terça-feira, 14 de junho de 2016

Sérgio Besserman Vianna


   Neste último fim de semana, o economista Sérgio Besserman escreveu em O Globo uma coluna bem interessante, sob o título "Esquerda?".
   No texto, Sérgio registrou o momento de polarização política atual. De um lado, os favoráveis ao impeachment; do outro, os "contra o golpe" - nas palavras do próprio autor.
   Sérgio marca claramente sua posição quando diz: "A narrativa do 'contra o golpe' [...] não apenas não se sustenta no confronto com as evidências como contém em si um núcleo profundamente autoritário e antidemocrático". Portanto, não se trata, para o economista, apenas de não ser correta, mas de ser "autoritária", a posição dos "contra o golpe".
   Ele explica sua opinião. 
   Há gente boa e qualificada apoiando cada um dos dois lados. Cada um deles apresenta fundamentos aparentemente igualmente sólidos para justificar suas posições. Diz Sérgio: "Fosse apenas uma questão de opinião, cada um ficava com a sua, e vida que segue. Como se trata do encaminhamento da vida política, é preciso um critério de decisão e uma instância final para o contraditório".
   Aí vem a justificativa que, penso, embasa bem a opinião de Sérgio a respeito do engano na tese dos "contra o golpe": "Numa democracia, esse critério só pode ser a Constituição, e a instância final sobre a constitucionalidade, o STF. Como isto está sendo integralmente observado, é incoerente e absurda a afirmação de que está ocorrendo um golpe".
   É importante lembrar que quem começou a falar em manipulação dos ministros do STF foi justamente os que fala de golpe. Pelo menos, é que depreendemos dos trechos de gravação divulgados.
   Já em relação à tese do autoritarismo e viés antidemocrático desta posição, Besserman diz: "Quem é 'contra o golpe', consciente ou inconscientemente, tem na mente alguma forma de resolver o contraditório que passa por impor sua posição pela força, assim definida qualquer outra forma que não o recurso ao STF".
   Gostaria de destacar, na passagem acima, a questão do "consciente ou inconscientemente". Decerto há os que falam em "guerra", em "resistência até o último homem", em "luta armada", que fariam parte daqueles que defendem uma posição antidemocrática conscientemente; mas há, também, os que estão embarcando nessa postura de modo menos óbvio. 
   Por fim, só explicando o título. Sérgio explica que o Brasil ainda guarda uma cicatriz profunda em sua sociedade, que é a desigualdade. Para combater isso, segundo ele, precisaríamos de uma "esquerda do século XXI, democrática e antenada com os imensos desafios do mundo contemporâneo". Mas o que temos, de acordo com sua opinião, é uma esquerda que não corresponde a isso. Diz: "Não é a esquerda à qual sinto, desejo e quero pertencer. Não é a esquerda de que o Brasil necessita. Não é nem esquerda".
   É isso. 

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