Consegui adquirir o "Spinoza & Nietzsche - filósofos contra a tradição", do qual falei ontem.
Obviamente, ainda não deu tempo de ler quase nada. Entretanto, já deu para dar uma olhada na estrutura geral do livro. Ele é dividido em três partes - (I) Contra a transcendência; (II) Contra a unicidade e (III) Contra a servidão.
Um dos ensaios, da terceira parte, chamou minha atenção: "O maquiavelismo de Spinoza", de Bernardo Bianchi Barata Ribeiro.
O texto é aberto com uma passagem do Anti-maquiavel, de Frederico II, da Prússia. Nele, enquanto ataca o florentino, lança uma farpa no nosso querido luso-holandês. Diz ele: "O Príncipe de Maquiavel é, em questão de moral, aquilo que a obra de Spinoza é em matéria de fé"... e, para quem não entendeu o "recado", basta ler um outro trecho daquele livro do "déspota esclarecido" contra Machiavelli: "Ouso tomar a defesa da humanidade contra um monstro que pretende destruí-la; e aventurei as minhas reflexões sobre esta obra, a seguir cada capítulo, a fim de que o antídoto logo se encontrasse junto ao veneno".
O texto de Bernardo Ribeiro indica, entretanto, que, "tratou-se, de ambos os lados, de perspectivas iconoclastas", o que, cá entre nós, é muito bom de acontecer. Segundo o autor, "tratou-se de rebaixar a política ao nível da física e dos fenômenos naturais [...] Assim é que, se a política deve ser compreendida como domínio da física, os afetos devem constituir a sua matéria fundamental". Logo depois, registra: "Entre Maquiavel e Spinoza, percebe-se um lanço fundamental: uma valorização incontornável do tema da experiência". E esta é a parte que me fascina, tanto em um quanto no outro, o realismo ético-político que desenvolvem. Nada de idealizar a ética e a política, como se pudéssemos fazer, tanto uma quanto outra, com excelência absoluta, mesmo não sendo entes absolutamente excelentes.
Aqui, aliás, aproveito para abrir espaço para uma polêmica com um de nossos amigos, o Aníbal. O sentido de "somos maquiavélicos", que apresentei em um post anterior não é o de que somos maus, mas de que somos "humanos demasiado humanos", o que implica que nossa ética e política só serão "humanas demasiado humanas"... na nossa mesma medida.