terça-feira, 25 de setembro de 2012

Facebook

   Por esses dias, minha mãe falava com uma tia "postiça" minha ao telefone. Como eu cheguei no meio da conversa, minha progenitora pediu-me para trocar umas palavras com ela. Visto que pedido de mãe é ordem, tomei o telefone e mandei um caloroso "Oi, tia!". Ela me disse que sonhara comigo, e ficara preocupada. Por esse motivo, telefonou para minha mãe, a fim de perguntar se tudo estava bem. Contou-me isso, e falamos sobre minha prima "postiça", que estava voltando de Portugal, por conta da situação difícil das coisas por lá. 
   Papo vai, papo vem, ela perguntou pelo meu "Face" - como é usual as pessoas se referirem à famosa rede social Facebook. Eu informei que não tenho conta nessa "geringonça" moderna de comunicação. Fiquei meio envergonhado quando minha tia - uma senhora de mais de sessenta anos - perguntou-me, absurdamente espantada: "Você não tem 'Face'? Que iiiiisso?". 
   Pensei rápido na ironia da situação: uma senhora questionando a falta de atualização tecnológica de alguém mais jovem - não tão jovem assim, é bem verdade. Rsss.
   Justifiquei minha ausência do "Face": "Tia, todos falam muito do 'Face', lá no trabalho. Justamente por isso, eu vi que essa 'coisa' toma muito tempo. Infelizmente, eu não tenho tido tempo nem de ler meus e-mails direito". Dito isto, ouvi uma lição sobre as possibilidades de encontrar "amigos" antigos; ver fotos de pessoas que não fazem parte das nossas vidas já há quinze anos; etc. e tal. Nem tive coragem de perguntar se alguém com quem não nos relacionamos há quinze anos realmente tem tanta importância assim. Reconheço que existem honrosas exceções, mas, de um modo geral, acho que poderia continuar muito bem sem encontrar o tal "desaparecido" por mais trinta ou cinquenta anos.
   O fato é que, pouco depois dessa vexatória conversa - vexame para mim, obviamente! -, li uma pequena entrevista do Andrew Keen - aquele mesmo que faz algumas críticas a ferramentas da internet... entre elas, essa pela qual me comunico - sobre o lançamento do seu livro "#vertigemdigital", pela Zahar, no Brasil.
   Na entrevista, o "polêmico pensador sobre o mundo digital" - como ele é descrito - é confrontado com uma estória do entrevistador, que conta que a filha de um amigo seu, diante do cancelamento da conta do Facebook pelo pai, teria dito que este cometera suicídio. E Keen responde: "Eu diria o contrário. Quando você cancela sua conta, você retorna à vida e não é mais um cadáver". 
   Imaginem se eu falo isso para a minha querida tia, hein!
   Há uma outra frase de Keen, que fecha a entrevista, em que ele diz: "O fraco [das redes sociais] é que elas não permitem agregar de verdade as pessoas".
   Eu não tenho certeza se isso é sempre verdade. Penso que a net - de um modo geral, e não apenas as redes sociais - pode vir a ser uma boa forma de iniciar uma amizade verdadeira. Meu receio, entretanto, é a quantidade de tempo gasto diante dos PCs, a fim de "atualizar" constantemente as informações. Aliás, quanto a essa questão do tempo, eu já tomo meus puxões de orelha, do compadre Mundy, pela falta de presença no blog. Da próxima vez, vou dizer a ele que quero não me manter "cadáver".

6 comentários:

mundy disse...

Querido compadre, de fato o face tem uma virtude , faz com que possamos manter contatos com pessoas que nao vimos por anos e ate outras mais próximas e um defeito em que as relaçoes passam a existir mais no virtual do que no Real, entao vpce defende sua tese e hajo justo que pense ou concorde com o que leu , mas lá vai um grande Puxao de orelhas no amigo, o que acredito que ainda posso fazer após 33 anos de amizade, ao Final de 2011 vc em conversa telefonica com o nobre, o mesmo havia dito que procuraria corrigir um defeito que sempre cobrei de vc e nao preciso dizer o que é ou lembrar o amigo, mas uma série de coisas devem ter ocorrido pois aquela nossa conversa nada foi colocado em prática de sua parte, nao cobrei e nem cobrarei mais nada, em parte por procurar entender vc e dar umm crédito que possam estar ocorrendo algumas coisas, mas como é de minha personalidade confesso que eu particularmente estou me sentindo um daqueles em que vc diz que se conseguiu viver vários anos afastado o mesmo nao deve ter tanta importancia assim para que justifique uma conta no FACEBOOK, e caro Compadre estamos chegando ao fim de setembro de 2012 e sabe quantos papos ao Vivo tivemos, nenhum meu nobre, se nao mantemos poucos contatos aqui no seu blog, iniciativa minha ou nas poucas ligaçoes que atualmente as faço, voce por vários motivos nao toma esta iniciativa, respeito suas escolhas, e sinceramente nao queria dar este Puxao de orelhas no Compadre no seu Blog, acho deselegante da minha parte, confesso e ate peço desculpas, mas é como seu amigo faz 33 anos, há tempos que venho dizendo que precisava do ombro amigo do Compadre para um papo ao Vivo, nao tem sido possível, a agenda é apertada, eu entendo ou melhor procuro entender, mas assim como diversas coisas eu desisti de tomar a iniciativa, tem coisas que por mais que vc na vida crie novos laços de amizade , a gente só se abre com uns poucos ou uma só pessoa, no meu caso sempre tive o Prezado como um grande confidente e hoje nao tenho com quem me abrir , expor minhas entranhas,entao as guardo dentro de mim, quem sabe eu possa vir a encontrar mais a frente alguém em quem confiar amplamente , por vários anos sempre foi o Nobre, hoje não há ninguém, deve ser um defeito meu, exigir isto de vc e uma virtude sua saber conviver sem a presença de um amigo de mais de 30 anos, desculpa falar isso pelo blog, mas infelizmente é talvez um toque , mais um,lembro hoje da minha iniciativa de um dia do nada ter aparecido na sua casa com o Luiz Augusto Prata 'O Santista" que para pertubar o cara chamavamos de Paulista, talvez se eu nao tivesse feito isso la por 1980, eu teria virado estes que vc citou que vive bem sem a Companhia deles.Fui...

mundy disse...

No meu texto anterior, teve uma grande contradiçao, eu disse que nao faria cobranças, mas o Puxao de orelhas foi um Boletao, rssssss.Mas sou assim, rsssssssssss.

Ricardo disse...

Compadre:
Mais um "puxão de orelhas", hein! Assim fica complicado...
Voltando ao "Face" - ainda que usando seu exemplo. Se bastasse esse contato "virtual", você não estaria "puxando minha orelha", pois poderíamos ir nos "falando" por e-mail e pronto.
Mas o ponto principal, segundo o meu enfoque, não é esse. O que destaco, negativamente, é o tempo dedicado necessariamente às redes sociais... e a dependência em fazer as atualizações.
Hoje mesmo, vinha andando, com um grupo de jovens à minha frente. Eles falavam sobre estágios. Em dado momento, o rapaz fala sobre um local em que é necessário utilizar aquelas máscaras contra poeira. A garota disse: "Máscara? Que legal! Eu ia tirar logo uma foto para colocar no 'Face'". Fica parecendo que qualquer experiência, por mais banal que seja, tem que ser incluída no mundo virtual, para todos verem.
Obviamente, não me refiro a coisas de destaque, ímpares, na vida da pessoa, que vale à pena compartilhar com amigos.
Agora é a minha vez de retribuir o "puxão de orelha".
Não custa lembrar-lhe que o último "esforço" para nos reunirmos foi meu. Articulei tudo e, na "hora H", o sujeito que vinha cobrando tanto "roeu a corda" - justamente você.
Então, como você diz, deixemos acontecer.

mundy disse...

Caro Compadre, deixe estar , pareces que fazes questao de usar sempre em sua defesa o fato de uma vez em trocentos anos vc marcou e precisei desmarcar como se em tese este fosse o x da questao, sei que nao és burro, vc entendeu o recado e parece nao querer ou desejar assimilar o golpe, entrao como disse deixemos acontecer, pois não há esforço daí e tampouco ando motivado a fazer com que o nobre se esforce, entao permaneça na sua comkoda posiçao de me dizer , eu tentei, vc nao pocde , entao deixa acontecer, vc tem o Dom de simplificar, mérito seu que vc saiba conviver bem com isso e que nao precise do contato com as amizades antigas para tocar sua vida, e vou parando , pois estou meio que desinteressado em fazer que o nobre entenda meus argumentos, talvez quando estivermos com uns 80 anos a gente se esbarre por aí, rsssssssss.

Clara Maria disse...

Ricardo !!
Sobre seu post…não posso deixar de concordar em parte. Até junho sempre fiz questão de não ter face. A verdade é que em parte não tenho. Confuso? rs Pois…criei um em nome do grupo de teatro da escola e só, nada de pessoal. Não gosto muito da exposição a que o face “obriga”, mas estou a gostar de voltar a “reencontrar” alunos de quem não sabia há anos e de manter o contato com garotos que este ano tiveram que emigrar (devido ao mau momento que meu país atravessa) e que faziam parte do clube de teatro. É uma forma de continuarem a participar, mesmo que à distância e de lhes dar alguma alegria.
Penso que como tudo na vida, o face e a net em geral, deve ser usada com peso e medida, não nos deixando escravizar por ela, mas retirando o que de melhor ela nos pode oferecer. Ela pode-nos brindar com o que de melhor há na vida: amizades e amores, mas tb, como em tudo, pode ser um presente envenenado de enganos e falcatruas, cabe-nos a nós fazer a triagem.
Um abraço a si e ao Mundy
Maria

Ricardo disse...

Querida amiga Maria:
Concordo que, como tudo na vida, e principalmente no que diz respeito à net, "parcimônia" é a palavra chave.
O problema, entretanto, parece-me algo que você mesmo diagnosticou: "a exposição a que o face 'obriga'". A "mola" que impulsiona o "Face" é justamente essa "obrigatoriedade" de exposição, mas principalmente de "dedicação". A bem da verdade, é a mesma que, em alguma medida, impulsiona o blog. Mas, no caso deste, a exposição - pelo menos naqueles que eu acompanho - é de ideias, e se admite - a menos do meu compadre - um certo intervalo entre os posts. Além disso, não percebo - pode ser só falha minha - uma necessidade de vinculação absoluta ao espaço.
Mas... como você disse, caso a ferramenta seja bem utilizada, há muitíssimas coisas interessantes na net. Certamente, a amizade é uma dessas coisas maravilhosas, inclusive aquelas que resistem a distância e ao tempo. Há também os amores. Meu compadre Mundy e sua esposa são uma prova verdadeira disso.
Grande abraço, Maria.