Por esses dias, minha mãe falava com uma tia "postiça" minha ao telefone. Como eu cheguei no meio da conversa, minha progenitora pediu-me para trocar umas palavras com ela. Visto que pedido de mãe é ordem, tomei o telefone e mandei um caloroso "Oi, tia!". Ela me disse que sonhara comigo, e ficara preocupada. Por esse motivo, telefonou para minha mãe, a fim de perguntar se tudo estava bem. Contou-me isso, e falamos sobre minha prima "postiça", que estava voltando de Portugal, por conta da situação difícil das coisas por lá.
Papo vai, papo vem, ela perguntou pelo meu "Face" - como é usual as pessoas se referirem à famosa rede social Facebook. Eu informei que não tenho conta nessa "geringonça" moderna de comunicação. Fiquei meio envergonhado quando minha tia - uma senhora de mais de sessenta anos - perguntou-me, absurdamente espantada: "Você não tem 'Face'? Que iiiiisso?".
Pensei rápido na ironia da situação: uma senhora questionando a falta de atualização tecnológica de alguém mais jovem - não tão jovem assim, é bem verdade. Rsss.
Justifiquei minha ausência do "Face": "Tia, todos falam muito do 'Face', lá no trabalho. Justamente por isso, eu vi que essa 'coisa' toma muito tempo. Infelizmente, eu não tenho tido tempo nem de ler meus e-mails direito". Dito isto, ouvi uma lição sobre as possibilidades de encontrar "amigos" antigos; ver fotos de pessoas que não fazem parte das nossas vidas já há quinze anos; etc. e tal. Nem tive coragem de perguntar se alguém com quem não nos relacionamos há quinze anos realmente tem tanta importância assim. Reconheço que existem honrosas exceções, mas, de um modo geral, acho que poderia continuar muito bem sem encontrar o tal "desaparecido" por mais trinta ou cinquenta anos.
O fato é que, pouco depois dessa vexatória conversa - vexame para mim, obviamente! -, li uma pequena entrevista do Andrew Keen - aquele mesmo que faz algumas críticas a ferramentas da internet... entre elas, essa pela qual me comunico - sobre o lançamento do seu livro "#vertigemdigital", pela Zahar, no Brasil.
Na entrevista, o "polêmico pensador sobre o mundo digital" - como ele é descrito - é confrontado com uma estória do entrevistador, que conta que a filha de um amigo seu, diante do cancelamento da conta do Facebook pelo pai, teria dito que este cometera suicídio. E Keen responde: "Eu diria o contrário. Quando você cancela sua conta, você retorna à vida e não é mais um cadáver".
Imaginem se eu falo isso para a minha querida tia, hein!
Há uma outra frase de Keen, que fecha a entrevista, em que ele diz: "O fraco [das redes sociais] é que elas não permitem agregar de verdade as pessoas".
Eu não tenho certeza se isso é sempre verdade. Penso que a net - de um modo geral, e não apenas as redes sociais - pode vir a ser uma boa forma de iniciar uma amizade verdadeira. Meu receio, entretanto, é a quantidade de tempo gasto diante dos PCs, a fim de "atualizar" constantemente as informações. Aliás, quanto a essa questão do tempo, eu já tomo meus puxões de orelha, do compadre Mundy, pela falta de presença no blog. Da próxima vez, vou dizer a ele que quero não me manter "cadáver".