domingo, 31 de janeiro de 2016

Felicidade


   A coleção de livretos "Filosofias: o prazer do pensar" tem como volume número 36 o título "A felicidade". O texto é assinado por Maurício Pagotto Marsola, que é doutor em Filosofia pela USP; tem título de pós-doutorado e é professor da Unifesp. Sua especialidade é Filosofia Antiga.
   Como todos os livros desta coleção a que tive acesso, trata-se de um texto enxuto, mas com um conteúdo interessante.
  A primeira coisa que me chamou atenção foi, quando se tratava da felicidade na Grécia antiga, a referência a que "'feliz' não possui o sentido comum [que lhe damos hoje] [...], vinculado à alegria subjetiva [...]. 'Feliz' (em grego: eudaimon; em latim: beatus) refere-se antes àquele que realizou algo bem, que agiu de modo excelente ou melhor possível em cada circunstância". E eu digo que esta passagem me chamou atenção porque eu sempre defendi uma aproximação conceitual entre eudaimonia, em Aristóteles, e beatitudo, em Spinoza. Cheguei a comparar ambos em um trabalho no mestrado chamado "Um tratado grego escrito em latim" - versando sobre as similaridades entre o tratado grego Ética a Nicômaco, de Aristóteles, e o Tratado da Reforma do Entendimento, de Spinoza. Mais tarde, na própria dissertação, reforcei essa ideia. 
   Mas a questão não é só a confirmação de uma ideia minha. O mais representativo é que, na época de minha defesa, essa tese não foi bem aceita pela banca. Mas eu, sinceramente, acho que isso se devia a um desconhecimento mais profundo do trabalho do Estagirita por parte dos examinadores, que eram especialistas em Spinoza.
   O texto da coleção continua confirmando minhas teses de aproximação entre Aristóteles e Spinoza. Mas fiquemos só nele, e não numa possível comparação com o que eu defendia.
    "Logo, 'feliz' é quem realiza algo com excelência [...]. Por extensão, que vive de modo excelente. [...] Tal excelência (virtude), ou ausência, compõe o caráter que se constitui pelas disposições habituais formadas ao longo do tempo. Desse modo, é o caráter que caracteriza o modo de ser de alguém, seu modo de agir, cujas consequências configuram seu 'destino'. Aqui o 'destino' não é mais o inexorável".
   Aí, o texto apresenta uma citação de Heráclito (535-475 a.C.) bastante interessante:
   "O caráter do homem é seu destino".
   Depois, escrevo mais.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Continua a contagem regressiva... mas...


   ... 104 ... 103 ... ... 100... 
  Curiosamente, contudo, ganhamos mais um amigo. Quero dizer, na verdade, seríamos 99, se não fosse a presença do Manoel Roxo.
  Seja bem vindo, Manoel. Fique à vontade para participar, quando quiser opinar sobre algo.

Alcorão


   Sempre que ouço falar dos fundamentalistas islâmicos, vejo autoridades religiosas indicarem passagens do Alcorão que demonstram o possível engano de interpretação daqueles que agem violentamente em nome do Islã. Mas, em realidade, simplesmente lia os trechos citados, reconhecendo neles a beleza apontada pela autoridade em questão. Por esses dias, minha curiosidade aumentou. Eu decidi, então, comprar uma versão brasileira do Alcorão para ler.
   O livro é extenso. Não sei se minha mera curiosidade motiva uma leitura profunda, nem mesmo se chegarei ao final do texto. Em princípio, penso ter identificado o "clima" do discurso. Portanto, não precisaria só continuar vendo mais do mesmo. Mas pode ser que eu vá lendo mais.
  Antes de falar exatamente do texto, gostaria de compartilhar algumas coisas que li na apresentação feita por Mansour Challita.
   Primeiro, a velha discussão se o nome correto é "Corão" ou "Alcorão". O correto seria apenas "Corão", já que o "al" é um artigo. Então, "al Corão" seria, na verdade, "o Corão". Contudo, explica Challita, que existe uma tendência, em Português, a ter o artigo árabe absorvido na formação da palavra portuguesa. Ele dá os seguintes exemplos: açúcar, arroz, algodão e almíscar. Esse processo não acontece no idioma francês, e lá se tem: le sucre, le riz, le coton e le musc. Mas se esse fenômeno ocorre em nossa língua, não há motivos para não aceitá-lo no que concerne ao vocábulo "Alcorão". Fazendo, portanto, todo o sentido manter a mesma lógica e utilizar a palavra desta forma.
   Às vezes, poeticamente, apresenta-se a imagem de Maomé repetindo e anotando as palavras transmitidas pelo arcanjo Gabriel. Mas o Profeta não sabia ler nem escrever. A tradição oral era a tônica. Portanto, os seguidores retinham as palavras na memória. Algo parecido com os escritos de Homero, do lado ocidental do mundo. Somente após a morte do Profeta, seu sucessor, Abu Bakr, com receio de "ruídos" aparecerem na comunicação dos textos, encarregou Zaid Ibn Thabet de reunir os fragmentos. E foi o terceiro sucessor de Maomé, Osman, que mandou organizar o livro na forma que chegou até nós, produzindo esse texto com 114 "capítulos" ou suras. Cada sura é como um discurso que exorta os ouvintes a seguir determinadas normas morais; crer em algo ou aplicar regras e leis.
   Todas as suras, exceto uma, começam com a saudação "Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso".
   Depois, eu conto mais...

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Contagem regressiva...


   105... 104...

"Nobreza" (3)


   Volto ao tema "nobreza", depois de novos comentários do Eduardo.
   Como eu disse que faria, li todos os comentários e resolvi continuar pensando junto com os amigos sobre o assunto.
   Dirigirei minhas palavras ao Eduardo, mas compartilho as ideias com todos os que lerem o post.
   Inicialmente, quero informar que o "impediram que meu texto fosse publicado", dito pelo Eduardo, não diz respeito a mim. Nunca impedi nenhuma manifestação neste espaço.
   Compreendi, também, que "quem introduziu o conceito de classe média foi a jornalista". Mas não dei muita atenção a isso nos meus comentários. Portanto, a questão de "classe média" só aparece de modo transverso nas minhas considerações. 
   Uma outra questão me parece muito mais importante, e tem a ver com o que eu já tinha dito sobre a conversa ser com o conde ou com o filósofo, representados pelo mesmo Eduardo, que é a da "nobreza em si".
   Quanto a isto, eu tinha dito que certamente não teria como dialogar com o conde, mas que me sentia muito à vontade trocando ideias com o filósofo.
   Não me estranha o "conde" dizer: "Ser nobre é ter antepassados nobres" ou "Ser nobre não é ter um título. Ser nobre é ter ascendência nobre". Tampouco, ler dele: "O casamento entre nobres significa um somatório de ascendências, o que vai fortalecer a nobreza das gerações vindouras".
   Acredito, do fundo do meu coração, que o conde pensa assim. Tanto é que decidiu fazer valer sua condição de "nobre", procurando o reconhecimento efetivo desta, através dos trâmites burocráticos válidos para tal.
   O que eu não consigo entender é um filósofo dizendo o mesmo. Volto ao ponto que já citei: houve uma "naturalização" da condição de nobreza. Algo como se eu dissesse: "Ser uma laranja não é ser chamado de 'laranja' no mercado. Ser laranja é nascer de uma laranjeira". Ok. Isso é verdade. Se eu for ao mercado e vir que chamaram "caqui" de "laranja", eu vou discutir com o gerente, dizendo: "Não pertence à essência do caqui ser laranja". Mas o mesmo certamente não valerá para algo que é meramente convencional. 
   Mas, curiosamente, Eduardo diz, em certo momento: "a nobreza é uma convenção [...]". Interrompi aqui de um modo mais ou menos deturpador de sua fala. Eu reconheço isso. Mas o fato é que ele dá a reconhecer que sabe que tratamos de convenções, e não de circunstâncias naturais por excelência. 
   Fazendo justiça ao Eduardo, a frase completa é "a nobreza é uma convenção, é um código, no qual muitas regras variam de país para país". No fundo, parece haver o reconhecimento de que a tal condição de "nobreza" não é tão eterna assim, como fora inicialmente postulado, e à qual eu fiz menção no primeiro post.
   A questão mais permanente do meu debate é justamente a convenção desta condição. Se "ser nobre é ter ascendência nobre", só se é nobre porque, em algum determinado momento, convencionou-se dizer que o "fulano de tal" era um sujeito nobre, já que ele atendia aos regramentos do código que havia naquele país - embora pudesse não o ser, se tivesse nascido em outro. Daí em diante, basta a convenção continuar, baseando-se na seguinte regra: "Os filhos de nobres também o são". Ponto final. Isso não cria nenhum embaraço ao que eu afirmei... do ponto de vista filosófico, pelo menos. Embora não invalide aquele ponto de vista "técnico", como foi colocado pelo Eduardo, a que o conde de Wilson apelaria para me refutar.
   Uma outra questão que surgiu foi a da discordância do Eduardo, em bases alegadamente filosóficas, de que os homens sejam iguais. Talvez você pense o contrário, Eduardo, mas eu concordo com você. Acho que os homens não são nem materialmente - o que não seria dizer muito -, nem formalmente iguais - o que já pode ser mais polêmico. Somos "humanos" simplesmente porque "frequentamos" uma mesma faixa de características variáveis comuns. Isso é que, formalmente pelo menos, faz com que pareçamos "iguais". 
   Agora, materialmente somos muito diferentes. Uns nascem no Brasil, outros na Alemanha. Uns viveram na Idade Média, outros na Contemporaneidade. Um por cento é de bilionários, 99% são "os outros". Uns vivem em guerra, outras na paz. E a lista continua.
   Concordando com isso, passo a pensar na ideia do Eduardo de que o perfil de alguém que possui séculos de antepassados com nível acadêmico pertencer a uma elite. E concordo também. Só não vou afirmar categoricamente que isso faça do Eduardo, ou de qualquer um, uma pessoa melhor. Embora eu admita que a probabilidade desta ser uma pessoa muito mais preparada intelectualmente para o mundo seja bem maior do que a daquele que segue uma linhagem de escravos. 
   Portanto, mesmo concordando com a premissa do possível melhor entendimento do mundo, e de essa pessoa constituir uma elite, não vejo no que isso interfere na condição de "nobreza" mais essencial, eu chamaria assim - aquela que depende das virtudes pessoais, mais do que do reconhecimento social da sua ascendência. E, aqui, obviamente, meu apelo à nobreza visa muito mais algo parecido com aristos grego do que ao nobilis latino.
   Volto a dizer que não discuto com o conde, pois imagino o quanto seja importante para ele estes nobres antepassados, mas com o filósofo, que não deve esperar que carregue na essência do seu ser algo que só está lá porque colaram uma etiqueta em um seu parente antigo e, além disso, que esse pequeno "papel" se perpetuaria por todo o sempre para aqueles que tivessem seu sangue, com ele, eu posso dialogar.
   Por último, mas bem menos relevante, informo ao Eduardo que concordo com sua afirmação de que "a nobreza ainda produz socialmente e por isso tem o direito de existir". Digo que concordo, não tanto pela "produção social" da nobreza em si, mas pelo que materializam socialmente aqueles que carregam os títulos de nobreza, como cidadãos. Por exemplo, se o Eduardo é professor de Filosofia e sua esposa, médica - na verdade, não me lembro de ter lido sobre a profissão da esposa do Eduardo, mas é só um exemplo -, então, eles modificam a sociedade para melhor, usando seus "talentos" e sua preparação. Eduardo e sua esposa, então, merecem existir. Como são "nobres", os nobres merecem existir... tanto como os filósofos, os médicos, as boas pessoas sem diploma, etc. e tal.
   Novamente, agradecido pelos comentários, Eduardo.

   

Malala


   Fui ao cinema com minha filha assistir ao filme "Malala". O título, obviamente, faz referência à menina Malala Yousafzai - aquela jovem paquistanesa quase morta pelos talibãs por defender o direito de acesso ao ensino formal para as moças.
   Eu já conhecia a história da menina. Mas algumas imagens são bem impactantes - positiva e negativamente. 
   A imagem do carro que conduzia ela e duas amigas atingidas pelos tiros dos talibãs, todo ensanguentado, é terrível.
   A filmagem real dela, durante seu período de recuperação, num hospital, fazendo fisioterapia, é linda... porque já sabemos o final da história. Mas certamente foi muito angustiante para os pais verem o difícil processo de readaptação motora da menina.
   Os depoimentos dos seus irmãos, "reclamando" da menina que implica com eles e se dedica muito aos deveres da escola, é muito bacana.
   Mas, além das próprias falas dela, o seu pai dá um show de presença no filme - e, aparentemente, na vida da menina, como um exemplo de pai -, através de seus discursos.
   Inquirido o que sentia pelo autor dos disparos, ele diz algo fantástico - que sabemos, obviamente, mas que não deve ser fácil de pensar para quem viveu tamanho drama. Diz o senhor Ziauddin Yousafzai: "Quem atirou na minha filha não foi uma pessoa, foi uma ideologia". E completa, em outro momento, que aqueles que fizeram isso, ou melhor, a ideologia que fez isso "dá um tapa na face do Islã". 
   Duas belas falas. A primeira mostrando que a "culpa" pelo acontecimento é de uma "ideologia" que, por definição, é algo que não se submete à crítica, e não de um homem, com uma possível liberdade de escolha entre o "certo" e "errado". 
   A segunda fazendo um pouco do que eu sempre reclamo diante desses casos de radicalizações do Islã, que é o manifestar-se claramente contra aquela atitude como um erro. Mas, no caso específico dele, a coisa não se limita a uma frase feita. O pai de Malala era um ativista contra os enganos religiosos dos talibãs. Há no filme, inclusive, imagens da sua atividade de repúdio aos homens que usavam a mensagem do profeta Maomé para fundamentar seu desejo por poder.
   Recomendo o filme.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Passando a marcha...


   Se o primeiro post foi para desejar "Feliz Ano Novo" a todos, passemos ao segundo.
   Percebi que encolhemos novamente. Também, quase um mês sem postar. Rsss. Bem, agora somos 105. Mas vamos em frente.
   Abri agora o blog e vi a quantidade de participações do Eduardo. Perdão, por deixar os comentários sem resposta até agora, Eduardo. Irei ler os comentários e, em breve, registrarei minhas opiniões acerca dos mesmos.
   Desculpando-me, novamente, pelo período de ausência - em especial com o Eduardo, que ficou sem interlocutor até agora -, despeço-me momentaneamente.

2016, finalmente, começou!

   
   Este ano começou muito "quente"... e não estou falando do Verão, não!
   Fato é que minha mãe esteve internada por duas vezes desde a entrada neste ano de 2016. Entrou por conta de uma pneumonia; saiu, mas teve que voltar, porque outra bactéria começou a se multiplicar, e esta não atendia aos antibióticos dos quais ela estava fazendo uso. 
   Contudo, com a mudança do medicamento, ela conseguiu ficar melhor. Tanto assim que comemorou seus oitenta anos em casa, comendo bolo e salgadinhos. Ufa... que alívio!
   Então, passado esse susto todo, para mim, o ano efetivamente começou. E agora faço meu primeiro post, um pouco tardio, para desejar "Feliz Ano Novo" a todos os amigos dos amigos.