Há bastante tempo tenho o livro A companhia dos filósofos, do filósofo Roger-Pol Droit. Contudo, só por estes dias, fazendo uma arrumação nas estantes é que resolvi dar uma folheada mais séria no livro.
Começando pela "orelha". Lá está: "Você já encontrou algum filósofo? [...] Constatou que os filósofos não são tristes? [...] Você constatará [através do livro] que esses fabricantes de ideias, que costumam ser tidos por uns chatos consumados, são aventureiros de uma espécie curiosa, experimentadores de existência. [...] Eles lhe mostram que pensar, viver e rir são atividades semelhantes. De Sócrates e Platão a Foucault e Deleuze, você vai ver que o exercício da filosofia luta apenas contra dois inimigos: a tolice e a tristeza".
Prognóstico positivo de uma boa leitura. Fui direto para onde? Capítulo VI - Razão Clássica - Descartes e Spinoza. E... acho que descobri alguém mais entusiasmado com Spinoza do que eu. Vejamos o que Roger-Pol Droit fala da Ética, do Spinoza:
"Livro-universo
A Ética pertence ao pequeno número dos livros-universos. Muitos filósofos sonharam encerrar o mundo numa só análise, como explicar até mesmo suas zonas de sombra. Poucas obras dão a sensação de perfeição definitiva que emana dessa obra. Nenhuma, sem dúvida, conserva tão fortemente uma força de agir sobre nossas vidas. De fato, sua finalidade não é saber por saber. Graças ao conhecimento, trata-se de limpar o humano, em espírito e em corpo, das suas angústias insensatas, das suas cegueiras fanáticas, de todos os males gerados pelas ilusões ligadas à sua ignorância. A chave do mundo também é a chave da felicidade. A razão tem por missão governar a vida, cotidianamente. O saber pode levar à salvação. Desvendar os verdadeiros princípios, tirar retamente deles as justas consequências não é, aqui, uma contribuição limitada a um trabalho científico sem fim. É a via de acesso à beatitude infinita da sabedoria".
Isso já disse muito. Mas Droit vai mais longe:
"[...] convém ler e reler a Ética [...] tratado matemático que tem nossos sentimentos por objeto e que transforma em libertação o mais total determinismo".
Em mais uma bela passagem, Droit explica:
"[...]ao preconceito corrente segundo o qual cremos desejar o que é belo e bom, Spinoza opõe a ideia de que julgamos belo e bom aquilo para o que nosso desejo nos inclina. [...] somente o desejo julga e comanda. Positivo, construtor e motor, o desejo já não é uma parte maldita a ser refreada sob a autoridade da razão. A vida do sábio não é ascética. Ela é automodificação do desejo que sabe preferir, graças à compreensão racional, o que é mais proveitoso à sua expansão real".
E, por fim:
"A sabedoria de Spinoza é sem transcendência e sem mortificação. Essa alegria [...] é inimiga de toda e qualquer forma de tristeza, de diminuição ou de dilaceramento de si. Não se escapa do mundo pela salvação. Ao contrário, o ser humano se torna tão plenamente vivo que já não resta nenhum lugar para a ilusão dos transmundos".
Eu queria ter escrito isso... Inveja branca... Rsss
Nenhum comentário:
Postar um comentário