sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Deus: mito ou realidade?

  O título do post diz respeito a uma palestra a qual assisti, apresentada pelo sapientíssimo professor Dr. Paulo Faitanin, especialista em Aristóteles e Tomás de Aquino.
  O professor usou alguns "artifícios" lógicos e conceituais pretendendo provar a existência de Deus. Numa linguagem acessível, penso que, ao fim da primeira parte da apresentação, logo antes das perguntas da audiência, tivemos a nítida impressão de que restava comprovado racionalmente que o Deus metafísico existia necessariamente.
  Os "especialistas" invocados pelo ilustre mestre Faitanin foram, nada mais nada menos, que Aristóteles e Tomás de Aquino.
  O Estagirita deu os ares da graça primeiro. Conduzidos pelo discurso hábil do palestrante, chegamos ao "Motor Imóvel" aristotélico... que, nos últimos livros da Metafísica, ganha a denominação de "theós"... e - Zapt! - estamos diante de Deus.
  O Aquinate chega um pouco atrasado à palestra, simplesmente para dizer: "Vejam. As características desse 'theós' aristotélico são bastante próximas àquelas do Deus que já sabíamos existir por revelação, meus senhores! Portanto, um é outro, o outro é um... os dois são o mesmo. Logo, Deus existe necessariamente e conseguimos comprovar isso pela via racional!".
  Reverenciei Aristóteles, mas torci o nariz para Tomás.
  Imaginar a existência de uma causa incausada é quase necessário à razão humana, por maior que seja a antinomia presente. Como temos rejeição à ideia de falta de uma explicação para algo, e também não queremos regressar ao infinito, "engolimos" a parada brusca em um "ser misterioso" que é "causa sem causa". Nisso, Aristóteles nos premia, pavimentando o caminho gnoseológico até o tal "Motor Imóvel", ontologicamente necessário, eterno e infinitamente potente.
  A artimanha tomasiana é que não me parece elegante o suficiente. Quando ele toma "aquele" Ser primeiro aristotélico, como o "seu" Deus revelado, o passo parece ter sido grande demais... aliás, eu diria que, mais do que um "passo" foi um "salto"... talvez mesmo, o "salto cego" de Kierkegaard. Podemos até considerá-lo válido, mas apenas para quem tem a fé como "asas". Aos demais, resta o fundo do abismo.
  Depois eu continuo...

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