quinta-feira, 16 de maio de 2019

"A guerrilha no palácio"


   A revista Veja desta semana traz como matéria de capa a presença, ainda que não física, do "ideólogo" Olavo de Carvalho no governo do presidente Bolsonaro.
   Sem a ingenuidade de quem lê a matéria como completamente neutra, no sentido ideológico, faço algumas reflexões. 
   A primeira delas - e é justamente o que me chama mais atenção - é sobre a personalidade de Olavo de Carvalho. Antes de fazer a graduação de Filosofia, já tinha interesse pelo assunto. Além da leitura óbvia de Marilena Chauí e Danilo Marcondes - livros introdutórios de qualidade, utilizados até hoje -, tive a oportunidade de assistir às aulas do professor Olavo de Carvalho, gravadas em vídeo. Polêmico, atacava os "erros" de gigantes, como Kant, por exemplo. As palavras eram até "duras", mas havia uma argumentação... ainda que esta pudesse ser rebatida por especialistas. 
   Portanto, o lado polemista do professor Olavo, eu já conhecia. O que não me foi apresentado foi um vocabulário cheio de palavrões. Sinceramente, isso me decepcionou muito. Nem estou entrando no mérito dos conteúdos combatidos, mas é inimaginável, para mim, ver um "filósofo" usando como argumento palavrões.
   A segunda observação diz respeito a uma curiosidade apenas. Quando Bolsonaro estava disputando a eleição, muito se falava na possibilidade de volta da ditadura militar, visto que havia um claro alinhamento do corpo das Forças Armadas com o candidato. Eis que, agora, os militares podem estar sendo brandos demais... segundo o pensamento de Olavo e seus admiradores. 
   A matéria diz:
  "o guru [Olavo de Carvalho] e seguidores acham que os militares são excessivamente dóceis com os esquerdistas infiltrados nas universidades, nas escolas, na Igreja, na produção cultural, na imprensa e até mesmo nas Forças Armadas".
   Os possíveis "usurpadores do poder, pela via antidemocrática", que seriam os militares, se transformaram em mantenedores do diálogo democrático. Afinal, para eles "Olavo é uma força do extremismo político" - ainda segundo a matéria -, sendo necessária a diminuição de sua participação no governo, a fim de que possa haver uma unificação nacional do povo em torno de um projeto de país.
   Vamos aguardar que essa confusão "interna" acabe da melhor maneira possível para o Brasil

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