segunda-feira, 7 de março de 2016

"Lula coagido a depor"


   O título do post é o mesmo de outro artigo do jornal O Globo, desta vez, de autoria de Frei Betto.
   Tanto o título quanto o início do artigo parece ser uma defesa franca do ex-presidente. Frei Betto lembra que, na primeira prisão de Lula, em 1980, estava na casa de seu amigo. Ao falar desta segunda "prisão" - as aspas são colocadas pelo próprio autor -, é solta uma farpa contra aqueles que "transformaram a convocação em prisão e o depoimento em confirmação de que há um novo réu na Lava-Jato". Resta uma crítica ao juiz Sérgio Moro, como "homem midiático", o que "não combina com a egrégia função". E o governo Dilma ganha um elogio por respeitar a autonomia da Polícia Federal.
   Mas, depois, Frei Betto parece mudar um pouco os ares do artigo. Reconhece que "o PT cometeu muitos erros ao longo de seus 14 anos à frente do governo do Brasil" e que "os três símbolos da identidade do partido perderam credibilidade: organizar a classe trabalhadora; ser ético na política; realizar reformas estruturais".
   Ainda descrevendo os erros do PT, Betto indica que o partido agarrou o poder e começou a tropeçar nessa necessidade de mantê-lo a qualquer custo, tanto assim que "alianças promíscuas o [PT] fizeram perder a credibilidade".
   Uma crítica àqueles que abandonam a racionalidade, pré-julgando Lula, aparece no penúltimo parágrafo: "Quando o emocional se sobrepõe ao racional, faltam pedras para jogar na Geni!".
   Mas outra lambada no PT, no último parágrafo: "Um fato preocupa: o PT jamais julgou a conduta ética de seus militantes acusados pela Lava-Jato. Nem os absolveu, nem os condenou. Calou-se. E quem cala consente".
   Frei Betto já foi muito mais próximo de Lula do que é hoje - pelo menos é o que se diz. De mentor pessoal do ex-presidente a mais um dos ex-companheiros de lutas pregressas, o frei perdeu espaço para os "compadres" de Lula. No artigo, contudo, Frei Betto parece alguém que, sem querer esquecer o passado de lutas sociais, algumas vitoriosas, não se ilude com o presente cheio de problemas do Partido dos Trabalhadores. Acho, porém, que mesmo quando defende a racionalidade contra um juízo meramente "emocional", Betto se engana, visto que a maior parte daqueles que defendem Lula e o PT só o faz justamente porque se nega à crítica racional dos fatos, apegando-se exclusivamente à ideologia irrefletida do "nós, humildes, contra eles, elite". 
   Aliás, uma pergunta: mais pessoas passaram a defender o PT ou a recusar seu modus operandi? A mim parece que mais gente, inclusive petistas históricos, como é o caso do próprio Frei Betto, está passando por um processo de rejeição ao "novo PT", do que está começando a apoiá-lo agora.

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