sábado, 13 de dezembro de 2008

Entrevista de Rubem Alves

A revista "Filosofia - Ciência & Vida" nº 26 publicou uma entrevista com o meu querido Rubem Alves. Para quem não o conhece, a revista o apresenta: "mestre em Teologia, PhD em Filosofia, psicanalista pela Associação Brasileira de Psicanálise de São Paulo e professor emérito da Unicamp" - cansa até listar os títulos do homem!

Quem me conhece vai perceber porque gosto do Rubem Alves.

Ao ser perguntado sobre o declarado "encolhimento" de sua biblioteca com o passar dos anos e com a permanência dos poetas entre os livros importantes, a revista pediu-lhe a informação de quais seriam os nomes desses poetas. Rubem responde "Em primeiro lugar, Pessoa", para depois citar Sophia de Mello Breyner Anderson, Cecília Meirelles, Robert Frost, Emily Dickinson e Mário Quintana.

E Rubem explica o seguinte sobre a poesia: "A poesia seria como se fosse um suor, um suor da pessoa. O poeta sua poemas, é o jeito de ele ser, não é que ele queira fazer isso ou fazer aquilo, ou vender livro. Ele não pensa nisso".
Em outra passagem, a revista afirma "Parece haver uma afinidade entre o senhor e Saramago, pelo fato de ele se mostrar um cáustico. Aquele tipo que vê a beleza emergir do caos".
Pessoa... Saramago... e a opinião sobre Deus, para finalizar.

Rubem responde à pergunta "Como o senhor se sente em relação a Deus? O senhor acredita em Deus?" assim : "Eu não acredito, quer dizer, no Deus cristão. Eu acho a teologia cristã tão absurda, que eu digo que se eu fosse Deus, eu atacava todos os teólogos cristãos com uma praga de hemorróidas, por eles serem capazes de pensar sobre Deus o que eles pensam. Eu estou citando a Bíblia, porque aconteceu isso na Bíblia... A teologia cristã é o seguinte: Deus, que é onipotente, onisciente, criou o mundo. Já de saída, e, antes que qualquer pessoa existisse, ele já separou os que vão para o céu, os que vão para o inferno; tinha uma dívida a ser paga, a dívida dos pecados que ainda não tinham sido cometidos, e ele só aceita pagamento em sangue, e apenas um sangue capaz de pagar a dívida, que era o sangue do próprio Deus. Por isso, ele pega o seu próprio filho e manda para a Terra para ser morto com sangue, para ele ficar satisfeito. Meu Deus, um Deus que mata o seu filho para ele ficar em paz com a sua exigência legal. Isso é uma coisa tão monstruosa, que eu acho que os cristãos nunca pensam nisso, sabe?"

6 comentários:

Maria disse...

Bom dia , senhor!!
Bem, o senhor já tinha falado nesse senhor em posts anteriores. Gostei que Poeta. Depois
ele tivesse referido 2 portugueses em 1º plano, não pelo simples facto de serem portugueses, mas o 1º pela razão que o senhor conhece. Realmente Pessoa não é um poeta é sim O Poeta, depois Sophia de Mello Breyner Anderson a mui amada escritora em Portugal. É referência obrigatória nos programas de Língua Portuguesa.
Por falar em de Mello Breyner Anderson, adivinhe de quem ela é mãe? Claro que seria impossível saber. Há uns tempos atrás falei-lhe de um livro que tinha lido e de que muito tinha gostado. Eu que nem sou dada muito a romances, contudo este era, é , diferente, é um romance histórico que retrata o fim da monarquia em Portugal e o problema das colónias(inícios do século XX)- “O Equador”. Não me lembro se o senhor o chegou a ler. Há dias enviaram-me em PDF(se o senhores não leram terei o maior prazer em o enviar ). Vai começar , este mês, uma série , numa das televisões, com a história do “Equador”. Está a ser publicitada com pompa e circunstância. Portanto continua a emoldurar livrarias e a ser um dos livros mais comprados por aqui. Mas …,ao que tudo indica , MST plagiou-o do livro «Freedom at Midnight», de Dominique Lapierre e Larry Collins. Não, não li esse livro, mas pela resenha , parece mesmo plagiado.E le já vociferou, já acusou com tribunais quem fez a denúncia, mas…
Sou um pouco suspeita ao falar desse senhor, ele não se tem poupado a esforços para denegrir a imagem dos professores. mas realmente o romance está muito bem escrito e cobriria a mãe dele de júbilo.
Voltando a Rubem Alves…gostei do que ele escreveu sobre o Deus cristão, mas me pergunto se poderia ser de outra forma?Será que adulteraram só o dia em que Jesus nasceu para contentar os paganistas/politeístas? Será que não recorreram tb à forma (antropomórfica) e a qualidades(todos os deuses eram omnipotentes, omniscientes e omnipotentes[xiiii, será que com o acordo ortográfico ficamos a escrever estas palavras como vcs, sem M?]? Afinal Zeus era filho de Cronos que comia todos os seus filhos , Zeus sabia de tudo o que se passava na Grécia , também assumia várias formas e estava presente em todo o lado e era o todo poderoso. Como sabe, os romanos assimilaram os deuses gregos dando-lhe apenas outros nomes. Júpiter era assim igual a Zeus. Como sabe também o cristianismo apareceu no império romano onde pululavam esses deuses todos. Tiveram que se adaptar certamente aos deuses romanos, já que os fundamentos do cristianismo eram um verdadeiro descalabro para os romanos…tiveram , certamente, que ceder em alguns campos.
Maria

Maria disse...

Achho que estava meia a dormir ainda quando escrevi logo na 2ª frase "Gostei que poeta.Depois...) Naturalmente deverá ler-se (Gostei que ele tivesse...).
Fica a emenda
Que tenha um fim de semana pleno de paz e amor
Maria

Maria disse...

Ainda sobre o artigo...
O senhor vai-me achar uma criança, quanto cronologicamente sou bem mais velha que o senhor, mas realmente existe uma criança dentro de nós todos…e a minha emerge muitas, muitas vezes.
Bem esta imagem de Cristo criada está de tal maneira arreigada em nós que , dou por mim, agnóstica, a fazer o presépio(não sei se é costume aí) com uma alegria que quem vê de fora diria que era uma fervosa católica. E pior , meu presépio é de tal maneira absurdo que incorre numa série de erros históricos que faria qualquer historiador ficar com os cabelos em pé. Mas de facto a industria de imagens para o presépio não terão nenhum curso de história, nem de artes. Já reparou bem para as imagens? Aqui fazem as pessoas do tamanho das casas, uns animais muitas vezes maiores que as pessoas e por conseguinte maiores que as casas.;colocam uns trajes nas pessoas que estão longe de ser os que se usavam nessa altura, colocam ferramentas que só se usam no séc. XX , umas casas semelhantes às nossas alentejanas e uns caricatos castelos, que só aparecem no século XI, XII.
Mas, senhor Ricardo, como eu me divirto a montar o presépio. Inicialmente dizia que era por causa de minha filha, mas agora ela já é uma adolescente tenho de arranjar outra desculpa…
Maria

Ricardo disse...

Maria, sei que não tens muito espaço na memória para guardar "banalidades". Mas o fato é que trocamos várias impressões sobre "Equador". Apesar de também não ser muito fã de romances, sempre que eles se situam num tempo histórico "real", eu me sinto atraído a lê-los. No momento que o li, tu já o tinhas lido e fizera o "marketing". A única coisa triste é o fim. Tantas pressões e tanto amor... para aquilo.
Sobre os fatos da Sophia M. B. Anderson ser mãe do autor e de ele ser apontado como plágio, nada sabia.
Sobre os deuses greco-romandos comparados com Javé, eu não esperava nada muito diferente. O único problema é que a lógica dos deuses pagãos é mais bem conduzida que a do "nosso" deus ocidental. Tu podes perceber que se os povos mais primitivos viam a presença do bem e do mal no mundo; do homem ser um joguete na mão do destino, ocorrendo o bem com os maus e o mal com os bons, tem sentido pensar que isso se deve a lutas de deuses de "igual poder" influindo nas vidas de seus "protegidos". A lógica cristã, que erra até no número de deuses - afinal, o problema inicial da Bíblia é que Javé não queria que o povo que Ele escolheu fosse subserviente a outros deuses, dizendo que Ele deveria ser o único deus daquele povo, mas não necessariamente negando outros -, é de que há apenas um Deus... e que esse é plenamente bom... quando se vê o que vemos como produto de sua criação. A Bíblia diz "E Deus se arrependeu [pela criação do homem]". Como alguém que é oniciente pode se arrepender, após ser "surpreendido" por um ato natural? O problema não é nem existir um deus, ou muitos, é a "estrutura conceitual" desse deus. Eu, por exemplo, se fosse crer em deus, seria um maniqueísta, vendo duas forças igualmente poderosas concorrendo nos eventos do mundo, um Bem e um Mal ultrapotentes (não, absolutamente potentes, isto é, onipotentes)... e o Mal "Pleno" (uma espécie de "Diabão"), em hipótese alguma, teria surgido do Bem "Pleno" (uma espécie de "Javé" meio enfraquecido). A meu ver, a dialética religiosa precisaria de uma espécie de Yin e Yang, já na estruturação básica do mundo.

Ricardo disse...

Para completar o comentário anterior.
Em algum de seus livros, Rubem Alves diz que um pai amoroso não sacrifica seu filho, mas se sacrifica por ele. Deus, portanto, é menos que um pai humano. Como, então, poderia ser um "Pai" divino?Absurda e aterrorizadora é a estória de Abraão, convocado por Deus a matar seu próprio filho para testar sua fé. E sua crença cega o leva a quase matar o filho, que custara tanto a ter e que amava tanto. Deus salva o menino... é verdade. Mas o que está em jogo, inclusive para Javé, é apenas o respeito pelo superior... não o amor pelo menino.
Tu achas, Maria... e Fernando - se desejar entrar nessa polêmica - que alguém poderia ser acusado e punido por se negar a matar um filho por respeito a uma lei qualquer, mesmo que seja a "maior das leis"? Se Abraão se recusasse a matar o filho, não teria sido isso uma forma de mostrar o quanto ele amava alguém que fora anunciado como uma promessa do mesmo deus para fazê-lo, e à sua esposa, imensamente felizes? Isso mereceria punição? Só por um louco ciumento... que não corresponde à imagem do "Summum Bonum"!

Ricardo disse...

Mudando de foco... ainda dentro da religião cristã.
Eu também sou admirador de presépios e, principalmente, das árvores de Natal. Chego em casa, apago a luz da sala e ligo a ornamentação da minha árvore. Ela fica naqueles "pisca-pisca", "muda de cores", "apaga tudo", "agita-agita das lampadinhas"...
É lindo! Viva Jesus ter nascido! Rsss. Se bem que ele nasceu uns cinco anos antes do "Ano 1". Ou seja, Jesus nasceu no período tido como "Antes de Cristo"! Coisas do Cristianismo... Rsss. Como é que eu posso ser cristão?