terça-feira, 19 de junho de 2012

Spinoza pode nos salvar?(2)

   Acho que devia uma resposta ao amigo Marcelo, e que o melhor lugar para escrever seria num post, e não num comentário. Aliás, para quem é mais recente no blog, esta é uma prática recorrente por aqui: quando julgo - com todas as possíveis falhas deste que emite o juízo - que o comentário merece relevância em relação ao post original, faço questão de transpô-lo para um novo post, a fim de que a leitura dos outros amigos fique facilitada.
   Esse é o caso do comentário do Marcelo... penso eu.
   Lendo o post original, Marcelo [nos] perguntou: "Mas o que, afinal, é a Salvação?", e completou "Esperança religiosa da alguma remissão pós morte? Esperança política de uma reorientação social?".
   As perguntas são ótimas, segundo minha humilde perspectiva.
   Entretanto, segundo a perspectiva spinozana - pelo menos a que consta no livro que deu origem ao post -, acho que as perguntas só poderiam ser respondidas com "NÃO".
   Minha competência poética não é suficiente para igualar àquela do nosso amigo. Consciente disso, minha resposta será, portanto, mais "simplória".
   A "salvação", em Spinoza, não poderia ser "transcendental" - afinal, tudo, para ele, é imanente. Dito isto, só nos restaria uma "salvação" na vida, e não "pós-morte". Pelo menos, não se o "pós-morte" for algo que transcende a esta "Natureza" que nos é dada... e vivida.
   Quanto à nova orientação social, acho que, em Spinoza, ela pode vir a depender da nossa "salvação", sim, mas não acho que a nossa "salvação" se resuma a ela. E, lembremos, apartando Filosofia de Sociologia - o que nem sempre é bom - que, aqui, falo do homem "fazendo" a sociedade, muito mais do que a sociedade fazendo o homem.
   Se o título do post foi enganoso - e nisso me desculpo com meu amigo Marcelo -, penso que seu conteúdo foi um pouco mais específico. A "salvação" proposta é muito mais pragmática do que teórica... é muito mais "para agora" do que "para o futuro" (distante  ou, pior, eterno).
   Tornando a coisa mais clara, eu começaria por relembrar que o título original da obra é "Spinoza pode nos salvar a vida" - e não o "pós-vida", ou a "vida pós-morte".
   Acho que a Introdução já nos dá uma pista interessante do que se trata, no livro, de explicar. Ansay, aí, escreve que [numa tradução livre]: "Se fosse necessário resumir sua [de Spinoza] obra em uma só frase, ele nos diria: 'Aprenda a nadar'. Aprenda a nadar, pois sua vida é vivida nas ondas; sua vida é nadar no mar e, sem cessar, você é sacudido, esbofeteado, espancado por estes fluxos que o superam e que arriscam de o afundar, se você não prestar atenção e se você não compreender, por todos os meios, o modo deste combate".
   Se essa imagem do mar que nos sacode é boa, falta especificar que mar é esse. Isso, Ansay faz mais adiante, dizendo que esse  é o "mar dos afetos". E é aqui que está a grande "sacada" do autor: vivemos sendo constantemente - consciente ou inconscientemente - deslocados de nosso centro de neutralidade "racional" - que nos orgulha tanto, a nós "seres humanos", tão pouco "animais".
   Agora, sim, podemos novamente colocar que "Spinoza pode nos salvar a vida", ensinando-nos a não sossobrar nesse "mar de afetos".
   Nesse sentido é que me parece que, ao homem, não cabe simplesmente a "salvação" do lago pós-pedra, da mesma forma que, ao lago "pré-pedra", na perspectiva humana, acabaria por faltar algo.
   Eu diria que, ao homem, não basta a tranquilidade, para ser feliz, o almejado é a perfeição... como o é para todos os seres. Se, para alguns, a perfeição é a tranquilidade... ataraxia neles! Mas, talvez, não seja só isso o que basta ao homem.

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