quarta-feira, 15 de setembro de 2010

"Ser feliz com Espinosa" (2)

  A ideia que transparece no início do livro é a de uma abordagem existencial valendo-se da filosofia spinozana. Entretanto, a partir de títulos como "Na selva afectiva", "Diz-me o que amas, dir-te-ei quem és...", "Somos seres de desejo" e outros, o livro se desdobra, superando o que seriam aspectos meramente pessoais dentro do enfoque da filosofia spinozana. Quando chegamos em "A comunidade dos homens livres", por exemplo, percebemos parte do tal "conteúdo político" ao qual o prof. Thomass se referiu no seu comentário aqui no blog.
  Mas o texto vai mais longe - exibindo, então, um fôlego que não parecia ser possível no começo da leitura -, sob o título "Deus não está além do mundo: o MUNDO É DEUS", e se arrisca - embora com muita competência - no texto "A experiência da eternidade".
  Vamos por etapas...
  No primeiro texto citado, Thomass afirma que "nossa imagem de Deus, simplesmente, não é coerente". Nesse momento, entretanto, trabalha o já conhecido - e o mais problemático questionamento enfrentado pela Teologia - Problema do Mal. Pergunta, então: "Como poderia Deus tolerar o mal se fosse efectivamente omnipotente e infinitamente bom?".
  Entretanto, não fica preso a essa questão, quando indica: "No entanto, Espinosa persegue as incoerências da nossa ideia de Deus a um nível ainda mais fundamental". Aborda uma ideia, então, que sempre me pareceu liquidar totalmente com a argumentação da existência desse Deus que nos é costumeiramente apresentado: a impossibilidade de um Deus infinito e transcendente, simultaneamente.
  Escreve Thomass: "Se Deus é infinito, nada pode existir além dele; tudo o que lhe fosse exterior - um mundo abandonado por Deus, um diabo, criaturas não divinas - indicaria um limite à sua natureza divina e apresentaria, pois, a prova de que ele não é infinito".
  Ou seja, se há algum Deus que é infinito, a sua criação tem que permanecer coextensiva a Ele mesmo. Desta feita, resta a conclusão de que, se Deus existe, pelo menos Ele não é como pregam as religiões. Ele teria que ser, como defende Spinoza, e reforça Thomass, um Deus sive Natura.
  Depois eu continuo...

Nenhum comentário: