segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Não-eleitor


   No Brasil todo, aproximadamente um terço dos eleitores não votou em ninguém. Ou eles não foram nem votar; ou votaram em branco; ou anularam seu voto. É muita coisa!!!
   No Rio, por exemplo, o candidato "Abstenção-nulo-branco" venceu a disputa; deixando Crivella e Freixo logo abaixo. Como a legislação brasileira ainda não reconhece a "subjetividade" do primeiro colocado, ele não poderá assumir seu mandato. Resta-nos empossar o senhor Marcelo Crivella - tecnicamente, o segundo colocado. Rssss
   Apesar de, em termos práticos, essa não-votação não significar nada, visto que alguém, por menor que seja o número de seus votos, acaba chegando ao poder, resta a discussão sobre a insatisfação patente do eleitorado com os candidatos apresentados... ou, quiçá, com a classe política como um todo. 

"O assassinato de Trótski"


   A Folha de S. Paulo publicou uma série de livretos biográficos contendo filmes produzidos sobre o biografado. Um destes livretos conta a história de Leon Trótski... ou melhor Lev Davidovitch Bronstein (1879-1940).
   O livreto é em papel de boa qualidade e narra a história completa de Trótski, desde o seu nascimento; passando por sua aproximação das ideias de Marx e Engels; por seu desterro antes da Revolução de 1917; por seus casamentos; por suas divergências com Stálin; até o período em que se exila no México - a convite dos pintores Diego Rivera e Frida Kahlo -, que culmina com seu assassinato.
   O filme, de 1972, porém, trata especificamente deste último período vivido por Trótski, sendo estrelado por um time poderoso: Richard Burton, Alain Delon e Romy Schneider... entre outros.
   Vale a pena assistir...

Não entendi bem essa...


   Conta-nos a História que houve muita luta para que o brasileiro pudesse voltar a votar, depois de um longo período de ditadura.
   Parte dessa luta foi empreendida por pessoas como Lula e Dilma. Reconheço isso.
   Não entendi, portanto, justamente Lula e Dilma não terem ido utilizar esse direito. O Globo começa essa notícia assim: "Sem candidatos do PT ou aliados na disputa do segundo turno em seus domicílios eleitorais, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff não apareceram para votar ontem". Segundo suas assessorias, Dilma não foi para evitar confusões e Lula, para ficar com a família, até porque, com seus setenta anos, não é obrigado a votar.
   Explica, mas... não justifica. Pelo menos é o que acho. Rssss

Déficit primário vs. Déficit nominal


   O déficit primário, aquele resultado (negativo) da diferença entre receitas e despesas, no Brasil é assustador: R$ 170 bilhões. Mas o pior ainda é o déficit nominal, aquele que também inclui os valores para pagamento dos juros da dívida pública. Nada menos que R$ 587 bilhões!?!?! 
   Caracas... e a dívida pública sob a forma de títulos está aumentando... atualmente beira os 70% do PIB, mas está a caminho dos 80% do PIB. E os juros ainda estão lá em cima: 14%.
   Matemática complicada...

Tomara que ele esteja errado...


   Stefan Zweig dizia que "O Brasil é o país do futuro, e sempre será". Mas espero que, um dia, o futuro se torne presente. 

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Voto facultativo?


   Sempre estranhei a ideia de o voto ser um "direito", mas ser obrigatório. A percepção mais espontânea é a de que um direito pode ser exercido... ou não, segundo a vontade daquele que o detém. Por isso, durante algum tempo, defendi que o voto não deveria ser obrigatório.
   Após ver o que aconteceu na França, quando um ultradireitista foi para o segundo turno porque houve uma abstenção muito grande entre os eleitores, comecei a repensar minha posição.
   Percebi que a descrença na "Política", trazendo o desinteresse pela participação na vida em comunidade, acaba por dar espaço aos mais "mobilizados"... seja lá qual for o tipo de ideologia que carregarem. Ou seja, se, num local onde o voto não for obrigatório, a população esteja desinteressada pela Política, os nazistas desejarem se fazer representados e se organizarem para isso, haverá um governo nazista. É lógico que estou falando em tese, mas podemos acabar tendo um determinado tipo de Estado que seja governado por valores que não são os mesmos da maior parte da população, simplesmente porque essa maioria não quer participar do processo de escolha dos seus representantes. Donde se conclui que, talvez, enquanto nossa maturidade política for pequena, valha a pena manter o voto obrigatório... ainda que com a possibilidade de se fazer uma escolha errada, ou até mesmo de se optar ativamente por uma não escolha, como quando se vota nulo ou em branco.
   Aquele livro que tenho lido, Em defesa da Política, retrata essa minha discussão, quando diz:
   [...] os que se organizam com maior competência podem se fazer representar de modo qualitativamente superior e, nessa medida, podem participar melhor da vida pública, influenciar os mecanismos de decisão, conquistar direitos e posições mais vantajosas na escala distributiva.
   

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

As políticas


   Sempre digo que há mais de uma "política"... ou mais de uma percepção do que seja a "política". 
   Existe a política "profissional", digamos assim, que é aquela que implica busca de poder, e a política "do povo", que visa ao bem comum. 
   Podemos imaginar até que o político profissional inicia sua vida, enquanto cidadão participativo e interessado no bem estar comum, pensando na política "do povo". Mas, enquanto vai se profissionalizando, o viés de suas ações tende a voltar-se primordialmente para a política "profissional".
   Contudo, um livro interessante que leio agora - Em defesa da política, de autoria de Marco Aurélio Nogueira - fala em três políticas. Além da "política dos políticos" e a "política dos cidadãos" - que seriam conceitos equivalentes àqueles que já tratamos acima -, haveria a "política dos técnicos". Esta última seria uma espécie de "política sem política", visto que não há discussão, nem tentativa de acordo. Há, em lugar disso, uma pretensa verdade, teórica e tecnicamente comprovada, que deve ser posta em prática, a fim de que sejam obtidos os melhores resultados possíveis. 
   Interessante esta abordagem...

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Rousseau em tempos atuais


   Durante aquelas inquirições a testemunhas, ao longo do processo de impeachment da ex-presidente Dilma, eu achava muito curiosa a  atuação da senadora Fátima Bezerra, do PT do Rio Grande do Norte. Ela fazia uma pergunta à testemunha de acusação, invariavelmente lendo uma folha de papel. O sujeito respondia de forma absolutamente clara. Na sequência, em seu direito de réplica, ela pegava a mesma folha, que já tinha uma contrarresposta pronta. E sempre começava algo como "Vossa Senhoria não respondeu à minha pergunta...".
   Eu me interrogava: Não respondeu? Putz, o cara deixou claro o que ela perguntou! Obviamente, não era o que ela queria ouvir, mas a questão, então, seria contra-atacar com novos argumentos que desconstruíssem o discurso da testemunha.
   Aí, a gente lembra Jean-Jacques Rousseau, em Do Contrato Social: "não conheço a arte de ser claro para quem não quer ser atento". 

"Filosofia Política", do José Antônio Martins


   Já falei, aqui no blog, do livrinho que dá título a este post. Pequeno, mas interessante. Separei algumas passagens que merecem destaque, seja como informação histórica, seja como base para alguma reflexão.
   Cito com alguma liberdade:
   - Guilherme de Ockham (1288-1347), em Brevilóquio sobre o principado tirânico, defendeu a autonomia do poder civil em relação ao poder papal, sendo um dos precursores das teorias de separação entre os poderes civil e religioso.

   - Não é de todo correta a definição presente em livros escolares, segundo a qual a palavra grega cratós significa "poder". Para entender o sentido antigo do termo cratós, é importante distinguir entre poder e governo, lembrando que a noção de governo não significava uma relação de comando e obediência, imposta pela força do soberano que governa. Dessa perspectiva, traduziremos melhor democracia por "governo do povo", em vez de "poder do povo".

   - Se, a partir de Machiavelli, o poder passa a ser visto como algo cuja finalidade é ele mesmo e não mais a realização de alguma finalidade extrínseca a ele (como o bem comum, por exemplo), era legítimo, do ponto de vista machiavelliano, considerar a Política à parte, em si mesma, como jogo de obtenção e conservação do poder. A Política, assim, deixa de ser a atividade de governar em vista do bem como para tornar-se a atividade de exercer o poder.

   - Uma das missões da sociedade civil (enquanto conjunto dos sujeitos políticos que são os cidadãos) é fazer um contraponto ao poder do Estado.

   - Vemos em nossos dias que o poder político submete-se a outro poder, o econômico.

   

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

"What's It All About?"


   Antes de continuar com a discussão sobre liberal, libertário e neoliberal, gostaria de registrar algo que li no livro com o mesmo título do post, de autoria de Julian Baggini.
   Trata-se da ideia do autor de propor uma discussão "secular" sobre a questão que dá título ao livro.
   Diz ele: 
   "By 'secular' I do not mean 'atheist'. I mean simply that our arguments must not start from any supposed revealed truths, religious doctrines or sacred texts. Instead they must appeal to reasons, evidence and arguments that can be understood and assessed by all , whether they have a faith or not".
   É uma visão esclarecedora sobre o que significa exatamente "secular".