sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O barco de Neurath

   Otto Neurath (1882-1945) foi, entre outras coisas, filósofo. Associamos seu nome sempre ao Positivismo Lógico e ao Círculo de Viena. Certamente não serei eu a desfazer essa associação apelando aos dotes náuticos de Neurath, ao falar de seu barco. Na verdade, reforçarei os vínculos do austríaco com a Epistemologia.
   Neurath disse: "Somos como marinheiros, que têm de reconstruir seu navio em mar aberto, sem jamais poder decompô-lo em uma doca e erigi-lo novamente a partir de suas melhores partes".
   Quine, que gostava muito dessa citação, a ponto de usá-la como epígrafe em Word and Object, explica-a como dizendo respeito às modificações que ocorrem na ciência, que têm que acontecer enquanto usamos um modelo ainda não perfeito de embarcação/teoria. Não há como parar o barco; levá-lo para um estaleiro que procederá à correção absoluta de seus defeitos. Há que navegar... sempre.
   Descartes que não encontre Neurath lá no Hades, com suas ideias de começar o edifício do conhecimento a partir do zero, destruindo tudo que era tido como conhecido - ou seja, destruindo o barco enquanto se navega nele.


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