segunda-feira, 6 de setembro de 2010

"Ser feliz com Espinosa"

  Eu tenho um mau hábito declarado: comprar livros sobre Spinoza sem uma profunda avaliação prévia. Em alguma medida, penso na ocasião, haverá algo de bom a retirar. De qualquer forma, só me arrependi profundamente uma vez... algo como "Aristóteles encontra Spinoza" - sei lá... mas até comentei aqui no blog. De modo geral, posso dar uma lida, "mapear" coisas às quais voltarei num momento posterior e deixar mais um livro esperando por mim.
  Confesso esse meu hábito por algo que ocorreu sexta-feira passada. Fui dar a minha passeada "básica" numa livraria aqui de perto. Lá chegando, meu já conhecido amigo vendedor veio mostrar-me uma obra da Scarlet Marton sobre Nietzsche... que eu informei já ter adquirido. Visita encerrada, não fosse uma pilha de livros portugueses que ele não havia ainda organizado nas estantes. Lá estava um livro de título "Felicidade e Filosofia - ser feliz com Espinosa". É verdade... o título soa meio auto-ajuda demais. Mas, exposto o meu hábito, lá no início do post, é lógico que não deixei de adquirir o volume.
  Vamos aos fatos posteriores. O livro é interessante. Embora eu desconfie muito de livros que propõem "utilizações práticas da Filosofia", não pude deixar de sentir uma certa atração por esse, que explicava assim sua intenção: "A filosofia teve desde sempre por ambição melhorar as nossas vidas [...] Mas a maior parte dos livros de filosofia interessaram-se sobretudo pela questão da verdade e consumiram-se a emitir fundamentos teóricos, sem se preocuparem com as aplicações práticas". Se essa parte causou uma certa desconfiança, logo a seguir o livro se absolve desse preconceito, ao dizer "Contudo, não se pode inflectir a prática sem rever a teoria. A felicidade e o desenvolvimento conquistam-se e não dispensam um esforço de reflexão [...] Uma nova maneira de agir e de viver implica sempre, também, uma nova maneira de pensar e de se conceber [...] Por essa razão, convidaremos o leitor a reflectir sobre conceitos, antes de lhe propor interrogar-se sobre si mesmo".
  Convite feito; convite aceito.
  Estou mais ou menos no primeiro terço do livro. De qualquer forma, se esse não é o livro mais "técnico" que já li sobre Spinoza - e não é -, não se pode tirar-lhe o mérito de uma certa adequação bastante fina entre as intuições do autor e as citações apresentadas da obra magna de Spinoza, a Ética.
  Lembrei-me muito de meu amigo Existenz, e das discussões que tínhamos sobre a peculiaridade de Spinoza enquanto representante do "Racionalismo moderno", pois, logo no início do livro, o autor diz "A realidade humana é, antes de mais, uma realidade afectiva [...] Neste sentido, é errado distinguir a 'vida afectiva' da restante vida [...] tudo o que fazemos é feito com sentimentos: estes impelem-nos [...] é um afecto que move um matemático pelos meandros do cálculo - a curiosidade, o prazer do enigma, o orgulho da descoberta...".
  Coisas interessantes sobre as "circunstâncias" do texto, agora.
  A publicação é do Instituto Piaget, de Portugal, dono de uma carta de produtos de qualidade. Bom sinal! O autor, Balthasar Thomass, indica a contracapa do livro, é "professor de Filosofia e autor de várias obras filosóficas". Tudo bem! Mas... há, a seguir, a seguinte informação, no mínimo, curiosa: "A sua atividade de filosofia, partilha-a com a de pianista de jazz. É membro da Orquestra Nacional de Jazz da Alemanha".
  Bom... leitura que segue. Depois, eu conto mais.

2 comentários:

mundy disse...

Estou sumido e tambem se nao dou as caras, fico no esquecimento geral,rssssssss, mas é que os temas estao ficando um pouco distantes de minha compreensao , mas sou teimoso e de vez em quando entro e geralmente venho com off topics, hehehehehehehehe, alguns interessantes , outros nao, mas julgo que este será legal de dividir com vcs.No último 5 de setembro, em sua coluna dominical(Jornal o globo) Caetano Veloso , escreveu sobre as proximas eleições, nao vou transcrever o texto na integra por ser bastante longo e que em realidade me agradou apenas parte do que o baiano escreveu, nao sei se tenho implicancia com o Cae ou ele que tem implicancia comigo, pois geralmente penso diametralmente o oposto dele, hehehehehe, mas o que vou transcrever achei interessante " Declaração de Voto- Gosto de Votar(Cae) e gosto de ter claro e de dizer em alto e bom som em quem voto.Ao contrário , nao sei se do tolo Fagner, do inteligente Lobao, do genial Tom Zé ou do absurdete Macalé(Jards)-um deles disse que seu voto é tão secreto que ele não o declara nem a si mesmo-,adoro poder ter certeza da escolha do candidato para gozar da alegria de alardea-la".O Cantor declara seu voto em determinado candidato, o que mais me chamou a atençao em tudo foi o fato de o Jornal ter permitido que seu espaço na coluna tenha sido usado com espaço eleitoral gratuito para determinada candidatura, que mal ou bem deve ser formadora de opiniao, no geral nao gostei do que o baiano escreveu,mas quis citar o trecho , pois as eleiçoes estao chegando e temos que saber se vamos alardear ou torna-lo secretos ate mesmo para nós, hehehehehehe, alias minha única concordancia com o Veloso foi o fato de alardear se gosta ou de se tornar secreto no caso, rsssss, bem fica aí minha pequena participação, mais do que bissexta, e para lembrar estou VIVO, hehehehehehehehehe.

belsha disse...

Olá Ricardo,

Ja que estava eu muito orgulhoso em saber o meu livro traduzido em português (lingua que adoro apesar de pouco conhecer-a) , estou muito feliz agora apreendendo que este livro chegou no Brasil, e na Baia de Guanabara mesmo...

Espero que você não se chateie demais com o lado "auto ajuda" do livro, que e meio provocação, meio oportunismo, meio cuidado real com as conseqüências praticas da filosofia, e meio estratégia de dissimulação do conteúdo político e militante do espinozismo,segundo a tese do Leo Strauss em seu livro sobre o Epinoza "A perseguição e o arte de escrever".

Quando a "curiosidade biográfica": fui pianista de jazz na minha juventude, antes de virar professor de filosofia. Fui membro do "Orquestra Nacional de Jazz de Alemanha " quando tinha 20 anos, faz um tempinho já... A editora Instituto Piaget nunca pediu nenhuma informação, de fato, só apreendi a existência dessa tradução muito depois da publicação... Mas com muito prazer voltaria no Rio de Janeiro tocar um chorinho na Lapa ( se tivesse um bom piano por ai...)

BT