sexta-feira, 25 de março de 2011

Ateísmo prático

   No post anterior, eu falava de um quase "monoteísmo subversivo", que tenta, por métodos escusos, oficializar seus "valores" no seio de uma sociedade democrática. Faz isso trocando apoio - leia-se "votos" - por promessas de deixar de tratar questões sociais como tal, por rotulá-las como questões de fé.
   Eu só não lembrei de uma peculiaridade brasileira: a falta de seriedade em tudo o que fazemos.
   Não, não... não vou citar casos de políticos "cristãos" que oram antes de "aliviarem" os cofres públicos do excesso de dinheiro que eles contêm; nem de representantes de Deus na Terra que são pegos em situações mais embaraçosas do que os "mijões" de rua do carnaval carioca. Não! Definitivamente, não é disso que vou falar. Vou lembrar apenas os "pequenos delitos" que vemos no nosso quotidiano: são rapazes com adesivos "Deus é fiel!" que transitam pelos acostamentos nas estradas engarrafadas; são "honestos" fieis que fazem seus "gatos" de água, luz, internet e TV a cabo.
   Talvez seja justamente essa falta de seriedade em tudo o que fazemos que não nos deixe ser dominados por um totalitarismo religioso aos moldes do Irã. Por aqui, os líderes religiosos acabariam fazendo suas "festinhas" com dinheiro público, onde beberiam o mais fino champagne francês, ouvindo a mais nova música que veio do outro lado do mundo... e não ficariam tão preocupados em recriminar o "Zé Povinho" por fazer o mesmo... guardadas as devidas proporções no preço da "farra".
   Por um certo aspecto, então... Viva a falta de seriedade do brasileiro!!!
   Lembrei de um texto do célebre filósofo francês, católico, Jacques Maritain, chamado "A significação do ateísmo contemporâneo". Neste opúsculo, Maritain, como teísta, obviamente tentará demonstrar a falta de coerência do ateísmo. Nada que se estranhe. O mais curioso, entretanto, é que, antes de atacar o ateísmo dogmático - digamos assim -, ele constrói uma teorização sobre os tipos de ateísmo. Ele, então, divide o "ateísmo" - que ele diz não ser apenas um, mas vários - em: (1) ateísmo prático; (2) pseudo-ateísmo e (3) ateísmo absoluto - este último é o que ele pretende refutar.
   Sem me deter muito no texto, o mais interessante, nessa abordagem que faço da falta de seriedade tupiniquim, é o "ateísmo prático", que diz respeito àqueles que pensam crer em Deus, mas vivem como se Ele não existisse, ou seja, são aqueles que furam fila; andam no acostamento; fazem ligações clandestinas; enganam os patrões em seus serviços; etc. e tal.
   Resumo da ópera: o Brasil é a população mais "ateia prática" do mundo... mas que Bento XVI não saiba disso!

Um comentário:

Anibal Werneck de Freitas disse...

Ricardo, em Ateísmo Prático, você foi muito feliz, o pessoal que diz acreditar em Deus, faz justamente o que Ele não gosta, Semana passada li no jornal, um padre proibiu casamento na sua igreja, as mulheres estavam usando decotes indecentes durante a cerimônia, na verdade, muitos falam que são crentes só pra dar satisfação à sociedade, esta é a grande verdade.
Um abraço do mais agnóstico do Brasil,
Anibal.