Um dos maiores problemas que há quando se fala em "socialismo" é, numa atitude que poderíamos chamar de ingênua, por ser pouco refletida, dizer que aquilo que o diferencia do capitalismo é que ele pretende o bem das pessoas. Isso lança sobre o capitalismo a pecha de ser aquele que não se importa com o bem das pessoas, admitindo o mal... para não dizer mesmo, desejando-o.
Noberto Bobbio, por exemplo, no livro Escritos sobre Marx: dialética, estado, sociedade civil, indica:
"Podemos dizer que uma teoria do socialismo sempre existiu, porque sempre existiram no homem aspirações a uma sociedade melhor, fundada sobre a igualdade dos homens, isto é, sobre o princípio fundamental em que se inspira toda doutrina comunista, de que as desigualdades sociais devem ser eliminadas".
Isso é uma espécie de juízo de valor que iguala "socialismo" ao que é "bom". O outro lado, portanto, representando o que é mau.
Essa é uma visão de senso comum. Fala-se, por vezes, até em um "socialismo/comunismo" reinante entre os grupos cristãos primitivos. Ora, uma coisa é uma coesão social ditada por uma visão mais comunitarista, algo do tipo "solidariedade orgânica", como proposto por Durkheim; outra, é chamar isso de "socialismo/comunismo" - principalmente, se estamos tratando desses temas dentro das Ciências Socias.
Ainda no mesmo texto, Bobbio diz que: "o socialismo geralmente foi sustentado com razões que podemos dizer sentimentais". Portanto, temos que ter cuidado quando queremos categorizar, com essas "razões sentimentais", algo dentro do campo científico.
O livro de que tenho falado, escrito por Saturnino Braga, também vai na mesma linha, quando diz:
"Sim, antes de tudo, o socialismo é uma ética: ninguém é socialista senão por um impulso que fala de justiça, de igualdade, de respeito e valorização do trabalho, de solidariedade e mesmo de fraternidade entre os seres humanos".
Logo a seguir, explica que:
"a ética é a meditação, o debate filosófico sobre o bem e o mal, sobre o que é bom para todos, o que faz o bem universal, o que é certo e o que é errado na convivência com os outros [...]; é o conjunto de normas e convicções que constitui a base moral de uma sociedade humana".
Embora essa parte final do texto - que, lembremos, não é de um filósofo - acabe por identificar "ética" e "moral", o que não parecia ser a intenção inicial, que aparentemente chamava de "ética" a "meditação e debate" sobre o "conjunto de normas", isto, sim, a moral, percebe-se que o "socialismo" aparece como vinculado ao que é moralmente "bom". Sobrará ao seu adversário realizar, assim, o que é mau.
É importante reconhecer que se, como eu mesmo já disse em outros posts, o ímpeto inicial de Marx realmente pareça ter um caráter humanista, não dá para negar que o homem médio, mesmo imaginando ser o capitalismo o melhor modelo de sociedade, também pode ser um humanista, preocupado com o bem-estar dos seus companheiros.
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