terça-feira, 26 de junho de 2012

"Escolha ou Destino? - O determinismo na Filosofia"

   Ontem, concluí mais um curso na Casa do Saber, na Lagoa. O título do curso era o mesmo do post. Faltaria acrescentar, talvez, "... sob uma perspectiva spinozana", afinal, o curso foi ministrado pelo professor André Martins, notório especialista em Spinoza, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
   O assunto "Escolha", em Spinoza, é "espinhoso" - com licença do trocadilho. Ao final do curso, senti que o professor André defendeu mais um ponto de vista sobre o assunto, o seu, que não me parece dos mais ortodoxos no estado atual do pensamento spinozano.
   Realmente, é difícil conciliar a falta de possibilidade de escolha com a proposta, de Spinoza, de uma "elevação" na condição existencial.
   O professor André defende que Spinoza está falando apenas de passado e presente, quando diz que tudo é necessário, mas não do futuro, para fugir de uma possível "predestinação". Eu não acho isso possível... aliás, acho que isso tira toda a força - explosiva demais - da conclusão spinozana. Afinal, pensar na necessidade do passado e do imediatamente presente, fora considerações muito específicas da temporalidade - que até poderiam caber numa perspectiva spinozana -, não me parece nada tão mirabolante.
   Eu fiz, inclusive, uma pergunta sobre uma possível chave de leitura para esse aspecto da opus majus de Spinoza, fazendo uma analogia com Hegel. Se, na Fenomenologia do Espírito, temos que fazer uma leitura percebendo que há duas instâncias cronológicas envolvidas ao mesmo tempo, a sincrônica (de uma visão totalizante) e a diacrônica (de uma visão que tem que percorrer a duração, trilhando os diversos instantes), não poderíamos fazer uma analogia, pensando que a predestinação não existe para o ser humano, que tem uma percepção diacrônica da vida, mas essa mesma predestinação, enquanto percepção simultânea, portanto, sincrônica, da temporalidade inteira, seria percebida como existente sub specie aeternitatis ? 
   André acha que essa é uma leitura enganada, achando que a eternidade de Spinoza é um sair da temporalidade de forma absoluta. O problema é que, ao contrário de outras filosofias, não há um "outro lugar", senão esta Realidade em que vivemos. Se a temporalidade da duração é a que nos é dada, é "aqui mesmo" que está a da eternidade.
   Mas quem disse que Spinoza é uma leitura fácil?
   De quebra, ainda consegui mais um livro autografado para minha estante. Trata-se de Pulsão de morte? Por uma clínica psicanalítica da potência, publicado pela Editora UFRJ, em 2009.
   Obviamente, ainda não li o texto, mas percebam o que diz o comentário de Nahman Armony:
   "Estamos diante de um trabalho revolucionário, lúcido e corajoso, rico e abrangente, com características inclusive enciclopédicas, e onde afirmação, crítica e ironia se integram. Um trabalho escrito com entusiasmo e profundo conhecimento, que por vezes usa o martelo de Nietzsche para demolir alguma ideia a ser reconstruída. Uma empreitada gigantesca levada a termo com brilhantismo. Novas ideias e propostas teóricas inovadoras que, projetando uma clínica psicanalítica que visa à potência de agir do analisando, são trazidas para o exame e o deleite do leitor. Uma metapsicologia renovada para novos tempos".
   É preciso dizer mais alguma coisa? Ah... em tempo, o professor André Martins também é psicanalista e trabalha, além de Spinoza, com Nietzsche.

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