sexta-feira, 20 de junho de 2014

Spinoza por Nigel Warburton


   Eu gosto muito de ler o Nigel Warburton. Há pouco tempo, adquiri o livro Philosophy: The Classics, publicado pela Routledge - editora que, até onde conheço, só traz ao mercado bons textos -, de autoria do Warburton.
   No livro, o autor trata de trinta e duas obras, desde Platão até John Rawls. Entre estas, a Ética, do nosso querido Spinoza. Como o livro não é muito extenso - são um pouco menos de trezentas páginas -, os capítulos referentes a cada filósofo não são muito volumosos. Para aprofundar o conhecimento de determinada obra, é lógico que o livro de Warburton é de pouca valia, mas para uma introdução rápida, eu diria que ele é ótimo. E, apesar de ser um livro absolutamente introdutório, ele registra algumas opiniões interessantes do autor.
    Separei algumas passagens:
   "Within the pages of this difficult book [...] are philosophical and psychological insights of great power."
   "Spinoza's theme is the universe and our place in it - the nature of reality. For him metaphysics and ethics were not separable. The nature of reality determines how we ought to live."
   "If Spinoza is a pantheist, his is not the crude pantheism which declares that the world simply is identical with God."
   "All our actions, and everything that happens in the universe, are determined by prior causes. [...] So in the sense of being outside of the chain of cause and effect there is no hope of human freedom. [...] This will make us free in the only sense in which we can be free, which is acting from internal rather than external causes. [...] When we can liberate ourselves from the passivity of being the vehicles of such passions and come to understand our actions we become free."
   "Human bondage is the condition of those who are ignorant of the causes of their actions. People in this condition are moved by external causes alone. [...] It is only by forming an adequate idea of the causes of our behaviour that we can escape this bondage, and make the causes of our action internal rather than external."
   "Spinoza's thought recommends a kind of psychotherapy. To achieve freedom from the passions we must understand the true causes of our actions. Yet this doesn't mean that free decisions cease to have causes. When understanding is achieved these causes are internalised. [...] But the actions they give rise to remain determined. So Spinoza sees human free will in this particular sense as compatible with our actions being causally determined." [Eu trocaria este último "free will" por "freedom"]

   Ao final da explicação de cada obra, Warburton apresenta algumas críticas às ideias nela contidas. No caso específico da Ética, Nigel apresenta três dessas críticas: (1) "No need for God"; (2) "Denies genuine freedom" e (3)"Over-optimistic about reason".
   Particularmente, acho que as críticas de número 2 e 3 são improcedentes. A "liberdade genuína" que Warburton diz que Spinoza nega é comparada ao "livre arbítrio". Sim, é verdade que o filósofo holandês nega a existência desse último conceito, mas não é a isso que ele chama de "liberdade genuína". Em relação a ser "superotimista sobre a razão" no que concerne à sua capacidade de nos trazer a felicidade, acho que não é bem assim. Se "razão" for tomada só sob o aspecto cognitivo - como é o modo comum de entendê-la -, Spinoza não adere ao grupo de otimistas. Inclusive porque o segundo gênero de conhecimento, que leva justamente o nome dessa faculdade a que Warburton se refere, não é o que permite um acesso adequado à realidade.
   Em relação ao primeiro item, eu mesmo já fui um crítico em relação a isso. Warburton diz: "The God he [Spinoza] describes is so different from God of orthodox Christianity and Judaism, that is scarcely merits the name 'God' at all." E aí, perguntaríamos: Por que Spinoza não se limitou a falar de "Natureza" e de "Substância"? A minha resposta é que, pensando que o uso que a Teologia/religião fazia de "Deus" era muito "imaginativa", Spinoza usou esse conceito para se opor à superstição de maneira proposital - talvez, até mesmo, provocativa.

4 comentários:

Bruno de Oliveira disse...

Tem uma parte do tratado teológico, acho que na introdução, em que Spinoza diz que os homens deliram e pensam que a natureza delira junto.

Acho que para Spinoza deus é uma imagem falsa de algo profundamente verdadeiro, ele é um delírio, mas um delírio que é uma imagem esfacelada do real e que, por isso mesmo, não deixa de espelhar de alguma maneira esse mesmo real.

Ricardo disse...

Caro Bruno:
Eu não concordo com sua interpretação.
Penso que, para Spinoza, Deus não é uma imagem falsa de algo verdadeiro. Eu diria até que é o extremo oposto: Deus, sendo pensado como a Substância única e infinita é o que há de mais real. No "Tratado da Reforma do Entendimento", Spinoza diz que o summum bonum é gozar de uma natureza tal que nos permita obter o conhecimento de nossa união com a Natureza inteira, ou seja, entender nossa articulação com a Substância... ou com Deus/Natureza/Real.
Agora, o que me parece um "delírio", uma "ilusão", um "engano" é a ideia antropomórfica que os homens têm de "Deus". E digo mais, aqui, concordando com você, mesmo essa imagem falsa guarda alguma coisa da realidade. É a questão das ideias inadequadas, que são confusas e mutiladas. Ou seja, são confusas e mutiladas, mas têm alguma coisa nelas que, mesmo no meio da confusão e da mutilação, corresponderia ao que efetivamente é.
Obrigado pelo comentário e me explique um pouco mais, afinal, posso não ter captado ADEQUADAMENTE sua intenção.
Abração.

Bruno de Oliveira disse...

Acho que eu só me expressei mal mesmo, mas a ideia é o que o seu segundo parágrafo expressa: o uso que é feito do termo deus expressa inadequadamente algo real.

Ricardo disse...

Aí, eu concordo com você, Bruno: "o uso que é feito do termo deus expressa inadequadamente algo real"... aliás, o que há de mais real, que é a própria Realidade como um todo.
Grande abraço.