ao homem cabe produzir a sua. Essa produção da própria vida irá implicar, no homem, os predicados especificamente humanos da consciência-de-si, da intencionalidade, da linguagem, da fabricação e uso de instrumentos e da cooperação com seus semelhantes. Conquanto algumas dessas características, como a intencionalidade, a fabricação e uso de instrumentos e o comportamento gregário, possam encontrar-se igualmente nos animais, pelo menos sob uma forma análoga, a consciência-de-si e a linguagem são predicados exclusivos do homem, e, como capacidades cognitivas, são capazes de imprimir uma feição especificamente humana às outras características".
  Ou seja, mesmo  aquelas características que  poderíamos  considerar como "compartilhadas", em alguma medida, com outras espécies  de animais,  ganham um  matiz diferenciado em função daquelas que são exclusivamente humanas.
  Parece-me que, deste modo, fica mais claro pensar o homem enquanto ser da natureza, mas não apenas de uma forma naturalista reducionista e banalizada. 
  Será que isso dá algum colorido especial à afirmação spinozana de que o homem não é "um império dentro de outro império"?

Maria Luísa Ribeiro Ferreira

  O nome do título deste post faz tremer de paixão aqueles que gostam de Spinoza. Isto porque esta senhora - especial até na data do nascimento: 29 de fevereiro - é autora de livros como: "Uma suprema alegria - escritos sobre Espinosa"; "Razão e Paixão - o percurso de um curso" e "A dinâmica da Razão na filosofia de Espinosa".
 Preocupada, também, com a valorização do pensar feminino, publicou, entre outros, "As mulheres na Filosofia".
  O fato é que, pela primeira vez, temos um livro organizado por esta brilhante portuguesa sendo publicado aqui no nosso Brasilzão. Trata-se de "O que os filósofos pensam sobre as mulheres", que saiu pela Editora Unisonos, agora, em 2010.
  Entre os filósofos que aparecem "dando o seu depoimento" sobre esses seres maravilhosos - e extremamente complexos -, que são as mulheres, temos: Platão, Aristóteles - que ninguém lembre que ele teria dito que as mulheres são homens "inacabados". Rsss -, Agostinho, Descartes, Spinoza, Kant, Foucault, etc.
  Como não poderia deixar de ser, o texto "Spinoza, Hobbes e a condição feminina" só poderia ter sido escrito pela fantástica Dra. Maria Luísa Ribeiro Ferreira.
  Aliás, esta nobilíssima senhora foi a primeira mulher a quem assisti  defender o nosso tão caro filósofo luso-holandês da confusão em que ele se meteu por emitir uma "truncada" opinião sobre a inadequação das mulheres para os cargos públicos de chefia, no seu "Tratado Político"... obra inacabada, diga-se de passagem. Aliás, a Dra. Maria  Luísa registra sua estranheza quanto à forma com que a opinião spinozana foi dada, e pensa que, podendo explicar-se melhor, no desenvolvimento do seu tratado, Spinoza desfaria o que restou apenas como uma má interpretação de sua opinião. 

  Bem... não sei se as feministas concordaram com ela... mas eu, sim!
  Só para deixar os amigos brasileiros babando, não só adquiri este exemplar nacional, como tenho todos aqueles portugueses citados antes... em parte, graças ao trabalho de pesquisa e à amizade da "nossa" Maria, aqui do blog, uma das amigas dos amigos de Spinoza.
 

sábado, 31 de julho de 2010

Outro livro spinozano

  A citação do post anterior, do livro "História & Religião", de Sérgio da Mata, foi retirada do capítulo disponível para leitura no site da editora Autêntica (http://www.autenticaeditora.com.br/), onde é possível, inclusive, fazer-se o download de algumas livros digitais gratuitamente.
  Recebi essa dica de uma colega de trabalho, Dra. Cláudia Araújo, a quem agradeço muito, aliás. Leitora incansável, que é, quis oferecer-me a oportunidade de acesso gratuito a vários livros. Entretanto, o que ela não sabia é que estava me ofertando muito mais do que isso, visto que, lá, descobri um livro spinozano a respeito do qual não tinha conhecimento. Trata-se de "Espinosa e a psicologia social - Ensaios de ontologia política e antropogênese", de Laurent Bove, publicado agora, em 2010.
  Já encomendei o meu!
  Vejam os títulos "instigantes" de alguns dos capítulos: "'Desejo sem objeto', singularidade, linguagem e poder. De Espinosa a Freud e Camus"; "Potência e prudência de uma vida como singularidade em Espinosa"; "Linguagem e poder em Espinosa: a questão da interpretação"; "A função ambivalente do amor: objeto do amor e amor sem objeto na política espinosana" e "O humano e 'sua' animalidade ou a hibridação indefinida do corpo historicizado dos homens".
  Obrigado, novamente, Cláudia.