sábado, 28 de agosto de 2010

Os oitenta anos de Ferreira Gullar

  Em homenagem aos oitenta anos do nosso Ferreira Gullar, lá vai o seu existencial, estético, ético, metafísico, linguístico...

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém,
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão;
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera;
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

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