quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O gozo estético-erótico


   Adorei um texto da Carmita Abdo, colunista de O Globo - publicado neste veículo em 15/11/2014 -, que faz uma interessante reflexão sobre o "abrir os olhos durante o sexo". Pareceu-me tão bem escrito, que compartilho com os amigos. Lá vai, então...

"Quando abrir os olhos, pode chorar

Usar ou não a visão durante o ato sexual - eis uma questão profundamente debatida

Olhos, para que os quero? Para ver, fixar, reconhecer, apreciar, dar aquela piscadinha, arregalar, desviar ou baixar o olhar, lacrimejar, chorar... Também para cerrar as pálpebras, distanciar, meditar, evitar ver, dormir, sonhar.
Com certeza, não há quem não tenha fechado os olhos, por alguns segundos ou o tempo todo, durante um ato sexual.
Em outras palavras, fazer sexo de olhos bem abertos e sem pestanejar não é um comportamento comum. Se os olhos abertos representam uma atitude de alerta, de proteção ou de sentinela, os olhos fechados via de regra denunciam concentração, envolvimento e entrega. Contudo, essa regra também tem exceções.
Aqueles que estão apaixonados fecham os olhos e se abstraem do mundo, privilegiando serem guiados por outras sensações. Como a paixão é cega, tanto faz estar de olhos abertos ou fechados, porque interessa mais sonhar, cheirar, tocar, ouvir e reconhecer o gosto da pessoa, objeto da paixão. A visão é absolutamente dispensável para quem está vivendo um êxtase passional, uma vez que projeta no(a) parceiro(a) o ser idealizado, sem qualquer imperfeição ou necessidade de reparo.
Os céticos não perdem a oportunidade de manifestar o seu descrédito, afirmando que quem transa de olhos fechados assim o faz por não desejar se comprometer: voltada exclusivamente para si própria, sem qualquer intenção de estabelecer vínculo afetivo ou proximidade emocional, essa pessoa se garantiria excluindo a visão, mas mantendo estreito contato corporal com quem exerce sobre ela mera atração física, insuficiente para encher os olhos e o coração.
Já os aficionados pela estética e os obcecados pelo desempenho alegam que o belo, o elegante e o desenvolto merecem ser percebidos e apreciados, de olhos bem abertos, sem que se perca um único detalhe da performance sexual desse Baco ou dessa Afrodite.
Contra tal ideia se insurgem os espiritualistas e os platônicos de plantão, os quais têm em comum entre si o culto e a reverência àquilo que não está ao alcance dos olhos e do físico, pois pertence ao domínio da alma. Para esses importa o que os olhos não conseguem ver.
A ciência, por sua vez, sai em defesa dos olhos bem fechados, confirmando ser esse um mecanismo pelo qual se aguçam os outros sentidos e se abre espaço à imaginação e à fantasia, em prol de estratégias indispensáveis à intensificação do prazer.
Enfim, seja lá qual for o seu perfil (apaixonado, cético, obcecado por academia ou por tudo o que maximiza o desempenho sexual, espiritualista, adepto de Platão ou neurocientista), tente a experiência de fechar os olhos, quando alguém especial acariciar a sua pele e sussurrar palavras doces ou excitantes ao seu ouvido. Tente manter os olhos bem fechados, enquanto ouve aquela música que acalma, ao mesmo tempo em que estimula. Respire, ainda de olhos fechados, o ar perfumado com a fragrância que exala da pele ou dos cabelos de alguém muito querido, cuja proximidade física lhe permite sentir o pulsar de um coração, completa e incrivelmente compassado com o seu.
Permita-se essas sensações e deixe a imaginação fluir. Daí, abra lenta e corajosamente os olhos e “caia na real”. O que a realidade lhe parece, agora? Pior, melhor, apenas diferente ou simplesmente desconcertante?
De olhos bem abertos, não segure o choro, seja ele de surpreendente alegria ou de profunda decepção. Do jeito que for, está valendo. Do seu jeito, agradeça a bênção de poder captar com seus próprios olhos aquilo que seu velho coração já havia visto ou, cauteloso, se negava a enxergar."
  
  Da próxima vez, será que pensaremos em todas essas classificações?

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

"Filosofia Prática"


   Hoje, saí de casa atrasadíssimo. Peguei a agenda e esqueci meu companheiro inseparável - um livro... sempre o do momento da minha pesquisa.
   Para minha sorte, na agenda há algumas notas que faço durante as leituras. Fui revendo algumas delas, que, para minha sorte, também tinham relação com a parte que estou desenvolvendo. 
   Quando cheguei ao trabalho, peguei uns livros que comprei mas ainda não levei para casa. Obviamente, há Spinoza... mas aproveitei para dar uma "diversificada". Apelei para Filosofia Prática - ética, vida cotidiana, vida virtual, de Márcia Tiburi. 
   Não pude ler muito, mas o pouco que li é realmente bem interessante. Uns pedacinhos sobre a aventura da leitura.
   "A experiência textual é ativada pelo leitor que a toma como um convite. [...] Qualquer texto que se faz livro aspira a tocar aqueles que o leem [...]. Podemos deixar na estante algo cujo sentido é um pedido de conversa? [...] Assim o leitor faz da leitura a vida da escrita, sem a qual todo texto é morto". 
   Como observação final a informação de que foi neste livro que vi a referência ao filme homônimo da filósofa alemã Hannah Arendt, dirigido por Margarethe von Trotta.

E mais outro...


   ... e mais outra.
   Outro filme... de outra filósofa ... das mesmas diretora e atriz principal. 
    Desta vez, Rosa Luxemburgo.

Rosa Luxemburg
Rosa Luxemburg (film).jpg

Mais um filme


   Eu comentei, no post passado, que fazia uma pesquisa na net quando esbarrei com o filme da Hildegarda de Bingen. O que eu procurava mesmo era o filme de outra filósofa, Hannah Arendt. As pesquisas se entrecruzaram porque a diretora e a atriz principal dos dois filmes são as mesmas, Margarethe von Trotta e Barbara Sukowa, respectivamente.
   Não sei se é fácil obter estes filmes, mas tentarei. E vocês?

Hannah Arendt
Hannah Arendt Film Poster.jpg
   

Hildegarda de Bingen (2)


   Há alguns dias, uma nossa amiga, a Mirtes, escreveu um comentário num post antigo, que tratava de Hildegarda de Bingen. O comentário nos informava que o livro Scivias, da ilustre monja, já tinha uma versão em espanhol e que em 17 de setembro se comemora o dia dela.
   Antes de tudo, agradeço a Mirtes pelas suas informações. Depois, gostaria de dizer que, numa pesquisa paralela pela net, acabei esbarrando com um filme sobre a monja Hildegarda. Para quem tiver interesse:

Vision - From the Life of Hildegard von Bingen
VISION - FROM THE LIFE OF HILDEGARD VON BINGEN Theatrical Poster - from Commons.jpg

Aborto

   
   O tema não é simples, além disso a questão do aborto é extremamente "desconfortável" de ser debatida. No entanto, não se trata de uma discussão meramente teórica, cujo resultado pode ser um simples veredito - "certo" ou "errado" -, a questão é efetivamente prática.
    Principalmente diante de dois casos que foram noticiados nos últimos dias, o assunto se põe urgentemente em debate.
    Penso que a questão é eminentemente de saúde pública. Os apelos religiosos são válidos, mas devem prevalecer enquanto se trata do aspecto motivacional da decisão sobre o aborto, e não sobre o ato em si.
    Imagino ser inadmissível duas jovens mulheres morrerem vítimas de procedimentos "médicos" - com aspas mesmo - mal planejados, mal realizados e sem os cuidados necessários a um tipo de intervenção tão delicada.
      Seria leviano defender a morte de um feto, porém mais incorreto ainda - penso eu - é apoiar a  cegueira diante de uma prática perigosa, que tem vitimado várias mulheres, em nome de uma esquisita "moralidade".
    É importante colocar que não estamos, pelo menos nesses dois casos, diante de jovens "tresloucadas", simplesmente arrependidas por terem se entregue, antes, a arroubos hedonísticos, os quais têm como resultado crianças indesejadas. O que vimos são mulheres com certa experiência que, por algum problema momentâneo, acabaram por  engravidar e que, até com um certo grau de responsabilidade, quiseram evitar uma gravidez que poderia vir a produzir "efeitos" complicados em relação às suas vidas.
   Os "efeitos" não são propriamente as crianças geradas, mas os problemas que advêm de uma gestação não programada. Nos dois casos, aliás, vimos moças - Jandira tinha apenas 27 anos!!! - preocupadas com o futuro das crianças das quais já eram mães.
   É óbvio que defendo, inicialmente, uma conscientização maior das mulheres no que diz respeito às suas relações sexuais. E indico diretamente as mulheres - embora pense que tanto elas, quanto nós, homens, devamos ter essa maior consciência - porque serão elas que terão que tomar a difícil decisão de se submeter ao tipo de procedimento em questão ou carregar uma criança não planejada no ventre por nove meses. Mas... como acidentes acontecem, há que ter um "Plano B". Se este é a interrupção da gravidez, que se faça como um procedimento médico - que é efetivamente o caso -, em um lugar em que as mulheres não estejam na mão de açougueiros, e sim de cirurgiões e assistentes gabaritados.
  Volto a enfatizar que é necessário um tratamento laico da questão, solicitando que o foco se dê, de verdade, sobre a perspectiva da saúde. Não é possível que fechemos os olhos diante de um problema que é real, e que tem consequências sérias. Aliás, hoje o jornal O Globo anuncia uma estatística - não sei se completamente confiável, mas com justificativas - de que há mais de 67 abortos por ano no Estado do Rio de Janeiro. Isso, com base nas mulheres que chegam ao SUS com complicações, que são mais de dezesseis mil!!!!!
   Acho que várias das mulheres que se submetem a este procedimento sofrem muito mais psicologicamente do que fisicamente. Se o aspecto físico, desde que tudo corra bem, se resolve em meses, o psicológico fica marcado pelo resto da vida. Mas se com esse sofrimento elas têm obrigatoriamente que conviver, não permitamos que a situação se agrave ainda mais, e que haja sequelas e mortes dessas mulheres. 
   Pela legalização do aborto de forma mais ampla já!

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Eleições presidenciais


   Como é que a trágica morte do candidato Eduardo Campos mexeu com as intenções de voto, hein!
   A Dilma, com confortáveis 40%; Aécio com 20% e Campos, 10% - de modo aproximado -, era o cenário nas primeiras pesquisas, antes do falecimento do candidato do PSB. Agora, o Ibope apresenta: Dilma com 34%, Marina com 29% e Aécio com 19%.
   Minha observação não tem a ver com um juízo de valor sobre os candidatos envolvidos na eleição, mas com a falta de compreensão generalizada de que se deve votar em um programa de partido, e não em pessoas. É certo que essa minha crítica vale para os próprios partidos, que acolhem qualquer nome que lhes garanta votos. Lembro que o sistema atual concede os votos dos eleitores para os partidos - tanto assim que os votos de um Tiririca, por exemplo, acabam por garantir a eleição de outro companheiro de partido.
   A questão, portanto, não é dizer que o brasileiro não vota certo porque escolhe nomes errados, mas é indicar a mesma coisa, sob a justificativa de que não entendemos que nossos votos são dados - ou deveriam ser - primeiramente para o programa do partido. Dentro daqueles votos entregues ao partido, veem-se os candidatos que foram mais lembrados pelos eleitores, e estes são os que representarão o povo, de acordo com o coeficiente eleitoral e o número de vagas conquistadas pelo tal partido.
   Precisamos começar a nos preocupar com os partidos, avaliando se são apenas legendas de aluguel. Aí, sim, poderemos começar a escolher melhor - seja qual for o nome, dentro daquele compromisso com a ideologia do partido em questão, que pensarmos ser o melhor.
   Ainda que isto seja um tanto quanto utópico, acho que vale à pena insistir nessa ideia.