Falemos da questão do "lugar de fala" de uma pessoa que sofre preconceito racial na maioria dos momentos, locais e grupos sociais que frequenta, que certamente não é meu locus. Mas, sinceramente, acho que, como alguém que exercita uma espécie de "imaginação sociológica", tomando a expressão emprestada de Charles Wright Mills, tenho, pelo menos em alguma medida, condições de tratar do tema. Não fosse assim, imaginaria impossível alguém como Friedrich Engels (1820-1895), filho de um industrial, ele mesmo administrando uma das fábricas do pai, ter condições de criticar o capitalismo, a partir de uma visão de exploração da classe operária, o proletariado.
Aliás, não é exatamente esse o método etnográfico de que se vale um antropólogo que vai pesquisar outra cultura, isto é, em certa medida, experimentar uma condição próxima à dos indivíduos daquele grupo social, impregnando-se dos aspectos culturais daquela sociedade? Decerto que não é tornar-se um deles, mas sim aproximar-se da cultura pesquisada o quanto lhe for possível para poder tratar dos assuntos atinentes àquele grupo.
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