segunda-feira, 18 de abril de 2016

Sem ficar em cima do muro


   Quando declarou que o agora ministro da Justiça Eugênio Aragão não parecia ser confiável, porque sempre vinha com uma palavra diferente sobre algo que se pretendia fazer,  Lula aparentemente não refletiu sobre o fato de que esses "cuidados" podiam corresponder exatamente ao oposto: Aragão era tão "companheiro" que queria se adiantar, em pensamento, às possíveis oposições que surgiriam em relação às ações que se intentava implementar. Ou seja, falar sobre outras possibilidades não é sinal, necessariamente, de ser adversário.
   Diante disso, eu sou um daqueles que o ex-presidente nunca teria como "confiável". Isto porque sempre gosto de ficar "girando em torno" dos fatos, a fim de observar-lhe as múltiplas facetas. Essa minha atitude faz com que as perspectivas saltem à minha vista, e que eu as possa discutir com mais riqueza - pelo menos, em teoria tento fazê-lo.
   Nesse caso do impeachment - para não ficar "em cima do muro" -, acho inaceitável a tese de "golpismo". Esse ataque descabido às pretensões daqueles que procuram o impedimento da presidente Dilma parece estabelecer-se justamente naquele campo da "violência intelectual" citada no post anterior, que é o do sofisma.
   Ora, a possibilidade deste processo está impressa na Constituição Federal. Logo, não há porque atacá-lo em tese. O que pode acontecer é que, na prática, ele esteja eivado de algum vício, o qual deverá ser eliminado, sob pena de todo o processo ir para o lixo. Um exemplo é a alegada inexistência de "crime de responsabilidade". Mas, vejamos, se este é realmente o caso, o STF ou o Senado acabarão por indeferir as pretensões dos adversários do governo.
   A mera alegação de que Cunha é bandido e que é inimigo de Dilma, e que essa foi a motivação para abertura do processo, não se sustenta, de modo algum. Essa fase, que já foi comparada a de um inquérito policial, e, portanto, pré-processual, não estabelece um verdadeiro juízo sobre a presidente. Seria o mesmo que dizer que um delegado, por me ter como desafeto, a partir de uma alegação frágil, abriu um inquérito contra mim. O que virá depois? Provavelmente, quando ele oferecer a peça ao Ministério Público, a mesma será desconsiderada. E, se ainda prosseguir até a abertura do processo, o juiz teria que possuir o mesmo ânimo negativo em relação à minha pessoa para me condenar. Lembrando que, neste momento, eu teria todo o direito de me defender diante de um juízo isento. 
   Desde que as instituições estejam funcionando de modo correto - o que não implica dizer que não haverá pressão sobre elas -, tudo acabará bem... sem nenhum ataque à nossa "democracia".
   Talvez o problema é que os governistas saibam muito bem como essa "democracia tupiniquim" é construída: à base de trocas nada "republicanas" - palavra tão cara aos defensores de Dilma, nos últimos tempos. E se eles têm conhecimento de como é o funcionamento exato desta nossa "politicagem miúda", estão assustados porque os oposicionistas podem simplesmente usar as mesmas armas para conquistar o poder que uma vez eles usaram.
   Sabe aquela mulher que "rouba" o marido da outra se valendo de sua sedução? Pois é. Ela nunca terá segurança suficiente de que seu, agora, marido não sucumbirá aos mesmos impulsos, e trocará de cama e de esposa, diante de outra linda e sedutora mulher.

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