quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Zygmunt Bauman

   Há uma coisa que declaro com uma vergonha extrema: até hoje não li nenhum livro do Zygmunt Bauman.
   É verdade... Infelizmente! Não que não se possa mudar esse fato. E pretendo fazê-lo em breve. Obviamente, não é por falta de os adquirir. Tenho, na minha estante, alguns... mas estão sempre ficando "para depois". 
   Mas vocês pensam que é simples assim: eles lá e eu aqui? Não é, não! O "olhar" deles é "inquisidor"... e eu me pego fugindo daqueles olhos severos e censuradores. É por isso que adoto uma "tática" para os que ficarão mais afastados no tempo: enclausurá-los na estante fechada. Afinal, "o que os olhos não veem, o coração não sente". E, assim fazendo, meu sentimento de culpa diminui.
   Esse blá-blá-blá todo é só para registrar uma parte do conteúdo da Introdução de "Em busca da política", do sociólogo Bauman. Achei a Introdução muito interessante, mas, confesso, ainda não me fez seguir na leitura do livro.
   Lá vai:
   "As crenças não precisam ser coerentes para que se acredite nelas. E as que costumam ter crédito hoje - nossas crenças - não são exceção".
   Essa afirmação, por si só, já mereceria destaque... embora haja uma consideração epistemológica que poderia transformá-la de "brilhante" em "banal". Isso porque a definição de "crença" é diferente da de "conhecimento", que seria uma "crença [verdadeira] justificada". Se a mera crença não precisa ser justificada, não há necessidade de que seja coerente, isto é, que se "encaixe" num sistema de sentenças tidas como verdadeiras.
   Mas continuemos. O que Bauman sugere, com muita correção, é que aderimos a pretensas verdades, mesmo que não sejam coerentes... Atenção! Ele está falando de "nós", e não dos medievais ou dos "bárbaros"... de nós, pós-modernos.
    A análise de Bauman é sobre a "crença na liberdade", pelo menos, diz ele "na 'nossa parte' do mundo". Por outro lado, há outra crença, contraditória à primeira, que também parece estabelecida, aquela de que "pouco podemos mudar [...] a maneira como as coisas ocorrem no mundo". A contraditoriedade - Sempre lembro das minhas aulas de Lógica, em que o professor dizia que "Contradição" e "Contrariedade" são coisas diferentes. Rsss - é exposta por Bauman através de uma pergunta: "Se a liberdade foi conquistada, como explicar que entre os louros da vitória não esteja a capacidade humana de imaginar um mundo melhor e de fazer algo para concretizá-lo?". Logo depois, o autor escreve: "As duas crenças não combinam, mas cultivar ambas não é sinal de inépcia lógica". Xiii... acho que o Bauman assistiu às mesmas aulas que eu. Estaríamos, então, falando simplesmente de "contradições"? Rsss. Não, não... Deixemos a Lógica Clássica de lado. Sigamos Bauman, nas suas reflexões.
   Bauman indica que "é importante saber por que o mundo em que vivemos continua a nos enviar esses sinais evidentemente contraditórios". Logo em seguida, pergunta: "Por que é importante saber isso? Alguma coisa mudaria para melhor se tivéssemos esse conhecimento?". A resposta infunde um pouco de receio, mas é bastante realista: "Absolutamente não há certeza disso. Uma percepção do que faz as coisas serem o que são pode nos dispor a jogar a toalha ou nos instigar à ação".
   Bauman, então, cita outro pensador de primeira linha, Pierre Bourdieu, que fala sobre os "usos do saber". Bourdieu diz que podem ser dois os usos deste saber: o "cínico" e o "clínico".
   Escreve Bauman sobre a tese de Bourdieu:
   "O saber pode ser usado de forma 'cínica': sendo o mundo o que é, pensemos numa estratégia que me permitirá utilizar as suas regras para tirar o máximo de vantagem; quer o mundo seja justo ou injusto, agradável ou não, isso não vem ao caso. Quando é usado 'clinicamente', esse mesmo conhecimento do funcionamento da sociedade pode nos ajudar a combater o que vemos de impróprio, perigoso ou ofensivo à nossa moralidade".
   Minha reflexão tem seu foco neste ponto, mas antes de fazê-la, gostaria de fechar a citação do texto, que, em certa medida, também me ajuda.
   Conclui assim Bauman:
   "Por isso, o saber não determina a qual dos dois usos recorremos. Isso é, em última análise, uma questão de escolha. Mas sem esse conhecimento, para começo de conversa, não haveria sequer opção. Com conhecimento, os homens e mulheres livres têm pelo menos alguma chande de exercer sua liberdade".
   Bem... para um spinozano, como eu, há um excesso de crença - aproveitando a ideia do próprio Bauman - na "liberdade de escolha dos homens", mas isso é outro papo. Sigamos a tese de Bauman, pois nela, não há incongruências internas. O apelo à tese de Spinoza seria criar uma incoerência com um sistema que Bauman não entende certamente como seu.
   Voltando ao ponto que eu queria discutir, e que, em certa medida, faz eco sobre uma outra consideração sobre a possível "imoralidade do capitalismo", que apareceu em post anterior, vemos que há um uso "cínico" e um uso "clínico" do saber sobre o funcionamento da sociedade segundo o modelo econômico - mas, além disso, psicológico e social - capitalista. Um uso "cínico", pelo homem que integra essa sociedade, poderia validar a acusação de que "O capitalismo" - e a existência desse "ente" é meio questionável - é imoral. Entretanto, um uso "clínico" do saber produzido a partir de um estudo fenomenológico/empírico - não do ente, mas do fenômeno -  do "capitalismo" poderia isentar o mesmo desta pretensa imoralidade.
   Mas onde está a diferença entre as duas situações? Penso, ainda, que na ação humana, e não no próprio "capitalismo". Portanto, ratifico minha "crença" de que não é o capitalismo  que é imoral, mas somos nós - humanos, demasiado humanos - que o somos. 

4 comentários:

mundy disse...

Sera que o Bauman,m viveu no Brasil pois sua visao sobre crença, parece ter tudo a ver com os nossos politicos,heheheheheehehehehe.

Ricardo disse...

Pois é, compadre, parece até que ele está falando diretamente da nossa realidade brasileira.
Entretanto, relembrando um professor meu de Psicologia, há uma frase muito interessante e verdadeira: "Nós não somos tão originais quanto pensamos". Isso quer dizer que nós não somos tão diferentes uns dos outros. Nossa "singularidade" - tão afirmada e decantada por alguns - não é tão "singular" assim... digamos que é mais uma "universalidade" do que propriamente uma "singularidade". Mesmo onde nos achamos únicos, somos próximos de outros tantos, quando não da integralidade das pessoas.
Portanto, parece que não precisa estar no Brasil para perceber coisas que pensamos ser absoluta, legítima e exclusivamente brasileiras.

José María Souza Costa disse...

CONVITE
Tenho um página muito simplória na internet, aonde escrevinho alguns pensamentos, poemas, poesias ou mesmo textos diversificados. Não seria um blogue. Um blogue, é mais complexo, mais completo, mais colorido. Ainda assim, estou a lhe convidar a ir até lá, visitar-me, e se possivel seguirmos juntos por eles. Estarei lá, muito grato, esperando por Você.
http://josemariacostaescreveu.blogspot.com
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http://josemariacostaescreveu.blogspot.com

Ricardo disse...

Como o meu compadre reclama que não sou ágil nas respostas - no que lhe dou razão -, tentei, pelo menos, conjugar resposta e visita ao blog do José Maria.
Apreciei o blog - que ele diz não merecer este nome, visto que blog seria algo mais "complexo". Entretanto, não concordei com essa afirmação. Acho que o blog deve ser algo leve, pois não apresenta teses, mas apenas reflexões fugidias, mas que não queremos perder.
Parabéns, então, ao nosso amigo José Maria Souza Costa.