terça-feira, 7 de dezembro de 2010

"Deus e a Filosofia"

  Tive que me debruçar sobre a Metafísica de Aristóteles para resolver alguns problemas sobre o "Primeiro Motor Imóvel" em sua relação com o Deus de Tomás de Aquino.
  Lendo uma bibliografia secundária, cheguei à opinião de Étienne Gilson sobre o Aquinate não ser um aristotélico. Estranha, mas fundamentada, opinião.
  Fiquei curioso sobre esta posição de Gilson e continuei pesquisando, até que esbarrei com o livro que dá título ao post, de autoria do famoso medievalista francês, publicado pelas Edições 70. Como havia um capítulo dedicado especificamente à Filosofia Moderna, fui em busca do retrato que fora pintado do nosso querido luso-holandês. 
  Grata surpresa...
  Gilson escreve: "Dos sucessores de Descartes, o maior metafísico foi Espinosa, porque, com ele, alguém disse, por fim, sobre Deus o que o próprio Descartes devia ter pensado e dito desde o início, se não como cristão, pelo menos como filósofo [...] Espinosa não tinha a religião de um cristão nem a de um judeu; não tendo qualquer religião, não se podia esperar que tivesse a filosofia de qualquer religião; mas era um filósofo puro, o que explica o facto de pelos menos ter tido a religião da sua filosofia".
  Gilson, então, explica o que é o Deus spinozano, ao longo de algumas poucas linhas, e chega à famosa "fórmula" spinozana: "... um Deus que 'existe e age meramente a partir da necessidade da sua natureza', não é nada mais do que uma natureza. Ou melhor, ele é a própria natureza: Deus sive Natura".
  Mais adiante, Étienne registra um belo pensamento: "Espinosa foi muitas vezes rotulado como ateu pelos seus adversários; também foi chamado, por um de seus admiradores alemães, 'um homem inebriado por Deus'. O que torna Espinosa tão importante na história da teologia natural é que ambas as apreciações são verdadeiras. Sendo um ateu religioso, Espinosa estava verdadeiramente inebriado pelo seu Deus filosófico. As religiões positivas, tal como ele as entendia, não passavam de superstições antropomórficas inventadas pelos homens para fins práticos e políticos. Não é de espantar que para os judeus, assim como para os cristãos, Espinosa parecesse sempre um homem sem Deus. Mas não nos podemos esquecer do reverso da medalha. Como filósofo, Espinosa é provavelmente o pensador mais pio que alguma vez existiu".
  Cada vez admiro mais Étienne Gilson... e... depois, eu conto mais! 

3 comentários:

Prof. Guilherme Fauque disse...

Tu recebeste meu e-mail de retorno ao teu ensaio, não é?

Obrigado por compartilhar, gostei muito!

Ricardo disse...

Caro amigo Guilherme:
Recebi, sim. Iria responder-te com mais cuidado. De qualquer modo, como perguntaste, já envio meus agradecimentos quanto às observações sobre as "formalidades acadêmicas" - super-válidas -, que passarão a ser objeto de atenção.
As ABNTs referentes ao assunto foram introduzidas agora, portanto, o enfoque do ensaio era mais o conteúdo.
Ainda assim, agradeço ao carinho das observações e à gentileza pelo seu julgamento.
Minha intenção primeira foi compartilhar contigo a inauguração de um novo "estágio" de escrita... conforme, há muito, tu já tinhas insistido para que eu iniciasse.
Grande abraço... e espera pelos outros. Acho, entretanto, como eles ainda estão sem as formalidades necessárias, tu terás que relevar a parte da forma e ater-te mais ao conteúdo.

Prof. Guilherme Fauque disse...

Ah, Ricardo... não esquenta com isso! Só falei destas chatas regrinhas da ABNT porque logo vão começar a te cobrar isso. Então, quanto antes você começar a se habituar a elas, melhor.

Contudo, para mim isso não faz diferença, pois o conteúdo é que importa... aliás, isso você tem de sobra! Espero que não perca a leveza na escrita depois que se tornar mais "acadêmico".

Sempre tive um diferencial durante o meu curso superior justamente por não ficar preso ao academicismo. Sempre gostei de escrever mais "leve" e "alegre", mesmo tendo que fazer citações de acordo com a ABNT - rsrsrsrsrsrs