Confesso que, com muito atraso, assisti ao filme A garota dinamarquesa. Não posso deixar de registrar que a estória, baseada em fatos reais, me impressionou bastante... e por vários motivos.
O primeiro deles se refere à força do sentimento de não pertencimento ao próprio corpo da personagem principal. Penso que isso, no início do século XX, devesse ser um fardo ainda maior do que percebemos hoje.
Em seguida, impressionaram-me os diagnósticos e tratamentos disponíveis para o caso, à época. Coisa de causar terror.
Passando pela observação da dificuldade da emoção da esposa da personagem principal, submetida à dupla sensação de amor e culpa, fico refletindo sobre a novidade da cirurgia a que seria submetido o protagonista da história.
Para quem não lembra bem, trata-se da história de Einer Wegener, casado com Gerda. Ambos eram pintores. Em determinado momento do casamento, Gerda precisa de uma modelo e usa o marido, em vestes femininas. Isso parece despertar em Einer um sentimento de prazer. E, depois, de inconformismo com sua condição masculina. Depois de algumas tentativas de "tratamento", Einer assume sua feminilidade, na pessoa de Lili Elbe. A nova condição tumultua o casamento. Mas, com apoio da (ex-)esposa, Wegener aceita submeter-se a uma cirurgia inédita de mudança de sexo, sob direção do Dr. Kurt Warnekros. Seriam três cirurgias, em sequência, a fim de capacitar Lili, inclusive, a ter filhos. Pelo menos, era o desejo dela. Após a última, ocorre uma infecção que acaba por matar a nova senhora.
Um avanço para a época, a meu ver, foi o fato de, após a primeira sequência de cirurgias, o rei dinamarquês ter concedido a Lili a anulação de seu casamento com Gerda Wegener; bem como a mudança de seu nome, inclusive com a obtenção de uma nova certidão de nascimento e de um novo passaporte - em ambos constando como sexo o feminino.
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