A revista "BBC History Brasil" nº 7 - 2015 trouxe uma matéria de título "Superestimadas - Dez personalidades mais louvadas do que deveriam". O texto diz: "Especialistas comentam por que muitas personalidades valiosas não merecem tantas honras assim. Muitos nomes da lista vão surpreender você".
Realmente surpreendem. A lista final é a seguinte: Spartacus, Henrique V, Eduardo IV, Maria da Escócia, Napoleão Bonaparte, John Locke, Oscar Wilde, Charles Darwin, Wiston Churchill e Malcom X.
Depois, posso até comentar algo sobre os outros, mas inicialmente chamo a atenção para o filósofo Locke.
Fiquei com a impressão de que a matéria original deveria ter uma extensão maior do que a apresentada, visto que a argumentação para "destronar" uma figura tão amplamente reconhecida me pareceu muito pobre.
Registrada essa impressão inicial, fui verificar quem era o "sujeito" que considerava Locke um superestimado. Trata-se do professor Justin Champion, que, após brevíssima pesquisa, descobri ser PhD por Cambridge e ter sido chefe do Departamento de História da Universidade de Londres. Não é pouca coisa! Além disso, é um inglês diminuindo outro. Talvez, se fosse francês, eu teria dado menos crédito à sua opinião. E mais, por alguns dos títulos de seus trabalhos, percebi que a época que o interessa é realmente o início da Modernidade. Há trabalhos sobre Thomas Hobbes (1588-1679) e John Toland (1670-1722).
Mesmo reconhecendo a grande capacitação técnica do avaliador, fico com a opinião de que faltou muito a ser dito, caso se queira mostrar que a figura de Locke está superestimada, mas principalmente que faltou uma avaliação filosófica do conteúdo da obra do inglês seiscentista. Vejamos o pequeno texto:
"Locke foi um homem de sorte. Como muitos de seus contemporâneos, era bem conectado, escreveu e pensou em boas ideias. Mas sua boa sorte foi deixada em um arquivo bem preservado. Volumes de cartas, numerosas obras de suas emoções, livros e cadernos, bem como uma série de best sellers de filosofia, teoria política e religião, fizeram com que historiadores criassem 'a Indústria de Locke'. Na atualidade, Locke vende mais livros do que em qualquer outro período.
Suas ideias sobre as origens do governo, a natureza do conhecimento, as bases da tolerância religiosa, passaram a dominar o século 18. Seus argumentos sobre a natureza da obrigação política distorceram os conceitos modernos de liberdade; sentimentos de defesa da tolerância são considerados a melhor defesa da liberdade de pensamento (apesar de ser fundamentalmente um argumento cristão).
A hegemonia do legado do liberalismo de Locke tem deformado a compreensão dos séculos 17 e 18: indiscutivelmente, isso definiu também a forma do discurso político no mundo moderno.
Sem Locke, mais tempo, energia e veneração poderiam ter sido direcionados aos seus contemporâneos. Para muitos historiadores, Locke tem sido um par de mãos seguras, não contaminada por radicais. Um rapaz 'legal', mas definitivamente superestimado".
Discordo, mas...
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